porque o calor tem se intensificado ou, então, por conta da diminuição da quantidade de
chuva, porém, os impactos negativos decorrentes das mudanças do clima, como a seca
e a desertificação, podem conduzir ao conflito violento (Buhaug, 2016).
A vulnerabilidade social e ambiental de cada sociedade é quem determinará se os
impactos negativos das alterações climáticas conduzirão ao conflito (Buhaug, 2016;
Scheffran et al., 2012). Nesse sentido, comunidades altamente dependentes da
agricultura e pecuária, localizadas em países pobres com baixa capacidade de resposta
às alterações climáticas poderão entrar em conflito pelo uso de recursos naturais que se
tornaram escassos em função dos efeitos causados pelo aumento da temperatura ou pela
diminuição dos níveis de chuva (Buhaug, 2016; Theisen et al., 2011). Por outro lado,
uma sociedade localizada num país rico cuja resiliência assenta-se no desenvolvimento
tecnológico para adaptar-se a mudanças, bem como na capacidade de resposta de suas
instituições públicas e privadas, dificilmente teria que lidar com uma situação de conflito
violento por conta dos mesmos efeitos negativos decorrentes das alterações climáticas
(Salehyan, 2014; Theisen et al., 2011).
A questão que deve ser posta em causa não é “se” as mudanças no clima influenciam
nos conflitos violentos, mas sim “quando” e “como” isso acontece (Salehyan, 2014). Para
poder estabelecer qualquer vínculo a análise deverá ter em conta três dimensões, a
saber: i) a localização geográfica em que ocorre o impacto das alterações climáticas
(dimensão espacial); ii) o período em que este se desenrola (dimensão temporal) e; iii)
a capacidade de resposta da população e das instituições para enfrentarem a situação de
estresse ambiental (dimensão social) (ibid.). Todas estas dimensões se interrelacionam
e, para se ter uma interpretação concreta de uma situação específica em que estas
dimensões agem conjuntamente, a análise deve ser focada em um cenário
individualizado, evitando generalizações e busca de padrões, reforçando, mais uma vez,
a importância da análise de contexto (ibid.).
As mudanças no ambiente provocadas pela alteração no clima podem minar a segurança
humana vez que reduzem o acesso a determinados recursos naturais indispensáveis para
a subsistência de muitas sociedades, em especial, na África (Raimi & Jack, 2017; FOI,
2010; UNGA, 2009). A escassez de recursos naturais e a disputa por seu uso, como por
exemplo a água, poderá desencadear conflitos violentos (ACCORD, 2012), pelo que
variações nos índices pluviométricos, seja com o aumento ou com a diminuição das
chuvas, serão responsáveis por aumentar o risco de conflitos violentos em economias
altamente dependentes dos recursos naturais, em particular, nas sociedades rurais na
África (IPCC, 2014). O acesso à água é um grave problema para muitos países africanos,
tanto em quantidade como qualidade (IPCC, 2013), desta forma, um dos desafios nos
estudos das alterações climáticas é prever como se dará o comportamento dos padrões
de precipitação e do aumento da temperatura, visto que, consoante estes fatores, poder-
se-á gerar pressão adicional sobre os mananciais de água e as terras férteis (FOI, 2010).
Deve-se destacar que existe um debate entre os que argumentam que há um risco
potencial cada vez maior de surgirem conflitos em função da escassez de água, enquanto
que outros valem-se de dados estatísticos para mostrar que as tensões em torno da
disponibilidade deste recurso natural geralmente terminam pela via da negociação e
diplomacia, sobretudo em disputas transfronteiriças (ibid.). Contudo, boa parte dos
estudos enfatizam que este cenário de acordos poderá não ser a tônica no futuro,
nomeadamente em termos intraestatais, já que a as alterações climáticas podem agravar