OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
ISSN:
Vol. 2, n.º 1 (Primavera 2011), pp.
REDES SOCIAIS: COMUNICAÇÃO E MUDANÇA
Gustavo Cardoso
Coordenador do Mestrado em CCTi (IUL), investigador
em redes europeias de investigação com IN3 (Internet Interdisciplinary Institute) em Barcelona, com o WIP (World Internet Project) na USC Annenberg, COST A20 “The Impact of the Internet on Mass Media”, COST 298 “Broadband Society” e COST 609 “Transforming Audiences”. Conselheiro da Sociedade da Informação e políticas de telecomunicações para a Presidência da República
Portuguesa
CLÁUDIA LAMY
Mestranda em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação
(Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Entre os seus trabalhos publicados
Resumo
As redes sociais virtuais vieram oferecer a possibilidade de um debate aberto e plural, onde todos os que detenham a necessária literacia e meios podem participar na criação e difusão de informação. Pressionando agentes políticos e determinando a agenda de muitos media, os utilizadores demonstram estarmos ante uma plataforma ideal para a criação de verdadeiros movimentos sociais ou de eventos mais ou menos fugazes, como manifestos ou campanhas virtuais. Não obstante, para que consigamos compreender o papel das redes sociais virtuais no mundo actual, haverá que responder previamente a algumas questões. Estaremos ante um novo modelo comunicacional, onde o produto da interactividade “desinteressada” cria uma aura de confiança na informação divulgada, por vezes bem superior à presente nos old media? Será essa interactividade a possibilidade de combate a um desprendimento crescente do cidadão ante a res publica? Teremos no jornalismo do cidadão, veiculado através das redes sociais virtuais, a consagração de um verdadeiro quarto poder? Por outro lado, poderemos apelidar as diversas acções colectivas a que temos assistido de verdadeiros “movimentos sociais”? O artigo que se segue pretende abordar estas e outras questões que se colocam no intricado mundo do social cibernético.
Movimento social; redes sociais; Internet; comunicação em rede; comunicação política
Como citar este artigo
Cardoso, Gustavo; Lamy, Cláudia (2011). "Redes sociais: comunicação e mudança”. JANUS.NET
Artigo recebido em Setembro de 2010 e aceite para publicação em Março de 2011
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Redes sociais: comunicação e mudança
Gustavo Cardoso e Cláudia Lamy
REDES SOCIAIS: COMUNICAÇÃO E MUDANÇA
Gustavo Cardoso e Cláudia Lamy
Introdução
A comunicação e os media em geral não são apenas janelas para o mundo. Pelo contrário, constituem fontes de mudança, valores, atitudes, formas de encarar o mundo, ideologias, olhares sobre o “outro”, mundos e futuros possíveis.
A televisão foi, ou ainda é, a caixa que mudou o mundo; os jornais lançaram sementes de mudança de antigos para novos regimes; e, mesmo num tempo mais próximo, jornais, rádio e televisão contribuíram, desde Portugal, para mudar
Esperámos cerca de 50 anos para ver surgir uma nova tecnologia de comunicação que viesse colocar em causa a importância da televisão na nossa sociedade:
-ao adoptarmos a denominação Web2.0
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podemos usar a comunicação da Internet para mudar as práticas e representações sobre o que nos rodeia, na prática há uma série de escolhas prévias a fazermos. Essas escolhas são essencialmente escolhas de como pensar a nossa relação com a mediação e qual o grau de intervenção que pretendemos ter. Como nos demonstra Jonathan Taplin no seu blog1 depende de nós a forma como queremos
I. Comunicação em rede e Redes Sociais
Todas as sociedades são caracterizadas por modelos de comunicação e não apenas por modelos informacionais (Wolton, 1999; Colombo, 1993; Himanen, 2006; Castells 2006; Cardoso 2006). As nossas sociedades de informação, têm assistido à emergência de um novo modelo comunicacional. Um quarto modelo que se pode acrescentar aos três modelos anteriores e que podem ser colocados em ordem cronológica, em termos dos seus ciclos de afirmação social (Ortoleva, 2004).
O primeiro modelo tem sido definido como comunicação interpessoal, que assume a forma bidireccional entre duas ou mais pessoas dentro de um grupo. O segundo modelo, também profundamente enraizado nas nossas sociedades, assenta numa comunicação de
O quarto modelo comunicacional, que parece caracterizar as nossas sociedades contemporâneas, é formado pela capacidade de globalização comunicacional, juntamente com a interligação em rede dos meios de comunicação de massa e interpessoais e, consequentemente, pela emergência de mediação em rede sob diferentes padrões de interacção. Esses padrões poderão tomar a forma de Auto- Comunicação de Massa (Castells, 2009), que tem lugar quando utilizamos o Twitter, blogs ou SMS; de Comunicação Interpessoal Multimédia, que acontece quando usamos o MSN ou o Google Chat ou mesmo o Skype; de Comunicação Mediada de Um para Muitos, quando usamos o Facebook com os nossos "amigos"; e, claro está, os casos de comunicação de massa e comunicação interpessoal não mediada. Todos esses padrões têm por base os
A organização dos usos e interligação em rede dos media inseridos nesse novo modelo de comunicação
1V.g.: http://jontaplin.com/
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Se é verdade que temos construído modelos comunicacionais nas nossas sociedades, é igualmente verdade que os principais paradigmas comunicacionais formatam o que um determinado sistema de media poderá ser (Cardoso 2008). Os nossos actuais paradigmas comunicacionais parecem ser construídos em torno de uma retórica baseada, essencialmente, na importância da imagem em movimento, combinada com a disponibilidade das novas dinâmicas de acesso à informação, com novos e inovadores papéis, agora também eles entregues aos utilizadores, e com profundas alterações nos modelos de informação e entretenimento.
