OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL13 N2, TD1
Dossiê temático
Perspectivas sobre a presença internacional da China
Dezembro 2022
19
A DIÁSPORA CHINESA NO BRASIL: DISPERSÃO, MITOLOGIA DA TERRA DE
ORIGEM E PROMESSA DE RETORNO
DANIEL BICUDO VÉRAS
daniel.veras@fgv.br
Pesquisador no Núcleo de Estudos Brasil-China da Fundação Getúlio Vargas - Direito - Rio de
Janeiro (Brasil), e é convidado em cursos de Sociologia e Filosofia para alunos de Universidades
dos Estados Unidos da América (Syracuse, Colorado Boulder, Missouri) pela CUSSA China
Universities Summer Schools Association. Trabalhou na Prefeitura de Santo André-SP como
pesquisador do Departamento de Indicadores Sociais e Ecomicos da Secretaria de Orçamento
e Planejamento Participativo. Trabalhou na Hubei University, China, onde lecionou língua
portuguesa e cultura brasileira, estabelecendo intercâmbio educacional e cultural entre Brasil e
China, em parceria com o Instituto Confúcio e UNESP. Na ocasião, foi membro do Centro de
Estudos Brasileiros da Universidade. É pesquisador-membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas
Urbanas - da PUCSP, e do Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais. Foi também do quadro
editorial do Wudpecker Journal of Sociology and Anthropology, e de 2010 a 2018 apresentou a
video-conferência anual “Brasil: Sociedade e Economia” para o Institut Supérieur d’Ingénierie
d´Affaires ISIALM, França. Possui doutorado e graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e mestrado em Comunicação e Semiótica pela mesma
universidade. Tem experiência nas áreas de Comunicação e Ciência Política, atuando
principalmente nos seguintes temas: China, arte, cidade, migração e cultura, inglês.
Resumo
O presente trabalho visa a fornecer um panorama da presença de chineses no Brasil,
estimados em 300.000. Tendo como base a relação dialética entre Brasil e China, a presente
investigação trabalha com as seguintes hipóteses, que são também as linhas de
problematização: A China expulsa; O Brasil recebe; Os sino-brasileiros emergem (a síntese
do processo). A metodologia consistiu inicialmente em pesquisa bibliográfica. Posteriormente,
houve coleta de dados secundários, oriundos do Museu da Imigração em São Paulo. O grosso
do material empírico consistiu em entrevistas com cinco chineses - dados qualitativos,
transcrição e análise (aplicação de questionários). Além disso, fez-se um levantamento
fotográfico e documental da presença chinesa em São Paulo, em pontos da cidade específicos.
A pesquisa iniciou em 2003 e o campo e entrevistas foram realizadas em 2006. Após este
período, estudou-se comunicão asiático-brasileira em redes sociais. Foi feita então a análise
de todos os materiais. Para o conceito de diáspora, foram usadas referências de Stuart Hall e
Adam McKeown. Na análise socioeconómica, o conceito Marxiano “exército industrial de
reserva” conta da presença de grandes contingentes populacionais circulando pelo mundo.
O mecanismo de pull e push entre populações e territórios é uma constrão utilizada por
Paul Singer e Herbert Klein para explicar o movimento populacional. Sobre a construção de
uma identidade brasileira que incluísse também asiáticos e seus descendentes, os trabalhos
de Jeffrey Lesser merecem destaque. Sobre a inserção de chineses na sociedade brasileira,
foram utilizadas teorias de Sigmund Freud e Eric Hobsbawn. O Brasil, pelo desenvolvimento
de seu mercado, torna-se polo de atração de pessoas do mundo todo, inclusive chineses.
Como colocado por entrevistados, o Brasil é visto como um país “em construção”. E hoje os
chineses têm um lugar na construção de uma identidade brasileira..
Palavras chave
Brasil; China; migração; diáspora; São Paulo
JANUS.NET, e-journal of International Relations
e-ISSN: 1647-7251
VOL13 N2, TD1
Dossiê temático Perspectivas sobre a presença internacional da China - Dezembro 2022, pp. 19-37
A diaspora chinesa no Brasil: dispersão, mitologia da terra de origem e promessa de retorno
Daniel Bicudo Véras
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Abstract
This paper aims to provide an overview of the presence of Chinese in Brazil, who are estimated
to be about 300,000 in number. Based on the dialectical relationship between Brazil and
China, this research works with the following hypotheses, which are also the lines of
problematization: China expels; Brazil receives; Sino-Brazilians emerge (the synthesis of the
process). The methodology consisted initially of bibliographical research. Later on, secondary
data was collected from the Museu da Imigração in São Paulo. The bulk of the empirical
material consists of interviews with five Chinese individuals, providing qualitative data, a
transcription and an analysis (application of questionnaires). In addition, a photographic and
documentary survey of the Chinese presence in São Paulo at specific points in the city was
carried out. The research began in 2003, and the fieldwork and interviews were carried out in
2006. After this period, the author studied Asian-Brazilian communication in social networks.
An analysis of all the materials was then made. For the concept of diaspora, references from
Stuart Hall and Adam McKeown were used. In the socioeconomic analysis, the Marxian concept
"industrial reserve army" accounts for the presence of large population contingents moving
around the world. The pull and push mechanism between populations and territories is a
construct used by Paul Singer and Herbert Klein to explain population movement. Regarding
the construction of a Brazilian identity that would also include Asians and their descendants,
the works of Jeffrey Lesser are worth mentioning. Concerning the insertion of the Chinese into
Brazilian society, the theories by Sigmund Freud and Eric Hobsbawn were used. Brazil, due to
the development of its market, has become a pole of attraction for people from all over the
world, including the Chinese. As the interviewees said, Brazil is seen as a country "under
construction". And today the Chinese have a place in the construction of a Brazilian identity.
