OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
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Vol. 4, n.º 1
INTEGRAÇÃO EUROPEIA, FEDERALISMO E O LUGAR DE PORTUGAL
Paulo Carvalho Vicente
pjc.vicente@gmail.com Doutorado em Ciência Política (2012) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2004). Investigador associado do Observatório Político e do Centro de História da Cultura (Portugal), conta com presença em vários colóquios nacionais e internacionais. As suas áreas de investigação e publicação
Resumo
A adesão de Portugal à CEE em 1986 constituiu uma etapa natural e decisiva do realinhamento na cena internacional, uma vez perdido o império e normalizadas as estruturas
Palavras chave:
Portugal; União Europeia; Federalismo; Integração política; Estado
Como citar este artigo
Vicente, Paulo Carvalho (2013). "Integração europeia, federalismo e o lugar de Portugal
2013. Consultado [online] em data da última consulta, observare.ual.pt/janus.net/pt_vol4_n1_art3
Artigo recebido em 24 de Janeiro de 2013 e aceite para publicação em 12 de Abril de 2013
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INTEGRAÇÃO EUROPEIA, FEDERALISMO E O LUGAR DE PORTUGAL
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A integração europeia é antes de mais um processo político, pelo que reduzir a sua capacidade de intervenção às esferas financeira e económica é produzir um rude golpe nas expectativas dos que crêem que a União Europeia (UE) é o derradeiro reduto da paz e prosperidade no Velho Continente nos últimos sessenta anos. A força da globalização parece ser imparável, as potências emergentes (expressão já anacrónica) mostram toda a sua pujança, a coberto de uma agenda política cujos contornos se vão definindo. O processo de integração europeia conheceu a luz do dia no período pós- 1945 e teve como desígnio primeiro o reordenamento dos equilíbrios políticos e económicos que conduziram à Segunda Guerra Mundial. O exemplo europeu, pioneiro e inovador, serviu de modelo para várias experiências de integração regional hodiernas em muitas áreas do globo.
De acordo com Philippe Schmitter, qualquer que seja a tarefa e quaisquer que sejam os poderes da organização funcional, a integração permitirá aos actores nacionais e regionais envolvidos: desenvolverem relações de confiança mútua; desfrutarem de melhor status em diferentes planos; extraírem dividendos e crédito político por via da cooperação; gerarem prémios materiais significativos; participarem os Estados maiores e menores numa condição de igualdade formal; distribuírem os benefícios iniciais da cooperação e da interdependência de forma harmoniosa, de modo a evitar a desproporção entre o que é posto ao alcance de Estados maiores e Estados mais pequenos e economicamente mais vulneráveis (Schmitter, 2010). Com a adesão de Portugal à então CEE em 1986, o país tentará
Neste paper procuramos clarificar as posições dos sucessivos governos portugueses quanto ao federalismo europeu, na aproximação às Comunidades Europeias ainda durante o período salazarista até ao início do presente século, isto é, já em período de consolidação da democracia portuguesa. Deste modo, identificamos e interpretamos os momentos mais significativos da integração de Portugal no processo de unificação europeia desde 1960 (adesão à EFTA) até 2002 (fim do consulado de António Guterres). Dos alvores da integração europeia até ao momento presente, o federalismo europeu tem marcado presença nos debates políticos à escala comunitária: os seus
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cultores continuam a pugnar pelo seu reconhecimento constitucional pleno; os seus detractores, pelo contributo insubstituível dos
O presente estudo está dividido em duas partes. No primeiro momento procedemos a uma análise do federalismo europeu, mais especificamente das diferentes denominações de que tem sido sujeito porque estudar a história da integração europeia pressupõe igualmente o estudo de um federalismo muito específico. Nesta primeira parte não olvidamos que as duas teorias concorrentes que emergiram das relações internacionais para dominar o debate sobre os desenvolvimentos recentes na integração europeia foram o
A União Europeia como modelo político
A construção europeia delineada nos escombros da Segunda Guerra Mundial foi pensada como um processo cumulativo que teria como fim a formação de uma federação europeia. Para chegar a esse passo, muitos outros teriam de ser dados atempadamente, já que era difícil congregar múltiplas vontades numa Europa culturalmente rica mas não homogénea (Steiner, 2005) e que no plano político é prenhe de tradições, que de modo algum se pode descartar para responder aos anseios de um grupo de homens, certamente visionários, que propunham uma união política a prazo.
