OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
ISSN:
Vol. 5, n.º 2 (novembro
“WAR IS A RACKET!”
A EMERGÊNCIA DO DISCURSO LIBERTÁRIO SOBRE A 1ª GUERRA
MUNDIAL NOS ESTADOS UNIDOS
Alexandre M. da Fonseca
alexandremarquesfonseca@gmail.com Licenciado em Línguas e Relações Internacionais pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Completou o 1º ano do Mestrado em Línguas Aplicadas ao Comércio Internacional na Universidade de Rouen e o 2º ano de Mestrado em História do Pensamento Político na ENS de Lyon. É doutorando no programa Democracia no século XXI do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal).
Resumo
"Não é por coincidência que o século da guerra total coincidiu com o século dos bancos centrais", escreve Ron Paul, candidato libertário “sensação” à presidência dos EUA em 2008 e 2012, no seu livro End the FED. Explorando brevemente o curto, mas poderoso panfleto do Major General Smedley Butler, "War Is A Racket", onde este oficial demonstra especificamente quem lucrou economicamente e quem, por sua vez, arcou com o peso e a violência da 1ª Guerra Mundial, assumiremos que uma guerra nunca é travada com a aquiescência da população. No entanto, pretenderemos ir mais longe, procurando uma releitura da história oficial da 1ª Guerra nos Estados Unidos, através da lente do discurso libertário. O objectivo é, desta forma, compreender, de uma outra perspectiva, a mudança fundamental do paradigma de não intervenção dos Estados Unidos que decorre nesta guerra,
Palavras chave:
Ron Paul; 1ª Guerra Mundial; Woodrow Wilson; Libertarianismo; Política Externa
Como citar este artigo
Fonseca, Alexandre M. da (2014). "«War is a rackett». A emergência do discurso libertário sobre a 1ª Guerra Mundial nos Estados Unidos". JANUS.NET
Artigo recebido em 14 de julho de 2014 e aceite para publicação em 15 de outubro de 2014
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«War is a rackett!». A emergência do discurso libertário sobre a 1ª Guerra Mundial nos Estados Unidos Alexandre M. da Fonseca
“WAR IS A RACKET!”
A EMERGÊNCIA DO DISCURSO LIBERTÁRIO SOBRE A 1ª GUERRA
MUNDIAL NOS ESTADOS UNIDOS
Alexandre M. da Fonseca
“Possibly a war can be fought for democracy; it cannot be fought democratically”
Walter Lippman
No centenário do início da 1ª Guerra Mundial, muitas iniciativas e “comemorações” foram realizadas com o intuito de lembrar (ou de não deixar esquecer) os horrores desta guerra. Contudo, poucas procuraram ou procuram questionar os fundamentos da “Guerra” e deste conflito em particular. Ron Paul,
No entanto, já em 1935, o General Smedley Butler, que havia participado na campanha da 1ª Guerra – entre muitas outras campanhas1 - publicou o pequeno panfleto “War is a Racket”2. Nele, além de descrever as baterias de guerra daquela que seria a 2ª Grande Guerra Mundial
Longe de procurarmos classificar o General Butler como um libertário, o objectivo deste texto é perceber o que é que se pode identificar como discurso
1
2
O general participou em muitas ações militares, em Cuba durante a Guerra Hispano- Americana, nas Filipinas durante a Guerra
Éinteressante comparar esta acusação de Butler, com a dos “Indignados” franceses, para quem “la dette c’est du racket”. Ambas acusações poderiam ser rapidamente lidas como “populistas”, no entanto, elas lançam sementes de discussão importantes no que à “Democracia” diz respeito.
