exercida pela conflitualidade hostil, mormente da guerra, alterando o processo social
normal, gera finalidades únicas, no sentido de obrigar a política a enquadrar essa punção
violenta no conjunto dos objectivos e finalidades comunitárias, isto é, a sobredeterminar
a gestão da violência de maneira a evitar a presença solipsista desta – não poucas vezes
a estratégia retroage sobre a política no intuito de corrigir a cegueira pró-bélica desta.
Por outro lado, olhando agora sob o prisma estrita e propriamente político, e sem prejuízo
de que a remissão da estratégia para a política, em tese, relativiza a hostilidade,
enquadrada que fica esta pelos restantes objectivos políticos que se não esgotam nela,
os objectivos políticos passíveis de hostilidade têm de continuar activos e autónomos em
relação à estratégia para poderem ser ponderados com os restantes: com aqueles
referentes à cooperação, à acomodação, ou à competição. Podendo, em última análise,
a política querer valorizá-los mais, ou relativizá-los profundamente, enquanto síntese
superior, para além, independentemente e até a despeito da ponderação recursiva
exercida pela racionalidade social estratégica sobre o domínio político tout court - pode
muito bem até acontecer que a política aceite, é certo, a racionalização prudencial da
estratégia (no sentido de phronesis), os outputs da racionalidade social estratégica, mas
pretendendo ficar-se por aí, pelos fins incompletos da estratégia, enfeudar-se à
estratégia, apesar da vontade em contrário desta. Quando não queira mesmo perverter
essa prudência para promover uma hostilização mais sofisticada e apurada, a qual, em
vez de controlar danos os incrementa, mas de forma subtil.
Extensões estratégicas
Isabelle Duyvesteyn e James Worral sugerem aos estrategistas levar mais a sérios as
críticas que lhes são feitas a partir das Relações Internacionais, de que os estudos
estratégicos parecem ser apenas o braço armado das teorias realistas; ou lhes falta um
pensamento novo ou novas perspectivas (Duyvesteyn e Worral, 2017: 348). Porém,
como levar a sério tais críticas? A estratégia é mais antiga do que a ciência das relações
internacionais, os seus fundamentos e escolas de interpretação são específicas. Se há
autores afins ao realismo, talvez a um realismo aroniano no caso de Beaufre ou Abel
Cabral Couto, e outros são avessos ao realismo, mormente na escola estratégica
portuguesa, alguns mais são difíceis de identificar em qualquer das teorias de Relações
Internacionais, por exemplo Beatrice Heuser, ou Lucien Poirier. Por outro lado, ter de
desconstruir toda a ganga retórica que os estudos de segurança fizeram cair sobre o
objecto da estratégia é já uma preocupação de sobra. Recordemos ser o objecto da
estratégia a hostilidade entre actores políticos distintos (ou arrogando-se de que o outro
o é, no caso das guerras internas). Assim, o campo da hostilidade na cena internacional
é o campo operativo da estratégia. Não quer isto dizer que a hostilidade e a estratégia
não se relacionem com outros factores, como a geopolítica dos recursos, a política de
potências, etc. Mas o campo em si mesmo, nos seus fundamentos, nas suas modalidades
de acção específicas, isto é, a gestão da hostilidade em si, é do domínio da estratégia,
subordinada à política. Por conseguinte, a interpretação avisada da cena internacional
sob este prisma específico, isto é, só e somente sob este prisma apenas está ao alcance
da reflexão estratégica; de modo algum, dos estudos de segurança.
Isabelle Duyvesteyn e James Worral afiançam igualmente que os estudos estratégicos,
por mais importantes que sejam os Estados, devem promover uma abordagem menos