iria designar como exército industrial de reserva. Ao mesmo tempo, tais regiões viam
crescer internamente movimentos sociais questionadores, como o socialista e o
anarquista. Inicialmente, tais trabalhadores politizados não se deixavam contentar pelas
condições de vida e trabalho no Brasil. Desta forma, começaram a ser considerados os
trabalhadores asiáticos.
A primeira iniciativa oficial de se trazerem de trabalhadores coolies ao Brasil se deu ainda
na época colonial, na corte de D. João VI em 1812, em que poucos plantadores de chá
vieram ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro – iniciativa que resultou em fugas e suicídios,
dificultando muito o prosseguimento da iniciativa coolie no país austral, a despeito de
posteriores tentativas e missões diplomáticas. A dinastia Qing, envolvida em problemas
internos de caos social, guerras do ópio, pressão de nações imperialistas, ao constatar
as más condições de vida destas populações, achou por bem interromper o fluxo. Ele
ainda ocorreu, contudo. Por exemplo, o dia 15 de agosto é desde 2018 o Dia da Imigração
Chinesa (data federal), em referência à chegada do vapor Malange, em 1900 (tendo feito
a rota Lisboa – Rio).
O Brasil ainda estava interessado em trazer trabalhadores asiáticos, e então recorreu aos
japoneses, um grupo de trabalhadores preterido pelos Estados Unidos, e também
numeroso pela excludente Restauração Meiji do século XIX. Desta forma, em 1908,
atracava no porto de Santos o Kasato Maru, com os primeiros japoneses, transformando-
os a partir de então no paradigma da imigração asiática no país – tendo hoje a
comunidade Nikkei mais de 1,5 milhão de pessoas no Brasil, entre japoneses e seus
descendentes.
No Brasil, como a iniciativa coolie não prosperou, a comunidade chinesa é
predominantemente urbana, com forte traço empreendedor e chegada por iniciativas
familiares. Tal situação é bastante diferente de imigrações ao Brasil que podem ser
consideradas “tuteladas”, como a italiana ou japonesa. Há marcos na história da China
que interferem na imigração chinesa para o Brasil. Se até 1950 predominavam os
chineses continentais no Brasil, entre esta data e 1980 chegaram mais taiwaneses. Após
este marco, os chineses continentais retomam a proeminência no processo. Isto nos leva
a inferir que após a Revolução Chinesa de 1949, o país se fechou, tornando mais difícil a
emigração. Neste tempo, a ilha de Taiwan era mais aberta, e muitos a deixaram pelas
tensões políticas existente entre as extremidades do estreito de Taiwan. Pelo mundo, as
comunidades chinesas se incrementaram de cultura letrada e se revitalizaram após a
Revolução de 1949, devendo-se ao fato de que pela primeira vez elites intelectuais
emigraram expressivamente da China. E o que a década de 1980 nos sinaliza? É o
momento da reforma e abertura, garantido acesso e oportunidades da população chinesa
continental para o estrangeiro.
De qualquer maneira, o processo migratório é sentido de formas diferentes de acordo
com as gerações. No caso de chineses no Brasil, muitas vezes os filhos funcionam como
mediadores e até interpretes entre os pais e a cultura do país; entre o diminuto mundo
doméstico e o amplo mundo social exterior. Filhos únicos tendem a dominar melhor o
chinês, ao passo que crianças e jovens com irmãos tendem a aprender o português mais
rapidamente. Obviamente, há choques culturais dentro da própria família. Os jovens
huayi não se conformam por terem colegas brasileiros com uma vida muito mais livre e
relaxada do que a eles – e não raro questionam os pais. Os mais velhos tendem a viver