Keywords
Brazil; China; migration; diaspora; São Paulo
Como citar este artigo
Véras, Daniel Bicudo (2022). A diáspora chinesa no Brasil: dispersão, mitologia da terra de
origem e promessa de retorno. Janus.net, e-journal of international relations. VOL13 N2, TD1
Dossiê temático Perspectivas sobre a presença internacional da China, Dezembro 2022.
Consultado [em linha] em data da última consulta, https://doi.org/10.26619/1647-
7251.DT22.2
Artigo recebido em 30 de Abril de 2022 e aceite para publicação em 15 de Maio de 2022
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A diaspora chinesa no Brasil: dispersão, mitologia da terra de origem e promessa de retorno
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A DIÁSPORA CHINESA NO BRASIL: DISPERSÃO, MITOLOGIA DA
TERRA DE ORIGEM E PROMESSA DE RETORNO
DANIEL BICUDO VÉRAS
1. Introdução
Ressaltando a dimensão cultural do fenômeno migratório, o presente trabalho visa a
fornecer um panorama da presença de chineses no Brasil, estimados em 300.000, uma
relativamente pequena porcentagem da população brasileira, com mais de 200 milhões
de pessoas. Também uma pequena parcela da dispersão dos chineses pelo mundo,
estimados em mais de 35 milhões de pessoas.
A China é do Conselho de Segurança da ONU, e desde 2009, o maior parceiro comercial
do Brasil. Por estas razões, são cada vez mais frequentes estudos sobre a China do ponto
de vista de números, do comércio internacional, e também sobre desenvolvimento (no
sentido de experiências que podem ensinar o Brasil a vencer problemas históricos neste
quesito). Entretanto, no caso brasileiro ainda carência de estudos sobre a parte
cultural desta relação. A China está investindo seriamente em aumentar cursos e
departamentos de língua portuguesa e cultura brasileira, ao passo que o Brasil se
mantém estagnado na sua pesquisa sobre a China. O resultado ainda é o mútuo
desconhecimento entre os dois países. José Roberto Teixeira Leite (1999), Gylberto Freire
e alguns outros poucos pioneiros destacaram a influência chinesa no Brasil desde os
tempos coloniais, num intenso intercâmbio de pessoas, artes, costumes, espécies
animais e vegetais entre Brasil, África e Ásia promovido pelos portugueses. A partir dos
anos de 1970, surgiram mais estudos sobre a imigração chinesa no Brasil, como o de
Yang (1974), que é um trabalho seminal no Brasil.
Centros de pesquisa europeus e estadunidenses têm as suas próprias inquietações e
próprios interesses no estudo sobre a China. O Brasil ainda carece de uma perspectiva
própria, que contemple aos interesses brasileiros no estudo da China. Basicamente, falta
estabelecer uma conexão entre estas duas grandes regiões em desenvolvimento. O que
pretendemos adquirir aqui é esta perspectiva, ampliando o entendimento cultural, algo
que em muito pode auxiliar as relações bilaterais, melhorando o comércio e intercâmbios
que vão além do cultural.
Levando-se em consideração o conceito de exército industrial de reserva (Marx, s.d.:
730-749), forças de atração e repulsão de população entre regiões do planeta.
Obviamente, migrações o recursos para desenvolver a economia das regiões
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receptoras, trazendo força de trabalho e qualificações, sem falar no ganho trazido pela
diversidade cultural. Entretanto, diferentemente do capital que circula livremente pelo
planeta, as pessoas têm sua liberdade de circulação cerceada nas fronteiras. Isto resulta
em diversas crises de refugiados, sendo o campo o paradigma do espaço das fronteiras,
em que é naturalizada a privação de direitos de certos grupos sociais (Agamben, 2004:
79).
Os movimentos populacionais comunicam regiões, mesmo que os seus respectivos
Estados não participem ativamente ou alavanquem as ações. Se são do interesse de suas
classes dominantes, as ações ocorrerão (Singer, 1973: 38). Há regiões que têm excesso
de população, que não encontra ocupação por ter sido deixada de fora por processos
excludentes. Tais regiões são expulsoras de pessoas (pushing regions), sendo a Europa
e a Ásia da passagem do século XIX para o XX exemplos clássicos. Ao mesmo tempo,
regiões de vazio populacional, abundância de terra não-explorada e economias em
ascensão atraem força de trabalho (pulling regions), sendo todo o continente americano
da passagem do século XIX para o XX um exemplo. Levando em consideração tais
conceitos de pull e push, explorados pelo historiador Herbert Klein (2000: 13), aqui se
procura identificar as forças de repulsão e atração de população. Se na passagem do
século XIX para o XX, a Europa e a Ásia eram lugares de excedente populacional e as
Américas eram lugares de vazio demográfico, os emigrantes promovem um encontro que
busca suprir as necessidades econômicas das regiões em jogo
1
. Neste trabalho
especificamente, cabe analisar as condições chinesas que levam parte de sua população
a sair, e as condições atrativas do Brasil, em especial São Paulo, para o recebimento de
pessoas do mundo todo.
