como motivo principal para o atraso na remuneração dos professores de instrução
primária.
A questão económica e financeira continuou a ser a principal razão que mobilizou os
professores dos diversos níveis de ensino. Os argumentos que sustentaram as
reclamações prosseguiram os mesmos desígnios: o pagamento das remunerações,
providenciando o sustento da família, e o respeito pela dignidade da carreira docente.
Seguiram-se outras exigências, mencionadas e reconhecidas anteriormente: a fundação
de escolas de instrução primária e secundária, a promoção do ensino feminino, que
sublinhamos tendo em conta a maior atenção que foi lhe foi dedicada, o restabelecimento
de cadeiras complementares, o apoio e incentivo às aprendizagens elementares para os
trabalhadores, vulgarizando o ensino noturno e a formação de adultos. Outras
convocações foram também analisadas nas Cortes, expondo outras necessidades,
apresentando outras apreciações e perspetivas sobre a instrução pública. Destacamos, a
solicitação regular de relatórios institucionais aos órgãos de administração política sobre
o sistema de ensino, sobre a fiscalização de práticas pedagógicas, sobre a avaliação de
metodologias de aprendizagem, nomeadamente sobre o método repentino, ou
português, sobre o incentivo e o apoio à produção científica de obras académicas e
materiais didáticos, e ainda sobre a organização dos procedimentos administrativos na
gestão escolar. Estes requerimentos não foram somente apresentados pela sociedade
civil, foram igualmente exigidos pelos representantes da Nação. De facto, podemos
assegurar que decorridos estes primeiros anos de experiência e afirmação liberal, a
década de 50 assomou-se na defesa e confirmação dos princípios políticos que
enformavam o movimento liberal.
Prosseguindo a afirmação ideológica e preservando os princípios de liberdade política, os
representantes da Nação continuaram solicitamente a atender a todos os requerimentos
que deram entrada na Assembleia, e a todos eles celeremente responderam. A diligência
parlamentar das décadas anteriores manter-se-ia. Assim como a decisão política, a
derradeira deliberação, permanecia nas mãos no governo que procurou decidir com
rapidez embora a execução tenha sido amiudadamente morosa.
As dificuldades financeiras que o País continuou a atravessar na segunda metade do séc.
XIX exigiram a maior disciplina na realização de despesas. Assim não surpreende a opção
de continuidade na atividade política, apesar da aprovação de algumas reformas.
Sublinhamos as consequências das alterações administrativas- territoriais que
prolongaram o controverso debate relevando as divisões socioeconómicas que se
manifestaram nas Cortes. Destacamos igualmente a continuidade do sistema tributário
assegurando, de certo modo, estabilidade à ação do executivo. No entanto, não podemos
deixar de realçar o estimulante debate parlamentar sobre a sua modernização conferindo
à discussão, sobretudo a partir da segunda metade do séc. XIX, um certo fascínio pela
mudança e, simultaneamente, dúvidas e interrogações que caracterizaram o cenário
político. As dificuldades de cobrança de impostos, conforme já verificamos, a
possibilidade de aumento das contribuições, dificilmente bem acolhidas, ou a extinção de
tributos obrigavam à alteração de procedimentos institucionais e administrativos, ou
seja, impeliam à reforma do Estado. E tal renovação impunha aos principais atores, a
decisão, de modernizar, de atualizar as instituições políticas com custos para o Estado.
(Freire, Lains, Miranda, 2011: 347).