quanto militarmente. Por outro lado, porque consideram que o papel até agora limitado
da China na região pode ser entendido como incentivo para uma presença militar futura
mais expressiva. Eé, de facto, expectável que tal venha a ocorrer, já que umapresença
mais robusta da China no Corno de África servirá um propósito duplo: garantir a
segurança da rota marítima da BRI, que atravessa o Golfo de Áden, o Estreito de Bab
el-Mandeb e o Mar Vermelho; e equilibrar a tradicional influência de
Washingtonnaquela região.Neste sentido, as ações da China no Djibuti influenciarão,
certamente, as suas ambições de poder na região, sobretudo quando pretende
assumir-se como relevante potência marítima.
A Rússia procura, por seu lado, regressar a um patamar de influência significativa na
região que já deteve no passado, enquanto União Soviética, sobretudo através do
estabelecimento de pelo menos uma base militar em Áden, no Iémen, muito próxima
do Estreito de Bab el-Mandeb. Esta postura revisionista colide, no entanto,com as
pretensões hegemónicas norte-americanas e com a ascensão clara da China.
Poderemos, pois, vir a ser confrontados, a prazo, com a coexistência de infraestruturas
militares das três potências globais, separadas apenas por escassas dezenas de milhas
marítimas. Será inevitável o aumento das tensões entre elas noEstreito de Bab el-
Mandeb e áreas envolventes.
Os espaços marítimos do Mar Vermelho, Corno de África e Golfo de Áden tornaram-se,
de facto, sucessivamente mais securitizados ao longo da última década, levando a uma
militarização da região sem precedentes, com osEUA,China, e Rússia a tomarem parte
muito ativa nesse processo. Todavia, o interesse destes atores em garantirem que o
comércio internacional marítimo, sobretudo de energia, não é ameaçado, leva a que se
possa pensar que a passagem segura no Estreito de Bab el-Mandeb não é colocada em
causa, sendo esta, porventura, a única relação de convergência entre eles. No entanto,
as demais relações que foi possível identificar entre as potências globais são de
oposição. E é mesmo expectável que se continue a trilhar um caminho centrado num
aparentemente interminável ciclo de crescimento acentuado das disputas geopolíticas
na região, no nível global.
Concluímos, referindo que foi possível provar que o Estreito de Bab el-Mandeb e
espaços marítimos adjacentes, em particular pela relevância que têm para o comércio
marítimo internacional e pela possibilidade de afirmação e projeção de poder dosatores
que aí estão presentes, são, nos dias de hoje, um importante palco de competição
geopolítica das potências globais (EUA, China e Rússia), e que as disputas entre elas se
encontram em fase ascendente.
Referências
Aljamra, H. (2019). Bab-El-Mandeb, Gateway to the Red Sea: the World’s Most
Dangerous Strait. Consultado em 27 nov. 2019.
Disponível em: https://insidearabia.com/bab-el-mandeb-gateway-to-the-red-sea-the-
worlds-most-dangerous-strait/
Alvarenga, H.( 2008). Batalha de Mogadíscio. Lisboa: Academia Militar.
Bailey, R. & Wellesley, L. (2017). Chokepoints and Vulnerabilities in Global Food Trade,
London: Chatam House. The Royal Institute of International Affairs.