E mais interessante ainda para o presente trabalho é o produto deste processo: o
surgimento de uma comunidade que é sino-brasileira. Ao entrevistar membros desta
comunidade, procurou-se compreender fatores de pull e push, bem como a construção
desta comunidade, seus valores, tensões (internas e externas), e universo cultural. Daí
também a importância do conceito de diáspora.
Segundo o Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina), de São Paulo, há 300 mil
chineses no Brasil, correspondendo a 5% do total de imigrantes no país. Se a imigração
chinesa não é representativa dentro do Brasil, ficando atrás de grupos como portugueses,
espanhóis, italianos e japoneses, então por que estudar o tema? Se dentro da diáspora
chinesa, a parte brasileira é ainda bastante diminuta, então por que estudar o tema?
Dada a relevância das relações comerciais e diplomáticas entre Brasil e China, todos os
pontos de conexão que possam aproximar os dois países, minimizando o problema do
desconhecimento mútuo, são muito pertinentes. Ademais, é um grupo de imigração
contemporâneo, que ainda cresce no Brasil.
Tendo como base a relação dialética entre Brasil e China, a presente investigação
trabalha com as seguintes hipóteses:
1
Em sua vasta pesquisa sobre os processos migratórios de chineses rumo ao continente americano, Evelyn
Hu-DeHart destaca a América Latina como espaço privilegiado para a imigração chinesa. Estudando mais a
fundo o caso mexicano, a autora mostra como a região foi importante para receber chineses nos diversos
momentos de exclusão por parte dos Estados Unidos desde o século XIX (Hu-DeHart, 2013: 89).
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A China expulsa (push factors);
O Brasil recebe (pull factors);
Os sino-brasileiros emergem (a síntese do processo).
De certa forma refletindo a estrutura de hipóteses, além de considerar a perspectiva de
retorno que caracteriza uma diáspora, o trabalho se divide em sete partes: 1. Introdução;
2. Deixando a China; 3. Estabelecendo-se no Brasil; 4. Os retornados; 5. Conclusões; 6.
Imagens e a 7. Bibliografia.
A metodologia consistiu inicialmente em pesquisa bibliográfica, sobretudo sobre a
diáspora chinesa pelo mundo, e sobre a história das imigrações para o Brasil, porém
como temas separados, pois havia ainda poucos trabalhos a abordar os dois temas
juntos, ou seja, a imigração chinesa para o Brasil. Posteriormente, houve coleta de dados
secundários, oriundos do Museu da Imigração em São Paulo.
O grosso do material empírico consistiu em entrevistas com chineses - dados qualitativos,
transcrição e análise (aplicação de questionários) entrevistados livres para discorrer e
opinar. O que os entrevistados têm em comum é ter nascido na China, mas procurou-se
uma variedade de nero, grupo etário, origem (ter vindo da China Continental ou de
Taiwan, por exemplo), ocupações. Além disso, procedeu-se ao levantamento fotográfico
e documental da presença chinesa emo Paulo, em pontos da cidade específicos.
A pesquisa iniciou-se em 2003 para a confecção de tese de doutoramento, que foi
defendida em 2008. O campo e entrevistas foram realizadas em 2006. Após este período,
o pesquisador voltou-se para a comunicação asiático-brasileira em redes sociais, como
YouTube, Facebook e Instagram nos últimos anos. Foi feita então a análise de todos os
materiais.
Para o conceito de diáspora, foram usadas referências de Stuart Hall (2003: 25-47) e
Adam McKeown (1999: 308), entre outros. É um conceito central nesta investigação, que
só pode ser chamado como tal quando existem estas três dimensões:
Dispersão física pelo mundo (afinal, a palavra vem do grego dia speiro, que significa
“o espalhar das sementes”);
A criação de uma mitologia e narrativas sobre a terra de origem;
Promessa de retorno.
Outro autor que ressalta a promessa de retorno no processo migratório é Abdelmalek
Sayad (1998: 176).
Na parte social-econômica, o conceito de Karl Marx (s.d.: 730-749) “exército industrial
de reserva” conta da presença de grandes contingentes populacionais circulando pelo
mundo, basicamente por razões econômicas. Entretanto, quando se pensa deslocamento
por falta de segurança, logo se pensa em Giorgio Agamben (2004). A vida da
contemporaneidade é a vida na fronteira, questão abordada por Homi Bhabha (2003:
19). o referido mecanismo de pull e push entre populações e territórios é uma
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construção utilizada por Paul Singer (1973) e Herbert Klein (2000) para explicar o
movimento populacional.
Sobre a construção de uma identidade brasileira que inclsse também asiáticos e seus
descendentes, os trabalhos de Jeffrey Lesser (2001: 18-21; 2007: 189) merecem
destaque
2
. Sobre a inserção de chineses na sociedade brasileira, teorias de Sigmund
Freud (1961), Eric Hobsbawn (1975) e outros que ajudam a lidar com a complexidade
da questão
3
.
