OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
ISSN:
Vol. 3, n.º 2 (outono 2012), pp.
EM BUSCA DE ESPAÇOS PARA A INSERÇÃO INTERNACIONAL: O PRAGMATISMO DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI
Júlio César Borges dos Santos
Doutorando em Relações Internacionais na Universidade de São Paulo. Escreve sobre Relações Internacionais e Direito Internacional.
É professor de cursos de graduação.
Éautor do livro: "Introdução ao Estudo das Relações Internacionais e de Curso e Direito Internacional"
Resumo
O artigo tem como ponto de partida a reflexão sobre o pragmatismo da política externa brasileira na primeira década do século XXI, ao mesmo tempo em que discute o exercício de tal iniciativa frente a uma agenda internacional marcada pelas pressões para securitização da mesma, oriundas dos Estados Unidos. Outra discussão desenvolvida no interior do texto diz respeito às consequências da política externa
Palavras chave:
Governança global; Política externa brasileira; Securitização; Agenda Internacional; Relações Internacionais
Como citar este artigo
Santos, Júilo César Borges (2012). "Em busca de espaços para a inserção internacional: o pragmatismo da política externa brasileira na primeira década do século XXI". JANUS.NET e- journal of International Relations, Vol. 3, N.º 2, outono 2012. Consultado [online] em data da última consulta, observare.ual.pt/janus.net/pt_vol3_n2_art9
Artigo recebido em 12 de Abril de 2012; aceite para publicação em 5 de Novembro de 2012
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Em busca de espaços para a inserção internacional: o pragmatismo da política externa brasileiira. Júlio César Borges dos Santos
EM BUSCA DE ESPAÇOS PARA A INSERÇÃO INTERNACIONAL: O PRAGMATISMO DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI
Júlio César Borges dos Santos
Introdução1
A idéia que norteia este artigo é a de que a formulação da política externa brasileira durante a primeira década do século XXI fez uso de um hábil pragmatismo em sua busca pela inserção internacional do Brasil2.
A emergência de novos padrões nas relações internacionais durante a primeira década do século XXI é um tema que merece algumas considerações pelo impacto que causa nas leituras que vêm sendo realizadas a respeito, principalmente no que concerne às percepções que provoca nos atores mais relevantes da agenda internacional contemporânea3. De fato, o referido período tem sido marcado pelas circunstâncias que caracterizam o processo de globalização num contexto onde é visível a reconfiguração do poder.
Como consequência de tais desenvolvimentos,
1Embora o governo de Dilma Roussef iniciado em 2011 apresente de modo geral uma política externa convergente com muita das diretrizes de política externa do governo Lula (Visentini 2011), este artigo
2Importa ressaltar que o pragmatismo ao qual ora nos referimos em verdade não se constitui em uma novidade como um dos vetores da Política Externa Brasileira, sendo antes um traço definidor da mesma e, portanto, uma característica de continuidade. Para desenvolver esta hipótese, este estudo analisará brevemente a política externa brasileira no que diz respeito às relações bilaterais com os Estados Unidos durante a primeira década do século XXI, bem como as iniciativas concernentes à governança global.
3G. John Ikenberry e
4Em 2006, o conceito dos BRICs criado por Jim O´Neal deu origem a um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, por ocasião da III Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla.
5De acordo com a Comissão sobre Governança Global da ONU (1995),
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Embora sem qualquer pretensão de resumir o debate sobre o tema, o objetivo deste artigo é abordar de modo não determinista os desenvolvimentos relacionados à inserção internacional do Brasil do ponto de vista das opções realizadas na formulação de sua política externa na primeira década do século XXI.
