vestígios sabem falar a quem está disposto a ouvi-los; basta atender nalguns
testemunhos para se conseguir formular um roteiro heterogéneo capaz de fazer
redescobrir parte da herança lusitana na ilha.
Contudo, esta presença e edificação patrimonial no arquipélago de Zanzibar é uma das
facetas menos estudadas sobre a expansão e presença portuguesa na África Oriental.
São conhecidos, os contributos diretos de Duarte Barbosa (c. 1480-1521), Gaspar
Correia (1492-c. 1561) e João de Barros (c. 1496-1570). Entretanto, vieram a lume os
estudos mais recentes de Abdul Sheriff e de Mark Horton que realçaram a temática,
mas só agora com a crescente importância do turismo nos PIBs dos países, foi lançado
o repto para que outros historiadores explorem o tema. Duas ordens de razão podem
justificar tal lacuna. Desde logo, o foco no destino-objetivo – Índia – relevando-se
para segundo plano os lugares ancoradouros da Rota; depois as fontes reduzidas e
pontuais, dispersas por documentação de natureza assaz diversa dificultam o
desenhar de um quadro nítido sobre a presença e vivência dos portugueses em terras
de Zinj. Dados com hiatos cronológicos largos, documentos disseminados por vários
arquivos sem estarem catalogados e que incluem crónicas, relatos, apontamentos
administrativos e cartas trocadas entre oficiais de Zanzibar e as instâncias de poder
sediadas em Lisboa, condicionam e explicam a raridade (para não dizer ausência) de
estudos desta realidade histórica específica. Ainda assim, a informação reunida
perspetiva linhas mestras sobre a presença portuguesa no arquipélago de Zanzibar
numa inflexão de grande potencialidade histórico-cultural.
II. Subsídios para um itinerário português em Zanzibar
Desenhar um roteiro turístico pelo património material e imaterial de herança
portuguesa em Zanzibar resgata uma história inscrita aquando da navegação e da
exploração dos contornos do mundo, em consequentes viagens que o configuraram a
uma escala global introduzindo a época moderna. Interessa por isso ter em conta que a
história é feita por camadas, camadas essas que se vão sobrepondo umas sobre as
outras, afundando-se as mais antigas sob as mais recentes, num acumular de
sedimentos e testemunhos que consubstanciam frações da narrativa histórica. Aliás, é
nesse substrato pretérito que se encerra e justifica parte da Zanzibar contemporânea
pelo que elencar esse legado constitui um excelente acesso para, na atualidade,
compreender e promover turisticamente o destino Zanzibar.
Adverte-se, porém, que não se trata de elaborar uma lista exaustiva da herança
lusitana em solo Zinj mas propõe-se sim a criação um corpus patrimonial com
identidade própria, sendo que este levantamento será sempre provisório e de múltiplas
leituras.
ARQUIPÉLAGO DE ZANZIBAR
UNGUJA (Ilha de Zanzibar)
I – Património Material
1. Stone Town.