prática política; a segunda é dedicada ao entendimento do espaço da laicidade no
imaginário francês como parte da sua identidade; a terceira analisa o desenvolvimento
do fenómeno através da aprovação da proibição da utilização do hijab nas escolas; a
última descreve as conclusões sobre esta questão.
Segurança ontológica: o que é e por que é importante?
Benedict Anderson (2006: 6) afirma que "as comunidades distinguem-se, não pela sua
falsidade/autenticidade, mas pelo estilo da sua representação". As representações
baseiam-se em símbolos e narrativas, que imprimem "uma sensação de espaço e um
sentido de lugar" (Subotić, 2016: 612) para indivíduos dessas comunidades. Pode dizer-
se, então, que as narrativas "desempenham um papel fundamental na construção de
comportamentos políticos [...]. Criamos e usamos narrativas para interpretar e
compreender as realidades políticas que nos rodeiam" (Patterson e Monroe, 1998: 321).
Subotic (2016: 612) diz que estas narrativas servem de autobiografias. Usadas por
indivíduos e grupos maiores, funcionam como uma referência ontológica daqueles que a
reproduzem. Ao produzir uma história sobre "de onde é que 'nós' viemos, como é que
viemos a ser quem somos, o que nos une como grupo, que propósito e aspirações tem o
nosso grupo", as comunidades podem criar uma âncora ontológica que lhes dá "uma
sensação de estabilidade e permite seguir em frente". De acordo com Steele (2007: 904),
"os agentes do Estado dão sentido às suas ações sobre os outros através desta narrativa
[...]". Subotic (2016: 612) conclui que não se pode entender os comportamentos dos
atores políticos sem "compreender a narrativa normativa subjacente às escolhas políticas
que os atores fazem [...]". Por isso, são as narrativas que permitem ordenar um sentido
de "quem eu sou", o que permite a construção de cálculos racionais como uma "condição
prévia para saber o que fazer" (Somers, 1994: 618).
Todavia, quando esta narrativa e a sua identidade sofrem uma crise, o Estado tende a
adotar medidas para retomar o equilíbrio. Voltando a Steele (2008b: 2), neste cenário
"os Estados procuram ações sociais para servir as suas necessidades de autoidentidade,
mesmo quando as mesmas comprometem a sua existência física". O autor afirma que a
segurança ontológica é mais importante do que a física; isto deve-se à vontade do Estado
em manter "os auto-conceitos consistentes, e o Eu dos Estados é constituído e mantido
por esta narrativa [...]" (Steele, 2008: 3).
Mas o que é a segurança ontológica? Segundo Mitzen (2006: 342), trata-se "da
necessidade de se experimentar como um todo, uma pessoa contínua no tempo – como
sendo, e não em constante mudança – para perceber um sentido de agência". Sentir-se
ontologicamente seguro significa estar seguro sobre as suas próprias identidades.
Além disso, continuando com Mitzen (2006: 345), a segurança ontológica torna-se
importante porque, nesta perspetiva, a identidade é a base da agência de atores, pois
quando o indivíduo se encontra numa situação ontológica de insegurança, "não pode
relacionar-se sistematicamente com os meios no presente, muito menos com o plano
que se avizinha". A estes momentos de "profundas crises ontológicas" (Subotić, 2016:
614), chama-se trauma. O trauma, por sua vez, ocorre quando "os eventos externos não