Dentro deste quadro analítico, duas questões fundamentais serão abordadas de forma direta. A primeira
A ênfase nos temas relacionados à segurança na agenda de política externa norte- americana a partir do final de 2001 e as assimetrias entre esta e os grandes temas da agenda internacional durante a primeira década do século, têm ensejado oportunidade para a redefinição de alguns parâmetros das relações internacionais neste período. Curiosamente, a hegemonia militar dos Estados Unidos não lhes oportunizou, de forma automática, a capacidade de exercitar livremente e sem custo suas prerrogativas como nação mais poderosa do planeta, desgastando sua liderança. O componente militar de sua política externa no referido período afetou profundamente sua capacidade de manobra no interior de um sistema internacional caracterizado pelas peculiaridades inerentes ao processo de globalização, bem como a dinâmica relativa às estruturas de governança global.
Segundo Gelson Fonseca Jr. (2008), apesar de os Estados Unidos disporem de poder real, sendo capazes, portanto, por força de sua vantagem estratégica, de promover unilateralmente qualquer iniciativa militar, estes vêm sofrendo derrotas, sobretudo, porque jamais se mostrariam capazes de trabalhar com eventuais parceiros
Vale destacar, juntamente com Stephen M. Walt que, ˝uma vez que os ideais universais de liberdade e democracia são princípios fundamentais para os norte- americanos, é difícil para seus líderes compreender que outras sociedades não os assimilem prontamente. Mesmo quando tais líderes compreendem que não são capazes de criar uma espécie de Ásia Central Vahalla, como reconheceu o Secretário de Defesa Robert Gates em 2009, eles continuam a gastar bilhões de dólares tentando criar uma democracia no Afeganistão, uma sociedade que jamais se constituiu num Estado centralizado, ou mesmo numa democracia”6.
organizações
6WALT, Stephen M. ˝Where Do Bad Ideas Come From?˝. Foreign Policy. January/February 2011.
Disponível em http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/01/02/ here_do_bad_ideas_ come_from? page=0,1, acesso em fevereiro, 2011.(tradução livre do autor).
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Dentro do referido contexto, ou seja, no mesmo período em que os Estados Unidos têm buscado a afirmação de seus interesses unilateralmente7, vale destacar as chamadas iniciativas de concertação em torno da discussão dos principais temas da agenda internacional, muitas das quais, lideradas pelo Brasil, como por exemplo, aquelas iniciativas dentro do escopo de reforço e redimensionamento das estruturas de governança global. Por conseguinte, apesar dos esforços
Face à existência de uma agenda internacional impossível de ser equacionada apenas pelo ponto de vista da segurança internacional e consoante a existência de espaços no sistema internacional os quais não podem ser ocupados tendo em vista apenas os pressupostos de segurança,
Segundo Vizentini (2006), as iniciativas de geometria variável, como as do
A emergência de novos padrões nas relações internacionais na primeira década do século XXI pressupõe, por sua vez, a compreensão de uma agenda marcada pelo surgimento de novos atores e suas interações dentro do sistema internacional. ˝Novos˝, para melhor entendimento deste estudo, está sendo utilizado para nomear a ascensão de atores já existentes no sistema internacional, mas que somente agora, em virtude de seu dinamismo, sobretudo, econômico, adquiriram a capacidade de influenciar mais assertivamente a agenda internacional – como, por exemplo, China, Índia, Brasil, África do Sul e Rússia). Tais atores vêm ocupando paulatinamente os espaços existentes no sistema internacional8.
O contexto acima descrito parece confirmar a percepção de que o protagonismo militar dos Estados Unidos não se erigiu como o garantidor de sua liderança inconteste nas searas política ou econômica e, embora indispensável, a nação hegemônica se encontra inevitavelmente atrelada aos desenvolvimentos da agenda internacional – muitos dos quais nem sempre lhes são favoráveis9.
Sob o risco de
7Incapazes de conceber respostas criativas aos desafios apresentados por uma agenda internacional que não pode ser equacionada apenas a partir do ponto de vista da segurança internacional.
8Espaços estes, muitas vezes deixados pelos tradicionais atores, os países mais desenvolvidos.
