OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
ISSN:
Vol. 2, n.º 2 (Outono 2011), pp.
Recensão Crítica
Kagawa, Fumiyo et Selby, David (ed) (2011). Education and Climate Change. Living and learning in interesting times. New York: Routledge: 259 pp. ISBN10:
por Brígida Rocha Brito
email: brigidabrito@netcabo.pt
Doutorada em Estudos Africanos pelo
Investigadora do OBSERVARE (UAL) e do Centro de Estudos Africanos
“Education and Climate Change. Living and learning in interesting times” é um livro de
A abordagem inicial ao livro resulta do interesse despertado por duas razões principais, sendo que, mesmo individualmente, qualquer uma delas é válida e suficiente obrigando a uma leitura atenta: por um lado, o tema central do livro; e, por outro lado, os curricula dos autores. Assim:
1.A primeira razão radica no tema em discussão que, indiscutivelmente, apresenta grande actualidade – a abordagem pedagógica face às alterações climáticas a nível mundial, tendo presente os múltiplos impactos para a vida humana nas suas diferentes dimensões (saúde, segurança alimentar, produção económica vária, ...). De forma implícita, a análise remete para a importância das Relações Internacionais no contexto da problemática ambiental, considerando a sustentabilidade como o objectivo central. Mas, neste livro, o inverso também é verdadeiro, ou seja, a pertinência das questões ambientais para as Relações Internacionais, visto que todos os exemplos apresentados e discutidos são perspectivados a partir de uma leitura holística;
2.A segunda razão
JANUS.NET,
ISSN:
Vol. 2, n.º 2 (Outono 2011), pp.
Recensão Crítica
Brígida Rocha Brito
Futures da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, e David Selby é Professor na Universidade de Mount St. Vincent, no Canadá, e Director do Sustainability Frontiers, um Centro de Investigação virtual sobre alterações climáticas e educação sustentável. Para além dos coordenadores, o livro conta com textos da autoria de professores de Universidades de renome internacional e investigadores de Centros de Investigação mundialmente reconhecidos pelos seus pares1. O Prefácio é da autoria do Bispo Desmond Tutu, Prémio Nobel da Paz em 1984. Nas primeiras palavras do Prefácio, reforça a ideia que as alterações climáticas, além de globais, têm uma causa humana, sendo, mais do que fundamental, urgente adoptar e implementar um conjunto alargado de medidas, adequadas por área sectorial, assumidas por todos os Estados e envolvendo a população mundial com sentido de responsabilidade. Desmond Tutu define as alterações climáticas como uma das principais crises mundiais promovidas pela Humanidade, que se tem vindo a revelar de forma desequilibrada no que respeita aos impactos.
“Climate change is the greatest
Sendo uma obra de
Este livro tem, antes de mais, um sentido pedagógico permitindo ao leitor uma aprendizagem fundamentada sobre as questões ambientais, por um lado, numa reflexão teórica crítica, por outro lado, na explicação técnica e científica dos processos que conduzem às alterações climáticas, bem como das suas consequências e, por fim, na partilha de experiências de investigação prosseguidas e concluídas pelos respectivos autores.
1Virginia Cawagas (Professora Associada da United Nations University for Peace, Costa Rica), Darlene Elower (Professora Associada na Universidade de Victoria, Canada), Ian Davis (Professor na Universidade de York), George Seja Dei (Professor Catedrático na Universidade de Toronto, Canada), Edgar González- Gaudiano (Investigador sénior na Universidade Autónoma de Nuevo Leon, México, e membro da Comissão de Educação e Comunicação da União Internacional de Conservação da Natureza, UICN), Magnus Haavelsrud (Professor na Norwegian University of Science and Technology em Trondheim, Noruega), Bud Hall (Director do Office of
161
JANUS.NET,
ISSN:
Vol. 2, n.º 2 (Outono 2011), pp.
Recensão Crítica
Brígida Rocha Brito
O livro está organizado em doze textos2 de análise temática que, apesar das especificidades de cada abordagem, apresentam um conjunto de preocupações comuns, maioritariamente centradas no conceito de sustentabilidade
Uma das grandes preocupações evidenciadas ao longo dos doze textos reside na estratégia a adoptar após a tomada de consciência de que, além das alterações climáticas serem uma realidade incontestável, promovem impactos de agravada dimensão que se mantém ao longo do tempo. A estratégia defendida, sendo comum a todas as perspectivas,
Face à tomada de consciência de que as mudanças climáticas são globais e mundialmente abrangentes, existe a necessidade de criar um novo universalismo (Haavelsrud, 2010: 57 e seguintes) fundamentado numa concepção dinâmica da Humanidade, orientada por objectivos comuns (“commonality”), entre os quais a Paz, recorrendo a uma metodologia de “aprendizagem transformativa”.
