OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
ISSN:
Vol. 2, n.º 1 (Primavera 2011), pp.
NOTAS E REFLEXÕES
BOLÍVAR, 200 ANOS DEPOIS
Nancy Elena Ferreira Gomes
Doutoranda em Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa.
Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.
Professora Auxiliar na Universidade Autónoma de Lisboa.
“Bolívar 200 anos depois” é o título de uma Conferencia que teve lugar na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), no dia 11 de Outubro de 2010. Este evento, organizado pela UAL e pelo Instituto para a Promoção e Desenvolvimento da América Latina (IPDAL), contou com o apoio das Embaixadas do Panamá e da Colômbia, em Portugal. Foram aqui objecto de debate e reflexão algumas das principais ideias de Simón Bolívar1, nos âmbitos político, económico e social, merecendo destaque aquelas que têm uma dimensão internacional e que foram consagradas como princípios do Direito Internacional: a Segurança e a Defesa Colectiva, o Respeito pela Integridade Territorial dos Estados e a Solução Pacífica de Controvérsias. Mais que uma ideia, aquele que traduzira um dos maiores desejos do “Libertador da América”2, o ideal de Unidade, mereceu também claro destaque. Com efeito, em toda a obra de Bolívar, são inúmeras as vezes que o Libertador cita a palavra “América” como expressão deste ideal. Na maioria dos casos, Bolívar põe a ênfase na ideia da Confederação das Nações
“Eu desejo mais que ninguém ver formar na América a Maior Nação do Mundo menos pela sua extensão e riquezas que pela sua liberdade e glória”3.
Em 7 de Dezembro de 1824, Bolívar enviou de Lima um convite à Colômbia, México, Argentina, Chile e Guatemala para que participassem num Congresso que teria lugar no Panamá.
1Militar e político Venezuelano, nasceu em Caracas em 1783. Após o fracasso do seu projecto federativo,
com a desintegração da “Gran Colômbia”, Simón Bolívar morre na Colômbia, em 1830.
2Os territórios (antigas colónias da Espanha) libertados por Simón Bolívar correspondem aos actuais Estados da Venezuela, Colômbia, Panamá, Equador, Peru e Bolívia.
3Carta de Jamaica (Resposta de um Americano meridional a um cavalheiro de esta ilha. Kingston, 6 Setembro de 1815). Carta de Simón Bolívar dirigida à Henry Cullen.
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Bolívar: 200 anos depois
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“Parece que se o mundo tivesse de escolher a sua capital o Istmo do Panamá seria assinalado para este augusto destino, colocado como está no centro do globo, olhando por um lado a Ásia e pelo outro a África e a Europa… O Istmo está a igual distância das extremidades e por este motivo, poderia ser o lugar provisório da primeira Assembleia dos Confederados…”4.
No Congresso Anfictiônico5 do Panamá de 1826, Simón Bolívar propõe a assinatura de um Tratado de Aliança ofensiva e defensiva, a demarcação fronteiriça tendo em conta o utis possidetis de 18106, e o uso da conciliação e da mediação na solução dos conflitos. Federico Richa Humbert, Embaixador do Panamá em Portugal7, referiu a importância deste evento, sublinhando que se tratou da primeira Conferencia de Estados que se reúne naquela parte do mundo, e que procurou através da cooperação internacional a solução dos problemas comuns. Porém, a pouca vontade politica por parte de muitos dos governos envolvidos, o desinteresse por parte dos Estados Unidos de América (EUA)8 e, sobretudo, o desenvolvimento dos nacionalismos, iriam condenar esta iniciativa ao fracasso.
“Até a imprensa tem posto o seu grão de areia no descontrolo, ao introduzir o espírito de isolamento em cada indivíduo, porque, predicando o escândalo de todos, tem destruído a confiança de todos… Cada província guarda para si a autoridade e o poder, cada uma deveria ser o centro da nação. Não falaremos dos democratas nem dos fanáticos, também não falaremos das cores, porque ao entrar no abismo profundo destas questões, o génio da razão ficaria sepultado … “9.
Depois de Panamá, foram várias as tentativas que, em vão, insistiram no sonho Bolivariano, em Lima (Conferencias de 1847 e 1865), e em Montevideu (Conferencia de 1888). No lugar de uma Confederação de Nações Americanas – num plano de Igualdade entre todos os Estados – e a partir de 188910 (com a realização da I
4Circular de Lima, de 7 de Dezembro de 1824. In Obras Completas de Bolívar, Vol. II. Caracas: Ministério de Educação Nacional, s.d. p. 52.
