OBSERVARE

Universidade Autónoma de Lisboa

ISSN: 1647-7251

Vol. 5, n.º 1 (Maio-Outubro 2014), pp. 131-134

Recensão Crítica

Gulbenkian Think Tank on Water and the Future of Humanity (2014). Water and the Future of Humanity. Revisiting Water Security. New York: Springer: 241 pp. ISBN: 978-3-319-01456-2; ISBN eBook: 978-3-319-01457-9; DOI 10.1007/978-3-319-01457-9

por Brígida Rocha Brito

brigidabrito@netcabo.pt Socióloga (Universidade Autónoma de Lisboa), Mestre e Doutora em Estudos Africanos (ISCTE–IUL).

Professora Auxiliar no Departamento de Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal) nas áreas de Ambiente e Relações Internacionais; Cooperação Internacional e Mundo Contemporâneo, Subdirectora de JANUS.NET, e-journal of International Relations. Investigadora do OBSERVARE (UAL).

“Improved water supply and sanitation contributes to human dignity, health, education, and economic development" (Foreword, pp v)

No quadro da Década Internacional para a Acção "Água fonte de vida" (2005-15)1, o Think Tank da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) sobre Água e o Futuro da Humanidade editou no início de 2014 (edição conjunta FCG e Springer) o livro "Water and the Future of Humanity. Revisiting Water Security". Esta obra é o resultado do trabalho conjunto, de reflexão e debate, de onze peritos internacionais2 de reconhecido mérito pelo trabalho que têm desenvolvido sobre as temáticas da gestão de recursos hídricos e da gestão comunitária da água.

A análise apresentada ao longo das 241 páginas do livro é centrada na identificação de sete grandes regiões do Mundo que evidenciam disparidades no que respeita à procura

1Para mais detalhas recomenda-se a consulta de http://www.un.org/spanish/waterforlifedecade/ (consultado online em 10-04-2014)

2Os onze especialistas que participaram na reflexeção são oriundos de diferentes áreas geográficas, nomeadamente: Aústria; Brasil; Canada; China; Estados Unidos da América; Holanda; Índia; Marrocos; Portugal; Suécia; e Sri Lanka.

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Brígida Rocha Brito

global de água para consumo. Mais do que áreas continentais, as sete regiões consideradas são identificadas pelas características principais3 que apresentam dando origem às seguintes tipologias: Rural; Villages; Urban; Metropolis; Large Cities; Towns; e Secondary Cities. Estas desigualdades são evidenciadas por um conjunto de desequilíbrios, entre os quais o crescimento demográfico, as tendências económicas e tecnológicas com incremento da produção agrícola, o uso de recursos naturais, a importância relativa das áreas urbanas, com influência directa da denominada urban culture, a repartição e a disponibilidade de rendimento.

Dado que a água é um recurso vital encontrando-se desigualmente disponível e acessível a nível mundial, as preocupações no que respeita à sustentabilidade do recurso são claramente evidenciadas já que o uso não planeado produz impactos que requerem controle e regulação. De forma complementar, os recursos hídricos são considerados como a base do desenvolvimento sócio-económico e ambiental. Contudo, sempre que marcados pela escassez ou por indícios de degradação resultam em constrangimentos para a efectivação do processo de mudança produzindo efeitos agravados junto das populações pobres ou vulneráveis, representando de forma consequente um risco sócio-económico, ambiental e político acrescido, incluindo na dimensão internacional.

As principais áreas sectoriais que dependem da disponibilidade de água, requerendo uma atenção particular e que, por esta razão, representam desafios - de âmbito nacional, regional e internacional - são a segurança alimentar, a saúde, a energia, a biodiversidade, a manutenção dos ecossistemas, a produção de bens de consumo, incluindo produtos transformados, e as alterações climáticas.

Ao longo das 241 páginas do livro, a análise é apresentada seguindo uma orientação prospectiva procurando-se apresentar uma definição de eventuais cenários futuros para cada uma das seccções temáticas com clarificação de tendências. Neste sentido, é levada em consideração a evolução do consumo de recursos hídricos ao longo do tempo, a sua (in)disponibilidade e os impactos gerados.

Do ponto de vista metodológico, e dado que se trata de uma obra assumida pela totalidade dos onze especialistas envolvidos na reflexão, no debate e nas análises, independentemente da área geográfica em que têm desenvolvido trabalho, todo o texto remete para uma abordagem conjunta centrada nos recursos partilhados.

