A relação com os russos durante este período foi sempre tensa, por vezes dramática,
não apenas no espaço euro-atlântico, e em particular nas fronteiras entre o espaço
soviético e a Europa Ocidental, mas também nas regiões periféricas onde as potências
europeias e os Estados Unidos procuravam manter a sua influência. Nesta altura, o
mundo estava dividido em dois grandes blocos (para além da existência de países não
alinhados). De um lado, o bloco ocidental, tendo como referência a democracia e a
economia de mercado, e a NATO como organização de defesa coletiva. Do outro lado,
encontrava-se a aliança da URSS com os países que tinham passado ao seu controlo
após a II GGM caraterizada por partilharem um regime de partido único e uma economia
de planeamento central, tendo como estrutura militar o Pacto de Varsóvia. Eram, pois,
dois blocos de antagonismo absoluto: filosófico, político, económico e militar. A ameaça
de uma guerra nuclear catastrófica levou, na década de 1950, ao estabelecimento no XX
Congresso do Partido Comunista da União Soviética da “coexistência pacífica” e à decisão
de atacar os “regimes capitalistas” fora da área europeia, pelo apoio à libertação das
colónias. Nas décadas seguintes o apoio aos movimentos de libertação passou a constituir
o foco central da sua política externa soviética. No campo ocidental, o perigo de um
cataclismo nuclear foi também tido em conta e, no quadro de Harmel Report, da década
de 1960 estabelecida a postura de “dual track” em que sustentando sempre uma defesa
sem tergiversações, a NATO abriu espaço a negociações com o Pacto de Varsóvia e a
URSS. Embora militarmente nunca tenham ocorrido confrontos diretos entre estes dois
blocos, existiram, porém, diversos conflitos por procuração (proxy conflicts), onde cada
uma das partes apoiou de alguma forma os grupos insurgentes em países sob a influência
da outra parte. São exemplos deste âmbito os conflitos no Vietname, na Península da
Coreia, no Afeganistão, e em grande parte das antigas colónias portuguesas (Hobsbawm,
1996: 241-243).
As diferenças políticas e a ameaça de expansão do comunismo para a Europa, em
particular, e para o mundo em geral, constituíram as bases para o reconhecimento
comum da ameaça soviética e para “alimentar” o esforço que todos os Estados-membros
dedicaram à estrutura política e militar da NATO. Para os países da UE o pilar da
Segurança estava por completo entregue à garantia de segurança da Aliança Atlântica.
No atinente à Alemanha, durante a Guerra Fria, a NATO procurou sempre manter, em
primeiro lugar, “sob vigilância” o instrumento militar alemão (Hobsbawm, 1996: 240),
em face do contexto das I e II Guerras Mundiais. Apesar de dividida, nas Repúblicas
Federal e Democrática, a NATO, a par da UE, deu garantias para a estabilidade europeia,
através da integração pacífica alemã com as restantes potências europeias,
especialmente com França. A manutenção de um substantivo contingente militar
americano na Alemanha durante a Guerra-fria foi certamente uma garantia de
estabilidade interna e de afirmação da partilha de responsabilidades perante um eventual
ataque do Pacto de Varsóvia.
Por último, nas palavras de Ismay, a NATO servia para “manter os americanos dentro”.
A criação da NATO, para as diversas administrações norte americanas, pode ser vista em
modo similar ao plano Marshall, que apoiou economicamente uma Europa devastada pela
II Guerra Mundial. Apesar desse apoio, que foi vital para a recuperação económica
europeia, desde essa altura que a influência americana se fez sentir com maior dimensão,
não apenas à escala europeia, mas também em termos globais. De igual modo, a NATO,
para além de ter permitido aos europeus redirecionaram todo o seu esforço para a