Revisão da literatura
A Federação Russa e as "medidas ativas”
O termo medidas ativas foi desenvolvido na União Soviética, a partir dos anos 50, para
caracterizar operações secretas e subversivas de influência política que são facilmente
refutáveis. Podem variar desde a criação de organizações de fachada, apoio a grupos
políticos pró-russos e a disseminação da desinformação (Galeotti, 2019). Em 1982, o
então líder do Comité de Segurança do Estado (KGB), Yuri Andropov, fez das medidas
ativas uma das principais formas de intervenção do Kremlin durante a Guerra Fria
(Andrew & Mitrokhin, 2006: 316). A utilização destas medidas abrandou quando a União
Soviética mudou a sua abordagem à comunidade internacional, primeiro liderada por
Gorbachev, e depois por Ieltsin, com tentativas de ter uma relação mais estreita com o
Ocidente. Com a perda de influência da Rússia e com a ascensão de Vladimir Putin ao
poder, Moscovo regressou às hostilidades com países, e blocos de países, que promovem
os valores liberais e democráticos. Estes valores podem então chegar à Rússia e aos
países situados nas suas fronteiras. Este foi o caso dos protestos de 2012 na Rússia por
eleições livres, que Putin explicou como uma operação de influência americana (Crowley
& Ioffe, 2016), ou no caso das "revoluções coloridas" nas suas fronteiras (Stewart, 2009).
A esta preocupação juntam-se as debilitantes sanções económicas para os setores
primários da economia russa, o bloqueio à venda de armas e materiais relacionados, o
congelamento de ativos económicos e a aquisição de equipamento para a indústria
petrolífera (Krausse, 2018). E depois há a OTAN, e em particular o Artigo 5º da carta da
organização, onde um ataque a um dos membros é um ataque a todos (OTAN, 1949).
Isto provoca uma perspetiva atraente para os países que a Rússia pensa como parte da
sua esfera de influência. Todos estes fatores aumentam a perceção por Putin de um cerco
à sua volta (Rato, 2018).
Com a diminuição das expetativas de compreensão Leste-Oeste, Moscovo voltou ao
conjunto de ações já conhecidas, juntando-se às recentes levadas a cabo nos países
"estrangeiro próximo" (Galeotti, 2019). Recentemente, em 2013, o General Valery
Gerasimov, Chefe do Estado-Maior do Exército russo, defendeu a utilização de "métodos
indiretos e assimétricos" para criar influência política (Bartles, 2016: 33). Isto inclui
alterar o equilíbrio de poder nos países adversários (Bartles, 2016: 34), e o apoio dos
partidos políticos que defendem uma relação amigável com Moscovo, como observado
em Itália e na Alemanha (Apuzzo & Satarino, 2019), e em França (Turchi, 2017). É
também atribuída a Gerasimov a proposta de que as táticas desenvolvidas durante o
tempo da União Soviética deveriam ser atualizadas e incluídas no pensamento militar
estratégico, para uma "nova teoria da guerra moderna - uma teoria que se assemelha
mais a invadir a sociedade de um inimigo do que a atacá-la de frente" (McKew, 2017).
As medidas estratégicas defendidas pelo General incluem combinações de ações
tecnológicas, informativas, diplomáticas e militares (Galeotti, 2013). Em setembro de
2014, o General Philip Breedlove, durante uma reunião da OTAN, advertiu que a Rússia
estava envolvida na "mais espantosa guerra de informação que alguma vez vimos na
história da guerra de informação" (Vandiver, 2014).
Entre as principais organizações russas, em termos de criação e aplicação de medidas
ativas de intrusão nos processos democráticos dos países estrangeiros, destacam-se as
agências de informação e segurança. Os exemplos mais conhecidos são: a Direção