CARL SCHMITT E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS - ATUALIDADE E
POSICIONAMENTO TEÓRICO
BERNARDO CALHEIROS
bernardo.calheiros@gmail.com
Mestre em Estratégia e Licenciado em Relações Internacionais. Curso de Defesa Nacional e Curso
de Estudos Avançados de Geopolítica. Foi Diretor de Serviços das Relações Bilaterais no
Ministério da Defesa Nacional. Foi consultor das empresas Gaporsul e Kyron Consultores. Fez
parte da Direção do Instituto Lusíada de Cultura. Atualmente, é técnico superior da Direção-Geral
de Política de Defesa Nacional e doutorando em Relações Internacionais: Geopolítica e
Geoeconomia na UAL (Portugal). É investigador do Observare. Pertence aos órgãos sociais da
Fundação Luso Africana para a Cultura.
Resumo
Carl Schmitt (1888-1885) é um dos grandes ausentes da universidade em Portugal. Podemos
até afirmar que Portugal constitui uma das mais áridas paisagens existentes em terras
europeias em matéria de estudos schmittianos (embora seja devida uma referência, entre
outros, ao Prof. Alexandre Franco de Sá, principal divulgador e tradutor da sua obra no nosso
País). Autor de uma obra polifacetada, influenciou diversas disciplinas – direito constitucional
e internacional, ciência política, história das ideias, filosofia política e teologia política – bem
como as relações internacionais e sua história, geopolítica e polemologia. Rompendo
paradigmas, deixou-nos uma obra “heterodoxa” (Odisseos e Petito, 2007, p. 11), onde a
intuição sobre o conceito do político tem natural destaque; mas foi também um homem que
viveu num momento perigoso, em quase permanente estado de exceção, que sofreu
tentações e desilusões, que foi julgado pelas autoridades e, mais severamente, pelas pessoas.
Sobretudo pelos seus pares. A adesão momentânea ao III Reich esteve na base da sua
demonização e exclusão da universidade (Balakrishnan, 2006, p. 27), ele que era um
conservador católico e uma das figuras centrais do movimento da “Revolução Conservadora”
(Mohler, 1993, p. 661), tendo até, durante a República de Weimar, procurado evitar que Hitler
alcançasse o poder.
Neste artigo vamo-nos centrar no contributo de Carl Schmitt para as relações internacionais.
Mas porquê falar nele agora? Porque não podemos deixar de relevar – concorde-se ou não –
o seu conceito do político; porque consideramos que algumas das suas teorizações – caso do
partisan ou do grande espaço – são importantes para a compreensão do momento que
vivemos, nomeadamente a respeito do sistema internacional em mudança, ajudando-nos a
perceber o aparecimento dos novos Estados-civilização e o conceito de democracia iliberal;
finalmente, porque obras como “O Nomos da Terra” deveriam integrar o canon das leituras
obrigatórias da disciplina das Relações Internacionais.
O seu percurso é conhecido, sobretudo nas vertentes mais polémicas. Em jeito de introdução,
faremos um rápido excurso pela sua vida, enquadrando a evolução pessoal nas grandes
tendências do século. Depois, procuraremos analisar alguns aspetos centrais da sua obra, que
constituem contributos relevantes para o estudo das relações internacionais. Analisaremos a
atualidade do seu pensamento, procurando provar – é essa a nossa ambição – tratar-se de
um autor “moderno” e importante para compreender a atualidade, devendo ser referência
obrigatória na disciplina das relações internacionais.
Palavras-chave
Amigo/Inimigo, realismo, decisão, grande espaço, Estado, guerra
Como citar este artigo
Calheiros, Bernardo (2021). Carl Schmitt e as Relações Internacionais - Atualidade e
posicionamento teórico. Janus.net, e-journal of international relations. Vol12, Nº. 1, Maio-
Outubro 2021. Consultado [online] em data da última consulta,
https://doi.org/10.26619/1647-7251.12.1.10
Artigo recebido em 3 Agosto 2020 e aceite para publicação em 19 Fevereiro 2021