JANUS.NET, e-journal of International Relations
ISSN: 1647-7251
Vol. 5, n.º 2 (novembro 2014-abril 2015), pp. 114-122
Cidades e Regiões: a paradiplomacia em Portugal
Helena Santos Curto, Luís Moita, Brígida Rocha Brito, Célia Quintas, Maria Sousa Galito
1. Um projeto de investigação em curso
Na unidade de investigação OBSERVARE constituiu-se um grupo de trabalho para um
projeto de investigação designado Cidades e Regiões: a paradiplomacia em
Portugal. Tal projeto situa-se no quadro de uma das três grandes linhas de
investigação aprovadas pelo Conselho Científico do OBSERVARE intitulada Povos e
Estados: Construções e Interações, que tem a vocação de contribuir para a
compreensão do papel dos atores internacionais, vistos na sua dimensão dinâmica e
evolutiva, na sua génese e no seu multiforme relacionamento.
Logo à partida, a utilização do conceito de paradiplomacia aponta para o estudo do
relacionamento externo de atores sociais distintos dos poderes centrais dos Estados
nacionais. A situação contemporânea tem propiciado a emergência de numerosos
agentes de internacionalização, como se a politica externa ou os "negócios
estrangeiros" deixassem de ser monopólio dos governos centrais e se assistisse a uma
pulverização ou disseminação dessa atividade por centros dispersos dotados de relativa
autonomia. Trata-se de um fenómeno com contornos razoavelmente inovadores,
merecendo atenção na área científica das Relações Internacionais, habilitando-nos a
melhorar a interpretação dos factos e a aprofundar a compreensão dos mecanismos
suscitados por essas novas práticas.
Nesse campo tem sido destacado o papel das cidades. Seja pela intensidade do
processo de urbanização das nossas sociedades, seja porque as cidades se têm
revelado crescentemente como importantes "nós" da teia da globalização, elas são hoje
um pólo fundamental da internacionalização e um agente relevante da nova
“diplomacia” não estatal, justamente a paradiplomacia. Nos domínios das redes de
transportes e de comunicações, ou nas esferas sócio-culturais, bem como no terreno
económico e mesmo na ação já propriamente "política", as interações entre os grandes
aglomerados urbanos constituem hoje uma malha com impacto na vida internacional.
Daí o interesse em averiguar as respetivas estratégias, as formas de ação
internacionalizada, assim como os meios institucionais onde se estruturam as referidas
interações.
Alem das cidades, também as regiões desempenham na atualidade papeis relevantes
enquanto agentes de internacionalização. É verdade que o termo “região” encerra
significados distintos e tanto serve para designar parcelas ou frações do tradicional
espaço nacional, como pode significar subconjuntos de Estados ou redefinições de
novos espaços que se organizam independentemente das fronteiras nacionais (como é
o caso, institucionalizado, das Euroregiões, ou o caso, não institucional, das
macroregiões informais que se multiplicam na geopolítica e na geoeconomia mundiais).
Em qualquer hipótese, as regiões também conduzem elas a sua paradiplomacia,
merecendo serem objeto de análise específica.
O estudo destes processos tem assim reconhecida utilidade para o avanço da área
científica das Relações Internacionais. Fica sublinhada a multiplicidade dos atores
sociais protagonistas da internacionalização, superando o suposto monopólio estatal da
ação externa. Identificam-se novos agentes de paradiplomacia, com a tentativa de
averiguar as suas estratégias e os seus suportes institucionais a nível local ou regional.