OBSERVARE

Universidade Autónoma de Lisboa

ISSN: 1647-7251

Vol. 3, n.º 1 (Primavera 2012), pp. 157-163

Notas e Reflexões

ARTE OPERACIONAL: DE NAPOLEÃO BONAPARTE A JOHN WARDEN

Fernando Leitão

fernando_leitao@hotmail.com

Tenente-Coronel Piloto Aviador, Instituto de Estudos Superiores Militares. Docente no Instituto de Estudos Superiores Militares na Área de Ensino Específico da Força Aérea.

Licenciatura em Ciências Militares e Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea, em 1994; Mestre em Arte Operacional Militar e Ciências, Air University, Alabama, EUA, em 2011.

A guerra forjou o mundo, do mesmo modo que um ferreiro trabalha o ferro. Na história da humanidade, tal como acontece ainda hoje, os homens têm travado batalhas de formas que mudaram ao longo dos tempos, mas onde a habilidade e o poder têm desempenhado, tal como agora, um papel fundamental. Desde cedo que os teóricos têm tentado racionalizar a guerra. Alguns falharam nessa tarefa, e foram obliterados pelo tempo. Contudo, outros conseguiram-no e ainda hoje são conhecidos e respeitados. Para além das teorias que propuseram, é também no estudo das campanhas e das guerras do passado que reside a possibilidade de aprender para o futuro. Seja pela influência da época, do contexto, ou do líder, os exércitos sempre tiveram tendência a operar de acordo com certos princípios, revelando um carácter ou características claramente perceptíveis.

Existe uma ligação óbvia entre o nível operacional da guerra, tal como o conhecemos hoje, e o campo de batalha alargado no qual os exércitos actualmente se movimentam. Desde os campos pequenos e confinados do passado, onde os cavaleiros e a infantaria manobravam de forma a alcançarem um final decisivo numa única batalha, o campo de batalha expandiu-se profundamente para territórios inimigos e, simultaneamente, para vários teatros de operações. Para além disso, o modelo último da guerra fez substituir a batalha decisiva pela campanha decisiva. Para se encaixarem neste modelo, a logística e, logo, a sustentabilidade, assumiram um alcance maior e uma importância especial (Guseiken, 2005: 4).

A magnitude destas operações fez surgir a necessidade de planeamento pormenorizado e de uma melhor organização que fornecesse ao comandante os meios necessários para poder influenciar o curso dos acontecimentos em todo o campo de batalha. Com efeito, este nível operacional de guerra combina o emprego táctico de forças com os objectivos estratégicos militares e nacionais (JP 3-0, 2006: II-2).

Enquanto o primeiro produz efeitos de natureza transitória, os últimos têm um efeito duradouro e até um cariz político.

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De acordo com Clausewitz, para poder planear e conduzir uma campanha com sucesso, o general tem que ter génio militar (Clausewitz, 1873: Livro 1, Cap.3). Esta perspectiva está profundamente enraizada no actual conceito de arte operacional, isto é, “a utilização de imaginação criativa por parte de comandantes e estados-maiores, apoiada nas suas capacidades, conhecimento e experiência, para conceber estratégias, campanhas e operações de grande envergadura, e organizar e utilizar forças militares” (JP 5-0, 2006: IV-1). É a partir da arte operacional e das hipóteses que nela se incluem que os comandantes materializam as suas tentativas de ultrapassar a névoa da guerra…

No fim, nem todos os modelos de arte operacional foram igualmente bem-sucedidos, revelando forças e fraquezas distintas quando testados no campo de batalha. De facto, se por um lado a tecnologia emprestou força a alguns modelos de arte operacional, por outro também acabaria por expor as suas fraquezas, quando ignoraram o contexto, e as suposições, menosprezadas as informações, se sobrepuseram à realidade. Para explicar esta afirmação, este trabalho abordará os modelos de arte operacional adoptados por militares europeus e americanos, de Napoleão Bonaparte à AirLand Battle e a John Warden, expondo os seus pontos fortes e os fracos. Em primeiro lugar, o texto analisa as campanhas napoleónicas e a sua influência no exterior; em segundo lugar, aborda-se a estratégia de Mahan para o comando do mar; de seguida, examina- se a Primeira Guerra Mundial. Por último, o texto analisa o modelo AirLand Battle e o teórico do poder aéreo John Warden.