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libertário sobre a 1ª Guerra Mundial. Assim, numa primeira parte, procuraremos estudar as influências intelectuais de Ron Paul,
Numa segunda parte, procuraremos analisar o discurso de Ron Paul (2007: 267, 347) sobre a 1ª Guerra, bem como as razões porque é que este afirma que Wilson foi o primeiro presidente
Para o
As influências intelectuais de Ron Paul
O
Paul sempre foi, sobretudo, um “animal raro” na política
3Embora seja preciso realçar que, após a 1ª Guerra, os EUA reverteram para o tradicional
isolacionismo. Entre os factores desta mudança, estiveram a depressão de 1930, “a memória das perdas trágicas da 1ª Guerra”, mas também o inquérito do senador Nye sobre os lucros da
Guerra, a publicação do livro Merchants of Death e o referido “War |
Is |
a |
Racket” (Fleming, |
|||||
2003:488). Assim, |
a posição de Paul não |
é inteiramente correcta, dado |
que |
o “wilsonianismo” |
||||
não sobreviria ao |
Presidente Wilson, |
que |
viu a Liga das Nações ser |
rejeitada |
pela |
opinião |
||
pública (Fleming, |
2003: |
1955: 575; Keene, 2010: 520). |
Só |
após |
a 2ª |
Guerra, |
os EUA assumiram então, em pleno, o seu novo papel no Mundo e o bipartidarismo na política externa
4Paul é mesmo conhecido como o “Dr. No” por votar contra todas as propostas de lei que não sejam explicitamente autorizadas pela Constituição, mas também por manter uma incrível consistência de posições, durante mais de 3 décadas no Congresso (Botelho, 2010: 108).
5Apesar do seu filho, Rand Paul, senador pelo Kentucky, ser apontado como a grande figura actual do Tea Party.
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Talvez seja útil compreender que intelectuais e políticos influenciaram o pensamento político e económico de Ron para melhor interpretar esta sua independência. Um exercício que o próprio Ron Paul contempla, no livro End the Fed, onde descreve as suas influências, relacionando o seu percurso biográfico com as leituras e momentos que moldaram a sua visão do mundo, na qual, ao contrário da doutrina liberal, economia e política são absolutamente inseparáveis.
A Escola Austríaca de economia, da qual von Mises e Hayek são os expoentes maiores, é reconhecida pelo político como a escola dos autores que lhe proporcionaram “as respostas pelas quais ansiava”. Aliás, como o próprio admite, “mesmo os especialistas demoraram literalmente séculos para perceber a natureza do dinheiro” (Paul, 2009: 37). E numa altura em que os EUA se desfizeram do padrão
Outro dos economistas que inspiraram Paul foi Murray Rothbard, autor de vários livros sobre a Reserva Federal
Contudo, tanto Paul, como a maioria dos economistas da Escola Austríaca, rejeitam a intervenção governamental também no plano político. O essencial, afirma Ruthbard (2011: 11), é o “direito de estar livre de agressão...e de não ser roubado por impostos e regulações governamentais”. Ou, como o próprio Paul afirma, a única filosofia que ele considera correcta é a defesa da “liberdade individual, da propriedade privada e de uma moeda sólida” (Ibid.: 49).
A política externa de Paul
Embora muitas das teorias libertárias possam ser vistas como problemáticas - por exemplo, ao colocar irremediavelmente o Estado como “mau da fita”8, negando desta forma séculos da tradição do contracto social - estas podem ser vistos como desafios ao modelo hegemónico de pensar a relação entre Estado e cidadãos.
6Como o próprio afirma, foi este acontecimento que o levou a concorrer ao Congresso. (Paul, 2009:38)
7No entanto, ao contrário do consenso majoritário actual em torno do funcionamento do
chamado “mercado livre”, Paul (2007: 275) critica profundamente |
o |
“lip service...given to the |
free market and free trade, [while] the entire economy is run |
by |
|
favoring big business, big labor and, especially, big money.” |
|
|
8Paul era conhecido por ter um cartaz no seu escritório onde se podia ler “Don’t steal. The government hates competition”.
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Não pretendemos, nem podermos neste contexto proceder a uma análise crítica do libertarianismo. O que não podemos deixar de notar é a coerência entre o discurso a nível interno e a política externa de Paul. Como nota H. Rockwell, no prefácio ao livro do
E, de acordo com este último (2008: 28), esta era também a visão dos “Pais Fundadores” que “reconheciam que o Governo não é mais honesto ou competente na política externa do que na política nacional” visto que, “em ambas as instâncias são as mesmas pessoas a operar com os mesmos incentivos”. No entanto, reduzir a suspeição de Paul ao Governo, não seria justo, nem com o próprio político, nem com todas as outras instituições que merecem a sua desconfiança.
Antes de nos adiantarmos, contudo, é importante perceber que o argumento fundamental do
É assim que a filosofia libertária se totaliza, tanto a nível político internacional e interno, como política- e economicamente (Paul, 2012). É necessário, no entanto, não esquecer igualmente a leitura restritiva que Ron Paul faz da Constituição
"Instead |
of seeking |
congressional |
approval |
of the use of |
the US |
Armed Forces |
in service of |
the UN, |
presidents from |
Truman to Clinton have used the UNSC as a substitute for congressional authorization of the deployment of…armed forces" (Paul, 2007: 145).