Os especialistas na temática dos estudos europeus continuam a
Muitos têm sido os contributos para a qualificação do federalismo na UE. Os partidários do
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A integração europeia tem também sido analisada na perspectiva do federalismo cooperativo, que é o mesmo que dizer que se põe em evidência as responsabilidades partilhadas entre os níveis supranacional e nacional, o que significa que estamos na presença de um projecto comum que requer o empenho de ambas as partes (Vandamme, 1998:
A UE é interpretada outrossim como uma federação desprovida de Estado, reclamando uma refundação constitucional da integração europeia. Esta perspectiva poderá causar perturbação junto daqueles que advogam que subjacente àquela noção está a criação de uma entidade análoga a um Estado. A solução passa por olhar para o desenvolvimento da UE como uma federação que não deu lugar ao nascimento de um Estado federal. De acordo com Koslowski, a União Europeia já é uma federação, embora não seja um Estado federal, transformação que foi realizada através de um processo de ponderada engenharia constitucional (Koslowski, 1999:
Podem
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terceira é classificada de distributiva,
Contrapondo à unidade federal americana, a UE não se funda na utopia de um povo único nem sequer de que a ideia da sua criação o tornaria real. Os especialistas em política de identidade na Europa reconhecem que o sentimento de pertença europeu pode ser temperado com identidades nacionais e subnacionais para formar identidades múltiplas mais pronunciadas (Risse, 2010). Concomitantemente, outros autores sugerem que a diversidade de identidades culturais e políticas na Europa não é contrária a uma visão federal, se tal visão é entendida como uma união federal (em vez de um Estado federal) e procura desenvolver uma nova interpretação da democracia (Nicolaidis, 2004:
Na União Europeia, contrariamente ao que sucede nos EUA, os níveis supranacional, nacional e subnacional cooperam num sistema de «governação conjunta» (Marks, Hooghe and Blank, 1996:
Explorando o filão, a evolução da integração europeia não se desvincula do estigma do «Estado vestefaliano», tal como foi erigido depois de 1648. Em contraste com esta visão, e de um modo algo ingénuo, Jan Zielonka mostra que a UE alargada se assemelha cada vez mais a um império
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Acresce ainda que dificilmente naquele período havia algum tipo de sobreposição entre as fronteiras administrativas, económicas, militares e culturais (Zielonka, 2007)1.
Para Isabel Camisão e Luís
Na primeira fase da integração europeia, o
De acordo com o conceito de “spillover”, uma vez dados os primeiros passos pelos governos nacionais com vista à integração, o processo toma uma vida própria e
«in its most general formulation, “spillover” refers to a situation in which a given action, related to a specific goal, creates a situation in which the original goal can be assured only by taking further actions, which in turn create a further condition and a need for more action, and so forth» (Lindberg, 1963: 10).