Os nossos conteúdos - sejam eles notícias, informação ou entretenimento - parecem ter mudado graças à presença de conteúdos fornecidos pelos próprios utilizadores de media e não apenas as empresas de comunicação per si, dando origem à
A inovação nos modelos de entretenimento
O modelo comunicacional desenvolvido nas sociedades de informação, onde o paradigma de organização social predominante assenta na rede (Castells, 2002) é apelidado de Comunicação em Rede (Cardoso, 2009). Este modelo não substitui os anteriores, tendendo antes a
Nas sociedades de informação, onde a rede é um elemento central da organização, um novo modelo comunicacional tem vindo a tomar forma: um modelo caracterizado por uma nova rede interpessoal, de um para muitos e de massa, que conecta públicos, participantes, utilizadores, empresas de difusão e editoras sob uma só matriz de rede mediática.
Num ambiente comunicação em rede, a mediação (Silverstone, 2006), as dietas mediáticas (Aroldi & Colombo, 2003), as matrizes de media (Meyrovitz, 1985) e o sistema de comunicação em si (Ortoleva, 2004) têm sido transformados. Essas transformações nas relações entre os diferentes meios de comunicação, que actualmente experienciam mais uma interligação em rede do que uma verdadeira convergência - seja em termos de hardware, serviços ou redes - fazem da mediação uma experiência integrada, combinando o uso de diferentes meios: do telefone à televisão, do jornal ao jogo de vídeo, da Internet à rádio, do cinema ao telemóvel, colocando os utilizadores, as suas práticas e as necessárias literacias, uma vez mais, no centro da análise (Livingstone, 1999; Cardoso, 2007; Cardoso, 2008).
Éneste contexto que o uso das redes sociais se desenvolve, ora como auto- comunicação de massa, como no caso do Twitter, ora de comunicação mediada de um para muitos, como acontece com o Facebook.
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II. Serão as “Redes Sociais” da INTERNET Redes Sociais?
“Ainda não está desvelado o fim e potencial dessas grandes redes sociais virtuais, mas sem dúvida elas afectam e promovem modos de relação”
(Machado & Tijiboy, 2003).
O estudo das redes, iniciado no domínio das Ciências Exactas com a Teoria dos Grafos de Ëuler,
O modelo de redes aleatórias, de Erdös e Rényi, explica o funcionamento da rede social através da metáfora da festa: bastaria uma conexão entre cada um dos convidados de uma festa para que todos estivessem conectados ao final dela (Recuero, 2004: 4). Assim, a partir de um indivíduo comum a todos,
Já o modelo dos mundos pequenos de Granovetter, distingue laços sociais, separando laços tidos como fortes (entre amigos próximos) e fracos (entre meros conhecidos): se os primeiros unem pessoas que já partilham interesses, criando clusters ou comunidades, os segundos permitem não apenas a interacção entre indivíduos pertencentes a clusters distintos mas também entre as comunidades a que pertencem, criando desse modo uma rede social (Recuero, 2004:
O modelo das redes sem escala surge como crítica à visão de Watts: as redes não têm na sua base uma aleatoriedade inerente mas leis específicas, como a de conexão preferencial ("rich get richer”) (Barabási, 2003). Por outro lado, as redes não são igualitárias e os mundos não são pequenos, em virtude da existência de elementos altamente conectados (hubs). Ora, qualquer indivíduo preferirá
Mas poderemos nós transpor esses modelos para as redes sociais online?
No modelo de redes aleatórias parece existir a
No modelo dos mundos pequenos, o grau de separação entre membros de uma rede social online é muito pequeno, é um facto, mas não porque tal seja uma regra baseada
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em dois tipos de laços (fracos e fortes):
Relativamente ao modelo das redes sem escala, Recuero defende ser impossível
A análise e explicação do funcionamento das redes virtuais apenas a partir dos modelos aplicados às redes não mediadas pela Internet
Alguns autores nada vêem de excepcional nestas novas redes, que não passarão de formas de sociabilidade transpostas para novas plataformas: é, por exemplo, a opinião de Wellman, para quem a “Comunicação Mediada por Computador é apenas uma das muitas tecnologias utilizadas pelas pessoas através das quais as redes de comunidades existentes comunicam" (Hamman, 1998). Claro está que Wellman se baseia na premissa de que grande parte dos contactos virtuais terão como propósito serem transpostos para a vida offline, o que nem sempre acontece: muitos dos laços virtuais tendem a ser mantidos nesses mesmos espaços, podendo nunca passar para o contacto presencial, inclusivamente devido à distância geográfica (Recuero, 2004: 9).
No debate sobre a territorialidade das comunidades na Internet é sugerida uma distinção entre comunidades online e comunidades virtuais. Associada a comunidades online
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Partindo do cruzamento da análise entre as teorias das redes e a dimensão empírica associada aos sítios denominados Social Networking Sites (SNS) como o Facebook, Hi5, Orkut ou microblogging, como o Twitter, parece claro que estamos perante redes sociais na acepção de espaços de interacção social e de criação de autonomia.