A força dos exércitos de Napoleão residia na forma como ele compreendeu a época em que vivia. Napoleão integrou profundamente a Revolução Francesa nas suas estratégias, personificando um pais em plena revolução, não só em termos de ideais como também ao nível da guerra. Esta revolução na forma de fazer a guerra resultou da sua profunda confiança nos resultados do emprego de exércitos em massa, da busca da vitória total, e da recusa em enveredar por guerras limitadas e não decisivas (Paret, 2006: 141). Esta abordagem foi concebida de forma a garantir o movimento rápido dos seus exércitos e, sempre que possível, minimizar o atrito desgaste antes da batalha decisiva com o inimigo.

Isto só foi naturalmente possível porque Napoleão desempenhou concomitantemente o papel de líder nacional e o de comandante militar. Assim, a afectação de recursos nunca constituiu um problema num país mobilizado para a guerra. Além disso, sabemos que a vitória no exterior, quando associada às características de um líder carismático, traduz-se frequentemente, no plano interno, em popularidade e em ganhos políticos (Hanson, 2010: 8).

O que distinguia Napoleão de outros líderes foi o facto de as suas estratégias estarem “em sintonia com as possibilidades da sua época, e de as ter conseguido explorar plenamente durante alguns anos” (Paret, op. cit.: 141). Conseguiu igualmente tirar partido da tecnologia que tinha à sua disposição, fazendo pleno uso da mobilidade da artilharia e de maior capacidade de fogo (Weigley, 1973: 79).

Para poder ser decisiva, a estratégia militar, tal como Napoleão a concebeu, exigia concentração máxima das forças em cada batalha. Iniciativa, ofensiva, movimento, e concentração de forças eram essenciais para ganhar o impulso que poderia, e na maior parte dos casos fazia-o, conduzir o exército à vitória. Mas se por um lado esta estratégia constituía um ponto forte, não obstante continha fraquezas, à medida que a

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fricção e o desgaste entraram em cena. A invasão da Rússia, hoje em dia considerada um erro, expôs algumas fragilidades da estratégia de Napoleão. No caminho para Moscovo, a lenta destruição do seu exército comprometeu o efeito de massa que poderia ter alcançado. Paralelamente, numa campanha desta extensão, as comunicações tornaram-se cada vez mais difíceis, conduzindo ao declínio da capacidade de Napoleão de comandar as suas tropas eficazmente (Paret, op. cit.: 137).

Deste modo, mas num cenário diferente, a rebelião em Espanha revelou algumas fraquezas da estrutura napoleónica, já que o seu exército nunca foi capaz de conseguir a vitória completa. “Até os génios militares descobrem que consolidar e pacificar o que foi brilhantemente ganho no campo de batalha é muito mais difícil do que o feito original” (Hanson, op. cit.: 6).

Em grande parte devido à influência de Jomini1, durante a Guerra Civil Americana os líderes militares procuraram inspiração nas conquistas de Napoleão (Weigley, op. cit.: 82), concentrando-se claramente nas suas vitórias e não nas derrotas. Contudo, não se aperceberam que o contexto no qual lutavam era diferente – ao contrário de França, a nação não estava mobilizada contra um inimigo externo – nem da importância dos avanços tecnológicos que entretanto tinham o corrido. O aumento do alcance das espingardas constituía uma ameaça real às unidades de artilharia tais como Napoleão as utilizava, e o comboio trouxera uma nova dimensão e significado ao conceito de mobilidade. Como resultado, as estratégias desgastadas pelo tempo não surtiram efeito, e o número de baixas foi colossal.

