OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
ISSN:
Vol. 2, n.º 1 (Primavera 2011), pp.
Recensão Bibliográfica
Blair, Tony (2010). A Journey. London: Hutchinson: 718 pp.
por Evanthia Balla
Doutorada em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade Católica de Lisboa, Mestre em Estudos Europeus pela Universidade de Reading, Reino Unido, e Mestre em Política Internacional pela Université Libre de Bruxelles, Bélgica. Professora Auxiliar no Departamento de Direito da Universidade Portucalense.
Investigadora no OBSERVARE (UAL) e no Instituto Jurídico Portucalense.
Desde o dia em que deixou o cargo, em Junho de 2007, Tony Blair nunca esteve realmente longe dos holofotes. Isto
Actualmente, após um período de deliberado silêncio, as memórias de Blair A Journey (Uma Viagem)
No entanto, no que respeita ao homem político, o livro aparenta ser um relato pessoal de um líder num determinado período de tempo que expõe a sua visão e decisões, e um instrumento que preserva o seu legado, justificando a guerra contra o Iraque e a sua lealdade ao New Labour.
Blair descreve o seu primeiro dia no cargo, inexperiente mas decidido a fazer a diferença. Desde o início, estabeleceu um relacionamento pessoal estreito e cordial com o povo britânico, particularmente após a morte da princesa Diana, quando o seu discurso realmente captou o sentimento do público.
Contudo, o relacionamento entre Blair e o público não iria durar muito tempo devido ao falso prospecto da Guerra do Iraque, que assinalaria o ponto mais baixo de sua popularidade. Após a publicação da autobiografia de Blair, os jornais britânicos
1Kettle, Martin (2010). “World exclusive Tony Blair interview”, The Guardian,
Disponível em:
Consultado em: 31.01.2011
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Recensão Crítica
Evanthia Balla
cederia finalmente a Brown. E Brown, de facto, tinha trabalhado com muita habilidade política de forma a garantir que não haveria nenhum rival na sucessão.
Embora a política interna assuma um papel importante no livro de Blair - a campanha do partido trabalhista de 1997 foi disputada quase exclusivamente com base na política interna – é a política externa que realmente define a década de Blair no governo entre 1997 e 2007. E é sua actuação controversa no cenário mundial que efectivamente capta o espírito do leitor estrangeiro.
Blair admite que “o meu despertar para a política interna
No entanto, a doutrina Blair desafiou as noções de soberania nacional e os princípios de
Tenho reflectido muitas vezes se terei estado errado.
O livro contém longos excertos sobre os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2011 em Nova Iorque e Washington. Na sua opinião, esta foi decididamente uma guerra, e uma que tinha que ser combatida de forma distinta de qualquer outra. Precisamente, foi uma batalha ideológica que opôs os costumes e modus vivendi do fanatismo religioso aos de um sistema de governo secular e iluminado que, pelo menos no Ocidente, acreditava na liberdade, igualdade e democracia.5
Blair não diz que não lutou pelo interesse nacional britânico. Contudo, o que afirma ser o ponto focal da política externa actual é a globalização, pois acredita que a característica que define o mundo de hoje é a sua interdependência e que, a menos que articulemos uma política comum global baseada em valores comuns, corremos o risco de o caos ameaçar a nossa estabilidade económica e política.
2A Journey, p. 223
3Blair, Tony (1999). “Doctrine of the International Community”, Discurso no Clube Económico de Chicago. Disponível no sítio da Downing Street: http://www.number10.gov.uk/Page1297 Consultado em: 10.02.2011
4A Journey, p. 374
5Ibid, p. 346
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E, na prática, os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington, de 11 de Março de 2004 em Madrid, e de 21 de Julho de 2005 em Londres, provam claramente que o terrorismo pode
Para Blair, o inimigo tem que saber que estamos determinados a agir. Esta opinião impulsionou drasticamente sua política no Afeganistão, assim como no Iraque.
Para se vencer desta maneira não bastou, nem basta, simplesmente ter uma estratégia militar para derrotar um inimigo que luta contra nós. Requer todo um novo quadro geopolítico. Requer
Àpergunta se o Iraque está melhor agora do que no tempo de Saddam, Blair responde: claro que sim. Em 1979, quando Saddam assumiu o poder, o Iraque era mais rico do que Portugal. Em 2003, a população dependia da ajuda alimentar em 60%. Actualmente, o PIB per capita no Iraque é três vezes superior ao que era em 2003.8
Contudo, Blair não examina criticamente o desafio prático colocado pelo processo de
Além disso, o argumento a favor de uma nova comunidade internacional é forte e Blair
Na sua autobiografia, Blair admite que, contrariamente ao que se pensava, o Iraque não dispunha de qualquer programa activo de ADM, mas não deixa de repetir os mesmos argumentos relativamente às razões pelas quais voltaria a fazer o mesmo, como a tirania do regime de Saddam, as violações do direito internacional, a ameaça à segurança dos países vizinhos e do mundo em geral.
O livro não revela os sentimentos de Blair sobre as demissões e as centenas de milhares de pessoas que marcharam em protesto na
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AJourney, p. 349 Ibid, p. 357 Ibid, p.
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Quando terminei de ler o livro de memórias de Tony Blair, continuei a
Para Clausewitz9, coragem moral e determinação é o que faz um grande estratega.
Como citar esta Recensão Bibliográfica
Balla, Evanthia (2011). Recensão Crítica de Blair, Tony (2010). Uma viagem (A Journey). Londres: Hutchinson: 718 pp., JANUS.NET
9Clausewitz, Carl von (1984). On War, Princeton: Princeton University Press.
10A Journey, p. 691
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