III. A prática social em rede na INTERNET
Existe uma pergunta base no contexto de análise das redes sociais na Internet: o que fazemos nós com as redes sociais? Entre as possibilidades tecnológicas e os reais usos há todo um processo de domesticação (Silverstone, 1994) que marca para onde a tecnologia evoluíra nos seus usos. A figura seguinte
Fig I – “Quais as ferramentas que mais utilizas na tua rede social?”
Fonte: CIES ISCTE, A Sociedade em Rede, 2010
N=1255 (total de respostas); n=35 (utilizadores de Internet e plataformas de redes sociais)/ 25% do total de respostas; 56% de utilizadores de Internet.
Desse contexto de usos ressalta uma divisão possível em actividades de fortalecimento de laços sociais para com amigos e conhecidos (Mensagens, Chats, Alertas de Aniversários, Escrita na Parede), gestão de capital social (Procura de Amigos, Envio de Presentes, Jogos, Criação de grupos) entretenimento (Quizzes e Testes), expressão identitária (Colocação de Vídeos) e intervenção social (Apoio a Causas). Este artigo irá incidir essencialmente sobre a dimensão de intervenção social nas redes da Internet.
Existem evoluções bastante significativas no que respeita à redes sociais online, em especial no tocante à propagação da informação e à sua fiabilidade: a título de exemplo, a CNN já afirmou temer mais a concorrência de redes como o Facebook ou o Twitter que a das demais cadeias televisivas2. A confiança neste tipo de fontes parece
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V.g.: |
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ter vindo a incentivar a sua utilização, suplantando a procura de informação noutros media.
Claro está que nunca poderemos esquecer estarmos a analisar o mundo cibernético e não a realidade mundial – como se sabe, a televisão e os seus conteúdos continuam a ser aqueles aos quais os cidadãos dão primazia, nomeadamente pelo acesso facilitado que têm à tecnologia utilizada e pela desnecessidade imediata de literacia específica. Dado o crescimento exponencial das redes promovidas pelo Facebook e Twitter, necessitamos compreender melhor a sua oferta.
Tal como outras redes sociais, o Facebook permite a criação de um perfil, nele sendo inserida informação pelo utilizador, desde dados como nome, idade ou estado civil, a informação como opções ideológicas, políticas, ou causas abraçadas. Existem mecanismos de manutenção de privacidade nesta rede, quando não mesmo o anonimato: a utilização de nicknames, a não colocação de fotos ou elementos pessoais, não parecendo as opções mais comuns, são possibilidades reais.
Os utilizadores podem apoiar causas, instituições ou pessoas, tendo igualmente a oportunidade de se juntarem a fóruns de discussão e debate. Podem ainda comunicar através de mensagens assíncronas (a priori, apenas visíveis para os mesmos), de um chat, e mediante posts públicos, acessíveis a todos os seus contactos. Nestes, os contactos directos do utilizador (ou indirectos, se assim determinado) poderão comentar o seu conteúdo, tendo ainda a possibilidade de
Actualmente, o Facebook é a rede social na Internet que reúne um maior número de adeptos (517.480.460 utilizadores a nível mundial, 149.976.980 indivíduos inscritos apenas na Europa3), suscitando uma tal devoção a ponto de suscitar a emergência de comportamentos patológicos45. Fruto deste sucesso, as suas receitas publicitárias têm vindo a aumentar de forma exponencial, ultrapassando as melhores expectativas: em 2009, atingiram 800 milhões de dólares, com um lucro líquido de dezenas de milhões6. O Facebook
Já o Twitter evidencia outras características, constituindo uma forma de microblogging7 baseada na publicação instantânea de textos até 140 caracteres, o Twitter permite a utilização de mensagens instantâneas de texto, essencialmente para partilha de experiências e opiniões entre comunidades de cidadãos (Java, Song, Finin & Tseng, 2007: 2; Miard, 2009: 2). Mas nem todos o utilizam de forma idêntica: se uns surgem como fontes constantes de informação e comentário, outros apenas assistem à difusão de opiniões, sem uma participação activa.
De acordo com um estudo realizado relativamente a estes microbblogers, os posts mais comuns
3V. g.:
4Clínicas para tratar obsessão:
5V.g.:
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momento, e qual o seu estado de humor (Java, Finin, Song & Tseng, 2007: 6/7). Já relativamente a conversações, não existe qualquer possibilidade de resposta directa a um post colocado por uma terceira pessoa, tal como acontece com o Facebook, razão pela qual os utilizadores optaram por usar o símbolo “@”, seguido do username do utilizador com quem querem comunicar.
Também a difusão de informação diária constantemente actualizada constitui uma das mais interessantes aplicações do Twitter, tendo já provado permitir uma sensibilização muito rápida da população utilizadora, para além de constituir um modo simples para aqueles que não têm outras formas de comunicar a sua indignação ante regimes ditatoriais ou restritivos da liberdade de expressão8 (Correia, s/d: 4). De facto, com a convergência dos media, é agora possível a utilização do telemóvel para o envio de mensagens em substituição do acesso à homepage, permitindo a divulgação dos mais variados conteúdos a partir de qualquer local.
