Nos últimos anos, as questões em torno do “espaço” voltaram a despertar o interesse de quem estuda a política internacional no âmbito de diversas perspectivas e disciplinas. Se durante o período de bipolarização política mundial houve pouco interesse pela espacialidade, quer porque o seu esquema dual era altamente evidente e de imediata inteligibilidade, quer porque as duas ideologias de referência explicavam a realidade de acordo com fatores substancialmente indiferentes ao espaço (a luta de classes e a democracia popular, por um lado, e as leis de mercado e a democracia liberal, por outro), o fim da Guerra Fria fez ressurgir o debate sobre qual o paradigma espacial que corresponde à nova estrutura de poder no sistema internacional: Unipolar? Bipolar (EUA vs. China)? Multipolar? Apolar? Além disso, as considerações sobre a espacialidade política tornam-se necessariamente relevantes na actualidade tendo em vista a análise dos processos de conexão de áreas regionais e novas relações entre dinâmicas globais e regionais.
Com efeito, o novo interesse pela dimensão espacial da política percorre todo o vasto campo das Ciências Sociais, da Geografia Política à Filosofia do Direito e da Política, Direito Internacional, História do Pensamento Político, Economia, Estudos Regionais e, claro, às Relações Internacionais. Sem mencionar a História, que com novas directrizes da história transnacional e da história global demonstra também uma nova consciência da inseparabilidade da articulação espaço-tempo (ou geohistória) na experiência humana. Esta renovada reflexão do espaço político implica uma redefinição das categorias tradicionais, a começar pelas das fronteiras que nos últimos anos despertou o campo muito vivo e prolífico dos Estudos de Fronteira (Border Studies).
Partindo da observação desta recente avaliação do espaço como dispositivo explicativo para a compreensão da política, a nossa investigação centra-se numa dimensão específica: a representação cartográfica. O interesse por este tema justifica-se pela recente dinâmica nos estudos de mapas que tem produzido uma revisão epistemológica e vem destacando o poder retórico e a qualidade performativa do mapa. Daqui resultou um reexame do significado e valor político da cartografia, para o qual este estudo pretende contribuir.
Depois de uma análise atenta dos muitos aspectos e fenómenos que estão na base da investigação, questiona-se se a alteração do contexto político e intelectual sobre os temas do espaço político tem produzido actualizações e, em caso afirmativo, se tal se repercute na representação da espacialidade política.
A nossa reflexão leva-nos a concluir que existem, de fato, sinais promissores de renovação, mas ainda incapazes de derrubar a primazia do modelo cartográfico da modernidade em favor de um paradigma totalmente pós-moderno.