"Citing NATO agreements or UN resolutions as authority for moving troops into war zones should alert us…to the degree to which the rule of law has been undermined. The president has no war power; only the Congress has...When one person can initiate war, by its definition, a republic no longer exists" (Ibid.: 117).
A cruzada
Quid então processo democrático? Paul foi descrito como um “isolacionista” (Botelho, 2010: 108; Mead, 2011: 6) que rejeita todas as instituições multilaterais nas quais os EUA participam e que procura “evitar contacto com o mundo” (Mead, 2011: 6). Ora, se a rejeição destas instituições é confirmada
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pelo próprio (Paul, 2007: 126), a acusação de rejeição de contacto com o mundo, não.
O que Paul defende é aquilo que, mais uma vez, os “Pais Fundadores” pretendiam: “paz, comércio, amizade honesta com todas as nações, alianças com nenhuma”. A recuperação do alerta de Adams: “ela [a América] não vai à procura de monstros para destruir. Ela comandará... pelo simpatia do seu exemplo” (Paul, 2008: 15). Ou, como o próprio conclui: “sou a favor do oposto total do isolacionismo: diplomacia, comércio livre e liberdade de viajar” (Ibid.: 14).
Se Paul é um “exemplarista”9 (Edwards, 2011: 255) que acredita na missão excepcional dos Estados Unidos, não está - ao contrário de muitos políticos - disposto a entrar em guerra por ela. E rejeita, sobretudo, a transferência de soberania nacional para o que Robert Cox apelidou de “nébuleuse” e o ex- congressista apelida de
A oposição de Ron Paul não se limita às Nações Unidas, mas a todas as instituições que “ameaçam a independência nacional dos EUA” e cujo apoio provém sempre das “elites e nunca dos cidadãos comuns”, acabando por beneficiar “as corporações internacionais bem conectadas e os banqueiros” (Paul, 2007: 143, 155, 302)11. Cumprindo a prédica dos founding fathers, Paul
Contudo, a transferência de soberania e o envolvimento em alianças económicas, políticas e militares, contrárias à letra da Constituição, não constituem a sua única objecção à política externa
"Unilateralism within a globalist approach to government is the worst of all choices. It ignores national sovereignty,
9Quer se concorde ou não com a tese do excepcionalismo (dos EUA ou de qualquer outra nação), e apesar de Ron Paul parecer não por em causa esse principio, a opção por uma
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missão “exemplarista” (mas não intervencionista) evita a |
“necessidade” |
dos |
EUA |
se |
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10 |
envolverem militarmente noutros países. |
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Botelho (2010:108) |
afirma |
que |
“O |
seu (de |
Paul) |
liberalismo |
económico |
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saída dos Estados |
Unidos |
não |
só |
da Organização |
Mundial |
do |
Comércio |
como, |
paradoxalmente, |
||||
|
da NAFTA” Contudo para Paul, o que é paradoxal é a |
existência destas agências que |
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regulamentam o suposto “mercado livre”. |
Como |
o |
próprio |
afirma: |
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11 |
goals are anathema to |
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Uma crítica semelhante é |
apontada |
à ajuda |
externa. Para |
Paul |
(2007:47), por trás de ideais e |
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objectivos nobres são os “ditadores estrangeiros, |
os |
banqueiros internacionais |
e alguns |
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industriais americanos que enriquecem”. Da mesma forma, |
e em conformidade com os |
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princípios libertários, “ajudar aqueles que |
procuram |
ser livres ao |
expropriar |
fundos |
de |
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|
Americanos inocentes é injustificável” (Ibid.: 57). |
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dignifies
A esta política Paul dá o nome de “keynesianismo militar” (Ibid.: 81), justificado pela presença constante noutros países, pela política de ocupação, de “nation building” e de guerra preventiva. Contudo, como o
além de todas as razões morais |
para se lhe opor12 - |
esta |
política |
“imperial” |
|
cria uma forma de imposto sob todos os cidadãos americanos13 e, |
ao tornar |
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omnipresente a guerra, restringe |
a “possibilidade de |
viver |
numa |
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sociedade |
livre” (Paul, 2011: 49). |
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“The enemy within” - A Reserva Federal e o Complexo
Quem beneficia afinal com esta política? Porquê e como é que os EUA conseguiram invadir e estar presentes em tantos outros países durante a maior parte do século XX e início do século XXI? Deixando de lado as justificações políticas, tidas como hipócritas pelo
a) A Reserva Federal
Comecemos pela primeira, a Reserva Federal, criada em 1913, com o “Federal Reserve Act”, assinado pelo Presidente Wilson. De acordo com Ron Paul, “após a criação da Reserva Federal, o governo...descobriu outros usos para a massa monetária elástica14...(que) provaria ser útil para financiar a guerra” (Paul, 2009: 52). Tendo a possibilidade de “imprimir dinheiro...os limites fiscais à guerra foram removidos” (Ibid.: 52), ou seja, a escolha da teoria económica clássica, entre produzir armas ou manteiga, “deixou de ser necessária” (Ibid.: 55; Lewis, 2014).
