OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL12 N1, TD1
Dossiê temático Relações Internacionais e Redes Sociais
Julho 2021
166
A AGENDA DA VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19.
A ATUAÇÃO DE FONTES OFICIAIS EUROPEIAS E PORTUGUESAS
NO FACEBOOK, INSTAGRAM, TWITTER E LINKEDIN
CLARA ALMEIDA SANTOS
clara.santos@uc.pt
Professora auxiliar no Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra (Portugal), investigadora integrada no CEIS20.
OLGA ESTRELA MAGALHÃES
olgamagalhaes@med.up.pt
Coordenadora do Gabinete de Comunicação e Imagem da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
(Portugal), investigadora do CINTESIS.
CATARINA DUFF BURNAY
cburnay@ucp.pt
Professora Associada da FCH/UCP (Portugal), Coordenadora do Mestrado em Ciências da Comunicação e
investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC).
RITA ARAÚJO
rita.manso.araujo@gmail.com
Investigadora do CECS Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, Instituto
de Ciências Sociais (Portugal).
Resumo
A autorização da primeira vacina contra a Covid-19 e o início da vacinação na União Europeia
constituem um momento muito singular a vários níveis. Em pleno contexto de pandemia e de
infodemia epidemia também reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que
consiste no aumento anormal de informação sobre determinado tema específico e que
acarreta o risco de multiplicação de fenómenos graves de desinformação a necessidade de
transmitir informação e de manter uma proximidade comunicativa por parte das entidades
oficiais (europeias e nacionais) responsáveis pelo processo de vacinação é imperiosa. Neste
artigo, analisa-se a forma como Comissão Europeia (CE), Agência Europeia do Medicamento
(AEM), OMS - Gabinete para a Europa (OMS - GE), Centro Europeu para a Prevenção e
Controlo de Doenças (CEPCD), Representação Portuguesa da Comissão Europeia (RepCE),
Governo de Portugal (Gov/PT), Direção Geral da Saúde (DGS), Serviço Nacional de Saúde
(SNS) utilizam as redes sociais digitais Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn para
comunicar a vacinação durante um mês, a partir da data de autorização da vacina pela AEM
(21/12/2020). Para tal, foram recolhidas todas as publicações das fontes referidas nas quatro
redes, totalizando719 ocorrências às quais foram aplicadas técnicas de análise de conteúdo.
Os resultados mostram que as fontes oficiais portuguesas e europeias usam as redes sociais
digitais para dar acesso a informação confiável sobre vacinação contra a Covid-19: mais de
um terço dos posts analisados têm hiperligações para websites institucionais e mais de
metade revelam um enquadramento informativo. Por outro lado, a análise sugere a existência
de um forte aproveitamento do momento para capitalizar a esperança como ativo político.
Este estudo de caso, de caráter exploratório, mostra a importância da análise dos media
sociais no contexto da campanha de vacinação contra a Covid-19.
Palavras chave
Covid-19; Vacinação; Redes Sociais Digitais; Desinformação; União Europeia.
Como citar este artigo
Santos, Clara A.; Magalhães, Olga E.; Burnay, Catarina D.; Araújo, Rita. A agenda da
vacinação contra a COVID-19. A atuação de fontes oficiais europeias e portuguesas no
facebook, Instagram, Twitter e Linkedin. Dossiê temático Relações Internacionais e Redes
Sociais, VOL12 N1, TD1, Julho de 2021. Consultado [em linha] em data da última consulta,
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT21.11
Artigo recebido em 5 de Janeiro de 2021 e aceite para publicação em 20 de Março de
2021
JANUS.NET, e-journal of International Relations
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A agenda da vacinação contra a COVID-19. A atuação de fontes oficiais europeias e portuguesas no
Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn
Clara Almeida Santos, Olga Estrela Magalhães, Catarina Duff Burnay, Rita Araújo
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A AGENDA DA VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19.