O século XIX foi fértil em teóricos da guerra. Alfred Thayer Mahan foi um deles, e mais uma vez a evolução do seu pensamento foi influenciada por Jomini, ao ponto de alguns terem considerado Mahan o homólogo naval daquele pensador militar (Ibidem: 173).

Mahan encarava o mar como o novo campo de batalha e acreditava que o objectivo da estratégia naval era poder controlá-lo (Ibidem: 175). Além disso, as marinhas deviam desempenhar o papel que os exércitos tinham tido até então. Devido ao facto de Mahan conceber a guerra como um negócio - Clausewitz (1873), antes dele, estabelecera a mesma comparação, devido ao conflito de interesses humanos que representa – na sua opinião, para se obter o controlo do mar era essencial garantir a utilização livre das linhas de comunicação e dominar pontos geográficos decisivos (Weigley, op. cit.: 175).

Éum facto que as marinhas eram, nessa época, instrumentos eminentemente estratégicos com um alcance global, e que isso representava uma força deste modelo. Contudo, Mahan não soube reconhecer os avanços tecnológicos que poderiam pôr em causa o controlo do mar e tornar a sua obtenção impossível. Nessa altura já existiam torpedos, minas e submarinos, mas ele ignorou-os por não reconhecer a necessidade de navios mais rápidos (Ibid.: 180). Mahan também não soube perceber a diferença de contextos, concentrando-se no exemplo britânico e tentando aplicá-lo noutros sítios (Ibid.: 178). Consequentemente, a fraqueza deste modelo traduziu-se no facto de ele defender a expansão como forma de controlar o mar, quando na verdade estava involuntariamente a promover a dispersão e não a concentração de forças.

1Contrariamente ao teórico prussiano Carl von Clausewitz, que era um pensador abstracto, Antoine Henri Jomini, de origem suíça mas oficial general tanto nos exércitos francês como russo, afirmou que, de todas as mudanças possíveis na natureza da guerra, havia um conjunto de princípios que podiam ser aplicados em qualquer circunstância. Mais do que possuir a genialidade de comandante, Jomini defendia uma abordagem científica no planeamento e prática da guerra (Shy, 1986: pp 143-153).

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Face às novas melhorias nas comunicações, transportes e armamento durante a Primeira Guerra Mundial, a Europa assistiu a uma mudança na forma como os exércitos se confrontaram na linha da frente. É geralmente aceite que a revolução industrial reduziu a fricção na guerra. Inovações como o caminho-de-ferro e o telégrafo tornaram mais fácil não só a mobilização e movimentação dos exércitos, como também controlar e comunicar no campo de batalha (Rothenberg, 1986: 300). Contudo, a procura de uma vitória rápida para a Alemanha, idealizada por Alfred von Shlieffen (Ibidem: 312), não teve êxito2. Em vez disso, a Primeira Guerra Mundial tornou-se uma guerra de atrição.

Apesar de todas as melhorias que a tecnologia tornou possível, os líderes alemães foram excessivamente optimistas relativamente à velocidade que poderiam atingir na movimentação dos seus exércitos em território francês. A suposição de que aquela seria uma operação rápida confrontou-se com a realidade da guerra de trincheiras. Contra as metralhadoras estáticas, o exército francês redescobriu a artilharia, e às baixas em massa, opuseram a sua motivação e orgulho nacional. De igual forma, o poder aéreo, ainda um actor recente nessa altura, começou a demonstrar as características que influenciariam tantos a articular promessas de relevância e capacidade decisória em conflitos futuros. Os princípios da manobra rápida e da ofensiva geralmente assumem-se como verdades dogmáticas no que diz respeito à estratégia militar. No entanto, as previsões de sucesso provaram ser fatais relativamente às metas traçadas. Embora a tecnologia utilizada tenha constituído a verdadeira força deste modelo, já que as armas convencionais, os transportes e as comunicações são relevantes ainda hoje, ele assentava em suposições e acabou por não ter em consideração uma guerra de atrito como a que a Grande Guerra acabaria efectivamente por tornar-se.