O estudo permite identificar uma intrínseca conexão entre processos econômicos,
políticos e culturais, sendo o Brasil palco de rápidas e intensas transformações, refletindo
tendências históricas e criando uma singular realidade. Ao ouvir a comunidade sino-
brasileira e documentar a sua presença na cidade de o Paulo, o trabalho procura
sistematizar informações de um assunto relevante para as relações internacionais do
Brasil, para o autoconhecimento de suas origens, além de se constituir em ponto de
partida para um terreno ainda inexplorado e cheio de possibilidades para expandir. O
que resultou foi o registro de fala dos membros de tal comunidade, e um entendimento
do Brasil como uma parte deste processo e palco de intensas disputas narrativas,
políticas e culturais.
2. Deixando a China
Internamente, a parte meridional da China sempre foi a grande exportadora de pessoas.
Desde a Dinastia Qing (1644-1912), as províncias de Guangzhou e Fujian eram as terras
mais populosas, onde o caos social se fazia sentir. Criminalidade, desemprego, e
empobrecimento eram abundantes na região, sendo um fator para explicar a saída de
pessoas. Ao mesmo tempo, tais regiões, por serem costeiras e portuárias, eram mais
abertas e oferecedoras de oportunidades e acesso ao Oceano Pacífico, sem falar na
proximidade de Hong Kong e Macau. De certa forma, as comunidades chinesas pelo
mundo têm pronunciados traços do sul da China, mais do que do norte ou outras regiões.
Isto se pelo fato de que mais chineses saíram justamente desta região. Em certa
medida, houve fluxo de trabalhadores vindos de Macau, alguns dos quais sequestrados
ou enganados sobre sua vida nas Américas. Estamos aqui a falar do período da
2
Para ser aceita, a identidade asiático-brasileira precisa ser amplamente discutida e negociada, conferindo a
este grupo a condição de eterno estrangeiro (Lesser, 2001: 18-21; 293-294). Mais recentemente, Lesser
(2007: 189) faz uma reflexão acerca de estereótipos que envolvem os asiático-brasileiros, sobretudo as
mulheres que são sexualizadas. Como os japoneses são o paradigma de imigração asiática para o Brasil,
tais questões afetam diretamente a comunidade Nikkei brasileira, ou nipo-brasileira.
3
Freud (1961: 114) salienta o narcisismo das pequenas diferenças, postulando que há mais problemas entre
culturas próximas do que entre culturas distantes, porque está sempre presente, em cada povo, o medo de
ter a sua identidade confundida com a do outro. Eric Hobsbawn (1975: 103-121), por sua vez, ressalta
o caráter artificial dos nacionalismos, à medida que estes são rapidamente construídos para servir de
instrumento para certa classe social que ascende. O autor demonstra aqui a íntima relação entre migração
e nação - e como esta noção de nação será construída nas comunidades no exterior. nas tardias
unificações da Itália e da Alemanha no século XIX, pode-se ver nitidamente a fabricação de nacionalismos
para servir a um interesse de classe. A artificialidade do conceito de nação é também um assunto
amplamente trabalhado por Gellner (1983: 56). Já Anderson (2008: 71), por sua vez, faz detalhada análise
das nações como comunidades imaginadas e sobre o que enseja esta construção.
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exportação de o-de-obra coolie, que se deu de 1810 a 1920 pelas mãos de
portugueses e ingleses, que eram concorrentes entre si (Yang, 1974: 18-20).
De fato, temos números de chineses pelo Brasil e pelo mundo, mas não se pode ter uma
precisão. Fatores como migrações ilegais (boat people, cabeças-de-cobra, tráfico de
pessoas) e o fato de muitos chineses circularem com passaportes outros que não da
China podem explicar a imprecisão. Por exemplo, muitos chineses entraram no Brasil
com passaporte moçambicano, por viverem neste país africano, em certos casos por
gerações. Caso tenham vindo antes de 1975, estes chineses entravam com passaporte
português. Todos estes fatos obscurecem as estimativas.
Na China, emigração é um tema sensível. De certa forma, desfavorece a reputação do
governo chinês, à medida que evidencia que muitos deixaram o país em busca de
melhores condições de vida. Inicialmente tidos como traidores da pátria, nos fins do
século XIX, a partir do momento em que mandam dinheiro de volta à China, passam a
ser vistos como beneméritos relativamente ao país de origem. Novas identidades, então,
são criadas. Huaren () ou huaqiao (华侨) são os chineses ultramarinos. Seus
descendentes, os huayi (). Mais recentemente, as lideranças políticas falam mais em
zhonghua da jiating (家庭), ou grande família chinesa, em seus discursos. Isto não
salva a reputação da China como também torna estes chineses no exterior de certa
forma sujeitos ao controle do Estado chinês. Os chineses têm uma forte cultura de
retorno à terra natal, e isto se na ligação com a aldeia rural de origem (até
recentemente a maioria do país era agrário), remessas de dinheiro do exterior ou mesmo
repatriamento de corpos para serem sepultados na China. Em o Paulo é muito comum
encontrar associações de chineses ligadas a uma determinada província ou cidade, muito
mais que ao país todo.