No entanto, o desenrolar dos acontecimentos, e concretamente a assunção pelos
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Hoffmann rejeitou a visão
Andrew Moravcsik chama a atenção para a complexidade do processo político comunitário, argumentando que são necessárias mais teorias que expliquem as respostas nacionais à interdependência internacional. O intergovernamentalismo liberal
–tal como a abordagem de Hoffmann – postulava que os Estados eram actores racionais, mas partia do realismo tradicional ao não tratar o Estado como uma caixa negra. Um processo político doméstico determinava a sua definição do interesse nacional. Uma vez clarificado, era com este que se preparava a negociação internacional e, numa segunda fase, como os interesses nacionais em conflito eram reconciliados na arena negocial do Conselho de Ministros. A visão de política doméstica de Moravcsik, que chamava de visão liberal, era essencialmente a mesma da dos neo- funcionalistas, a chamada visão pluralista. A causa determinante das preferências de um governo era o equilíbrio entre os interesses económicos no plano doméstico. Moravcsik foi frequentemente criticado por esta visão restrita do processo político doméstico (Bache and George, 2006: 14; Ver o artigo pioneiro sobre intergovernamentalismo liberal em Moravcsik, 1993:
A Europa foi ao longo destas últimas décadas o palco de uma reconceptualização do poder das relações internacionais, na perspectiva de José Manuel Pureza, que levou a
Se na construção europeia encontramos também os Estados como actores a que importa dar voz e tendo Portugal uma experiência já rica neste processo que não se limita ao período
2Num contexto de profunda incerteza e aparente incapacidade de reacção, Eduardo Lourenço não identifica um centro na Europa, razão pela qual não consegue ser um actor. Eduardo Lourenço em entrevista ao Público (caderno P2), de 5 de Abril de 2010. Entrevista conduzida por Teresa de Sousa.
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partir de dentro e em concreto a algumas posições políticas tomadas pelo país em momentos charneira.
O Estado Novo e a aproximação às Comunidades
O regime de Salazar era uma ditadura de direita, nacionalista e católica, com algumas afinidades com o fascismo, à semelhança de outros regimes da Europa do Sul e da Europa Oriental do período entre as duas guerras. Ao aparato ideológico, marcadamente autoritário, cuja estrutura assentava no partido único, na censura e na construção do homem novo, havia que dar suporte económico. Da premissa autárcica ao «orgulhosamente só», o país
A proposta britânica de uma zona de comércio livre apresentada em Julho de 1956 foi entendida pelos seis e entre outros membros da OECE como uma tentativa de pôr em causa os resultados produzidos em Messina. Tal suspeita
Não obstante estes condicionalismos, o governo português manifesta a vontade de estar representado nas negociações. De acordo com Costa Pinto e Severiano Teixeira, Portugal aceita o objectivo político geral de liberalização do mercado; ao contrário de outros países periféricos, não tinha problemas financeiros. Por fim, a questão das colónias, que poderia
Um dos objectivos fundamentais da EFTA era negociar com a CEE como um bloco. Dada a ausência de resposta da CEE, a
Ao nível económico, Portugal tinha de garantir um regime específico a fim de salvaguardar o seu desenvolvimento económico. O
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termos de política europeia senão seguir o exemplo britânico. Nicolau Andresen Leitão refere que
«a inexistência de uma alternativa está bem patente no facto de Corrêa d’Oliveira ter aceite à partida que, de início, seria apenas a metrópole a pedir a adesão e que a pauta exterior comum teria, provavelmente, de ser aplicada. Embora o ministro responsável pela política europeia falasse em unidade política e económica entre Portugal e as suas colónias, estes conceitos fundamentais do governo de Salazar seriam sacrificados publicamente no altar da necessidade maior de garantir o desenvolvimento económico através da adesão ou associação à Comunidade» (Leitão, 2007: 130).
Assim, os motivos que explicam esta mudança de atitude em relação à CEE eram internos.
A abertura ao mercado externo e a intensificação das relações comerciais com os países da zona, em detrimento do comércio colonial, conduziram ao esbatimento do proteccionismo e do condicionalismo, permitindo o fomento de relações económicas até então pouco exploradas, como a criação de empresas estrangeiras em Portugal e o investimento externo. A adesão à EFTA teve um impacto assinalável sobre o comércio, com um aumento em percentagem de 52% para as exportações e de 40% para as importações, enquanto que para os restantes
Marcelo Caetano recebe em mãos no Verão de 1968 um país mais europeu em termos de trocas comerciais, esboçando de início algum ímpeto liberalizador. Não sendo nem um democrata, nem um liberal, Marcelo Caetano era um reformista dentro do regime desde o final da Segunda Guerra Mundial, salientando a capacidade do regime para se adaptar às circunstâncias ocorrentes, mas incapaz de resistir ao ambiente da época. Caetano
O que preocupava verdadeiramente Caetano era o Ultramar e a tentativa de envolver a sua defesa num quadro mais amplo de defesa da Europa ou mesmo do Ocidente, cujo cerco pelo comunismo internacional se apertava, precisamente a partir das colónias portuguesas de África.
