Os criminosos perceberam que a política do recém-eleito presidente AMLO era diferente
da das administrações anteriores, o que causou um grande constrangimento para o
governo durante a tentativa de capturar Ovidio Guzmán, filho de Chapo Guzmán (ex-
líder do cartel de Sinaloa no México), em 17 de outubro de 2019. As claras contradições
entre todas as instituições de segurança envolvidas, evidenciadas nas suas declarações
públicas, evidenciaram uma gritante ausência de coordenação para uma operação de
suma importância para a nova administração AMLO.
Embora o secretário de Segurança Pública devesse pelo menos ter conhecimento dessa
operação ultrassecreta, que seria realizada conjuntamente pela Guarda Nacional e pela
SEDENA, os seus comentários públicos revelaram o contrário. Afirmou que a operação
“fora circunstancial” (Camarillo, 2019: 3) e que “Ovidio nunca foi preso”, dizendo que
nenhum acordo fora feito com a organização de Sinaloa para garantir a libertação de
Ovidio Guzmán e, finalmente, admitiu que houve falhas na execução da captura, sem
indicar o motivo (Guerrero, 2019: 2).
Em 21 de outubro, AMLO anunciou que a SEDENA e a Guarda Nacional iriam recapturar
Ovídio, mas desta vez não recorrendo a meios militares, porque isso colocaria em risco
o público em geral, algo que o seu governo não faria. Declarou que “fui informado sobre
esta ação porque há uma recomendação geral. Acho que a SEDENA sabia disso”
(Alvarado, 2019: 13-18).
As declarações de todas as Secretarias envolvidas sublinharam essa falta de
coordenação, contrariando o repetido objetivo político de maior coordenação de AMLO.
Além das suas declarações, descritas acima, Durazo disse mais tarde que os militares
realizaram a operação com base numa ordem de extradição dos EUA. Dado que a
descrição de AMLO parecia mudar a cada nova declaração e que não conseguia explicar
o que era claramente uma operação de segurança liderada pela SEDENA, a conclusão foi
que o presidente não tinha sido informado sobre a operação nem tinha nenhuma ideia
real do motivo pelo qual os militares estavam envolvidos (Alvarado, 2019).
Numa indicação do que pode ser descrito como a dessecuritização da luta contra as DTOs,
dado o ter-se evitado o confronto violento direto com uma organização específica neste
caso, AMLO dava sinais que dava prioridade à da vida civil em detrimento da “guerra”
contra as DTOs. A verdadeira questão relacionada com essa política de dessecuritização
é que, embora AMLO, como seus antecessores, pareça não querer que a violência
criminosa seja perpetrada na sociedade pelas DTOs, claramente prefere que esse tipo de
operação falhe se puder resultar em baixas civis.
Ao libertar um chefe de uma DTO, como Ovidio Guzmán, em plena vista da sociedade,
AMLO mostrou o seu compromisso para com a sua promessa de não provocar essas
organizações, apesar de serem alvos de alto valor para a extradição dos EUA, e reiterou
a sua preferência pela paz sobre a violência. Esse episódio evidenciou a política de AMLO
de dessecuritizar o combate às DTOs. Embora tenha sido criticado por essa decisão
política, foi coerente com a sua promessa de não usar a violência no combate às DTOs,
como tinha sido usada no passado. Considerando que a política de dessecuritização de