evidentemente neste último, estruturas de RoN foram oficialmente adotadas em ambos
os casos e já estão, em certa medida, a ter impacto. O que isto sugere é que o movimento
pelos Direitos da Natureza pode potencialmente alcançar maior sucesso concentrando-
se primeiro em mudanças mais pequenas e localizadas e, gradualmente, encorajando
potencialmente uma rede crescente de estruturas RoN. Trabalhar na mudança
paradigmática ou no aumento da consciência em níveis mais pequenos pode contribuir
para difundir conceções e sistemas de prática contra-hegemónicos através de uma
abordagem de base, de baixo para cima.
Em segundo lugar, é importante notar como os contextos em que o movimento RoN tem
tido mais sucesso até agora estão no Sul Global, e especificamente em regiões com povos
indígenas e mobilização (ou luta) indígena ativa para o reconhecimento dos seus direitos
culturais, políticos e legais. Alguns dos casos em que os quadros de RoN parecem ter
sido introduzidos com mais ousadia até agora, no Equador e em Aotearoa Nova Zelândia,
envolveram circunstâncias muito particulares através das quais os povos indígenas
fizeram ouvir a sua voz e as suas reivindicações (e, portanto, as suas culturas, ontologias
e língua) e foram incorporados na legislação oficial. O que isto parece sugerir é que, nos
espaços onde os limites morais da comunidade política são alargados ao ponto de
permitirem uma maior inclusão, participação e representação de comunidades humanas
tradicionalmente marginalizadas (particularmente os povos indígenas), pode-se esperar,
quiçá, mais facilmente ver uma expansão correspondente desses limites para incluir a
natureza não-humana sistematicamente excluída. Isto faz sentido, de facto, se
pensarmos nas relações tradicionais dos povos indígenas com o mundo mais-do-que-
humano; e também sugere que o desenvolvimento de comunidades políticas mais
inclusivas pode ser um bom cenário tanto para os seres humanos como para os não-
humanos. Se permitir uma resposta mais atempada, concertada e robusta às crises
climática e ambiental, certamente que o fará.
Finalmente, independentemente dos potenciais desafios à sua implementação prática,
diria que o movimento RoN detém de facto o potencial para (pelo menos) uma
transformação gradual da comunidade política numa direção pós-antropocêntrica, pós-
Vestefaliana. Através da sua linguagem e potencial narrativo, as estruturas RoN
convidam a uma reflexão crítica sobre conceitos de comunidade, subjetividade, agência,
voz, direitos, participação e representação que se têm centrado quase exclusivamente
em torno dos seres humanos; e, consequentemente, impulsionam um alargamento das
fronteiras morais, jurídicas e políticas da comunidade de modo a incluir o mundo mais-
do-que-humano. Ao convidar a uma transformação de um modo de relação prevalecente,
explorador e antropocêntrico com a natureza não-humana, o movimento RoN também
permite uma resposta potencialmente robusta, mais representativa, inclusiva, justa e
ecológica às crises climática e ambiental.
Referências
Barcan, Ruth (2019). “The campaign for legal personhood for the Great Barrier Reef:
Finding political and pedagogical value in a spectacular failure of care”. Environment and
Planning E: Nature and Space, 0(0), 1-23. https://doi.org/10.1177/2514848619886975
Burke, Anthony, Stefanie Fishel, Audra Mitchell, Simon Dalby, Daniel J. Levine (2016).