OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
VOL12 N1, TD1
Dossiê temático Relações Internacionais e Redes Sociais
Julho 2021
1
EDITORIAL
RELAÇÕES INTERNACIONAIS E REDES SOCIAIS
BRUNO REIS
breis@autonoma.pt
Doutor em Cincias Sociais pela Pontifícia Universidade Catlica de So Paulo e Doutor em
Cincias da Comunicao pela Universidad Rey Juan Carlos de Madrid. Professor Associado no
Departamento de Cincias da Comunicao da Universidade Autnoma de Lisboa (Portugal),
onde coordena o Doutoramento em Media e Sociedade no Contexto da Comunidade dos Pases de
Lngua Portuguesa e cocoordena o Ncleo de Investigaco em Prticas e Competncias
Mediticas (NIP-C@M). professor convidado no Mestrado de Comunicacin y Cultura Digital
(UAQ/Mxico) e no Departamento de Sociologia da Universidade da Beira Interior (UBI).
investigador integrado no OBSERVARE, no NEAMP (PUC-SP/Brasil) e no Citizenship, Culture &
Communication group (Vilnius Tech/Litunia).
JAVIER SIERRA SANCHEZ
sierrasanchez@gmail.com
Doutor em Cincias da Informao pela Universidad Complutense de Madrid (UCM) e licenciado
em Comunicaco Audiovisual e Jornalismo pela mesma universidade. Mestre em Marketing e
Comunicaco Corporativa pela Universidad San Jorge. Especialista em RRPP Internacional pela
UCM (Espanha). Especialista em protocolo e cerimonial de Estado e internacional pela
Universidade de Oviedo e pela Escola Diplomtica de Madrid. Actualmente professor associado
na Universidade Complutense de Madrid.
O presente dossier temático sistematiza as grandes linhas de reflexão apresentadas no
painel das Relações Internacionais do II Congresso Internacional de Comunicação e
Redes Sociais na Sociedade da Informação, que decorreu na Universidade Autónoma de
Lisboa entre os dias 31 de Março e 1 de Abril de 2021.
O denominador comum que orientou o debate pôs em evidência o papel das tecnologias
de informação e comunicação como correia de transmissão de um agir em larga escala.
A construção desta teia globalizante cimentou lógicas fortes de interdependência de
poder económico, político e comunicativo entre os países, blocos. Zygmunt Bauman
1
,
com a argúcia que o caracteriza, considera este processo como uma das marcas
irreversíveis do nosso tempo, em que todos dependemos de todos. Decisões e
acontecimentos ocorridos na “cultura mundo”
2
podem produzir múltiplos efeitos,
1
Veja-se a entrevista concedida pelo sociólogo ao projecto fronteiras do pensamento;
https://www.fronteiras.com/artigos/zygmunt-bauman-especial
2
Lipovetsky, G., & Serroy, J. (2010). A Cultura-Mundo. Resposta a uma sociedade desorientada. Lisboa:
Edições 70.
JANUS.NET, e-journal of International Relations
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Bruno Carriço Reis; Javier Sierra Sanchez
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directos, indirectos, imediatos, longínquos (mesmo que determinadas sociedades
possam aparentar impermeabilidade a um conjunto de fenómenos).
Esta lógica está subjacente a uma digitalização intensiva das nossas vidas, expostas a
um continuo caudal informativo e a assíduas partilhas. A célere circulação da informação
em rede apresenta uma natureza modeladora de opiniões incessantes, num debate
público cada vez mais marcado pelas questões de natureza globalizante. Cientes desta
situação, os agentes públicos (governos, agentes políticos, grupos de interesse e
corporações) dão primazia ao fenómeno comunicativo como “arsenal estratgico de
negociação, dominação. Vislumbramos um abandono da percepção da comunicação
como um instrumento de soft power
3
, assumindo-se cada vez mais como instrumento de
hard power. O fenómeno da Cambridge Analytica
4
, de domínio comum e que seria difícil
resumir aqui, seria o paradigma ilustrativo da utilização comunicativa como definidora
de relações de poder na cena internacional. Este é o ponto partida para este número
temático. Os artigos que abarcam este dossier desmultiplicam esta questão em várias
dimensões significativas;
Um primeiro eixo discute a importância das ferramentas digitais ao serviço do que se
advoga como “ciberdiplomacia”. Uma primeira ponderao aborda o cenrio de migrao
tecnológica para a realidade 5G, que abre disputas acérrimas entre Estados, atendendo
as questões de segurança e defesa que levanta (Texto 1; Muñoz-Satre, Rodrigo-Martín
e Rodrigo-Martín). Um segundo texto avalia a estratégia de comunicação do Qatar para
reabilitar a sua credibilidade internacional. São discutidos os procedimentos operados
desde uma gestão de crise, depois do país da península arábica ser acusado pelos seus
vizinhos de apoiar causas terroristas, sendo alvo de sanções internacionais (texto 9;
González).