Nos anos que se seguiram à guerra do Vietname, o centro de atenção das forças militares norte-americanas deslocou-se do Sudoeste Asiático para a Europa. Nessa altura, a grande preocupação e motivo de debate era como lidar com a ameaça proveniente do outro lado da Cortina de Ferro. A sugestão proposta pelo Exército, que a Força Aérea rapidamente abraçou, apresentou-se sob o nome de AirLand Battle. Este novo conceito revela influências desde a Blitzkrieg até às guerras israelo-árabes. (Citino, 2004: 258). Face à supremacia militar soviética em números no teatro europeu, e reconhecendo que um exército não pode ser forte em todos os locais, a versão anterior do Army Field Manual 100-5, denominado Operations (Operações), propunha um conceito de defesa activa (Ibid.: 257). Isto significava que as forças aéreas e terrestres mecanizadas teriam que travar o avanço do Pacto de Varsóvia, onde quer que tivesse lugar, quase como bombeiros que combatem vários incêndios nascentes em simultâneo (Ibid.). Este modelo de arte operacional, enfraquecido pelo facto de conceder toda a iniciativa ao inimigo, era sinónimo da erosão lenta e da derrota das forças ocidentais, em menor número, pelo que necessitava de ser revisto. De acordo com esta perspectiva, outras críticas deste modelo traduziam duas formas de pensamento opostas para travar o exército soviético; enquanto alguns insistiam na manobra, outros privilegiavam a guerra de atrição (Ibid.: 258). Outro ponto fraco deste

2O estrategista prussiano Shlieffen concebeu um plano para uma eventual Guerra em que a Alemanha seria forçada a lutar em duas frentes, como consequência dos acordos e tratados franco-russos estabelecidos entre 1891 e 1894. O seu plano, desenvolvido bastante antes da Primeira Guerra Mundial, defendia a rápida derrota dos franceses a oeste, e, em seguida, se necessário, uma redistribuição rápida de forças para combater os russos na frente oriental (Rothenberg, 1986: pp. 311-312).

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modelo é que assentava em suposições, não em factos. Na realidade, partia do princípio que a União Soviética iria manter inalterado o seu plano tradicional, tanto em termos do ataque com recurso a tanques, como a nível do comportamento militar (Ibid.: 260).

Perante estas fragilidades, uma mudança no FM 100-5 era mais do que bem-vinda. O novo conceito AirLand “tinha quatro princípios básicos: Iniciativa, Agilidade, Profundidade e Sincronização“ (Ibid.: 262). Neste novo modelo, as lições aprendidas em conflitos anteriores, especialmente envolvendo as forces alemãs e israelitas, foram depuradas e combinadas com clássicos da teoria e da história militar, tais como Clausewitz e Liddell Hart (Ibid.: 263).

O conceito AirLand Battle representava “uma tentativa de alcançar um equilíbrio entre os fatores de manobra e a capacidade de fogo” (Skinner, 2003: 9) e, portanto, parecia ter sido adaptado de forma a extrair o máximo efeito do poder aéreo, embora este apenas desempenhasse um papel de apoiante. Ainda assim, a AirLand Battle beneficiou claramente da ofensiva e da integração de ataques aéreos com a manobra terrestre. Esta nova abordagem, reforçada por armamento moderno, como os novos tanques e helicópteros de ataque, parecia destinada ao sucesso.

A este respeito, os novos estrategistas aéreos, como o Coronel da Força Aérea dos Estados Unidos John Warden, tinham uma opinião distinta, antecipando uma vitória no conflito armado através da paralisia. O poder aéreo, por si só, recorrendo a uma série de ataques paralelos ao nível estratégico, poderia neutralizar o inimigo (Warden, 2011: 71). Ao encarar o inimigo como um sistema, tornava-se possível atacá-lo e vencê-lo atacando os seus centros de gravidade (Creveld, 2010: 363). Esta abordagem à forma de fazer a guerra dependia muito da tecnologia, sobretudo de munições de precisão e de aviões furtivos. Apesar da crítica que sobre si recaiu devido à obliteração do papel desempenhado pelos outros serviços militares, esta estratégia provou repetidamente o seu mérito nas Guerras do Golfo e nos Balcãs, ao ponto de relançar o poder aéreo para uma era de glamour e de renovadas esperanças na capacidade de decidir conflitos.