5As Ligas Anfictiônicas da Grécia Antiga eram constituídas por indivíduos das várias
associados para renderem culto a uma determinada divindade, tendo em vista a defesa e cooperação mútua. Este tipo de associação – de carácter sagrado – é considerado como precursor da actual ideia de Federação.
6A demarcação fronteiriça dos novos Estados Americanos deveria respeitar à partida, ou seja provisoriamente e antes de um novo tratado, as fronteiras anteriores à independência.
7Convidado a participar como orador, na Conferencia “Bolívar 200 anos depois”, organizada pela UAL e o
IPDAL, em 11 de Outubro de 2010.
8Entre as causas do desinteresse
Hispana.
9Carta de Simón Bolívar, dirigida ao General José António Páez, em 8 Agosto de 1826.
10I Conferencia
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Conferencia
O projecto de criação de uma Comunidade
Foro de diálogo e concertação política entre os países Ibéricos e a América Latina com grandes potencialidades, sobretudo nas áreas politica, social e também económica, o projecto da CoIBA
A América Latina, 200 anos depois, é considerada uma zona ampla de paz. Com um crescimento do PIB, de 6% (2010) e uma relativa bonança – derivada sobretudo das exportações de
11O Monroísmo representa a visão
12Fernando Garcia Casas, Director de Gabinete do
13Com o fim da
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sua diplomacia busca uma maior integração
A América Latina hoje, lembra ainda Fernando Garcia Casas, enfrenta todavia, sérios desafios, como a luta contra a pobreza. Em efeito, 32,1% dos
A este cenário complexo e cheio de incertezas quanto ao futuro, Jorge Volpi19 acrescenta o pouco conhecimento cultural ou desconhecimento total uns dos outros e o desaparecimento de todo ou quaisquer rasgo distintivo
15A I Cimeira América Latina e Caraíbas (33 países), realizada na Costa de Sauipe (Bahía) em Dezembro de 2008, e o compromisso alcançado para constituir una Organização de Estados
16Ver Relatório CEPAL (2010), “Panorama Social de América Latina 2010”.
17Ver Relatório PNUD (2010), “Agindo para o Futuro: Quebrando o Ciclo de Desigualdade entre Gerações”.
18Segundo o Gabinete das Nações Unidas contra a droga e o delito (UNODOC),
19Jorge Luis Volpi Escalante, escritor mexicano (vencedor do II Prémio de Ensaio
20A União de Nações
ciência, tecnologia e inovação.
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Referências Bibliográficas
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ARENAL, Celestino (Coord.) (2009). España y América Latina 200 años después de la Independencia. Valoración y Perspectivas. Real Instituto Elcano. Madrid. ISBN
ATKINS, G. Pope (1989). Latin America in the International Polytical System. Westview Press. USA. ISBN
BOERSNER, Demetrio (1996). Relaciones Internacionales de América Latina. Editorial Nueva Sociedad. Caracas. ISBN
BOLÍVAR, Simón (s.d.). “Circular de Lima”, de 7 de Dezembro de 1824. In Obras Completas de Bolívar (Compilação e notas de Vicente Lecuna), Vol. II. Caracas: Ministério de Educação Nacional
CERVO, Amado Luiz (2001). Relações Internacionais de América Latina. Instituto Brasileiro Relações Internacionais. Universidade de Brasília. ISBN
Outros
CEPAL (2010). “Panorama Social de América Latina 2010”. [Consultado em 15 de
Janeiro de 2011]. Disponível em http://www.eclac.org/noticias/paginas/8/33638/101130_PanoramaSocial-
PNUD (2010). “Agindo para o Futuro: Quebrando o Ciclo de Desigualdade entre
Gerações” [Consultado em 17 de Janeiro de 2011]. Disponível em: http://www.idhalc- actuarsobreelfuturo.org/site/plantilla.php
Como citar esta Nota
Gomes, Nancy Elena Ferreira (2010). "Bolívar: 200 anos depois". Notas e Reflexões, JANUS.NET
Consultado [online] em data da última consulta, observare.ual.pt/janus.net/pt_vol2_n1_not4.
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