Claro que toda esta facilidade de acesso e não restrição de conteúdos detém implicações menos positivas: o perigo da desinformação, em especial de propagada pelos hubs mais fortes; rumores são rapidamente repetidos e amplificados através desta rede, em especial se gerados ou partilhados pelos membros com mais contactos.
Entre adeptos e pessimistas, ambos com fortes argumentos relativamente à matéria em apreço, a verdade é que as redes sociais na Internet e noutros espaços de mediação, como as redes telefónicas, nos obrigam a repensar o social e o político nas sociedades do séc. XXI. O que motiva os indivíduos a participar em novas formas de relacionamento social através da mediação?
A ideia de uma plataforma em que todos os cidadãos são convidados a debater, de modo racional, as questões da sociedade onde se inserem, favorecendo o fluxo da informação e conhecimento, constitui o ideal de quarto poder: os media, em geral, deveriam
Perante este estado da arte, alguns autores vêem nos novos media em geral, e nas redes sociais online em particular, uma forma não apenas de atingir o debate não conseguido nos media tradicionais, mas um modo de realização da participação cívica, onde interesses comuns permitem a angariação de opiniões, decisões e intervenções em matérias específicas. Em parte, tal parece encontrar algum eco: como aponta Castells, “na arena internacional, estão a crescer novos movimentos sociais transfronteiriços na defesa das causas das mulheres, dos direitos humanos, da preservação do ambiente e da Democracia política, fazendo da Internet uma ferramenta essencial para disseminar informação, organizar e mobilizar” (2002: 475)
8A organização Reporters Sans Frontières (v.g. http://en.rsf.org/ ) luta pela liberdade de imprensa. Com sede em Paris, tem representações em vários países, sendo o seu site, construído em três idiomas, é um roteiro sobre agressões cometidas por governos autoritários contra jornalistas e órgãos de comunicação social (Moraes, 2001:8).
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Esta possibilidade é ainda mais relevante se atentarmos ao desalento ante a vida política e ao descrédito crescente na Democracia9 e nas suas instituições. Discutir, deliberar, aplicar decisões seriam vertentes transpostas ou partilhadas entre as instituições da Modernidade e os cidadãos, através da Internet (Cardoso, 2003). De tal modo que, dispostos a reconquistar novos públicos e simpatizantes, os media de massa e as elites políticas já mostraram o seu interesse em aderir à comunicação mediada por computador, em especial às redes sociais. Como afirma Castells, o estudo da transformação das relações de poder no novo espaço comunicacional deve considerar a interacção entre os actores políticos, agentes sociais e o negócio dos media (2007:254).
A utilização destas redes também provou ser uma hábil forma de comunicar sem deixar rasto, útil em países em que a comunicação ainda é alvo de censura explícita, como acontece na China ou em Myanmar (Ekman, 2007: 39). De facto,
Esta forma de “jornalismo comunitário” é ainda simplificada pela actual convergência de plataformas10: a possibilidade de colocar uma qualquer informação no mundo web através do telemóvel ou fazendo a convergência de conteúdos através de redes online
Na arena da Internet, organizações e pessoas se congregam para mudar algo nos mais diferentes temas e perspectivas, lutando por visibilidade e projectando as suas consequências. Como afirma Moraes, “a Internet vem dinamizar as lutas das entidades civis a favor da justiça social num mundo que globaliza desigualdades de toda ordem.
(…)A maioria dessas entidades visa o fortalecimento da sociedade civil no processo de universalização de valores e direitos democráticos. Congregar interesses e necessidades concretas ou simbólicas, promovendo acções em prol da cidadania” (2001:2). As redes sociais representam, assim, um papel extremamente relevante no tocante a grupos social, económica ou politicamente excluídos, dando voz a minorias ou permitindo a angariação de meios e a constituição de redes que partilhem os seus fins.
As organizações utilizam a Internet desde há muito para mais fácil e gratuitamente difundirem os seus propósitos e acções, e angariarem o maior número de associados. Com estas práticas nasceram ferramentas de intervenção como as campanhas virtuais,
9Segundo o Eurobarómetro, no tocante a Portugal, “apenas 40 por cento dos inquiridos
(Sumário Executivo, 2009, pág. 4).
10Mais de 70 milhões de europeus já acedem à Internet através do seu telemóvel,
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os grupos de discussão, os manifestos online e os murais de links, criando uma arena complementar de mobilização. A possibilidade de uma abrangência sem limitações impostas por gatekeepers (como acontece na televisão ou na imprensa) torna a Comunicação Mediada por Computador (CMC) extremamente relevante para todos os cidadãos e ONG que tenham como objectivos a denúncia, a pressão e a consciencialização política11 (Moraes, 2001: 3; Bennett, 2003: 3). As ONG virtuais começaram também a potenciar a sua interligação com o objectivo de repartirem competências, recursos, custos e espaços, sendo que cada nó incorpora novos usuários, os quais se convertem, potencialmente, em produtores e emissores de informações (Moraes, 2001:3). Não existem dúvidas que as redes sociais vieram permitir um debate mais aberto e pluralista,
Se é através do fenómeno da globalização que corremos riscos de uniformização do pensamento e da análise crítica, também é este fenómeno que permite que regiões outrora distantes se tornem acessíveis a todos: os seus problemas, as suas vitórias, os seus movimentos sociais não somente são difundidos como podem encontrar simpatizantes em locais distantes do globo. Detemos, desta forma, um conjugar entre questões singulares, pensadas a título local, e um mundo global: de facto, os cidadãos pensam no contexto das suas realidades próprias, mas recorrem a meios virtuais para a sua difusão, agindo de modo global (Castells, 2007:249). Assim, a Internet e as demais tecnologias, tais como os telemóveis e o vídeo digital, capacitam as pessoas para a organização da política de uma forma que supera os limites de tempo, espaço, identidade e ideologia, resultando na expansão e coordenação de actividades que, possivelmente, não ocorreriam através de outros meios (Bennett, 2003: 6).