A ATUAÇÃO DE FONTES OFICIAIS EUROPEIAS E PORTUGUESAS
NO FACEBOOK, INSTAGRAM, TWITTER E LINKEDIN
CLARA ALMEIDA SANTOS
OLGA ESTRELA MAGALHÃES
CATARINA DUFF BURNAY
RITA ARAÚJO
1. Introdução
Foi bastante surpreendente quando o Comissário Europeu Thierry Breton, em maio de
2020, intervindo num debate promovido pelo Regulation Center in Europe, afirmou que
a desinformação era “a doença do século”. No meio da pandemia de Covid-19, a
declaração era suscetível de parecer, no mínimo, desajustada. Podemos, no entanto,
estar bastante seguros de que estamos a lidar globalmente com uma sindemia, conceito
desenvolvido por Merrill Singer (2009) que define epidemias complexas que implicam
interações de diferentes doenças. Juntamente com e alimentado pela Covid-19,
desenvolveu-se a nível mundial uma infodemia. O termo “infodemia foi aliás cunhado
em 2003
1
por David Rothkopf para descrever a sobreabundância de informação que
acompanhou o surto provocado pelo SARS-CoV-1 (o “primeiro” coronavirus). Uma
infodemia, tal como definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é uma
“sobreabundância de informação alguma exata e outra não que ocorre durante uma
epidemia”. A infodemia pode levar à confusão e, em última análise, à desconfiança nos
governos e na resposta de saúde pública
2
. A dimensão da presente infodemia (e
consequente sindemia, de acordo com Santos et al 2021) é amplificada pela utilização
maciça sem precedentes da tecnologia e dos meios de comunicação social.
Investigadores (e.g. Cinelli et al, 2020) estão a utilizar variantes de modelos epidémicos
padrão para simular a disseminação de informação nos meios de comunicação social.
Na verdade, uma das dimensões fundamentais desta crise global é a dependência digital.
A digitalização (correspondendo às duas dimensões de digitazation e digitalization)
tornou possível ultrapassar muitas das restrições que o mundo teve de enfrentar. Os
1
https://www.washingtonpost.com/archive/opinions/2003/05/11/when-the-buzz-bites-back/bc8cd84f-
cab6-4648-bf58-0277261af6cd, acedido a 21 de janeiro de 2021.
2
https://www.who.int/teams/risk-communication/infodemic-management, acedido a 21 de janeiro de 2021
(tradução livre).
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confinamentos aumentaram o tempo passado online e mudaram os hábitos digitais. De
acordo com o Reuters Institute Digital News Report 2020, e não surpreendentemente, a
utilização de meios de comunicação digitais e das redes sociais online aumentou de forma
substancial na maioria dos países. Neste aspeto (como em outros), a Covid-19 não tem
precedentes: é “a primeira pandemia da história em que a tecnologia e os meios de
comunicação social estão a ser utilizados em grande escala para manter as pessoas
seguras, informadas, produtivas e ligadas. Ao mesmo tempo, a tecnologia de que
dependemos para nos mantermos ligados e informados permite e amplifica uma
infodemia que continua a minar a resposta global e a pôr em risco as medidas para
controlar a pandemia”
3
. No início de Maio de 2020, a Comissão Europeia registou
diariamente mais de 2.700 artigos com “notícias falsas” relacionadas com a Covid-19 nas
redes sociais digitais, incluindo publicações falsas ou enganosas.
Em outubro de 2018, várias plataformas e empresas incluindo o Facebook, o Twitter,
a Google e a Mozilla assinaram um “Código de Conduta”, sob os auspícios da Comissão
Europeia, que implica uma série de compromissos para combater a desinformação online.
Desde então, os signatários têm produzido relatórios de auto-avaliação periódicos sobre
as medidas levadas a cabo “desde a transparência na publicidade política até ao
encerramento de contas falsas, bem como a desmonetização dos instigadores de
desinformação”
4
. O objetivo declarado é “contribuir para uma redução rápida e
mensurável da desinformação online
5
.
De acordo com o relatório do Facebook de dezembro de 2020
6
, mais de 401 mil conteúdos
foram removidos do Facebook e do Instagram por conterem desinformação
(misinformation, ver conceito mais à frente neste artigo) que poderia levar a dano físico
iminente, tais como “informações” relacionado com medidas preventivas falsas ou
“notícias” sobre curas exageradas, bem como 40 mil conteúdos relacionados com a
Covid-19 que violavam os padrões da plataforma sobre vendas de medicamentos.
A guerra contra a infodemia é particularmente relevante para prevenir e controlar os
efeitos da sindemia. Como afirmou Josep Borrell, vice-presidente da Comissão Europeia:
“a desinformação na era do coronavirus pode matar. Temos o dever de proteger os
nossos cidadãos tornando-os conscientes da informação falsa e denunciando os agentes
responsáveis por tais práticas”
7
.
1.1. “Desordem informativa”
Seguindo as recomendações da UNESCO (Ireton e Posetti, 2018), o utilizaremos o
termo popular “fake news” para referir as desordens informativas. Wardle e Derakhshan
(2017) descartam a utilização do termo por duas razões: por um lado, porque tem sido
3
https://www.who.int/news/item/23-09-2020-managing-the-covid-19-infodemic-promoting-healthy-
behaviours-and-mitigating-the-harm-from-misinformation-and-disinformation. Acedido a 21 de Janeiro de
2021 (tradução livre).