Sem o medo ou a responsabilidade de bancarrota ou ruína fiscal e com a possibilidade de expandir o dinheiro existente, através de inflação e criação
12 Para Paul (2007: 82) esta política resulta apenas em que: “Innocent people die, property is destroyed, and the world is made a more dangerous place.”
13E mundiais, como poderemos posteriormente verificar.
14Em inglês, “money supply”, isto é, a quantidade de dinheiro disponível na economia. Com a criação da Reserva Federal,
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de dívida, “cada special interest têm a possibilidade de ter aquilo que quer”. Como discutiremos posteriormente, Paul identifica o presidente Wilson como o grande responsável desta mudança e pela criação de um “welfare- warfare state” (Paul, 2007: 103). No entanto, existe outro monstro que se alimenta deste poder de criar dinheiro a partir de nada.
b) O complexo
Como verificámos anteriormente, é o próprio Gen. Butler (1935:
Como com as alianças externas e a Reserva Federal, são os cidadãos comuns que perdem, acredita o libertário, pois também a indústria militar “beneficia de um standard de vida melhor à custa dos contribuintes, devido à política intervencionista e de preparação constante para a guerra” (Ibid.: 225). Uma indústria na qual até Hollywood está envolvida em “mostrar o lado bom do exército” com dinheiros públicos (Paul, 2007: 155; Wolf, 2012; Giambrone, 2013).
Se para o
E tudo Wilson mudou?
No livro A Century of War, Denson (2006: 11) afirma que, em relação à guerra, “o revisionismo se torna necessário porque a verdade é quase sempre a primeira vítima da guerra”. Na comemoração do centenário da 1ª Guerra Mundial, qual a importância de olhar de outra forma para a primeira “guerra total”? O que mudou com a Presidência Wilson e a participação norte- americana? Quem foi afinal o presidente Wilson? E quais as razões para a entrada na guerra dos EUA?
Através da lente libertária, procuraremos compreender porque é que Ron Paul acusa Wilson de ser o primeiro presidente intervencionista e “neo- conservador” e porque é que, ao contrário do que se acredita convencionalmente, Wilson não é tido como um idealista ingénuo e as aventuras militares
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decisões fundamentais, que restringiu as liberdades dos
A verdade é que, até 1917, o público
essa sempre havia sido a posição americana, desde a doutrina Monroe: evitar a intervenção nos conflitos europeus15. O próprio Presidente Wilson, concorrendo às eleições de 1916 com o slogan de “manter o país fora da guerra”, hesitou longamente antes de levar os EUA para uma guerra distante (Keene, 2010: 508; Cooper, 2011:
Oficialmente, a razão para a entrada na guerra, seria o afundamento do navio Lusitânia em 1915 e a subsequente decisão alemã de guerra submarina contra navios beligerantes e neutrais, em 1917, a gota de água que esgotaria, por fim, a paciência de Wilson. Mas será que esta é toda a história? De que forma pode uma leitura libertária poderá iluminar os buracos negros sobre a 1ª Guerra?
Wilson - interesses idealistas ou idealismo interesseiro?