9De acordo com Joseph Nye, o sucesso dos Estados Unidos no mundo – após tantas mudanças – dependerá de sua capacidade de compreender profundamente a natureza do poder e do papel do soft power, ao mesmo tempo em que terão de encontrar um equilíbrio entre o hard e o soft power em sua política externa. Para Nye, o smart power – poder utilizado com sabedoria – não é somente hard ou soft. Smart power é uma combinação de hard e soft power. In ˝Soft power and Higher Education˝, disponível em http://net.educause.edu/ir/library/pdf/FFP0502S.pdf.
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dispensável a existência de regras para as interações internacionais. Como consequência, tais interações acabam por se realizar dentro de circunstâncias que dificilmente servem a todos os interessados.
Vale ressaltar, neste ponto, os argumentos de Fareed Zakaria (2008) ao analisar a inevitabilidade de uma nova ordem mundial na qual o poder industrial, financeiro e cultural, escapam ao controle da potência hegemônica, vindo a se constituir nos elementos que fortalecem um novo grupo de países capaz de contrabalançar o poder
A dinâmica da agenda internacional na primeira década do século XXI, portanto, serve de justificativa básica para a realização do presente trabalho. Inicialmente, no que se refere à discussão acerca do papel a ser desempenhado pelos Estados Unidos na definição da agenda internacional e as percepções que desperta nos outros atores do sistema internacional. Neste sentido, diversos autores têm procurado equacionar o exercício do poder hegemônico pelos Estados Unidos, bem como o seu relacionamento com os demais atores do sistema internacional. Por sua vez, John Ikenberry (2006) argumenta acerca do quanto a ordem internacional que os Estados Unidos ajudaram a criar se encontra ameaçada diante de sua hesitação frente aos desafios da agenda internacional.
No referido contexto, as linhas de força da estratégia de inserção internacional do Brasil parecem refletir sua percepção com relação às contradições da superpotência na mensuração dos custos benefícios de uma política externa capaz de equilibrar o “soft power” e o “hard power”. De acordo com Mônica Hirst, “as diferença entre ambos os países no terreno da política mundial tendem a
Sendo a continuidade uma das premissas definidoras da política externa brasileira,
10Hirst, Mônica. ˝Os cinco «AS» das Relações
ajustamento e afirmação˝. Em ALTEMANI, Henrique & LESSA, Antônio Carlos (orgs.). Relações Internacionais do Brasil: temas e agendas,
11Vale ressaltar aqui o ensinamento de Cristina Soreanu Pecequilo acerca das percepções
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Neste sentido, o pragmatismo exercitado procurou flexibilizar o perfil das relações bilaterais dentro do pressuposto de que ambos os países jamais permitiram que seu relacionamento evoluísse para uma confrontação aberta12.
A securitização da agenda internacional
Os anos que se seguiram aos ataques terroristas de setembro de 2001 influenciaram profundamente os formuladores da política externa dos Estados Unidos. Ainda que se deva admitir que tal política reflita intrinsecamente diversas tendências internas (entre impulsos, interesses, convicções e desejos semiconscientes de muitas pessoas)13, o ano de 2001 pode ser considerado como um momento de inflexão.
Grande parte das iniciativas da política externa dos Estados Unidos passaram a ser condicionadas pela chamada guerra ao terror. Ao mesmo tempo, no que diz respeito à política interna, o próprio sistema democrático
–prorrogado em 2010 durante a administração de Barak Obama
Confrontados pelo desafio de responder interna e externamente à ameaça do terrorismo, optou o governo
Após a Segunda Guerra Mundial, trabalharam os Estados Unidos ativamente na estruturação daqueles organismos sob os quais seriam colocadas as esperanças mundiais – e, sobretudo,
12Cf. Mônica Hirst (op.cit.).
13Cf. MEAD, Walter Russell, op. cit. p. 23.