Na senda das anteriores negociações europeias, designadamente para a criação de uma zona de comércio livre
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recursos europeus não comunistas. O documento reconhecia a possibilidade de a Comunidade constituir o primeiro estádio na formação da federação dos Estados Unidos da Europa3.
Segundo o relatório, a associação era a forma mais apropriada para regular as relações entre Portugal e a Comunidade. Esta era a opção mais convincente para economias cujo estado de desenvolvimento não permitem a adesão imediata. A associação levantaria problemas políticos, na medida em que um relatório recente do Parlamento Europeu apontara reservas sobre a admissão de países não democráticos, mencionando o caso particular da Espanha e, eventualmente, de Portugal. Um parecer da Comissão Europeia, datado de 1969, estabelecia a distinção entre os países aptos a celebrar acordos de associação e os que somente teriam a oportunidade de celebrar acordos comerciais, dando a entender claramente que este seria o caso dos países ibéricos. O relatório particularizava que os acordos de associação consubstanciariam a primeira etapa de uma futura adesão.
Em 22 de Julho de 1972 foi assinado um acordo de comércio livre entre Portugal e a Comunidade. Dada a especificidade do caso português e a prática comunitária nestas circunstâncias, o acordo incluía uma cláusula evolutiva que apontava para «a possibilidade de desenvolverem e aprofundarem as suas relações quando, no interesse das respectivas economias, for julgado útil
O trajecto português rumo à Europa, quer no salazarismo quer no marcelismo, as linhas de «aproximação» ao movimento da unidade europeia, designadamente à CEE, foram ditadas por um puro pragmatismo. Esta tendência encontra o seu apogeu na escolha operada em Julho de 1972, pois o acordo comercial, a entrar em vigor em Janeiro seguinte, não estabelecia qualquer vínculo político – o propósito era a troca de mercadorias, especificamente de produtos industriais. Norteado pela continuidade, pode
Portugal democrático na Europa: que papel para mais integração política?
Ultrapassadas as diplomacias paralelas do Período Revolucionário em Curso (PREC), a radicalização do discurso e das acções políticas no terreno no Verão Quente de 1975, as hesitações dos EUA quanto ao resgate do país depois da inoculação de que falava Kissinger, a verdade é que a «saliência internacional» de que se reveste o caso português em muito contribuiu para a transição democrática. Prova disso é o envolvimento da Comunidade, de alguns Estados europeus, em particular a República Federal da Alemanha e a França, de organizações internacionais, de partidos políticos moderados e ainda dos EUA.
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A «opção europeia» foi assumida politicamente pelo I Governo Constitucional de Mário Soares, com José Medeiros Ferreira como ministro do Negócios Estrangeiros. O primeiro passo foi o pedido de adesão ao Conselho da Europa em Agosto de 1976, que se concretizou logo em Setembro do mesmo ano. Uma vez membro do Conselho da Europa, reconhecida internacionalmente a consolidação da democracia,
Em entrevista ao The Times, Soares
«um patriótico mas também partidário de uma Europa verdadeira e não uma associação de Estados apenas baseada no progresso económico ou preocupações económicas. (…) Sou por uma Europa política com reais instituições supranacionais de tal modo que calculo que a entrada dos países do Sul da Europa representa uma enorme contribuição para esta Europa».
E afirma ainda a propósito das dificuldades negociais que se avizinham:
«Mas numa comunidade de Nações livres, deve haver uma certa solidariedade que estaria antes de critérios estritamente nacionais e egoístas».