Kissinger, no livro Diplomacy,
Para o |
libertário, a visão de Wilson era clara: “orquestrar a |
entrada |
dos EUA |
|
na |
1ª |
Guerra Mundial...para concretizar a sua estratégia de |
governo |
mundial |
sob |
a |
Liga das Nações” (Paul, 2007: 283; Cox, 2000: 237; |
Anderson, 2008: |
4). Paul rejeita a narrativa segundo a qual haveria algo de moralista na sua conduta. A própria “missão” de espalhar a democracia pelo mundo – pela força, se necessário - é classificada, no mínimo, como hipócrita (Ibid.:339; Denson, 2006:
Aliás, antes da 1ª Guerra Mundial, este era o presidente que já tinha “rompido pela América Latina”, invadido o Haiti, o México, a República Dominicana e as Filipinas e iniciado a Guerra
15Mantendo, no entanto, uma “supervisão paternalista” da América Latina (Gilderhus, 2006:6).
16Existem, no entanto, interpretações diferentes, mesmo no sector libertário, do carácter de Wilson.
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E seria próprio Wilson, exponente do liberalismo internacional, visto como fervoroso democrata e internacionalista, afinal um aristocrata elitista com posições racistas e contra a determinação nacional de certos povos (Cooper, 2011: 433, 474; Fleming, 2003: 74)? É esta, baseada também nos relatos do seu biógrafo, a leitura que Michael Cox
"We |
should… not |
forget |
that |
Wilson |
did |
nothing |
for |
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the Irish or the Chinese |
at Versailles; that 20 years |
|||||||||||
earlier |
|
he |
had |
endorsed |
|
the |
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brutal |
American |
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takeover of the Philippines; and |
that |
he |
was |
not |
in |
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favour |
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of |
independence |
for |
all |
peoples, |
especially |
if |
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they were brown or black. |
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Wilson |
had far more in common |
with |
the |
patrician |
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views |
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of…Hamilton |
of |
whom |
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could…be |
regarded |
as |
genuine |
he |
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did |
with |
the populist |
Jefferson…If |
Wilson |
had |
a |
||||||
restricted |
concept |
of |
democracy…he |
had |
forthright |
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views about race". |
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A economia da guerra
O que motivou afinal Wilson na sua cruzada, depois de ter sido reeleito, prometendo não entrar na 1ª Guerra Mundial? A resposta do General Butler é clara: “money”. Como refere Denson (2006: 25), corroborado por outros autores (Fleming, 2003:
"The President summoned a group of advisers. The head of the commission spoke. Stripped of its diplomatic language… he told the President and his group:
There is no use kidding ourselves any longer. The cause of the allies is lost. We now owe you (American bankers, American munitions makers, American manufacturers, American speculators, American exporters) five or six billion dollars. If we lose (and without the help of the United States we must lose) we, England, France and Italy, cannot pay back this money... and Germany won’t."
Uma Guerra para salvar a democracia ou os banqueiros? Mas os interesses financeiros não foram os únicos a serem privilegiados durante a 1ª Guerra Mundial. C. J. Anderson (2006: 1) e Fleming (2003:
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por exemplo, “a
Ron Paul traça igualmente a “obsessão”
Para o
A primeira guerra da propaganda?
Como foi possível convencer os cidadãos e, em particular, os jovens norte- americanos a combater uma guerra na Europa, longe das suas margens? Como é que uma guerra lutada por interesses económicos que, no final, beneficiou apenas os grandes industrialistas e banqueiros, foi “vendida” aos
A 1ª Guerra Mundial foi talvez a primeira guerra da propaganda total, na qual agentes como Lippman e Bernay, contratados por Wilson, se revelaram fundamentais em persuadir o grande público do “perigo alemão” (Redfern, 2004: 3; Anse Patrick e Thrall, 2004: 2; Keene, 2010: 510; Fleming, 2003: 55, 90). Outros identificam igualmente os mass media emergentes como responsáveis pela campanha de criação desse medo e da “necessidade” dos EUA entrarem em guerra (Anderson, 2008: 2).
No entanto, aqueles que não estavam convencidos da ameaça alemã foram persuadidos pelo afundamento do submarino Lusitânia, o “evento especial, sem o qual seria difícil vender a política de guerra preventiva onde os membros do ‘nosso’ exército seriam mortos”. Eventos que “serviram para promover uma guerra que os nossos líderes pretendiam” (Paul, 2007: 274).
