JANUS.NET, e-journal of International Relations
ISSN: 1647-7251
Vol. 3, n.º 1 (Primavera 2012), pp. 1-37
Da desregulação ao recentramento no Atlântico Sul, e a construção da ‘lusofonia’
Armando Marques Guedes
cedo, não podem senão aquecer ânimos regionais, desencadeando reacções defensivas
de prevenção. O círculo discursivo não poderia passar despercebido a quaisquer
observadores minimamente atentos – e não passou.
Linhas de quebra e de união e algumas das suas dimensões discursivo-
securitárias
Seria, no entanto, um erro ficarmo-nos pelas dimensões discursivas de “securitização”,
pace as teses da chamada Escola de Copenhaga quanto à força elucocionária dos
speech acts “constitutivos”. Uma breve case-story será aqui decerto ilustrativa das
disparidades patentes entre as reacções, discursivas e outras, que este estado de
coisas pode ver a desencadear. Classifico o exemplo que irei dar como ‘benévolo’.
Como tem sido notado, a política externa portuguesa vem, desde há alguns anos,
tentado reequilibrar os seus objectivos centrais – a União Europeia, a Aliança Atlântica,
e o espaço histórico de língua portuguesa. Tem-no feito, entre outras, pela via de
“[starting to] pay more attention to the North and South Atlantic, i.e. the strategic
square that connects Lisbon to the US, Brazil and Angola”
.
Já em 2009, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado – nunca muito
atreito a riscos nem particularmente inovativo nas susa actuações governamentais –
defendeu uma "re-centralização da estratégia da OTAN no espaço geográfico do
Atlântico", onde "as privilegiadas relações de Portugal com o continente africano, os
países do Mediterrâneo e, em especial, o Brasil" poderiam ser melhor aproveitadas. Ao
mesmo tempo, rejeitou o rótulo de "polícia do mundo"
frequentemente atribuído à
OTAN, no que um jovem investigador a estudar e publicar em Portugal, Pedro Seabra,
qualificou de “uma tentativa clara de atacar preventivamente qualquer eventual
desconfiança que suas propostas poderiam incitar”
.
Seria, alguns meses mais tarde, o então novo Ministro português da Defesa Nacional,
Augusto Santos Silva, a retomar o tema e a detalhar motivos, no seguimento, de resto,
de uma série de publicações ligadas à Aliança Atlântica
: insistindo na importância de
“reinforcing cooperation on an equal basis with both Africa and South America in order
to tackle common security risks – such as illegal immigration, drugs, arms, human
trafficking and terrorism – would be mutually beneficial and would allow for a better
Paulo Gorjão (2010), “The end of a cycle: Rebalancing and redefining Portugal’s foreign policy” (IPRIS
Lusophone Countries Bulletin, No. 3, Janeiro): 6, Lisboa. Sobre este tema, mas com um foco mais
específico – uma discussão pormenorizada de como o tem feito num domínio restrito e pouco estudado, o
da projecção policial e “não-propriamente militar” de forças – ver, ainda,a monografia de Armando
Marques Guedes e Luís Elias (2011), Controlos Remotos. Dimensões Externas da Segurança Interna em
Portugal, Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna e Almedina, Lisboa e Coimbra.
Luís Amado (2009), “Luís Amado defende “recentramento” no Atlântico e sublinha papel de Portugal pelas
relações com África e Brasil” (Lusa, 26 deMarço), citado em Pedro Seabra (2010), “South Atlantic
crossfire. Portugal in-between Brazil and NATO”, IPRIS, Viewpoints, descarregado a 2 de Março de 2010
de www.ipris.org/php/download.php?fid=304
Pedro Seabra (2010), (2010). “South Atlantic crossfire. Portugal in-between Brazil and NATO”, IPRIS,
Viewpoints, descarregado em 2 de Março de 2010 de www.ipris.org/php/download.php?fid=304. Vários
outros artigos têm sido publicados por este joivem investigador português, dos quais destaco alguns:
(2009), “A summer fling in South America. U.S. bases and a weapons race”, ViewPoints, IPRIS, Outubro;
(2010), “UNASUR. South America's wishful thinking”, ViewPoints, IPRIS, Fevereiro; (2010), “ECOWAS and
the Brazilian foothold in Africa”, ViewPoints, IPRIS, Setembro; e (2011), “An ocean apart. Angola, Brazil
and the need for a strategic framework”, ViewPoints, IPRIS, Março.
Das quais cabe destacar Nikolas Gvosdev (2009), “Expand the West by Looking South” (Atlantic Council,
7 de Junho)., bem com o relatório da NATO (2010), NATO 2020: Assured Security; Dynamic Engagement,
Brussels, de onde provém a minha citação acima.