As redes activistas em torno de causas têm sido abordadas de modo diferente por diversos autores, existindo quem nelas veja um “exército em rede” (Holstein, 2002, n.p.) ou uma “máfia inteligente” (Rheingold, 2002). Não obstante, Bennett chama a atenção para a dificuldade em aceitar em tais visões, mais bélicas ou aproximadas de grupos de interesse, quando a organização não institucional e a inexistência de uma hierarquia a respeitar constituem elementos essenciais para a compreensão do trabalho em rede das comunidades activistas (2003: 9 e segs.). Como tal, o autor propõe a abordagem apresentada por Gerlach e Hines denominada SPIN: falamos de redes que sejam segmentadas, policêntricas e integradas :
−segmentadas, dada a fluidez das suas fronteiras em relação a organizações formais, grupos não institucionalizados e activistas singulares, onde a cooperação é uma constante;
−policêntricas, uma vez não existirem líderes mas sim centros de coordenação das actividades das redes;
−integradas, dada a sua estrutura horizontal, pressupondo o activismo por parte de todos os membros.
O primeiro caso estudado de uma movimentação popular organizada através da Internet teve lugar em Seattle, em 1999, aquando da reunião da Organização Mundial
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do Comércio. O mundo assistiu não somente à manifestação de cerca de cinquenta mil pessoas que encheram as ruas de Seattle num protesto contra o neoliberalismo, mas também a protestos em 82 outras cidades, incluindo EUA, Europa e América do Sul (Bennett, 2003: 25; Moraes, 2001: 9).
Nestes casos, a Internet
IV. A comunicação em rede e os movimentos sociais
Um movimento social é a tentativa colectiva, por um determinado número de pessoas, de alteração de indivíduos ou instituições e estruturas sociais
(Zald and Ash, 1966).
O activismo parece hoje uma prática regular bem recebida pelos utilizadores das redes sociais: causas ambientais, defesa de direitos humanos ou reacção ante factos políticos são alvo de frequente atenção Mas será ele o reflexo de movimentos sociais ou simplesmente o somatório de um conjunto de actos individuais de protesto partilhados?
Muitos autores têm procurado definir aquilo a que, entre as várias acções colectivas possíveis, comummente se apelida de movimento social. Esta reflexão tem gerado, ora maior exigência na descrição dos elementos que compõem tal realidade (criando noções mais ou menos abertas), ora a negação do próprio conceito12.
Para Della Porta e Diani (2006: 20), os movimentos sociais compreendem
necessariamente três componentes: relações de conflito; redes intrincadas entre os actores envolvidos; e uma identidade colectiva, duradoura, que vai para além da vontade singular ou do mero evento delimitado no tempo.
Aquando da eclosão de um movimento social, os indivíduos
A definição de estratégias, a coordenação de iniciativas e a regulação das condutas individuais dependem de permanentes negociações entre indivíduos e organizações envolvidas, desenvolvidas através de contactos estabelecidos em redes informais. Esta
12A título de exemplo, é esta a posição de Dieter Opp, quando afirma preferir a noção de grupo de protesto à de movimento social,
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organização pode assumir diversos tipos e graus, mas em nenhum caso um indivíduo, por si só, representa um movimento dado que este último pressupõe a existência de vontades comuns de diferentes actores.
Finalmente, estes actores partilham uma identidade colectiva que traduz um compromisso com a causa para lá de um determinado número de protestos ou do cúmulo de algumas campanhas específicas (Snow, Soule & Kriesi 2007: 10/11). Assim, como afirmam Della Porta e Diani (2006: 23), a dinâmica de um movimento social
(…).
Ainda que uma Democracia representativa pressuponha representados os interesses dos cidadãos, não deixa de ser visível a desilusão destes últimos face às organizações políticas institucionalizadas, conduzindo ao desenvolvimento de novas formas de participação (Cardoso & Neto, 2003: 108). A par de ferramentas institucionais há muito utilizadas, como o trabalho prestado a partidos políticos ou a participação em reuniões politizadas, surgem novos meios de realização da política como assinatura de petições, boicotes, ocupações, manifestações, cortes de trânsito e greves não sindicalizadas (2006: 166), algumas das quais começam a ser, quando não iniciadas, pelo menos divulgadas através das redes sociais.