4
https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/STATEMENT_18_5914, acedido a 3 de fevereiro de
2021 (tradução livre).
5
Idem
6
https://ec.europa.eu/digital-single-market/en/news/latest-set-reports-and-way-forward-fighting-covid-
19-disinformation-monitoring-programme, acedido a 20 de janeiro de 2021.
7
https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/ip_20_1006, acedido a 3 de fevereiro de 2021
(tradução livre).
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utilizado por políticos para descrever coberturas noticiosas que consideram
“desagradáveis”; por outro lado, porque os autores entendem que é “lamentavelmente
inadequado para descrever os fenómenos complexos da poluição informativa" (Wardle e
Derakhshan, 2017: 5, tradução livre). Além disso, rios outros autores assinalam que
o termo “news” presume a existência de informação que é veiculada após um processo
de verificação profissional, o que não é o caso das “fake news”. Os mencionados
autores cunharam a expressão “information disorder”, que traduzimos para “desordem
informativa” para descrever um fenómeno muito mais complexo que considera duas
dimensões: falsidade e intencionalidade (ou dolo). A “desordem informativa” inclui três
tipos de informação “tóxica” (mantemos os termos em inglês por não haver distinção em
português, sendo concatenados na expressão única “desinformação”): misinformation,
disinformation e mal-information. Os casos de misinformation e disinformation são
ambos caracterizados pela falsidade. A diferença entre eles, de acordo com a proposta
de Wardle e Derakhshan (2017), é que a misinformation não tem a intenção de produzir
dano, sendo de certa forma produzida por negligência. A disinformation, por sua vez, é
veiculada com intenções maliciosas. A disinformation pode incluir diferentes formas de
conteúdo e contexto propositadamente forjados, tal como se pode ver na figura 1.
Figura 1. Conceitos de misinformation, disinformation e mal-information
Fonte: Ireton e Posetti (2018)
A mal-information, apesar de maliciosa, baseia-se na realidade. Factos verdadeiros ou
parcialmente verdadeiros são utilizados na maior parte dos casos, mas não são a
totalidade da história que é intencionalmente amputada, sendo a narrativa construída
com o propósito de “inflingir dano a uma pessoa, a uma organização ou a um país”
(Wardle e Derakhshan, 2017: 46, tradução livre).
No contexto da sindemia de Covid-19, a desordem informática combinada com a
referida utilização sem precedentes das redes sociais digitais cria um gigantesco desafio
para as autoridades que precisam de manter a população informada com rigor sobre o
vírus e a doença, além de disseminar importantes mensagens sobre saúde. Crises
epidémicas anteriores no século XXI demonstraram como a desordem informativa
pode ser danosa e eventualmente letal (e.g. Oyeyemi et al 2014; Knobler et al, 2004).
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Acresce que, dada a incerteza do que diz respeito ao vírus e à doença, “proliferam versões
distorcidas dos conceitos e de factos científicos, através de narrativas
extraordinariamente plausíveis e de formas retóricas que florescem no meio da escassez
de conteúdos a recomendar biossegurança durante uma pandemia” (Vasconcellos-Silva
e Castiel, 2020: 2). Os mesmos autores afirmam que a distorção de factos emergido
numa das formas mencionadas da “desordem informativa” prolifera na ausência de
uma narrativa oficial. Como postulado pela OMS no âmbito da 1.ª Infodemiology
Conference, realizada em junho e julho de 2020, “tal como os agentes patogénicos em
epidemias, a desinformação difunde-se mais e mais rapidamente e acrescenta
complexidade à resposta de emergência sanitária”
8
. A OMS reconhece a dificuldade de
encontrar fontes fidedignas e orientações fiáveis. E “mesmo quando as pessoas têm
acesso a informação de alta qualidade, ainda existem barreiras que têm de ultrapassar
para tomarem as medidas recomendadas”
9
.
A utilização das redes sociais digitais pelos governos e outras entidades oficiais pode ser
considerada como uma parte das práticas em evolução da governação digital. Tal como
afirma Magro (2012) a partir da análise de uma série de casos de estudo, a utilização de
redes sociais digitais durante a gestão de crises é uma importante tarefa para os
governos. De acordo com Dadashzadeh (2010), utilizar redes sociais digitais na
governação acarreta benefícios consideráveis, tais como: melhorar as condições sociais
e económicas dos cidadãos, providenciar acesso, comprometer e educar todos os
cidadãos, melhorar a prestação de contas dos governos através da transparência
crescente, melhorar a eficácia de iniciativas e dar aos cidadãos a oportunidade de dar
retorno.