3. Estabelecendo-se no Brasil
Enquanto a iniciativa coolie (苦力) teve ampla aceitação como mão-de-obra asiática para
substituir a força de trabalho escravizada de origem africana em diversos países no
século XIX, no Brasil isto não se deu. Chineses mineradores dominaram o cenário no
Chile, África do Sul e Austrália. No Peru, destacaram-se como extratores de guano, ao
passo que nos Estados Unidos, Canadá e Panamá foram construtores de estradas de
ferro. Em Cuba, foram amplamente empregados como agricultores. Diferentemente, no
México e Indonésia, os chineses se converteram em poderosa burguesia comercial, tendo
enfrentado, por seu destaque conquistado na sociedade, severas hostilidades por parte
de populações locais.
No Brasil de fins do século XIX, o último país a abolir oficialmente a escravidão nas
Américas, colocou-se um acalorado debate sobre a substituição de mão-de-obra
escravizada. Marcado pelo racismo, tal debate era sobre a política de “branqueamento”
da população e incentivo da vinda de imigrantes europeus ao Brasil, sobretudo para as
lavouras de café do sudeste. E posteriormente, a crescente industrialização do estado de
São Paulo. Realmente, a Europa se via com crescente contingente populacional
empobrecido, carecendo de terras e ocupação. Processos excludentes, como as tardias
unificações da Itália e da Alemanha, faziam crescer aquilo que Karl Marx (s.d.: 730-749)
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iria designar como exército industrial de reserva. Ao mesmo tempo, tais regiões viam
crescer internamente movimentos sociais questionadores, como o socialista e o
anarquista. Inicialmente, tais trabalhadores politizados não se deixavam contentar pelas
condições de vida e trabalho no Brasil. Desta forma, começaram a ser considerados os
trabalhadores asiáticos.
A primeira iniciativa oficial de se trazerem de trabalhadores coolies ao Brasil se deu ainda
na época colonial, na corte de D. João VI em 1812, em que poucos plantadores de chá
vieram ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro iniciativa que resultou em fugas e suicídios,
dificultando muito o prosseguimento da iniciativa coolie no país austral, a despeito de
posteriores tentativas e missões diplomáticas. A dinastia Qing, envolvida em problemas
internos de caos social, guerras do ópio, pressão de nações imperialistas, ao constatar
as más condições de vida destas populações, achou por bem interromper o fluxo. Ele
ainda ocorreu, contudo. Por exemplo, o dia 15 de agosto é desde 2018 o Dia da Imigração
Chinesa (data federal), em referência à chegada do vapor Malange, em 1900 (tendo feito
a rota Lisboa Rio).
O Brasil ainda estava interessado em trazer trabalhadores asiáticos, e então recorreu aos
japoneses, um grupo de trabalhadores preterido pelos Estados Unidos, e também
numeroso pela excludente Restauração Meiji do século XIX. Desta forma, em 1908,
atracava no porto de Santos o Kasato Maru, com os primeiros japoneses, transformando-
os a partir de então no paradigma da imigração asiática no país tendo hoje a
comunidade Nikkei mais de 1,5 milhão de pessoas no Brasil, entre japoneses e seus
descendentes.
No Brasil, como a iniciativa coolie o prosperou, a comunidade chinesa é
predominantemente urbana, com forte traço empreendedor e chegada por iniciativas
familiares. Tal situação é bastante diferente de imigrações ao Brasil que podem ser
consideradas tuteladas”, como a italiana ou japonesa. Há marcos na história da China
que interferem na imigração chinesa para o Brasil. Se a 1950 predominavam os
chineses continentais no Brasil, entre esta data e 1980 chegaram mais taiwaneses. Após
este marco, os chineses continentais retomam a proeminência no processo. Isto nos leva
a inferir que após a Revolução Chinesa de 1949, o país se fechou, tornando mais difícil a
emigração. Neste tempo, a ilha de Taiwan era mais aberta, e muitos a deixaram pelas
tensões políticas existente entre as extremidades do estreito de Taiwan. Pelo mundo, as
comunidades chinesas se incrementaram de cultura letrada e se revitalizaram após a
Revolução de 1949, devendo-se ao fato de que pela primeira vez elites intelectuais
emigraram expressivamente da China. E o que a década de 1980 nos sinaliza? É o
momento da reforma e abertura, garantido acesso e oportunidades da população chinesa
continental para o estrangeiro.
De qualquer maneira, o processo migratório é sentido de formas diferentes de acordo
com as gerações. No caso de chineses no Brasil, muitas vezes os filhos funcionam como
mediadores e até interpretes entre os pais e a cultura do país; entre o diminuto mundo
doméstico e o amplo mundo social exterior. Filhos únicos tendem a dominar melhor o
chinês, ao passo que crianças e jovens com irmãos tendem a aprender o português mais
rapidamente. Obviamente, choques culturais dentro da própria família. Os jovens
huayi não se conformam por terem colegas brasileiros com uma vida muito mais livre e
relaxada do que a eles e não raro questionam os pais. Os mais velhos tendem a viver
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em enclaves, muitas vezes nunca aprendendo o português ou tendo amizades fora do
círculo chinês.
