Para Aron (1968), o Homem é naturalmente um animal social que atinge o máximo da
sua potencialidade através da sociedade, que permite a acumulação de conhecimento e
poder entre gerações. No desenvolvimento deste argumento, inspirado pelas críticas de
Kant a Rosseau, Aron utiliza a metodologia antropológica deste último para
empiricamente fortalecer o seu pensamento com o exemplo de desenvolvimento das
sociedades do Neolítico, que através da formulação de um quadro de valores, um estilo
de vida e uma forma de ver o mundo característica de cada uma delas começaram a
identificar os seus comuns e os “estrangeiros”. Esta estranheza e identificação da
diferença não implica necessariamente um ambiente hostil entre as socialidades, significa
que cada socialidade se desenvolveu consciente da sua originalidade e da sua cultura
própria, celebrando a descoberta de serem diferentes de outros. Perante tal pressuposto,
as relações internacionais são denotadas de cultura e, portanto, não derivam do estado
natural, sendo os conflitos uma parte integral das civilizações e uma forma de relação
entre Estados também não advêm do estado de natureza, mas sim da cultura (Aron,
1968: 30).
A distinção filosófica entre estado de natureza – “onde cada um pode contar apenas
consigo mesmo” – e sociedade civil – “onde reina a lei, se presta justiça através dos
tribunais e onde a polícia supressa a violência” (Aron, 1968: 31) não implica que as
relações entre Estados continuem a representar um estado primário de guerra de todos
contra todos (Aron, 1968: 31) - ou seja, de uma inimizade primitiva que surge
espontaneamente no contacto com a diferença -, esta distinção é fruto da experiência
histórica. As cidades-estado e os impérios foram construídos através da violência, sem
que existisse uma entidade superior que procedesse à supressão da mesma. Desde esse
momento, a experiência histórica tem demonstrado que todos os sistemas internacionais
têm sido anárquicos, pois não se têm submetido a uma soberania. Uma soberania deste
calibre, ao ser reconhecida, anularia a autonomia, a independência e a soberania dos
Estados. Por este motivo, a ordem das relações entre Estados é anárquica e essa
anarquia tem sido fomentada pela experiência histórica (Aron, 1968: 30-32). Esta visão
de Aron (1968) acompanha a linha de pensamento exposta anteriormente.
A escola neorrealista, que ganha ímpeto na figura de Kenneth Waltz, herda os contributos
dos realistas clássicos, mas inspira-se no pressuposto de que: “Entre Estados, o estado
de natureza é um estado de guerra” (Waltz, 2014: 130). Este princípio permite a
comparação com o pressuposto hobbesiano de estado de natureza. Não existindo um
governo coercivo de furor internacional, que detenha o monopólio da violência no sentido
weberiano, desconhece-se quando um conflito pode despoletar. Sendo, a anarquia
internacional esta ausência de regras supranacionais associadas à ocorrência de violência
(Waltz, 2014: 130), os Estados interagem num ambiente de insegurança constante, onde
procuram ganhos próprios, colocando em causa a sobrevivência dos seus pares (Bull,
1981: 721).
Deste modo, na esfera anárquica, as “unidades similares” (Waltz, 2014: 131) coagem,
tentando manter uma autonomia numa lógica de self-help, onde cada unidade investe
na produção de meios para a sua proteção contra outros, subentendo que cada unidade
servirá aquilo que ditam os seus interesses. Se num cálculo racional, um Estado
considerar que atacar outro é o que lhe serve melhor, então é o que fará e não haverá
nada que o impeça (Waltz, 1959: 232). Assim, no sistema internacional apenas relações