A INICIATIVA DOS 3 MARES: GEOPOLÍTICA E INFRAESTRUTURAS

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bernardo.calheiros@gmail.com

Mestre em estratégia e licenciado em relações internacionais. Curso de Defesa Nacional e Curso de Estudos Avançados de Geopolítica. Foi Diretor de Serviços das Relações Bilaterais no Ministério da Defesa Nacional (Portugal). Consultor das empresas Gaporsul e Kyron Consultores. Atualmente, é técnico superior da Direção de Serviços de Relações Internacionais da Direção-Geral de Política de Defesa Nacional

Resumo

A Iniciativa dos Três Mares (I3M) é um ambicioso projeto geopolítico que engloba doze Estados-membros da UE situados entre o Mar Báltico, o Mar Negro e o Mar Adriático: de Norte a Sul, uma vasta faixa englobando a Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Áustria, Roménia, Bulgária, Eslovénia e Croácia. Trata-se de uma região com mais de 25% do território da UE e com cerca de 22% da sua população, mas que tem uma representatividade económica muito inferior. A I3M visa promover o desenvolvimento das infraestruturas centro-europeias, com vista a aproximar esta região dos níveis de desenvolvimento económico dos restantes países europeus. A I3M destina-se ao desenvolvimento de grandes projetos de infraestruturas regionais em três grandes áreas: a energia, os transportes (rodoviários e ferroviários) e a área digital (comunicações). A importância geopolítica deste projeto é desde logo evidente pelo facto de muitos destes países serem Estados-encravados, sem acesso ao mar. Estas infraestruturas vão agora dar-lhes acesso a três mares e, dessa forma, contribuir para uma maior independência e espaço de manobra das suas políticas. Esta região, situada no centro do continente europeu, um dos principais mercados energéticos do futuro, é também palco de uma luta comercial muito forte entre a Rússia, com os seus fornecimentos de gás natural, e os EUA, com a sua crescente produção de gás de xisto. Os projetos lançados pela I3M são, portanto, da maior relevância económica e geopolítica, embora tenham ainda que assegurar o respetivo financiamento. Muito embora tenha sido criado o Three Seas Fund (TSF), com uma duração de trinta anos e que pretende assegurar um financiamento na ordem dos 100 biliões de euros (a partir de um investimento inicial dos Estados-membros no valor de 5 biliões de euros), a verdade é que muito dependerá do apoio que lhe for dado pela UE e pelos países interessados nesses projetos, como é o caso dos EUA e da China (ligação à rota da seda). Alguns países europeus têm visto o nascimento desta Iniciativa com alguma desconfiança, como é o caso da Alemanha, que tem vindo a apostar crescentemente no Nordstream II, e da Rússia, que acusam os seus promotores de estar a representar os interesses norte-americanos no continente europeu. Independentemente das controvérsias levantadas, certo é que a I3M parece ser uma forma de cooperação regional que faz todo o sentido e que se integra plenamente no espírito da construção europeia, procurando para os seus povos o mesmo desenvolvimento dos restantes Estados-membros.

The Three Seas Initiative (I3M) is an ambitious geopolitical project comprising twelve EU Member States located between the Baltic Sea, the Black Sea and the Adriatic Sea: from North to South, a wide range encompassing Estonia, Latvia, Lithuania, Poland, Czech Republic, Slovakia, Hungary, Austria, Romania, Bulgaria, Slovenia and Croatia. It is a region with more than 25% of the EU's territory and about 22% of its population, but with a much lower economic representation. I3M aims to promote the development of central European infrastructures with a view to bringing this region closer to the economic development levels of other European countries. The I3M aimed for development of large projects of regional infrastructure in three major fields: energy, transport (road and rail) and the digital field (communications). The geopolitical importance of this project is immediately evident from the fact that many of these countries are landlocked states with no access to the sea. These infrastructures will now give them access to three seas and thus contribute to greater independence and room for maneuver in their policies. This region, situated in the center of the European continent, one of the main energy markets of the future, is also the scene of a very strong trade struggle between Russia, with its natural gas supplies, and the US, with its growing production of shale gas. The projects launched by I3M are therefore of greater economic and geopolitical importance, although they still have to ensure appropriate funding. Although the Three Seas Fund (TSF) was created), with a duration of 30 years and which aims to secure a financing of 100 billion euros (from an initial investment of the Member States in the amount of 5 billion euros), The truth is that much will depend on the support given by the EU and the countries interested in these projects, such as the US and China (link to the silk route). Some European countries have seen the birth of this Initiative with some suspicion, such as Germany, which has increasingly been focusing on Nordstream II, and Russia, which accuse their promoters of representing US interests on the European continent. Regardless of the controversies raised, I3M seems to be a form of regional cooperation that makes perfect sense and fully integrates into the spirit of European integration, seeking for its peoples the same development as the other Member States.

Palavras-chave

Como citar este artigo

Calheiros, Bernardo (2019). “A iniciativa dos 3 Mares: geopolítica e infraestruturas”. JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 10, N.º 2, Novembro 2019-Abril 2020. Consultado [em linha] data da última consulta, https://doi.org/10.26619/1647-7251.10.2.8

Artigo recebido em 17 Setembro, 2019 e aceite para publicação em 1 Outubro, 2019

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