E, se ainda houvesse quem não estivesse convencido, como refere Butler (1935: 9), “bonitos ideais foram pintados aos nossos rapazes enviados para morrer. Esta era ‘a guerra para a acabar com todas as guerras’”. Butler menciona igualmente as condecorações de guerra – inexistentes até à guerra
Mas esta foi igualmente a guerra onde o serviço militar obrigatório foi introduzido, pela primeira vez, como “dever patriótico” (Paul, 2011: 34; Paul, 2007: 285). Um serviço que é, aos olhos de Paul, intolerável e um dos maiores
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exemplos daquilo que o
A guerra, “o big government” e a erosão de liberdades – capítulo I
Paul, como outros libertários (Eland, 2007:
Anderson, 2008: 4), apontam a presidência de Wilson e, em especial, a 1ª Guerra Mundial, como o primeiro grande momento de crescimento do governo nos Estados Unidos. Foi este o capítulo inicial daquilo que os libertários consideram como o “advento do ‘big government’ permanente” e a sua intrusão nas vidas dos cidadãos
Pois esta guerra, embora lutada no exterior, levou a uma grande concentração de poder nas mãos de Wilson e governo, que controlou “quase toda a produção de guerra” e “assumiu novos poderes...para controlar a dissidência” (Eland, 2007: 8; Keene, 2010: 508; Cooper, 2011:
"No protracted war can fail to endanger the freedom of a democratic country…War does not always give over democratic communities to military government, but it must invariably and immeasurably increase the powers of civil government".
–contra o terrorismo, a droga, a pobreza? Isto não contando obviamente as incursões militares, a preparação de guerra constante e o clima de medo, fomentado por governos e meios de comunicação. Como afirma Paul (1987: 51), “em tempos de guerra, as liberdades individuais
Embora o termo “liberdades individuais” possa ser considerado como vago, o discurso libertário tem um mérito fundamental. Ao identificar claramente o primeiro passo daquilo que viria a desembocar na guerra com drones, nos programas de vigilância massiva, alianças militares e no “Império” americano, e ao pregar uma desconfiança instinctiva do governo,
O desafio do libertarianismo
Neste artigo procurámos assim dar conta de dois fenómenos distintos que se interligam, todavia, na figura do Dr. Ron Paul – a sua candidatura a presidente
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e desembocou na emergência do libertarianismo como movimento e discurso significativo na política
Se, numa primeira parte, identificámos as linhas teóricas que guiaram a acção e o discurso “pauliano”, na segunda parte deste artigo analisámos a narrativa libertária sobre as políticas de Wilson, com especial atenção à 1ª Guerra Mundial, identificada como o momento em que “a República se tornou num Império” e as “sábias” políticas dos founding fathers foram ignoradas e repelidas.
Se a retórica libertária pode ser desprezada como populista – contra a Reserva Federal e os banqueiros
Aliás, se o movimento libertário nos EUA foi identificado com uma certa “Direita”, a verdade é que, na política externa, ela se une a toda aquela Esquerda que rejeita o papel de polícia do Mundo dos Estados Unidos (Edwards, 2011: 266). Apesar de não concordarem necessariamente com qual deveria ser o papel dos EUA no Mundo (e
Épara o movimento global contra a guerra, afinal, que a maior lição de Ron Paul pode ser retirada. Nas suas próprias palavras (2007:
"quem quiser limitar as despesas de Guerra e o militarismo... tem de estudar o sistema monetário, através do qual o(s) governo(s)... financia(m) as suas aventuras no estrangeiro sem a responsabilidade de informar o público dos seus custos ou de recolher os fundos necessários para financiar esse esforço”
Se para muitos é agora mais fácil compreender as ligações entre os bancos, o governo e a guerra – e também as crises financeiras - uma pequena parte do mérito
Foram também eles que ajudaram a expor o “círculo vicioso” do dólar como
Apesar de Paul rejeitar o modelo democrático e lhe preferir o da República e mesmo rejeitando o cosmopolitismo de um governo mundial, os seus
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conselhos podem ser entendidos como uma chamada para uma política mais transparente, feita de ideias e coerência – um modelo que o
Referências Bibliográficas
Anderson, C.J. (2008). “Why I am Voting for Ron Paul: The First World War, Woodrow Wilson and the Death of American Principles”. [Em linha],
[Consultado em 09.06.2014]. Disponível em infowars.net/articles/january2008/140108_b_Wilson.htm
Anse, Patrick Brian; Thrall, A. Trevor (2004). “Winning the Peace: Paradox and Propaganda after the War in Iraq”, [Em linha], [Consultado em 14.06.2014], Disponível em
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