Um segundo bloco discute as questões da desinformação. O texto 3 (Guzmán e
Rodríguez-Cánovas) analisa de forma abrangente as estratégias usadas pelos Estados
para difundirem informações falsas, com o claro intuito de capitalizarem dividendos
políticos. Questão que se materializada de forma mais concreta na reflexão que propõe
um olhar acerca da tensão existente entre a União Europeia e os ataques de
desinformação mobilizados pelas agendas chinesa e russa (texto 6; Benedicto).
O texto 10 de Magallón-Rosa e Sánchez-Duarte relaciona as questões da desinformação
no contexto da pandemia, numa lógica comparativa dos países do sul da Europa. Fazendo
a ponte entre a temática da desinformação com o actual contexto pandémico que
vivenciamos, sendo este o terceiro eixo norteador deste número da Janus.net, e-journal
of international relations, que propõe mais dois textos para complementar a reflexão
epidémica. Um artigo aborda os mecanismos de comunicação usados pelas entidades
europeias e portuguesas, que tutelam a gestão das vacinas, para comunicarem o plano
de vacinação (texto 11; Santos et al). Um segundo artigo observa o fenómeno do
turismo, marcado por um forte cenário de informação oscilante e de incerteza global
(texto 13; Caldevilla-Domínguez et al).
Um quarto bloco discute o papel das redes sociais como instrumento de comunicação
política; por parte das casas reais espanhola e britânica (texto 2; Rodríguez, Vázquez e
3
Wendzel, R. (1985). Relaces Internacionais: o enfoque do formulador de polticas. Braslia: Universidade
de Braslia.
4
https://www.netflix.com/pt/title/80117542
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Bruno Carriço Reis; Javier Sierra Sanchez
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Jorquera), pela administração Trump (texto 8; Costa), e como instrumento comunicativo
da igreja católica portuguesa e espanhola na relação como interlocutores de poder (texto
12; Sabaté e Chiva).
Um quinto bloco fecha este debate, propondo três olhares acerca da utilização dos
recursos digitais como potenciadores de sensibilização de direitos humanos. O primeiro
escrutina os discursos públicos acerca da deficiência no contexto espanhol, olhados sobre
o prisma das diretrizes internacionais que propõem sociedades mais inclusivas (texto 7;
López-Cepeda, Mañas-Viniegra e Vivar-Zurita). Um segundo (texto 5; Bernabé) estuda
as estratégias comunicativas adoptadas por uma organização como a Amnistia
Internacional, no seu recorrente posicionamento acerca das questões de índole
humanitária. O terceiro olhar observa como as corporações comerciais incorporam nas
suas abordagens publicitárias questões de direitos civis. No texto 4, Díaz-Bajo e Martínez-
Borda analisam uma campanha publicitária de uma marca-mundo, que propõe uma
estratégia modeladora de uma identidade comercial assente em questões de igualdade
de género e raciais.
Estes são os cinco eixos orientadores deste dossier temático, que comportam textos que
reveladores de uma melhor compreensão acerca de um mundo hipercomunicado
5
,
marcado por possibilidades corporativas que simultaneamente se disputam em relações
de permanente competição, tensão. Boas leituras.
Como citar este editorial
Reis, Bruno Carriço; Sanchez, Javier Sierra. Editorial: Relações internacionais e redes sociais.
Janus.net, e-journal of international relations. Dossiê temático Relações internacionais e redes
sociais, VOL12 N1, TD1, Julho 2021. Consultado [online] em data da última consulta,
https://doi.org/10.26619/1647-7251.DT21.ED
5
Constantinou, C., Richmond, O., & Watson, A. (2008). International Relations and the challenges of global
communication. Review of International Studies, 34, 5-19.