alterações climáticas, tendo encerrado quase todas as operações relacionadas com a
agenda climática. No entanto, o MCT manteve, dentro das suas competências,
responsabilidade em relação às Comunicações Nacionais do Brasil à UNFCCC e à gestão
dos projetos MDL, a autoridade reguladora e de supervisão desta matéria.
Relativamente ao MMA, como Lessels (2013) indica, provavelmente a preocupação mais
significativa para Marina Silva não era tanto a questão da mudança climática em si,
mesmo sendo Marina uma ambientalista, mas que as negociações da UNFCCC foram
apresentadas como uma oportunidade para forçar mudanças no desempenho do país no
que respeita à gestão florestal. Marina Silva estava convencida de que era necessário
que o Brasil estabelecesse abertamente uma forte ligação entre clima e floresta e
promovesse a ideia de que responsabilidades comuns, mas diferenciadas não
significavam que o Brasil não tivesse responsabilidades (Lessels, 2013). Assim, no início
de 2005, o MMA já tinha quebrado a associação e identificado as alterações climáticas
exclusivamente como uma questão de utilização de energia. Sob a direção de Marina, o
MMA abriu também o primeiro departamento ministerial dedicado às alterações
climáticas, dando ao ministério capacidades para abordar políticas sobre o assunto.
Esta mudança teve uma enorme importância nos anos seguintes, uma vez que, embora
as interpretações da norma no seio do governo brasileiro permanecessem abertas, uma
interpretação proativa da CBDR-RC, associada às responsabilidades que o Brasil pode
assumir com base nas suas capacidades, foi o protagonista nos debates governamentais.
Para se adotar tal interpretação, anteriormente, era necessário que as alterações
climáticas fossem enquadradas como uma responsabilidade conjunta da Humanidade,
em que as capacidades atuais dos Estados são o padrão necessário para estabelecer
objetivos de mitigação e não o seu status institucionalizado como um país desenvolvido
ou em desenvolvimento.
Esta posição foi acompanhada pela sociedade civil organizada e pelo setor académico
que trabalharam neste problema, que foram favoráveis, ao longo deste processo de
reinterpretação da norma, a que o Brasil mudasse a sua política interna e externa em
matéria de alterações climáticas para assumir compromissos de redução dos GEE
(Kiessling, 2019). Neste sentido, vale a pena mencionar a existência de um
microprocesso de socialização intracaso, que não envolveu atores internacionais, mas
teve um impacto significativo na socialização dos atores estatais. Com a chegada de Lula
da Silva à Presidência do Brasil, especialmente o Ministério do Meio Ambiente iniciou um
processo de contratação de pessoal especializado, o qual, em certa medida, teve impacto
nas agendas, políticas, visão e capacidades do ministério. Como indica um entrevistado:
"... fui lá em 2004, mais até 2003 (o MMA) tinha um corpo técnico minúsculo.
(...), com a chegada de Marina Silva, trouxe muitos profissionais que atuavam
no terceiro setor para compor a equipa do Ministério e lá fez o primeiro
concurso, para análise ambiental, fez o concurso para (...), que foi o que eu
fiz, trabalhei lá, e a partir daí começou a construir aquele corpo técnico do
Ministério que não existia antes. E as pessoas que estavam livres no mercado
para trabalhar nessa questão são as pessoas que vieram do terceiro setor,
que estavam no terceiro setor e que foram ao Ministério para fazer essa
transição, para construir, para ajudar a construir esse próprio corpo técnico.
Então, não só (o MMA) tinha muitas alianças com o setor privado e com o