ambiente indefinido e quase abstrato”, de vinculação discutível e sobretudo ligada à
vontade do soberano, para passar a ser olhada como um fenómeno integrante de um
contexto político, económico e social. A Guerra tornou-se uma coisa pública, respeitante
à Nação e ao conjunto da sociedade e não só aos militares.
Clausewitz foi categórico na subordinação da Guerra à Política. A essa luz tornou explícitos
preceitos até então nunca claramente formulados.
No seu conjunto esses preceitos definiram e regularam a Guerra em moldes novos e
radicalmente diferentes, acentuando que a Guerra é um instrumento da Política, que não
tem objetivos ou lógica próprios, que antes visa satisfazer as finalidades da Política em
obediência e em coerência com a lógica dessa mesma Política. Uma lógica que deve,
portanto, nortear a ação estratégica, compreendida como apenas militar, e que deve ter
a Paz como o seu propósito, assim se evidenciando a Paz como sendo o verdadeiro fim
da Guerra (Clausewitz, 1976)
Esta inédita e tão diferente visão marcou de facto um extraordinário momento de ruptura.
Contudo e apesar desta nova e tão desafiante abordagem, os conceitos de Estratégia e
de Segurança permaneceram imbricados ainda durante largo tempo.
Mas ambos ganharam plenamente a dimensão de práticas públicas, respeitantes ao
conjunto social e ao Estado e regidas pelo superior valor e responsabilidade da Política.
O alicerce dessa situação de interpenetração dos dois conceitos encontra-se na
convergência e até na sobreposição de dois aspetos principais. A Segurança era assente
e quase que exclusivamente encerrada na dimensão militar, e os meios com que se
contava para a ação estratégica eram fundamentalmente os meios militares.
Tardou a que os dois conceitos se individualizassem. Enquanto referência, o ser humano
esteve presente e foi decisivamente marcante em ambas as evoluções.
Foi só na primeira metade do século XX que melhor se percebeu que, para bem servir os
objetivos da Política, a Estratégica carecia de usar todos os recursos disponíveis. Os de
natureza material, de que os militares eram apenas uns, e também os intangíveis, os de
natureza moral (Hart, 1991: 322).
Quando, por esta via, o universo da Estratégia se abriu para dimensões como a
económica, a social, a cultural e a psicológica, o conjunto da sociedade e com isso o
Homem, foram trazidos para o âmago da ação estratégica.
A consequente necessidade de assegurar o bom e útil emprego de todas essas dimensões
em conjugação e em simultaneidade com o emprego da dimensão militar, tornou muito
mais saliente a função tutelar e reguladora da Política, tanto como definidora das
finalidades, mas igualmente como guia e como indispensável instrumento de controlo da
ação. E é despiciendo salientar a obrigatória intervenção humana no domínio da Política.
Por outro lado, a convocatória, tanto para o axis como para a praxis da Estratégia, dos
recursos intangíveis, como o moral, a vontade ou o patriotismo, todos valores com origem
e repercussão no ser humano, acentuou a nova importância que, designadamente a partir
da primeira metade do século XX, foi reconhecida ao valor e ao papel do Homem.