Se a Europa recusar Portugal no seu clube isso seria um «desastre» para o povo português e para a democracia, pelo que «nas actuais dificuldades financeiras a recusa poderia conduzir a um renascer do autoritarismo. Se a Europa nos fechasse a porta, teria que sofrer uma pesada responsabilidade no que respeita ao nosso futuro e da própria Europa4». Em entrevista a O País, Soares é peremptório: a entrada de Portugal na CEE é o corolário lógico para o desenvolvimento, cumprida a descolonização e feita a democratização da vida política5.
A década de 1970 é frequentemente retratada como uma década perdida na história da integração europeia. Todavia, deve ser antes vista como uma década de preparação para o impulso
4Entrevista de Mário Soares ao The Times, 11 de Fevereiro de 1977. Fonte: Fundação Mário Soares.
5Entrevista de Mário Soares a O País, 18 de Fevereiro de 1977. Fonte: Fundação Mário Soares.
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para o suposto fenómeno da «eurosclerose» que são mais plausíveis. Estas incluem a desintegração do sistema monetário internacional no princípio dos anos setenta, a crise petrolífera de 1973 e a estagflação que se seguiu e ainda o intenso obstrucionismo britânico na CEE à medida que sucessivos governos se dispunham a resolver a questão orçamental britânica. Isoladamente, estes factores seriam suficientes para explicar os destinos flutuantes da CEE na década de 1970 e nos primeiros anos da década seguinte, com ou sem o impacto acrescido de um Tribunal Europeu cada vez mais activo e autorizado. O determinismo histórico não começa ou termina no momento de tomada de decisão. Deste modo, o simples facto de que nada de muito relevante tenha sido decidido nesses anos não deve ser entendido como um período marcado pelo vácuo. Griffiths defende que os desenvolvimentos dos anos 70 prepararam o caminho para o renovado “dinamismo” da Comunidade no final dos anos 80, sob a forte liderança do Presidente da Comissão, Jacques Delors (Griffiths, 2006: 172).
Na intervenção no debate parlamentar do programa do VI Governo Constitucional, o
«… a nossa política externa será uma política claramente
A rápida e completa integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia, como membro de pleno direito, passará daí em diante a constituir a «prioridade das prioridades» da política externa portuguesa. Pela primeira vez em Portugal foi criado no elenco governativo o cargo de Secretário de Estado da Integração Europeia e se concentrou nas mãos de um mesmo ministro as responsabilidades da política externa e da integração europeia.
Em entrevista ao Tempo, o
«há uma tendência para ver na CEE, na Europa das Comunidades, hoje, uma Europa das dificuldades. (…) Seria trágico para o Mundo que a Europa deixasse de acreditar em si própria, não resolvesse as suas dificuldades internas e rapidamente se não alargasse aos Doze. Estou convencido que essas dificuldades serão vencidas, o alargamento feito rapidamente. A Europa reestruturada e alargada tomará um novo élan. Acredito com uma grande confiança no novo impulso, na nova dimensão
6A política externa portuguesa. Intervenção do
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da Europa, no grande papel que a Europa do Mercado Comum e dos outros países europeus que dele não fazem parte venha a ter no mundo, em contacto com os nossos aliados, em contacto com os países árabes, em contacto com a China e com o Japão7».
Em Dezembro de 1980 foi assinado o Acordo
Num quadro
àadesão de Portugal como membro de pleno direito da CEE ao seu término. É durante este período de
CEE
«era uma Europa das complementaridades, um espaço económico solidário, politicamente unido, com uma voz unívoca e independente, em que os valores e os contributos próprios de cada Estado seriam motivo de enriquecimento e não razão de fraqueza, de unidade na pluralidade».