14De acordo com Francis Fukuyama, tais princípios integram o inconsciente coletivo
15Ainda segundo Fukuyama (op. Cit. p.71), ˝No período imediatamente posteriorà Segunda Guerra Mundial, o poder americano foi usado não apenas para impedir agressões soviéticas, mas também para criar uma série de organizações e acordos internacionais, das instituições ligadas a Bretton Woods (Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional) à ONU, à OTAN, ao Tratado de Segurança
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A noção então vigente entre os formuladores da política externa dos Estados Unidos era a de que se mostrava necessário
Com a mudança de percepções acerca de sua postura na conformação da agenda internacional a partir de 2001, Washington abandonou nitidamente os ativos que sua política externa colecionara nas décadas anteriores. Como consequência, a idéia de exercitar uma ˝hegemonia benevolente˝ (Fukuyama, 2006) claramente superestimou a capacidade
No mesmo sentido em que o primeiro momento
O Brasil e a agenda internacional na primeira década do século XXI
A agenda internacional na primeira década do século XXI foi profundamente marcada pelos esforços
Se é verdade que o processo de globalização assumiu um caráter inexorável, não se pode ignorar a interdependência existente entre a grande maioria dos atores estatais, quaisquer que sejam as sua dimensões. De fato, num mundo globalizado a ordem internacional não pode mais ser definida teoricamente com simplicidade. Distante o período em que duas ideologias conformavam as disputas internacionais, os fatores de coesão do chamado mundo ocidental já não são capazes de garantir aos Estados Unidos a manutenção de uma ampla rede de aliados, sobretudo num quadro onde este aparenta acreditar que apenas o exercício da hegemonia militar seja suficiente para
Dentro do mencionado contexto, as condicionantes que afetam a estruturação de novos padrões para a ordem internacional parecem confirmar a hipótese de que esta escapa
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às opções meramente militares. A política internacional nos últimos anos nitidamente conjugou, de maneira complexa, os vetores do unilateralismo hegemônico dos Estados Unidos e os padrões originados da globalização em sua dimensão multilateral.
Na medida em que a potência hegemônica continua a
No final do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e durante todo o governo Lula, o Brasil passou a buscar de maneira mais intensa uma nova dimensão para sua inserção internacional. Contudo, foi de fato durante a administração de Luis Inácio ‘Lula’ da Silva que o país buscou exercitar uma política externa visivelmente mais atrelada à herança deixada pela chamada Política Externa Independente16, com elementos do Pragmatismo Responsável17 do governo Geisel e do Universalismo18 do governo Figueiredo19.
Face à complexidade da agenda internacional no começo do novo século, a percepção dos formuladores da política externa brasileira no referido período sugere a existência de um elevado grau de continuidade entre os governos FHC e Lula, uma vez que os esforços de estabilização econômica e inserção internacional do primeiro foram bem aproveitados pelo segundo.
Para ilustrar este aspecto, é importante lembrar o fortalecimento da agenda relativa à América do Sul durante o governo FHC e seus esforços para manutenção do processo de integração num contexto preservação da autonomia frente à hegemonia norte- americana. Tais iniciativas – ensaios de uma percepção mais pragmática das relações internacionais - não foram abandonadas, mas sim aprofundados no âmbito da política externa do governo Lula.
No âmbito do multilateralismo comercial,
16Para Paulo Fagundes Vizentini a Política Externa Independente foi “uma resposta da diplomacia brasileira às aceleradas transformações internacionais, em particular o surgimento de novos atores e a modificação do caráter dos outros, cujas necessidades e cujos anseios os posicionavam fora da política dos centros dominantes.
17De acordo com Luis Felipe de Seixas Corrêa, o “pragmatismo responsável”
18O Diplomacia do Universalismo do governo Figueiredo buscou manter a autonomia do Brasil num cenário internacional pouco favorável, ao mesmo tempo em que apresentava traços de continuidade com os pressupostos do Pragmatismo Responsável.