Em Mal-Estar na Civilização, Freud (1961: 114) conta do chamado narcisismo das
pequenas diferenças”, em que maiores problemas entre culturas próximas do que
entre culturas distantes. Assim, por exemplo, entre chineses e japoneses, entre povos
do Oriente Médio, ou entre portugueses e espanhóis. Muitas vezes, na terra de origem,
as pessoas vêm de civilizações que competiam por recursos, ou determinados rios ou
terras. Mais do que isto, entretanto, o estudo de processos migratórios deve levar em
conta que, entre civilizações próximas existe o medo e o perigo de ser confundido com o
outro. Ou seja, o perigo da perda da própria identidade. Em São Paulo, isto se deu com
todos estes grupos. Os chineses têm suas tensões internas e externas à colônia. Por seu
caráter fragmentado, a diáspora chinesa no Brasil muitas vezes apresenta uma maior
ligação à província de origem do que à Grande China propriamente dita. Curiosamente,
os japoneses, por serem a maior imigração asiática no Brasil, acabam por ditar a
distribuição espacial dos chineses e outros asiáticos, que acabam por gravitar em torno
destes japoneses, em princípio.
O bairro paulistano da Liberdade torna-se o ícone espacial das imigrações orientais no
Brasil. Transformado pela arquitetura japonesa, seus letreiros e lanternas, o lugar se
torna espaço de disputas narrativas em curso no Brasil. É vendido como “bairro japonês”,
mas hoje em dia poucos japoneses vivem ali. Estes estão espalhados em outros bairros
da cidade, sendo a maioria dos orientais que vivem chineses. Há também alguns
coreanos. Antes da chegada dos primeiros orientais ao bairro, entretanto, ele era
essencialmente africano. A Praça da Liberdade era lugar de execução de escravizados
rebelados, e a igreja que ainda es ostenta o nome Igreja dos Aflitos. Era o pranto
destes aflitos que o bairro via correr. O local se torna um simulacro de Oriente na
arquitetura e comércio, onde cada vez mais artificialmente pressão para vender a
imagem japonesa e apagar a história africana anterior. Isto é apagar uma herança que
justifica o próprio nome Liberdade. O governador do estado João Doria Jr. renomeou a
estação de metrô Liberdade para “Japão Liberdade” em 2018. O bairro tem uma feira
dominical, onde se está tentando proibir a comercialização de comidas não-orientais.
Comidas do Nordeste brasileiro, em especial. Tudo isto é o apagamento da história
pregressa do bairro. Hoje em dia há relatos de que está em vias de se criar artificialmente
uma “Chinatown” em São Paulo. Aliás, entre os entrevistados da pesquisa, uma
Chinatown no Brasil não se justifica por dois motivos:
Não há escala para isso. Cerca de 300.000 chineses vivem no Brasil, metade dos quais
em São Paulo. Não se compara a cidades estadunidenses, australianas ou canadenses;
Os chineses do Brasil sentem que não precisam se isolar, pois se sentem incluídos na
sociedade brasileira.
Hobsbawm (1975: 103-121) destacara o caráter artificial e fabricado dos
nacionalismos, e como estes escamoteiam as identificações de classe. Talvez um
exercício interessante seja realmente tentar buscar identificações mais universais
baseadas no lugar ocupado nos processos produtivos.
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Estas e outras questões contemporâneas têm sido abordadas pelo canal de YouTube
chamado Yo Ban Boo, criado em 2016 por jovens brasileiros de ascendência asiática.
Aliás, mais recentemente o pesquisador voltou-se a este assunto, porque ele é a
continuação natural do processo analisado desde a pesquisa doutoral defendida em 2008.
O canal discute diversas questões sobre o que é ser asiático-brasileiro. O Brasil, apesar
de sua diversidade étnica e racial, é um país racista. Se ainda pessoas que não se
convencem do racismo sofrido pelos descendentes de escravizados africanos, ainda mais
difícil é ilustrar a questão do racismo contra asiáticos (Veras, 2021: 291). Tsang (2018:
304), por sua vez, por meio da análise dos conteúdos de um website dirigido por chineses
no Brasil, e dedicado a este público (o BrasilCN.com), em língua chinesa, identifica pontos
abordados também por Anderson (2008). Por exemplo, identifica como a China é
construída como comunidade imaginada e muito mais ampliada pelo capitalismo virtual
(algo que Anderson o chegou a abordar). Substancialmente mais ampla do que um
capitalismo impresso. O espaço virtual é potente criador e amplificador de comunidades
imaginadas.
Voltando à questão do racismo contra asiaticos, uma faceta singularizante que ele possui
é a questão da minoria modelo”. Trata-se de um grupo de não-brancos que tem êxito
educacional e econômico, e que acaba desta forma servindo para justificar as piores
situações vividas pelos negros no Brasil. Ao mesmo tempo, os asiáticos são alvo de
racismo, pois a eles é negada individualidade, além de serem frequentemente
desumanizados, hostilizados e associados a estereótipos. Pouco se fala, mas na história
do continente americano os asiáticos já sofreram diversas restrições legais por conta de
sua origem e fenótipo. Após a pandemia de covid-19, a questão se exacerbou em
diversos países. Como apontado por Lesser (2001: 293-294), diferentemente de outras
identidades étnico-raciais mais aceitas como sendo brasileiras, uma identidade asiática-
brasileira tem sempre que ser negociada, ao invés de ser aceita a priori.
