As atuais evidências científicas permitem comprovar que as atividades humanas estão a causar interferência, em diferentes níveis, no clima global e na disponibilidade dos recursos naturais, sendo que muitos autores já relacionam à escassez de água com o aumento do risco de conflitos violentos, particularmente em sociedades rurais no continente africano. As perturbações no clima causadas pelas alterações climáticas refletem-se em escala regional e local, sendo que os maiores impactos já estão a ser sentidos nas zonas mais pobres do planeta. A Nigéria, país mais populoso da África, vem enfrentando problemas de ordem ambiental em seu território que podem ser associados às mudanças climáticas, como por exemplo, o aumento da temperatura, a diminuição das chuvas e o avanço da desertificação. Considerando que todos estes fenômenos estão se intensificando desde o início do século XX na Nigéria e, em função da escalada de conflitos violentos a partir do início do corrente século, a presente proposta teve como objetivo analisar de que forma as alterações climáticas podem interferir no conflito entre pastores e agricultores, bem como, o possível impacto da variação sazonal do regime de chuvas na dinâmica destes conflitos comunais. O estudo concentrou-se na revisão da literatura e o estudo de caso ocorreu em quatro estados nigerianos (Plateau, Benue, Taraba e Nasarawa), para o período 2010-2017, tendo como foco o conflito comunal envolvendo o grupo étnico Fulani. O método de abordagem adotado foi o indutivo em que se comparou o comportamento da pluviosidade na área de estudo com o número de mortes decorrentes do conflito, para mais, fez-se uso de software de geoprocessamento para compreender a distribuição espacial e temporal das fatalidades. O quadro teórico utilizado foi o proposto por Thomas Homer-Dixon (1994) e a recolha da informação deu-se a partir de fontes primárias, com consulta de dados qualitativos e quantitativos, e a partir de fontes secundárias mediante revisão em livros, publicações e periódicos em revistas científicas. Embora não haja até o momento elementos suficientes para estabelecer uma relação direta e linear entre alterações climáticas e conflitos violentos, a literatura revisada indica que as mudanças climáticas têm impactado negativamente na disponibilidade de recursos naturais, como no caso de água e pastagens, o que tem aumentado a competição pelo acesso dos mesmos em determinadas porções da Nigéria. A análise dos dados aponta que na área de estudo há 46,4% mais mortes no período seco (Nov-Abr) do que no período chuvoso (Mai-Out) em conflitos comunais envolvendo a etnia Fulani, o que pode sugerir maior competição por água e pastagens.
A INFLUÊNCIA DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NA ESCALADA DO CONFLITO COMUNAL ENTRE PASTORES E AGRICULTORES: O CASO DA ETNIA FULANI NA NIGÉRIA*
Aluno de doutoramento em Relações Internacionais: Geopolítica e Geoeconomia, Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal). Mestre em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia pela UFPA (Brasil) e bacharelado em Geografia pela UFRGS (Brasil). Atua na área de alterações climáticas desde 2005, com experiência no setor público e privado.
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Como citar este artigo
Furini, Gustavo (2019). “A influência das alterações climáticas na escalada do conflito comunal entre pastores e agricultores: o caso da etnia Fulani na Nigéria”. JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 10, N.º 2, Novembro 2019-Abril 2020. Consultado [online] em data da última consulta, https://doi.org/10.26619/1647-7251.10.2.3
Artigo recebido em 29 Novembro, 2018 e aceite para publicação em 4 Junho, 2019