Engenheiro António Guterres

O IV Congresso Internacional do OBSERVARE, realizado de 23 a 26 de Novembro deste ano de 2021, tem por tema “O multilateralismo, condição de governação global”. São tratadas questões fundamentais que, sendo objecto de elaboração teórica, remetem também para dimensões eminentemente práticas da situação mundial. Foram assim desenvolvidos temas como o conceito de “ordem” internacional, as condições para uma democracia cosmopolita e as várias plataformas nas quais, em diferentes níveis, se pode concretizar a regulação da globalidade.

Foi neste contexto de especial oportunidade que o Conselho Científico do OBSERVARE deliberou unanimemente atribuir, na circunstância deste IV Congresso, o prémio individual ao Engenheiro António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas. Dificilmente poderíamos identificar alguém que fosse mais merecedor desta distinção, já que ele é exemplo inspirador no complexo panorama das presentes relações internacionais. Ele deu-nos a honra de aceitar esta homenagem e, na impossibilidade de assegurar a presença física, delegou a sua representação na pessoa do Dr. Guilherme d’Oliveira Martins, Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

Os motivos para a nossa deliberação são tão evidentes que quase dispensam justificação. A verdade é que António Guterres terminou há pouco o seu primeiro mandato como Secretário-geral das Nações Unidas, um mandato particularmente difícil, exercido em tempos de regresso dos nacionalismos e de contestação do multilateralismo, designadamente o do sistema da ONU. Mas o reconhecimento do mérito da sua sábia actuação mereceu-lhe a recondução no cargo por aclamação dos membros do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. Ele personifica assim o ponto mais alto do multilateralismo do presente sistema internacional, como se na sua pessoa se concentrassem todos aqueles valores que são o melhor das conquistas da humanidade, os valores de cooperação sem fronteiras, de convivência pacífica entre os povos, de solidariedade dos humanos entre si, em harmonia com a natureza física onde habitam.

Muito cedo António Guterres participou em processos de âmbito internacional. Nos anos 1981-1983 foi membro da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Entre 1992 e 1999 foi Vice-presidente da Internacional Socialista, responsável pela área do desenvolvimento e tornou-se Presidente dessa organização até 2005, ano em que passa a ocupar o cargo de Alto Comissário para os Refugiados. Nos dez anos em que exerceu essa responsabilidade, António Guterres demonstrou, na continuidade da sua prática anterior, uma peculiar atenção para com os mais desfavorecidos das nossas sociedades. Adquiriu assim uma especial autoridade para, reiteradamente, lançar agora a toda a comunidade internacional os apelos no sentido de maior justiça na distribuição da riqueza, de maior respeito pela dignidade de migrantes e requerentes de asilo, da eliminação dos conflitos violentos e da salvaguarda dos equilíbrios ecológicos pela urgente redução do aquecimento global.

Os investigadores do OBSERVARE estão solidários com estas causas e, ao homenagear António Guterres, exprimem o seu apoio a todos os esforços das plataformas multilaterais dirigidos à regulação da ordem internacional e à humanização das relações não só entre os governos, como ainda entre os povos que eles representam.