1.2. Comunicação de saúde: a campanha de vacinação contra a Covid-
19
A campanha de vacinação contra a Covid-19 que começou a 27 de dezembro de 2020
em todos os Estados-Membros da União Europeia (UE) representa um momento muito
singular em vários aspetos. Em primeiro lugar, devido ao seu caráter institucional,
concertado, transacional, político e científico em resposta ao “desafio mais formidável
num século para a humanidade” (Jeyanathan et al, 2020, tradução livre). No que diz
respeito à comunicação, uma campanha de vacinação que acontece no meio de uma
pandemia e infodemia aumenta drasticamente a necessidade de as fontes oficiais
disseminarem informação rigorosa e confiável. A vacinação é, aliás, o tema de um dos
mais conhecidos casos de estudo sobre os efeitos da desordem informativa. Em 1998,
Andrew Wakefield publicou um artigo na prestigiada revista médica The Lancet que
estabelecia uma relação entre a vacina contra a papeira, sarampo e rubéola e casos de
autismo. A revista acabou por desmentir o artigo em 2010, uma vez que os resultados
foram desacreditados e considerados falsos, mas a mensagem tinha chegado a muita
gente (Arif et al, 2020), nomeadamente através de notícias que davam conta dessa
relação. No ambiente online, tanto a informação como a desinformação permanecem (e
8
https://www.who.int/news-room/events/detail/2020/06/30/default-calendar/1st-who-infodemiology-
conference, acedido a 20 de janeiro de 2021.
9
Idem
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permanecem). Como concluem os referidos autores, combater a desinformação sobre
vacinas pelas autoridades sanitárias é parte da solução. As autoridades políticas e
sanitárias enfrentam muitos desafios, na medida em que a comunicação pública sobre
saúde pública sobre vacinas pode o ser eficaz e pode, na realidade, “aumentar as
perceções erradas ou reduzir a intenção de vacinação” (Nyhan et al, 2014: 2013). Os
autores defendem a necessidade de mais estudos sobre mensagens pró-vacinação e que
as mensagens devem ser cuidadosamente testadas antes de serem tornadas públicas.
Figura 2: Vontade de ser vacinado/a contra a Covid-19 por país
Fonte: Neumann-Böhme et al. (2020)
Um estudo conduzido por Neumann-Böhme et al (2020) mostrou a vontade de cidadãos
europeus de sete países (Dinamarca, França, Alemanha, Itália, Portugal, Holanda e Reino
Unido) de ser vacinados contra a Covid-19. Os resultados mostram que 73.9% dos 7664
participantes afirmaram que queriam ser vacinados. A vontade positiva varia entre 62%
em França e aproximadamente 80% na Dinamarca e no Reino Unido. Apenas 7.2%
afirmaram que não queriam ser vacinados. França, Portugal e a Alemanha apresentaram
a maior taxa de inquiridos a manifestar a sua incerteza relativamente à vacina. Quando
questionados sobre os motivos da sua incerteza, mais de metade (55%) demonstrou
preocupação com os potenciais efeitos secundários da vacina. Cerca de 15% declarou
preocupação com a segurança da vacina.
Neste contexto, é fulcral reconhecer a importância da comunicação de saúde que emergiu
como um dos mais importantes assuntos de saúde deste século (Ishikawa e Kiuchi,
2010). Acresce que vários autores concordam que se trata de um fator essencial para
combater a Covid-19 (Finset et al, 2020; Fielding, 2020). Efetivamente, o aparecimento
súbito do SARS-CoV-2 veio realçar a importância da comunicação de saúde e da literacia
em saúde no âmbito das doenças infeciosas. A constante evolução do vírus e do
conhecimento científico sobre o tema leva as pessoas a procurar informação de modo a
adaptar os seus comportamentos (Paakari e Okan, 2020), obter respostas às suas
dúvidas e limitar a transmissão.
Assim, não surpreende que a infodemia no contexto da Covid-19 coloque um sério
problema de saúde pública” (Zarocostas, 2020), que é necessário um nível adequado
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de literacia em saúde para lidar com a desordem informativa. Nesse sentido, a pandemia
trouxe relevo ao problema de saúde pública que é a baixa literacia em saúde (Paakari e
Okan, 2020). Com efeito, “fornecer à população dados científicos baseados em evidências
é benéfico e necessário, mas não conduz necessariamente a uma correta compreensão
ou interpretação da informação por parte dos indivíduos” (Biasio et al, 2020). Vários
estudos reconhecem a importância da literacia em saúde como sendo um fator
determinante dos resultados em matéria de saúde e como