Uma efeito negativo destes sucessos foi a ideia, criada na sequência da Operação Tempestade do Deserto, que a tecnologia, designadamente o poder aéreo, conduziria sempre a uma vitória rápida e limpa. É inegável que este modelo beneficiou dos princípios da ofensiva e surpresa para surpreender o inimigo. Mas apesar do seu enorme sucesso, há quem considere que o seu alcance foi limitado. Sob esse ponto de vista, as ideias de Warden limitaram-se à guerra convencional e não souberam responder aos desafios colocados pelo terreno acidentado, selva, insurgência e guerra nuclear.

Este artigo faz uma análise de alguns modelos de arte operacional, demonstrando que as suas fragilidades estão frequentemente relacionadas com falsas premissas e fraca utilização da tecnologia. Enquanto a arte operacional de Napoleão possuía as vantagens inerentes à forma como ele entendia a estratégia viável, assente numa acção ofensiva e em exércitos de massa para atacar o inimigo em batalhas decisivas, sofria igualmente de problemas de comunicação e de incapacidade para combater insurgências. Quando outros tentaram emular as suas proezas, designadamente durante a Guerra Civil Americana, não foram capazes de entender as diferenças de contexto: guerra civil ao invés de uma nação que se ergueu contra estados inimigos. Para além disso,

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subestimaram o papel da tecnologia disponível, a qual revelou armas mais letais e transporte mais rápido e eficaz.

O modelo de arte operacional defendido por Mahan tinha a vantagem de ter um alcance global, possibilitando a projecção de poder em todo o mundo. No entanto, tinha alguns pontos fracos decorrentes da falha em reconhecer as possibilidades avançadas pela tecnologia de então e as circunstâncias distintas em que se inspirou: as circunstâncias do ex-império britânico dificilmente poderiam ser aplicadas à realidade norte-americana contemporânea.

Apesar de terem reconhecido o papel desempenhado pela tecnologia, as previsões de Shlieffen de uma movimentação rápida dos exércitos pela Europa provaram-se erradas face ao que se tornaria uma guerra de trincheiras, indicando que os planos para uma guerra de atrição devem fazer parte de qualquer projecto de campanha.

Da mesma forma, o modelo AirLand Battle combinou tecnologia com manobra. Contudo, este conceito assumia um inimigo estático e rígido, em vez de um adversário flexível e com capacidade de adaptação. Para além disso, ao conceder ao poder aéreo apenas um papel de apoio, em certa medida acabaria por limitar a sua eficácia. Contrariamente a este modelo situa-se a opinião de John Warden, que defendia o papel decisivo do poder aéreo através de ataques estratégicos aos centros de gravidade do inimigo. Este modelo de arte operacional dependia fortemente da tecnologia, mas apesar do enorme sucesso obtido no Iraque e nos Balcãs, não tinha a visão global da forma como as outras componentes militares poderiam contribuir para o resultado global da campanha. Uma limitação do modelo de Warden que é frequentemente avançada – e que conflitos recentes poderão corroer – é que o seu domínio se cingia à guerra convencional.

Este artigo demonstra claramente que o contexto, a tecnologia disponível, e a realidade, ou seja, informações precisas, ao invés de suposições, são alguns dos princípios que qualquer modelo de arte operacional deve ter em conta. Todas as vezes que um estrategista falhou em reconhecer estes princípios, foi ignorado, incapaz de materializar as suas ideias, ou, ainda pior, acabou aniquilado no campo de batalha.

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Como citar esta Nota

Leitão, Fernando (2012). "Arte operacional: de Napoleão Bonaparte a John Warden". Notas e Reflexões, JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 3, N.º 1, Primavera 2012.

Consultado [online] em data da última consulta, observare.ual.pt/janus.net/pt_vol3_n1_not2

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