JANUS.NET, e-journal of International Relations
ISSN: 1647-7251
Vol. 2, n.º 2 (Outono 2011), pp. 1-48
Algumas tendências e perspectivas sobre globalização, crescimento económico, igualdade e desenvolvimento
Giuseppe Ammendola
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economia, tendo as políticas fiscais o objectivo de diminuir a procura, e as políticas
cambiais o de canalizar uma maior parte dos recursos económicos para as exportações.
Para além de reduzir os desequilíbrios internos e externos, as políticas de estabilização
procuravam reduzir a inflação (Yusuf et al., 2009: 29). Quanto às políticas
microeconómicas, incluíam a desregulamentação, a privatização das empresas estatais,
a racionalização de entidades do sector público e redução dos salários públicos, e a
remoção do controlo sobre os preços, medidas essas que tinham o objectivo de
eliminar as distorções no funcionamento do mercado livre (Yusuf et al., ibidem).
Avaliação do Consenso de Washington
Qualquer avaliação destas políticas beneficiará de uma leitura atenta de Economic
Growth in the 1990s: Learning from a Decade of Reform, um estudo publicado pelo
Banco Mundial em 2005 (Banco Mundial, 2005), que incidiu no período entre o início da
década de noventa, quando o Decálogo do Consenso de Washington tinha alcançado
um estatuto elevado entre conselheiros políticos, e a data da sua publicação.
Para começar, “houve várias surpresas negativas” (Banco Mundial, 2005: 8). Por
exemplo, a transição das economias comunistas e centralmente planeadas para
economia capitalistas provou ser muito mais difícil do que o inicialmente previsto, com
um colapso de output muito mais profundo e de duração imprevisível. Se, por um lado,
referia que, por exemplo, a República Checa, a Hungria e a Polónia (que, não por
coincidência, beneficiavam do processo de integração Europeia), se encontravam em
recuperação, por outro lado lia-se que “ levará anos, e em alguns casos décadas, para
que os países da antiga União Soviética recuperem os níveis de rendimento per capita
existentes no início da transição” (Banco Mundial, 2005: 8). Além disso, o relatório
acrescentava que relativamente à África Subsaariana, e apesar das boas políticas de
reformas, a ajuda externa, o alívio da dívida, melhorias na governação, bom ambiente
externo, e algumas histórias de sucesso modesto como as de Moçambique, Tanzânia e
Uganda, não se tinha dado nenhuma descolagem importante. O relatório referia
também que as crises financeiras dos anos 90 tinham sido menos previsíveis que as
das décadas anteriores, dando como exemplos o México em 1994-95, a Coreia,
Malásia, Tailândia e Indonésia em 1997-98 (o que ensinou muitos países em
desenvolvimento a constituir um grande fundo de reservas em moeda estrangeira,
como referi anteriormente), Rússia e Brasil em 1998, a Turquia em 2001, e a Argentina
em 2001-02 (Banco Mundial, 2005: 8). Por último, mas não menos importante, houve
surpresas negativas na América Latina que, em 1990, tinha rejeitado definitivamente a
lógica do Consenso de Desenvolvimento a favor da estabilização macroeconómica, rigor
fiscal, liberalização do comércio e privatização (Banco Mundial, ibidem)
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. Enquanto se
alcançaram sucessos importantes na luta contra a inflação desde o início da década de
90, os resultados em termos de crescimento foram desapontantes, e a década assistiu
a um crescimento menor do PIB per capita em comparação com os EUA do que no
período entre 1950 e 1980 (Birdsall, De la Torre e Caicedo, 2010: 3; Rodrik, 2006:
975). Os especialistas em assuntos da América Latina tiveram dificuldade em
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A nível das finanças, as políticas de liberalização foram mais agressivas e mais modestas na área da
fiscalidade e praticamente não existentes no campo dos mercados de trabalho (Birdsall, De la Torre e
Caicedo, 2010). Por mais complicado que o quadro se apresente, há poucas dúvidas de que a nova
ortodoxia foi amplamente adoptada e instrumental em demonstrar que a região merecia receber alívio
da dívida através do Plano Brady. Veja-se Marangos (2009).