O conceito de protesto é, também ele, controverso. Constituindo uma das formas de acção colectiva, não é a única, nem possui necessariamente um intuito radical ou conflituoso, antes
Isto
O apoio de causas no quadro das redes sociais surge normalmente como resultado da acção de grupos formais, ou informais, com capacidade de mobilização de outrem, pois o seu sucesso depende da capacidade de passar a palavra e conseguir que terceiros desencadeiem uma acção que, pelo menos, resulte em apoio público de uma dada posição. O argumento que aqui podemos deixar é o de que os apoios a casusas nas redes sociais possuem características de relações de conflito, redes de menor ou maior integração entre os envolvidos e a formação de uma identidade colectiva. Este último ponto, que podemos considerar mais controverso, encontra eco quando a adesão passa a ser listada nos perfis individuais de cada um dos que dão o seu apoio e, como tal, parte partilhável da identidade pessoal face a terceiros.
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V. De Washington a Teerão, passando por Maputo: as redes entre o simbolismo e a acção
(Machado & Tijiboy 2003)
A utilização da Internet durante a campanha eleitoral de Barack Obama, em 2008, tem sido muitas vezes referenciada, sendo apontada como uma das principais razões do sucesso eleitoral do actual Presidente dos EUA. O site da campanha, a presença de Obama nas várias redes sociais – em particular no Facebook - a mailing list de apoiantes, entre outros aspectos, marcaram fortemente esta campanha, a qual se tornou de algum modo num modelo inspirador das várias candidaturas que desde então têm ocorrido um pouco por toda a Europa. (Plouffe, 2009). De alguma forma poderíamos argumentar que o modelo de campanha de Obama foi apropriado e reinventado no contexto
Perante as reacções populares e os sentimentos partilhados nas mesmas, pretendemos demonstrar não somente a existência de um verdadeiro movimento social transposto e desenvolvido através das redes sociais online mas também a existência de comunidades virtuais que o utilizam enquanto ferramenta de protesto. Aliás, a essencialidade da CMC é de tal modo evidente que os próprios visados pelo movimento não apenas censuram as informações veiculadas como chegam mesmo a inviabilizar as conexões das redes em momentos fulcrais da política interna.
Antes de mais, a relação de conflito instalada entre aqueles que detêm o poder e a autoridade institucionalizada (no presente caso o governo de Ahmadinejad e o Conselho dos Guardiães que validou a sua alegada vitória) e aqueles que pretendem afastar o mesmo poder de tais mãos, em prol de uma mudança de regime (o que inclui, claro está, não apenas Mousavi e todos os seus apoiantes políticos, como os cidadãos que, nas ruas de Teerão e nas redes sociais online, exigem a realização de um novo escrutínio).
A forma de organização de todos aqueles que pretendem a impugnação das eleições é, de facto, baseada numa rede informal: sem qualquer tipo de hierarquia
13 V.g.:http://translate.google.pt/translate?hl=pt- PT&sl=en&tl=pt&u=http%3A%2F%2Fwww.cbsnews.com%2Fstories%2F2010%2F06%2F10%2Fopinion% 2Fmain6568553.shtml&anno=2
14A Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH) declarou que cerca de duas mil pessoas foram detidas em apenas 15 dias de protestos:
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relação democrática de igualdade – o que, obviamente, nunca porá em causa o poder de iniciativa mais ou menos presente em cada um dos elos existentes. Mousavi poderá incitar ao protesto mas não dependem dele todas as iniciativas ligadas ao Movimento Verde. Quanto muito, constituirá um hub mas nunca poderá ser tido como um líder nas relações entre as comunidades que professam o interesse comum da Democracia e do pluralismo no Irão.
Tão importante quanto as anteriores referências, temos bem presente uma identidade colectiva: não falamos de um protesto passageiro, de uma manifestação única: estamos perante um sentimento colectivo, partilhado por massas, de que a justiça de um processo político deverá sobrevir. Para tal, esforços são reunidos, são criadas formas de comunicação entre todos os apoiantes (singulares ou colectivos), são desenvolvidos relatos pessoais para que, globalmente, todos possam acompanhar o desenrolar dos acontecimentos políticos e sociais no Irão.
A consciencialização crescente da essencialidade do mundo político virtual não tem lugar somente entre cidadãos: os próprios media tradicionais começam a prestar atenção aos conteúdos divulgados por comunidades virtuais, às petições que circulam através delas, às manifestações pacíficas que vão sendo organizadas por esta via. Na verdade, a atenção a mobilizações por parte daqueles não é muita: dedicados ao “agora” e esquecendo a contextualização da informação, as acções activistas que não consubstanciem protestos ou manifestações violentas raramente captam a atenção dos media, o que implica, não raro, um completo desconhecimento dos fins ou pretensões das organizações envolvidas por parte do receptor mediático (Bennett, 2003: 3).
O facto de o Twitter ter sido o canal de alerta para a fraca cobertura dos media tradicionais sobre o Movimento Verde
A tal acresce o facto de os interesses políticos e económicos nem sempre se afastarem do meio da Comunicação Social, chegando mesmo a coincidir com os dos opositores do movimento social (Moraes, 2001: 4; Castells, 2007: 250). É o caso iraniano: manipulando os media nacionais, que apenas podem veicular manifestações de apoio a Ahmadinejad, o actual líder chegou a proibir a cobertura dos protestos pelos media internacionais16. Zuckerman acredita mesmo que a razão pela qual os social media são
15V. g.: Twitter: Uma janela para o Irão:
16Perante o anúncio de uma manifestação, as carteiras profissionais dos jornalistas que trabalham para media estrangeiros foram declaradas inválidas por um período de 48 horas: http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/551691
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tão interessantes reside no facto dos meios de comunicação internacionais não possuírem correspondentes no terreno17.