4. Os retornados
E a promessa de retorno? Desde 1997 a China tem atraído pessoas do mundo todo e
muitos chineses retornam. Intrigados pelo próprio país, são agora atraídos pelas
condições de estabilidade da sociedade chinesa em vários aspectos. O ingresso de
investimentos vindos de chineses no exterior já existia há décadas, mas agora cada vez
mais chineses voltam: as chamadas haigui ( as tartarugas marinhas que voltam a
nado). também os chamados haidai ( alga marinha), aqueles que não souberam
se adaptar ao processo e são engolidos. Os retornados são no geral conhecidos como
guiqiao (归侨). Para Ho (2015: 199), o que vai diferenciar os haigui dos haidai é o fato
de que enquanto os primeiros utilizam suas habilidades adquiridas no exterior como um
ativo para se destacar profissionalmente, para os últimos, ter passado tempo longe da
China foi um fator dificultador de retornar ao mercado chinês.
um fenômeno ligado à migração chinesa, que embora reflita a cultura do país, quando
reproduzido no Brasil, pode levar a problemas inesperados. Os chineses que têm filhos
no Brasil os mandam para os avós criarem na China. Isto não é diferente dos movimentos
migratórios rural-urbano internos na China. Entretanto, quando estes filhos crescem, são
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cidadãos brasileiros, e que não sabem nem a língua do país, ao mesmo tempo que a
China não sente qualquer obrigação para com eles. Os consulados brasileiros na China
tentaram contornar esta questão criando materiais que apresentam o Brasil. Por fim, há
notícia de que o governo chinês está aceitando estes jovens como cidadãos chineses.
Esta é de certa forma, uma questão de retornados. Desde 1980 a República Popular da
China não permite que cidadãos chineses tenham dupla nacionalidade, o que para a
diáspora se tornou motivo de agonia. Assim, na verdade os chineses no estrangeiro têm
que escolher entre manter a cidadania chinesa e adotar uma outra. No caso destes
jovens, portanto, também deve haver esta escolha, daí também o motivo de uma certa
tensão quando da opção.
5. Conclusões
Para além da junção de um material que documenta a presença chinesa em São Paulo
(fotos, coleta de jornais chineses, levantamento de endereços importantes), há algumas
constatações sobre o processo diaspórico chinês no Brasil. O Brasil, pelo desenvolvimento
de seu mercado, torna-se polo de atração de pessoas do mundo todo, inclusive os
chineses, a partir do fim da escravatura. Como colocado por entrevistados, o Brasil é
visto como um país “em construção”, muito mais novo do que a China. E hoje os chineses
têm um lugar na construção de uma identidade brasileira.
Em suma, forças pull e push atuam entre pessoas chinesas e o território brasileiro. Os
chineses pelo mundo constituem uma diáspora, mesmo que com múltiplas e diversas
identidades (zhongguoren; huaren / huaqiao; huayi, zhonghua da jiating, Hong Kong,
Macau; 56 etnias). Conforme pode se perceber sobre as tendências de fluxo para o Brasil,
isolamento/ abertura da China são determinantes no processo migratório.
Historicamente, o Brasil tem sido polo de atração de população. Como colônia de
exploração, o Brasil sempre aguçou a imaginação europeia, conforme relatado por Mello
e Souza (1986: 21). Leite (1999: 23), por sua vez, destaca o antigo contato Brasil-China,
há séculos promovido pelo colonizador português. Na época de substituição da o-de-
obra escravizada, em fins do século XIX, todo e qualquer imigrante não-europeu
desafiava o ideal étnico das elites brasileiras. Concomitantemente, a iniciativa coolie no
Brasil foi frustrada à medida que as incipientes negociações tiveram pouco avanço. A
complexidade da identidade asiática no Brasil se intensifica na questão da “minoria
modelo”. Se por um lado ela é enxergada como bem-sucedida, por outro é também
vítima de racismo e estereotipação, num país em que a branquitude o tom das
relações raciais. O Brasil, embora atraísse povos por uma demanda de força de trabalho,
é hoje um país de emigração. mais de 2 milhões de brasileiros pelo mundo, um
processo iniciado na década de 1980 (a chamada “década perdida” pela estagnação
econômica do período), sendo os Estados Unidos, Portugal, Itália e Japão destacados
destinos de brasileiros. Desde aquela época, as sucessivas crises econômicas brasileiras
levaram à falta de perspectivas de trabalho. No caso de Portugal, Itália, Japão e até
Alemanha, muitos brasileiros recorreram a estes países por eles oferecerem às
comunidades de descendentes abertura para imigrar, na maioria dos casos com
ocupações de baixa qualificação.
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Os sino-brasileiros são uma comunidade fragmentada e heterogênea, constituída em
ondas desconexas, muito dependentes de iniciativas individuais. Conforme já apontado,
nos anos de 1950 e 60 é marcada a vinda de chineses ao Brasil, especialmente
taiwaneses. A partir dos anos de 1980 aumentou a vinda de chineses continentais, que
segue. Tensões da terra de origem também migram para o Brasil. Um exemplo disso é
o mal-estar todo mês de outubro, em que chineses continentais comemoram a data
nacional dia 1, e os taiwaneses a celebram dia 10. Isto mostra a complexidade das
identidades e formações diaspóricas. Os sino-brasileiros não só transformam a sociedade
brasileira, como também são transformados por ela. Constituem, por fim, algo novo,
diferente da sociedade chinesa (adaptando sua culinária a ingredientes locais, mudando
aspectos culturais mesmo que em enclaves). Em diferentes graus, de acordo com a
geração, preservam traços da antiga cultura chinesa, artes, ciência, guanxi. E por fim,
têm sempre a perspectiva do retorno; seja o retorno físico como haigui, seja o retorno
por remessas de dinheiro para a terra natal, ou então como investimentos na China, ou
por fim na criação de uma grande comunidade imaginada nas artes, literatura, religião,
ou no ciberespaço.
