economicamente Cabo Verde, o que determinou a hegemonia econômica de uma elite
branca, que acabou por difundir, em que pese a perversidade da escravidão, novos
conhecimentos, tecnologias e culturas (Davidson, 1988 apud Madeira, 2014).
Como resultado da miscigenação entre o europeu e o africano, o mestiço assumiu papel
importante na divulgação e afirmação da identidade cultural cabo-verdiana,
especialmente com o abandono sistemático dos colonos europeus no século XIX. Os
mestiços mudaram a estrutura de desigualdade racial existente (Seibert, 2014). Essa
ascensão social afirmou a identidade cultural dos “filhos da terra”, principalmente após
a abolição da escravatura em 1876. Dessa forma, a sociedade passou a se dividir mais
pelos aspetos econômicos do que pelos sociais.
O novo período de colonização português, ocorrido com a introdução da cultura do
plantation, em meados do século XVIII, não alcançou Cabo Verde. A seca constante, a
escassez de água e o solo árido não forneciam condições necessárias para esta nova
exploração comercial. O contínuo abandono das ilhas e a falta de investimentos geraram
insatisfação social e má distribuição de renda na elite local. Assim, no século XX,
formaram-se sindicatos e associações setoriais favoráveis à modernização, liberalização
e à relativa autonomia político-administrativa de Portugal (Violante, 2017).
A partir daí, ocorreram movimentos políticos clandestinos nas ilhas. Talvez o principal
tenha sido o movimento integrado pró-independência na Guiné-Bissau e em Cabo Verde,
sob as lideranças de Amilcar Cabral, Aristides Pereira e Luis Cabral. Tal fato resultou na
criação do Partido Africano para a Independência (PAI) em 1956, mais tarde denominado
Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Este partido tinha
como diretriz básica a “reafricanização” das duas Nações, ante os movimentos de
assimilação cultural que sofreram (Rizzi, 2012).
Após a independência da Guiné Portuguesa, ocorrida de forma unilateral em 24/09/1973,
quando passou a se chamar Guiné-Bissau, a Revolução dos Cravos, que derrubou a
ditadura de Salazar em 25/04/1974, contribuiu para a aceleração dos processos de
independência das demais colônias portuguesas, o que beneficiou as negociações de
Cabo Verde empreendidas no exterior (Rizzi, 2012). Fazendo uma analogia com a
independência do Brasil, em Cabo Verde perceberam-se movimentos políticos relevantes
que pressionaram o poder político português a aceitar uma independência de forma
negociada.
Dando um salto no tempo, ao longo do estabelecimento do Estado Nacional, entre 1975
e 1990, prevaleceu o modelo de partido único. O PAIGC administrou Cabo Verde até
1981, ano em que houve um golpe de estado na Guiné-Bissau, o que ocasionou na
separação dos partidos, com a troca de seu nome, em Cabo Verde, para Partido Africano
de Independência de Cabo Verde (PAICV). O PAICV governou o país até 1990, com
orientação socialista, mas sem alinhamento direto à ex-URSS. Nesse período, sua
inserção internacional baseou-se no pragmatismo, mas em relações mais assertivas,
primeiramente, com a Europa (Portugal) e, secundariamente, com os países da África e
dos demais continentes. A ausência de recursos naturais não propiciava muitas escolhas
à sociedade cabo-verdiana, que ficou dependente dos recursos de sua diáspora e da
cooperação internacional para o desenvolvimento. Assim, segundo Seibert (2014), suas
elites intelectuais analisaram os benefícios e desafios que as integrações regionais