Conscientes do dinamismo destas comunidades que utilizam os novos media como um dos principais veículos de interacção, as forças apoiantes de Ahmadinejad têm operado de duas formas distintas: não só censuram conteúdos e inviabilizam a utilização de sites, blogs18, redes sociais virtuais e até da rede telefónica móvel, como encarceram os responsáveis pela veiculação de informação que não seja vista como favorável ao regime19. E tal consciência não teve lugar apenas após o início dos protestos, pois de outro modo não se justificaria a suspensão do Twitter horas antes das eleições20.
Relativamente a este tipo de censura, os utilizadores de CMC têm procurado advertir para formas de difusão de informação, em especial quando utilizados os dois tags mais comuns: IranElection e gr88 (referência à Green Revolution e ao actual ano no calendário persa: 1388)21 22. Nestes casos,
Assim, parece inegável que o Governo Iraniano de Ahmadinejad teme os media em geral e as redes sociais online em particular: de facto, não se censuram pólos que não detêm qualquer poder no espectro interno ou internacional. Ainda que tal não advogue a essencialidade daquelas, parece inegável que a censura, em especial em momentos fulcrais da política, indiciam uma importância, nem que seja em potência.
Tal como em outros movimentos sociais ou demais acções colectivas, também no caso do Irão as redes sociais online têm sido fortemente utilizadas. Se atentarmos às mesmas, veremos um vasto conjunto de comunidades virtuais, partilhando uma finalidade comum, numa relação de igualdade e lealdade entre os seus elementos, não recorrendo a quaisquer hierarquias; onde o espaço é muitas vezes ultrapassado,
Um caso demonstrativo da importância da rede social online Twitter teve lugar a 15 de Junho de 2009, quando se colocou a possibilidade de suspensão do funcionamento da rede para a sua manutenção. Ante a preocupação sentida pelos utilizadores iranianos e
17V. g.: http://www.businessweek.com/technology/content/jun2009/tc20090617_803990.htm
18Ante a organização de um protesto estudantil, “as autoridades bloquearam a maioria dos sites de estudantes”: http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/551691
19“Na sequência dos protestos contra a reeleição de Mahmud Ahmadinejad , quatro mil pessoas foram detidas, entre elas, mais de cinquenta bloguers e jornalistas”: http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/541076
20V.g.:
21Os dois únicos hashtags considerados legítimos e utilizados pelos bloggers neste contexto são iranelection and #gr88; os demais podem induzir à diluição da conversação
22A título de exemplo: ao acedermos à página de Mousavi no Twitter, podemos ler: #iranelection In case
of the arrest of any of the Green movement’s leaders, take to the streets in Tehran: Enghelab to Azadi. Tell everyone. (10:50 PM Dec 30th, 2009)
23V.g.:
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os seus seguidores por todo o mundo, dado terem decorrido apenas dois dias desde a divulgação do resultado das eleições e do início dos protestos, os responsáveis pelo Twitter optaram por adiar o procedimento24. Tal preocupação parece plausível quando observamos que uma das mais populares páginas do Twitter, contando com mais de 25.631 seguidores, dedicada ao candidato reformista25. A título de curiosidade, refira- se que Mousavi detém igualmente um perfil no Facebook26, onde reúne 3.966 contactos, um canal no Youtube27, cujas entradas chegam às quase 70.000 visualizações, e uma página no Flickr, onde reúne fotos dos protestos que têm lugar em seu nome28.
Fig. II - Perfil de Mir Hossein Mousavi no Facebook
Fonte: http://www.facebook.com/home.php?#!/mousavi?ref=search
Não obstante, vários autores defendem não nos encontrarmos perante uma verdadeira revolução dos meios utilizados para a concertação dos movimentos sociais, mas antes perante uma crescente utilidade para a visibilidade global, por vezes apenas fruto de um determinado contexto internacional.
Acreditamos ser impossível justificar todo o desenvolvimento e coordenação de um movimento social através de redes online. Mishra advoga que o número de cidadãos que utilizam este tipo de redes é demasiadamente parco quando comparado com o tamanho dos protestos a que temos vindo a assistir29. E se é verdade que o cidadão se encontra munido de meios que permitem o relato pessoal de experiências e o acesso a todo o tipo de informação e valores partilhados por determinadas comunidades (Castells, 2007: 256), não é menos verdade que nem todos terão acesso a estas plataformas. Deve, contudo, ser salientado o peculiar caso iraniano: com uma
24V.g.: http://www.businessweek.com/technology/content/jun2009/tc20090617_803990.htm
25V.g.: http://twitter.com/mousavi1388
26V.g.: http://www.facebook.com/mousavi1388
27V.g.: http://www.youtube.com/mousavi1388
28V.g.: http://www.flickr.com/photos/mousavi1388
29V.g.: http://www.businessweek.com/technology/content/jun2009/tc20090617_803990.htm
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população muito jovem (média de 26,4 anos de idade30), mais de 23 milhões de iranianos possuíam ligação à Internet em 2007 e 29.77 milhões tinham telemóvel31 – números relevantes quando a população iraniana em 2008 era de pouco menos de 66 milhões (De Tolledo, s/d: 4).