19O Balanço da Política Externa do Governo Lula
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determinados atores internos – por exemplo os lobbies dedicados à manutenção dos extraordinários subsídios agrícolas. Entretanto, a difusão das demais esferas de poder internacional
O pragmatismo da política externa brasileira na primeira década do século XXI traduz- se então numa autonomia cuja lógica não se encontra exclusivamente no confronto e, sim, na conjugação de fatores como a cooperação com diversos atores em diversas esferas, bem como no baixo perfil adotado quando diante de questões delicadas no âmbito das relações
A articulação de iniciativas como as da conformação do
O declínio da capacidade
A diplomacia brasileira no referido contexto, refletindo as posturas observadas a partir de 2003 quando do surgimento do
20Cf. “Balanço da Política Externa do Governo Lula
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A política externa brasileira: uma inserção internacional pragmática
Obviamente, o aparente declínio dos Estados Unidos não quer significar em qualquer hipótese que este tenha deixado de ser relevante no sistema internacional. Ao contrário, não se pode equacionar qualquer desafio do século XXI sem a realização de considerações cuidadosas a respeito dos vetores da política externa
Quaisquer que sejam as circunstâncias por meio das quais o país hegemônico exercita o seu poder, parece estar se consolidando uma realidade na qual novos atores internacionais emergiram dentro de espaços que os próprios Estados Unidos deixaram de ocupar. Ou seja, a ascensão de novas potências e a convivência dos Estados Unidos com as mesmas parece se constituir em fenômenos
Neste sentido, a estratégia de inserção internacional do Brasil na primeira década do século XXI
Tal utilização do multilateralismo se justifica na medida em que como consequência do surgimento de instâncias multilaterais,
Paradoxalmente, conforme já discutido neste texto, os Estados Unidos aprofundaram os dilemas de sua política externa ao minarem a atuação de algumas das estruturas de governança global na qual investiram em décadas passadas, parte de seu poder. Ao mesmo tempo, outras nações – dentre elas o Brasil – passaram a
Importa ressaltar que os custos de uma opção pura e simples por uma política de poder
–não somente para os Estados Unidos, como para qualquer outra potência
Amado Luiz Cervo já advertia em texto de 2001 que o papel dos Estados Unidos como mantenedor da ordem e segurança internacionais teria pouca chance de se estabelecer
21Para Zakaria, isso mostra que há uma relativização do poder dos EUA. Embora para alguns analistas esta relativização não signifique necessariamente o declínio
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como paradigma geoestratégico em função de fatores como a visão unilateral e introspectiva da ordem internacional, da dificuldade de diálogo, bem como por força da incapacidade
Na moldura do pragmatismo adotado pela política externa brasileira no período analisado, a estratégia de inserção internacional experimentada parece apresentar um saldo positivo na medida em que o multilateralismo integrou a opção brasileira na conjugação de diversos eixos de sua inserção internacional.
Importa lembrar, mais uma vez, a importância dos elementos de continuidade da política externa brasileira.22 Dentro desta perspectiva e consoante sua capacidade de exercitar os elementos de poder que lhes são peculiares, o pragmatismo da política externa brasileira na primeira década do século XXI possibilitou ao país participar mais ativamente na definição de muitos dos parâmetros da agenda internacional.
Conclusão
A opção do Brasil por uma política externa classificada neste artigo como pragmática não significou uma alteração profunda em sua estratégia de inserção internacional nas últimas décadas. De fato, analisada a dinâmica do crescimento brasileiro e considerada a tradição de continuidade na formulação de sua política externa, sobretudo a partir dos anos 1960,
Além disso, no mesmo contexto, ainda que pareça haver assimilado a incapacidade dos Estados Unidos em gestar uma política externa mais assertiva para o próprio hemisfério, a ausência de divergências definitivas entre o Brasil e os Estados Unidos sinaliza a existência de espaço para o aprofundamento das relações bilaterais e a superação dos hiatos existentes.
Finalmente, embora não se apresente no horizonte próximo a perspectiva de uma política externa
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22Segundo Raquel Patrício, “Na evolução da política externa do Brasil, certos princípios e valores vêm sendo agregados à diplomacia. Esses princípios e valores
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