A nível internacional, o diálogo é também considerado global (Sisitka, 2010: 73 e seguintes) pela urgência de identificar respostas contextualizadas para os problemas decorrentes das alterações climáticas. Esta ideia
A estratégia educativa é concebida de forma transversal como uma oportunidade de repensar atitudes e comportamentos mas também de reorientar prioridades e objectivos no que se considera serem “tempos interessantes” (Kagawa et Selby, 2010). Esta é uma época considerada única porque marcada tanto pelas múltiplas alterações do clima, como pela possibilidade de moldar consciências, aprender com os erros
2Os doze textos são: 1) Climate change education and communication: a critical perspective on obstacles
and resistances; 2) Go, go, go, said the Bird:
Peace learning: universalism in interesting times; 4) Climate injustice: how should education respond?;
5)The environment, climate change, ecological sustainability, and antiracist education; 6) Learning in emergencies: defense of Humanity for a livable World; 7) Sustainable democracy: issues, challenges and proposals for citizenship education in an age of climate change; 8) School improvement in transition: an emerging agenda for interesting times; 9) Critique, create and act: environmental adult and social movement learning in an era of climate change; 10) Transforming the ecological crisis: challenges for faith and interfaith education in interesting times; 11) Public health threats in a changing climate: meeting the challenges through sustainable health education; 12) Weaving change: improvising global wisdom in interesting and dangerous times.
162
JANUS.NET,
ISSN:
Vol. 2, n.º 2 (Outono 2011), pp.
Recensão Crítica
Brígida Rocha Brito
anteriores, estimulando ainda para um processo transformativo a nível individual e social (de grupo, qualquer que ele seja), que apela para princípios éticos e morais, produzindo impactos positivos no sentido de um envolvimento (engajamento) efectivo e activo que tende para uma “resposta espelho” (Kagawa et Selby, 2010: 5 e seguintes). A “resposta espelho” é apresentada de forma muito clara, sendo evidenciada pela percepção comprovada de que as alterações climáticas resultam em parte de actividades humanas não planeadas, ou sem estudos de impacto associados, mas também pela constatação que os efeitos destas alterações são sentidos pelas comunidades humanas de forma, eventualmente, tão radical que põem em causa a sustentabilidade, mais do que económica ou puramente ambiental, da vida humana.
Esta ideia de “resposta espelho” ultrapassa os princípios convencionais do determinismo ambiental, sendo particularmente defendida no sentido pedagógico, independentemente dos grupos envolvidos (crianças, jovens, adultos, grupos sócio- profissionais específicos, gestores e empreendedores, políticos e governantes, ...). A estratégia educativa assim concebida abrange a sociedade no seu conjunto, seja a um nível micro ou macro, neste caso considerando também a dinâmica mundial. Esta ideia é várias vezes apresentada por referência a Al Gore:
“It gives us an opportunity to experience something that few generations ever have the privilege of knowing: a common moral purpose compelling enough to lift us above our limitations” (Gore apud Kagawa et Selby, 2010: 4)
Sendo um dos elementos que apresenta consenso em todas as análise apresentadas, a estratégia educativa implica a capacidade de envolvimento participativo, podendo
A abordagem metodológica participativa tendente à criação e reforço da cidadania activa não é nova, mas a leitura relacional entre a participação e a cidadania ambiental global, promovida a nível internacional como veículo para ultrapassar situações de crise, é inovadora (Davies, 2010: 128 e seguintes). Da mesma forma, este processo de aprendizagem
A problemática ambiental, na qual as alterações climáticas se enquadram, passa assim a ser entendida como um paradigma de aprendizagem com potencial para promover a transformação social, fundamentado em princípios sistémicos e holísticos
163
JANUS.NET,
ISSN:
Vol. 2, n.º 2 (Outono 2011), pp.
Recensão Crítica
Brígida Rocha Brito
vez mais, orientados pelo diálogo crítico e construtivo, regulado por valores com o objectivo de assegurar a sustentabilidade da vida a nível mundial.
Como citar esta Recensão
Brito, Brígida Rocha (2011). Recensão Crítica de Kagawa, Fumiyo et Selby, David (ed)
(2011). Education and Climate Change. Living and learning in interesting times. New York: Routledge: 259 pp. ISBN10:
164