Carl Schmitt (1888-1885) é um dos grandes ausentes da universidade em Portugal. Podemos até afirmar que Portugal constitui uma das mais áridas paisagens existentes em terras europeias em matéria de estudos schmittianos (embora seja devida uma referência, entre outros, ao Prof. Alexandre Franco de Sá, principal divulgador e tradutor da sua obra no nosso País). Autor de uma obra polifacetada, influenciou diversas disciplinas – direito constitucional e internacional, ciência política, história das ideias, filosofia política e teologia política – bem como as relações internacionais e sua história, geopolítica e polemologia. Rompendo paradigmas, deixou-nos uma obra “heterodoxa” (Odisseos e Petito, 2007, p. 11), onde a intuição sobre o conceito do político tem natural destaque; mas foi também um homem que viveu num momento perigoso, em quase permanente estado de exceção, que sofreu tentações e desilusões, que foi julgado pelas autoridades e, mais severamente, pelas pessoas. Sobretudo pelos seus pares. A adesão momentânea ao III Reich esteve na base da sua demonização e exclusão da universidade (Balakrishnan, 2006, p. 27), ele que era um conservador católico e uma das figuras centrais do movimento da “Revolução Conservadora” (Mohler, 1993, p. 661), tendo até, durante a República de Weimar, procurado evitar que Hitler alcançasse o poder. Neste artigo vamo-nos centrar no contributo de Carl Schmitt para as relações internacionais. Mas porquê falar nele agora? Porque não podemos deixar de relevar – concorde-se ou não – o seu conceito do político; porque consideramos que algumas das suas teorizações – caso do partisan ou do grande espaço – são importantes para a compreensão do momento que vivemos, nomeadamente a respeito do sistema internacional em mudança, ajudando-nos a perceber o aparecimento dos novos Estados-civilização e o conceito de democracia iliberal; finalmente, porque obras como “O Nomos da Terra” deveriam integrar o canon das leituras obrigatórias da disciplina das Relações Internacionais. O seu percurso é conhecido, sobretudo nas vertentes mais polémicas. Em jeito de introdução, faremos um rápido excurso pela sua vida, enquadrando a evolução pessoal nas grandes tendências do século. Depois, procuraremos analisar alguns aspetos centrais da sua obra, que constituem contributos relevantes para o estudo das relações internacionais. Analisaremos a atualidade do seu pensamento, procurando provar – é essa a nossa ambição – tratar-se de um autor “moderno” e importante para compreender a atualidade, devendo ser referência obrigatória na disciplina das relações internacionais.
CARL SCHMITT E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS – ATUALIDADE E POSICIONAMENTO TEÓRICO
Mestre em Estratégia e Licenciado em Relações Internacionais. Curso de Defesa Nacional e Curso de Estudos Avançados de Geopolítica. Foi Diretor de Serviços das Relações Bilaterais no Ministério da Defesa Nacional. Foi consultor das empresas Gaporsul e Kyron Consultores. Fez parte da Direção do Instituto Lusíada de Cultura. Atualmente, é técnico superior da Direção-Geral de Política de Defesa Nacional e doutorando em Relações Internacionais: Geopolítica e Geoeconomia na UAL (Portugal). É investigador do Observare. Pertence aos órgãos sociais da Fundação Luso Africana para a Cultura.
Resumo
Palavras-chave
Como citar este artigo
Calheiros, Bernardo (2021). Carl Schmitt e as Relações Internacionais – Atualidade e posicionamento teórico. Janus.net, e-journal of international relations. Vol12, Nº. 1, MaioOutubro 2021. Consultado [online] em data da última consulta, https://doi.org/10.26619/1647-7251.12.1.10
Artigo recebido em 3 Agosto, 2020 e aceite para publicação em 19 Fevereiro, 2021