Toda esta análise deve ser moderada pelo facto de que, como acontece nas demais comunidades online, muitos dos participantes são meros espectadores que aderem a um grupo do Facebook ou acolhem um contacto no Twitter sem, de facto, materializarem esse apoio no mundo da política offline (Chong, 2009: 18). É mais razoável afirmar que apenas alguns dos cidadãos utilizam o Twitter para a organização de protestos no Irão, sendo os blogs, SMS e mesmo a comunicação offline meios mais comuns para a organização interna.
Não devemos esquecer que nem todos os envolvidos se mostram interessados numa participação activa nas redes sociais online: os “coleccionadores de perfis”, que raramente procuram a interacção com os seus contactos, são disso exemplo. A contrario, também temos verdadeiros “promotores de debate público”, como já notado por alguns autores:
Contudo, a mobilização e a publicitação internacional dos acontecimentos já muito deverão àquela rede social, permitindo igualmente a ligação com os exilados políticos (Chong, 2009: 18): como afirma Correia, “um dos mais importantes elementos da comunicação mediada por computador é a sua habilidade para permitir o diálogo de muitos com muitos e a sua capacidade para facilitar comunicação entre grupos e indivíduos geograficamente dispersos” (Correia, s/d: 4).
Mas nem todos os resultados na utilização desta e de outras rede virtuais são positivos: o proliferar sem limites da informação corre o risco de, em vez de informar, criar o caos informativo. No fundo, falamos de uma confusão generalizada e da emergência de certas formas de autismo (Rheingold, 1993), na multiplicação de visões pessoais, de informações pouco fidedignas ou com intuitos menos claros que poderá conduzir àquilo que Correia apelida de “ausência de reflexividade paralisada pelo novo valor fetiche que constitui a velocidade em tempo real” (s/d: 6). A esfera pública enquanto concretização
30V.g.: http://www.middleeastdirectory.com/cs_iran.htm
31V.g.: http://www.middleeastdirectory.com/cs_iran.htm
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democrática encontra, de facto, um óbice: o chamado fosso digital, o sentido crítico que nos permita deslindar a informação do ruído ou o conhecimento das “leituras baseadas apenas num qualquer senso comum”
VI. Até onde chegam as vozes?
Como vimos, o debate e o fluxo de informação parecem constituir, por si só, uma mais valia. Não obstante muitas das opiniões proferidas nas redes sociais na Internet pretenderem a alteração do status quo, quererão ser ouvidas pelos poderes em geral: mas serão consequentes? Silveirinha acredita que não: “na
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O Movimento Verde iraniano representa também um exemplo prático da adopção de um modelo comunicativo em rede, em que múltiplas tecnologias de mediação são articuladas entre si e em torno de um dado objectivo. Podemos assim dizer que no contexto de protesto existem representações sobre o papel que cada media poderá ter
–i.e. as matrizes de media (Meyrovitz, 1985) – no atingir de objectivos de autonomia política. A par dessas representações há estratégias de autonomia comunicativa baseadas em dietas de media (Colombo, 1993) que combinam diferentes redes tecnológicas com o objectivo de gerir redes sociais, seja através do bluetooth do telemóvel, da rede de telemóveis ou da Internet. O caso iraniano aqui analisado demonstra também a predominância da rede social sobre a rede tecnológica, como é exemplificado pela adopção do bluetooth após o corte de envios na rede telefónica para o uso de SMS: nesse contexto a população usou o bluetooth para distribuir vídeos e flyers digitais em locais públicos como os cinemas, parques ou transportes. De algum modo as mesmas lógicas podem ser detectadas nos protestos em Moçambique de Setembro de 2010 onde, após o anúncio do aumento de preços de bens essenciais como o pão, uma mensagem de SMS começou a circular apelando ao protesto. Essas mensagens acabaram por se traduzir em protestos e depois conflito com as autoridades nas ruas de Maputo e de outras zonas do país, tendo resultado em vários mortos. Como forma de gestão desse conflito aparentemente o governo ou as próprias empresas, antes de anunciar o não aumento de preços, bloquearam durante algumas horas o envio de SMS permitindo apenas a comunicação de voz e de dados de acesso à Internet. Os protestos moçambicanos permitiram também o surgir de práticas informativas baseadas na articulação entre jornais e redes sociais, como no caso do jornal @verdade. Durante as horas de maior tumulto nas ruas de Maputo, um jornalista do @verdade e amigos do Facebook, tanto do jornal como do jornalista, trocavam a partir da rua via Blackberry ou de computadores de casas e escritórios informação sobre os locais seguros e sobre a dimensão dos protestos em diferentes zonas da cidade. O jornalista mediava e dava também a quem estava no Facebook a certificação, ou validação, da informação que ia chegando. Por sua vez, esse espaço de partilha no Facebook levou ao surgir de uma campanha pela paz em Moçambique e foi também através do @verdade nessa rede social que se questionava sobre quem tinha um dado operador e conseguia ou não enviar mensagens.
De algum modo, o caso moçambicano
O que os três exemplos geográfica e socialmente diferenciados (EUA, Irão e Moçambique) nos revelam é um presente onde germina, independentemente de onde estamos ou de onde olhamos, um espaço de Comunicação em Rede e é pensando a partir desse paradigma que poderemos compreender como se apoia causas e se protesta no nosso tempo.
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