A água é apresentada como um recurso comum sendo que a escassez, o stress e a crise na disponibilidade se fazem também sentir de forma global, requerendo a adopção e o seguimento de acções negociadas na procura do que é definido como uma "prosperidade sustentável". Esta preocupação aparece particularmente evidenciada pelo conceito da globalização, sobretudo na sua dimensão económica, que influencia e condiciona a manutenção dos recursos hídricos, implicando, em alguns locais do Mundo, a identificação e implementação de alternativas, como é o caso da dessalinização.

O conceito de Water Governance é longamente descrito remetendo a análise para um conjunto de factores de caracterização, anteriormente sistematizados e apresentados

3Apesar da identificação das sete tipologias, ao longo do texto são apresentados exemplos de casos em função das áreas temáticas analisadas.

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pela OCDE4, e que têm implicações no relacionamento internacional entre países, sobretudo nas situações em que estejam em causa recursos partilhados, como é o caso da maioria das bacias hidrográficas. Entre os factores indicados destacam-se a legitimidade, a transparência, a responsabilidade, a inclusividade, a justiça, a integração, a capacidade individual e comunitária para a gestão da água e a adaptabilidade. Estes critérios implícitos à "Governanção da Água" com um critério mais global interligam quatro dimensões também sugeridas como fundamentais:

a)a dimensão social, que implica uma gestão e uso equitativos, e naturalmente justos, dos recursos hídricos a nível mundial, tanto no que respeita à quantidade disponível como à qualidade, independentemente de se tratar de áreas rurais ou urbanas,

b)a dimensão económica, que é claramente apresentada em função dos conceitos de eficácia e eficiência na promoção do crescimento económico e na valorização das economias no contexto mundial com base na disponibilidade e formas de uso da água,

c)a dimensão ambiental, que se centra na perspectiva da sustentabilidade, na integridade dos ecossistemas, na manutenção de áreas, na conservação de espécies em particular em habitat natural, concentrando formas de vida que na totalidade dependem dos recursos hídricos,

d)a dimensão política, que implica atribuir e reconhecer a oportunidade aos cidadãos e diferentes actores interessados de exercerem influência directa e indirecta na tomada de decisões.

O livro está estruturado em nove capítulos principais, introduzidos por nota introdutória, prefácio, prólogo e mensagem sobre a água e o futuro da humanidade, que abordam o tema central da gestão da água, a saber:

1.Our Water; Our Future

2.Drivers of Water Demand, Course Changes, and Outcomes

3.Water Management in a Variable and Changing Climate

4.Water for a Healthy Environment

5.Integrated Urban Water Resources Management

6.Water and Food Security: Growing Uncertainties and New opportunities

7.Water and Energy

8.Water Projections ans Scenarios: Thinking About Our Future

9.Our Water Future: leadership and Individual Responsibility

4OECD (2011). Water Governance in OECD countries. A multi-level approach. OECD Studies on water. Paris: OECD

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Brígida Rocha Brito

Tratando-se de uma obra sustentada por dois anos de pesquisa desenvolvida por uma equipa interdisciplinar e internacional, que inclui referências conceptuais e teóricas relevantes, mas também dados estatísticos que retratam evoluções e tendências, bem como infografia diversificada e adequada para a análise, tal como mapas, gráficos, esquemas e imagens, Water and the Future of Humanity. Revisiting Water Security reveste um interesse muito particular para o desenvolvimento de futuros trabalhos académicos e científicos. O interesse da obra ultrapassa a simples abordagem dos recursos hídricos e dos modelos de gestão associados, já que os temas complementares analisados são múltiplos e de importância científica.

Como citar esta Recensão

Brito, Brígida Rocha (2014). Recensão Crítica de Gulbenkian Think Tank on Water and the Future of Humanity (2014). Water and the Future of Humanity. Revisiting Water Security. New York: Springer: 241 pp. ISBN: 978-3-319-01456-2; ISBN eBook: 978-3-319-01457-9; DOI 10.1007/978-3-319-01457-9, JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 5, N.º 1, Maio-Outubro 2014. Consultado [online] em data da última consulta, observare.ual.pt/janus.net/pt_vol5_n1_rec1

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