Soares vê o futuro do seu país como «intimamente ligado ao alargamento e à construção de uma Europa transnacional, pois é nessa via que Portugal quer
A adesão de Portugal e Espanha à CEE em 1986 constitui uma decisão com implicações políticas, económicas e até simbólicas para os dois países e para a CEE, numa fase de fulgor na vida comunitária. A implementação do Acto Único Europeu e a criação de um mercado interno acarretam consequências não olvidáveis que influenciarão os passos seguintes da integração europeia, pelo que é vital assegurar a coesão económica e social numa Comunidade que cresce (Silva, 2002: 179). Cavaco Silva não ignora que com o reforço da união política avançado pelo Tratado de Maastricht, com mais comprometimento das instituições comunitárias e numa tentativa de esclarecer o papel geopolítico da Europa, poderia conduzir à adesão de teses federalistas, contra as quais se posiciona: «(…) para uma adequada coerência da acção externa da Comunidade – que é fundamental – deveremos avançar de forma pragmática e gradual, procurando áreas de política externa e de segurança comuns que correspondam basicamente a
7Francisco Sá Carneiro em entrevista ao Tempo, de 18 de Setembro de 1980.
8Mário Soares, «A Construção da Europa e o Futuro de Portugal». Discurso pronunciado no Clube Diplomático de Genebra, em 25 de Janeiro de 1984. Fonte: Fundação Mário Soares.
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interesses também comuns dos
O alargamento é um desafio para Portugal e o MNE português, Durão Barroso, sustenta que a reforma institucional da Comunidade Europeia só poderá ocorrer após o alargamento. Com o alargamento em vista da UE e da nova ponderação de votos que os países
Os anos de governação de António Guterres correspondem a um período menos efusivo do projecto europeu, na medida em que há a preocupação de preparar o alargamento dos países de Leste, a reforma das instituições e tornar exequíveis as políticas comunitárias no contexto de muitas sensibilidades nacionais. O Tratado de Amesterdão e o de Nice são a prova do muito que estava por agilizar no plano comunitário e o muito que ficava por concretizar. A segunda presidência portuguesa do Conselho das Comunidades Europeias, que constituiu um marco importante do compromisso português, e o ímpeto inicial da Estratégia de Lisboa, que inspirou a elaboração da Estratégia 2020 em vigor, são o testemunho vivo da acção de Portugal na Europa, a par das interessantes reflexões do Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Francisco Seixas da Costa. Profundo conhecedor dos meandros da política e diplomacia europeias, Seixas da Costa lamenta que
«o
As palavras de José Magone a propósito da estratégia negocial portuguesa nestes anos são concludentes:
9José Manuel Durão Barroso, «Alargar a Europa sem enfraquecer a Europa», entrevista ao Público, em 25 de Junho de 1995.
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«(…) the position of Portugal within the negotiation has improved considerably. Although Portugal is not one of the main players of the European integration process, it was able to upgrade its ability to make an impact on the whole process. This can be said particularly for the introduction of a social dimension and employment policy onto the agenda of the IGC 1996 and 2000 in conjunction with other countries as well as the Charter of Fundamental Rights of European Citizens. The main trend was a gradual overcoming of the isolationist position of preserving national sovereignty towards one of shared sovereignty. One can speak therefore of a limited
Com efeito, Portugal só tem a ganhar se tiver uma estratégia e uma ideia para a Europa.
Conclusão
A história da integração europeia, e as vicissitudes dos
O período temporal que serviu de objecto a esta análise é marcado por avanços e recuos no projecto europeu. De um modo geral, os diferentes governos portugueses, em ditadura ou democracia, reconheciam na integração europeia um processo político que não estava encerrado pelo que mais integração poderia significar a abdicação de parcelas de soberania que vários governos não estariam dispostos a alienar. A estratégia europeia de Salazar e Caetano é essencialmente norteada pelo vector económico, uma vez que é na Europa, e já não nas colónias, que se efectua o grosso das trocas comerciais, daí o acordo comercial assinado em 1972. O período de
éparticularmente intenso, com destaque para um punhado de políticos, na condução do processo negocial com vista à adesão à CEE
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JANUS.NET,
ISSN:
Vol. 4, n.º 1
Integração europeia, federalismo e o lugar de Portugal
Paulo Carvalho Vicente
Fontes primárias e impressas
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