OCX identifica-se, assim, como uma OI que atua no espaço geopolítico da Eurásia e cujo
objetivo principal é combater os desafios securitários não-convencionais que assolam a
região, especialmente o terrorismo, o separatismo e o extremismo, mas também o crime
organizado como o tráfico de droga (Aris, 2011).
É, contudo, consensual na literatura que a “China and Russia are the twin engines of
the SCO [OCX]” (Albert, 2015), ou seja, os atores mais influentes da OCX, o que
explica que a sua relação seja, por sua vez, tão influente na cultura da organização.
Isto é também visível no facto de as suas línguas oficiais e de trabalho serem o
chinês e o russo (OCX, 2002).
De facto, há uma grande incorporação das normas constitutivas da relação sino-russa
nas regras formais da OCX. O artigo 2 da Carta da OCX, relativo aos princípios, afirma
que os Estados aderem a “mutual respect of sovereignty, independence, territorial
integrity of States and inviolability of State borders, non-aggression, non-interference in
internal affairs, non-use of force or threat of its use in international relations” (OCX,
2002: 3). À semelhança da relação sino-russa, também na OCX os atores expressam
formalmente um entendimento sobre a suma importância de respeitar a soberania e
segurança de cada um. A OCX, de igual forma, não cria nenhuma obrigação de defesa
de qualquer membro em caso de ataque – não é uma aliança. Coincide ainda no objetivo
de “encouraging efficient regional cooperation in such areas as politics, trade and
economy, defense, law enforcement, environment protection, culture, science and
technology, education, energy, transport, credit and finance, and also other areas” (OCX,
2002: 2).
Concluímos que as normas constitutivas da relação sino-russa – respeito pela soberania,
não confrontação, resolução pacífica das disputas entre membros, e compromisso a
cooperar em várias áreas – foram incorporadas na cultura da OCX e institucionalizadas
nas suas regras formais. As semelhanças do ponto de vista das regras formais, que
refletem consensos normativos, são evidentes, e é curioso observar que até a linguagem
dos documentos oficiais em ambos os contextos é idêntica. A OCX dispõe de um arranjo
institucional mais sofisticado e complexo (com vários órgãos como, por exemplo, um
secretariado) devido ao facto de ser uma OI de facto. Ainda assim, argumentamos que
a estrutura e funcionamento da OCX em tudo reflete as prioridades normativas dos
membros e, logicamente, também da China e da Rússia. O facto de todas as decisões
(exceto as relativas a expulsão ou suspensão de membros da OCX) serem tomadas por
unanimidade, conforme o artigo 16 da Carta, reflete a prioridade absoluta dada pelos
atores à sua soberania e independência, que já vimos que deriva da relação sino-russa.
A OCX assume, assim, um caráter intergovernamental, em que as decisões, salvo a
exceção apontada, nunca são tomadas contra a vontade de um dos membros. Isto é
visível também no facto de o Conselho de Chefes de Estado ser “the supreme SCO body”
(OCX, 2002: 2). O Secretariado, órgão executivo que representa somente a OCX, é
nomeado pelo Conselho de Chefes de Estado por unanimidade e tem as fracas
capacidades de fornecer apoio técnico, fazer propostas não vinculativas e de
supervisionar aplicação de decisões de outros órgãos. Não tem a capacidade autónoma
de decidir ou legislar – isso está reservado aos órgãos com representantes dos Estados-
membros e condicionados pela regra da unanimidade.