JANUS.NET, e-journal of International Relations
ISSN: 1647-7251
Vol. 6, n.º 1 (Maio-Outubro 2015), pp. 1-20
O nexo interno-externo na narrativa securitária da União Europeia
Ana Paula Brandão
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anuais ao mais alto nível até encontros regulares entre alto funcionários, passando
pelas reuniões dos conselhos, comités e subcomités de cooperação); redes de
especialistas e profissionais; programas de assistência.
A título exemplificativo, consideremos a cooperação UE-Rússia. A Cimeira de São
Petersburgo, em 2003, lançou os quatro espaços comuns da cooperação, incluindo o
espaço da liberdade, segurança e justiça. Dois anos mais tarde, foi aprovado o
respetivo roteiro
30
, cuja execução é monitorizado pelo organismo central da
cooperação, o Conselho da Parceria Permanente no domínio da LSJ que reúne duas
vezes ao ano. O roteiro, no ponto relativo à segurança, prevê a cooperação no combate
ao terrorismo e a todas as formas de crime organizado
31
. A cooperação tem-se
traduzido sobretudo no apoio à elaboração de legislação, na formação e no intercâmbio
de informação. Ao longo dos anos têm-se verificado uma “rede crescente de contactos
profissionais, reuniões e consultas, compromissos” (Hernández i Sagrera e Potemkina,
2013: i). Pese embora o efeito positivo desta socialização, os resultados concretos da
cooperação têm sido limitados. No domínio específico da segurança interna
32
, a
agenda tem sido dominada pelo crime transnacional, o tráfico de droga e o
terrorismo
33
. Foi ainda celebrado um acordo operacional entre a Rússia e a Frontex
destinado a promover a cooperação prática a três níveis: formação, intercâmbio de
conhecimentos e de boas práticas; partilha de informações para análise de risco;
operações conjuntas. O acordo concluído com a Europol
34
, anterior à aprovação do
roteiro, limita-se à partilha de informação estratégica
35
e de documentos de avaliação
da ameaça, não tendo sucedido ainda as negociações para um acordo operacional
36
.
Apesar de duas rondas negociais
37
, não foi ainda concluído o acordo com a Eurojust,
pelo que até ao presente a cooperação concretiza-se nas reuniões dos funcionários de
ligação das partes. O principal obstáculo à cooperação resulta do uso da
condicionalidade política pela UE que não é bem aceite pela Rússia (Hernàndez i
Sagrera e Potemkina, 2013). Adicionalmente, de referir o défice de confiança mútua,
fundamental em áreas sensíveis como a segurança, a heterogeneidade de culturas
jurídicas e administrativas e ainda as diferenças na perceção das ameaças.
30
“Road Map on the Common Space on Freedom, Security and Justice” (EU-Russia Permanent Partnership
Council on Freedom, Security and Justice, 2005).
31
O road map contempla as seguintes áreas: terrorismo, segurança de documentos, crime organizado
transnacional, lavagem de dinheiro, tráfico de droga, tráfico de seres humanos, corrução, furto de
veículos e artigos com valor histórico e cultural.
32
A agenda mais ampla do LSJ contempla o movimento de pessoas e migração. Foram celebrados dois
acordos (Agreement between the Russian Federation and the European Community on the facilitation of
the issuance of visas to the citizens of the Russian Federation and the European Union e Agreement
between the Russian Federation and the European Community on readmission, 2006) e está em execução
os "Common Steps towards visa free short term travel for Russian and EU citizens"(2011).
33
“European Union Action Plan on Common Action for the Russian Federation on Combating Organised
Crime” (2000), “Memorandum of Understanding between the Federal Service of the Russian Federation
for Narcotics Traffic Control and the European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction” (2007).
Disponíveis em:
http://www.russianmission.eu/en/basic-documents.
34
Agreement on Co-operation between the European Police Office and the Russian Federation (2003).
35
Não permite a transferência de dados.
36
“Discussion with the Russians had been rather empty. Professor Rees thought that Russia was resistant to
EU incentives because the Kremlin considered itself to be too important to have its policies molded by
Brussels” (House of Lords, 2011: 21).
37
As partes iniciaram a negociação em 2009.