respetivamente à esquerda e direita política. Contudo, alega que esta distinção não toma
em linha de conta a pluralidade democrática. Ambos os populismos excluem mais, do
que integram. Afinal de contas, todos os populismos adotam uma retórica assente na
exclusão: povo vs elite; eles vs nós; casta vs povo etc.. Sendo o populismo a mais
marcante expressão política contemporânea, as tradicionais esquerdas e direitas
reiteram o seu anti populismo. Para a esquerda, o populismo é ainda pouco atrativo na
medida em que este é insensível às desigualdades e iniquidades produzidas em processos
sociais e políticos que evoquem a reconstrução das estruturas sociais; por outro lado, as
direitas obstinadas com a estabilidade veem na pulsão reformadora ao nível institucional
dos populistas, uma ameaça à almejada estabilidade. O Brexit, enquanto fenómeno
político, constitui-se como o evento político típico. Para o autor resulta de uma “fuga para
a frente” por parte dos britânicos e em particular das suas elites políticas, dispensando
qualquer método da democracia representativa, assumindo contornos plebiscitários.
Deste modo, este processo deve ser encarado como um duplo paradoxo: o primeiro é de
que ao contrário do alegado pelos apoiantes do Brexit, o Reino Unido não estará
completamente fora da União Europeia, como é o caso da legislação da União Europeia;
o segundo revela-se na crescente tensão entre os impulsos plebiscitários e os tramites
da democracia representativa. A democracia direta traduzida na realização de um
referendo tem o condão de trespassar a sensação de empoderamento do cidadão,
embora no final de contas estejam sempre dependentes da aplicação e execução por
parte das diversas instituições da democracia.
IV A Democracia na Era de Trump – As últimas eleições presidências norte americanas
foram sobretudo norteadas pelo eixo republicanismo cívico vs elitismo liberal-
conservador. O primeiro tinha em Trump e Sanders os seus primordiais representantes,
ao passo que o segundo tinha nos partidos Republicano e Democrata as suas forças mais
representativas. No caso de Trump ao centrar-se no capitalismo de proprietário face à
globalização financeira, reafirma o esgotamento do paradigma multicultural, ainda que
sem coerência e objetividade, traduzindo o descontentamento do povo. Alia a esta
estratégia, o simplismo comunicacional e telegénico, tirando proveito da decadência da
própria cultura cívica. Esta nova clivagem é balizada por um lado, pelo capitalismo
clássico e por outro lado, pelo capitalismo financeiro criativo. Neste eixo, confrontam-se
as ideias de um desenvolvimento industrial essencialmente nacional e que tem como
grande interlocutor o Estado-nação. Nos antípodas está a economia financeirizada dos
mercados globais que têm como epicentros Silicon Valley e Wall Street. O alvo do
movimento populista é sobretudo o multiculturalismo impregnado na globalização
económica. O autor propõe uma nova conceção de justiça que deverá passar não só pela
redistribuição, mas também pelo reconhecimento.
V Configurar Sistemas Inteligentes – A política, nas últimas décadas, viu de forma radical
ser alterada a sua função. Esta metamorfose é só comparável àquela que ocorreu há
quatro séculos aquando da emergência dos Estado-nação. As transformações ocorreram
ao nível estrutural, isto é, ao nível das coordenadas globais: globalização da atividade
económica, emergência da sociedade do conhecimento, individualização dos estilos de
vida e ocidentalização das sociedades. As implicações concorrem para três grandes tipo
de disfuncionalidades políticas: primeiro, ineficácia da ação política no âmbito do que
seria expectável; segundo, inoperacionalidade perante problemas inéditos e novos