6. Imagens
Imagem 1: Hospedaria dos Imigrantes. São Paulo. Recebeu mais de 3 milhões de trabalhadores
de todo o mundo, de 1888 aos anos de 1970. São Paulo, com o capital acumulado com a economia
cafeeira, investiu na industrialização no século XX, tornando-se mercado aquecido e atraente para
mão-de-obra do mundo todo.
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 118)
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Imagem 2: As caricaturas da época retratam os debates marcados por racismo e preconceito sobre
a possibilidade de se trazerem trabalhadores chineses. No Brasil a iniciativa coolie não foi levada
adiante.
Fonte: Litografia de Angelo Agostini in Vida Fluminense -1871, reproduzido por Leite (1999: 115)
Imagem 3: O Templo Zulai, no município de Cotia, estado de São Paulo. Iniciativa da comunidade
chinesa do Brasil, é o maior templo budista da América Latina.
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 220)
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Imagem 4: O bairro paulistano da Liberdade. Palco de disputas narrativas na cidade. Um simulacro
de Oriente e tentativa de apagamento da história africana no bairro
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 180)
Imagens 5, 6 e 7: Comemorações de Ano Novo Chinês no bairro da Liberdade. O evento atrai
multidão de entusiastas, descendentes de chinês ou não
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 189-190).
Imagens 8 e 9: Escola taiwanesa no bairro da Vila Mariana, cidade de São Paulo. Escolas locais
preservam as tradições da região de origem. Aqui, celebração do Ano Novo Chinês
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 223)
Imagem 10: Colégio Sidarta, no município de Cotia, estado de São Paulo. O primeiro colégio do
Brasil a incluir em sua grade curricular o idioma chinês.
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Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 224)
Imagem 11: Vendedor de chaofan (arroz frito) em van do bairro das Perdizes, cidade de São Paulo
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 208)
Imagem 12: publicações em língua chinesa produzidas na cidade de São Paulo, tendo como alvo a
comunidade chinesa de huaren e huayi
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 222)
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Imagem 13: a Rua 25 de Março, em São Paulo. Importante ponto varejista que concentra
comerciantes chineses, sobretudo na área de eletrônicos
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 170)
Imagem 14: a Missão Católica Chinesa, situada à Vila Olímpia, cidade de São Paulo. Sob a liderança
do veterano Padre Pedro, ponto de encontro de chineses, religiosos ou não, de diferentes províncias
de origem. Ademais, uma instituição que sempre ajudou muitos chineses recém-chegados, sem
casa, sem conhecidos e sem falar português
Foto: Daniel Veras, 2006 (Veras, 2008: 216).
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Imagens 15, 16 e 17: Material concebido pelo autor brasileiro Maurício de Sousa para o público de
jovens chineses nascidos no Brasil, mas que não conhecem nada do país sul-americano, pois foram
criados na China. O material é fornecido pelos consulados brasileiros em Shanghai e Guangzhou
para estes jovens que, de início têm cidadania brasileira.
Foto: Daniel Veras, 2015.
7. Bibliografia
Páginas asiático-brasileiras no Facebook
Teacher Liao Si’s page, disponível em
https://www.facebook.com/groups/professoradechines/
Estudos Asiático-Brasileiros, disponível em
https://www.facebook.com/groups/540209652761976/
Filosofia Taoísta, de Chiu Yi Chih, disponível em
https://www.facebook.com/groups/1882281848653533/
Instituto Confúcio no Brasil, disponível em
https://www.facebook.com/groups/mandarim.brasil/
Perigo Amarelo, análise, disponível em https://www.facebook.com/perigoamarelo/
Coletivo Oriente-se (de atores asiático-brasileiros), disponível em
https://www.facebook.com/coletivoorientese/
Centro Chinês (Rio), disponível em https://www.facebook.com/centro.chines/
Asiáticos pela Diversidade (Comunidade LGBT asiática), disponível em
https://www.facebook.com/asiaticosdiversidade/
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Canais no Youtube por asiático-brasileiros
Yo Ban Boo, disponível em
https://www.youtube.com/channel/UCmPMXwu814q8lDOd_OTx26Q
Bro Capitalista, de Christian Jao Haksabatugi, disponível
emhttps://www.youtube.com/channel/UCksNHNRPJMK7xRBjq6nqDTQ
Pula Muralha, Liao Si e Lucas Brand, disponível em
https://www.youtube.com/channel/UC6qjUYfE_cG4PHWVs9MMBlA
Chinesa Brazuka, de Yolanda, disponível em
https://www.youtube.com/channel/UCMCMTLrqJDqkQuLdauYVAdg
Chiu Yi Chih, Filósofo taoísta nascido em Taiwan, disponível em
https://www.youtube.com/channel/UCavBAhXBxEMsvD_8uSUqpvA
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