OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
ISSN:
Vol. 2, n.º 1 (Primavera 2011), pp.
A DISPUTA DO ESPAÇO PELA EUROPA – UM NOVO DESAFIO
Ana Baltazar
Major da Força Aérea Portuguesa e Professora no Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM).
Resumo
Neste artigo
De facto, o Espaço, se por um lado, tem características específicas – recursos naturais, recursos artificiais (por exemplo, satélites), dimensão, abrangência relativamente à Terra - que o tornam alvo de disputa comercial e militar, podendo tornar inevitável uma escalada ao armamento espacial; por outro, existe a necessidade de acordos e cooperação para que seja possível desenvolver um tipo de tecnologia extremamente complexa e que requer recursos humanos, materiais e financeiros avultados.
Quer se associe a capacidades espaciais militares, quer a capacidades espaciais civis,
No final deste ensaio
europeia interfere na Segurança Internacional?.
Competição; Cooperação; Espaço; Segurança; União Europeia
Como citar este artigo
Baltazar, Ana (2011). "A disputa do espaço pela Europa – um novo desafio”. JANUS.NET e- journal of International Relations, Vol. 2, N.º 1, Primavera 2011. Consultado [online] em data da última consulta, observare.ual.pt/janus.net/pt_vol2_n1_art3.
Artigo recebido em Abril de 2010 e aceite para publicação em Maio de 2011
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A disputa do espaço pela Europa – um novo desafio
Ana Baltazar
A DISPUTA DO ESPAÇO PELA EUROPA – UM NOVO DESAFIO
Ana Baltazar
Introdução
Este artigo faz parte de uma tese de mestrado, realizada em 2009, com o mesmo título e do mesmo autor. Nessa tese, para além do estudo da União Europeia (UE),
“A Disputa do Espaço pela Europa – Um Novo Desafio“ induz à reflexão porque é um facto que as sociedades modernas estão hoje dependentes dos meios espaciais e das suas aplicações. Cada vez mais, há mais países a colocarem satélites em órbita e cada vez mais, há mais países a terem satélites fabricados e lançados por terceiros. Esses satélites, genericamente, servem multifunções civis e militares que podem ir desde a facilitação nas comunicações e previsão meteorológica, até à obtenção de informações precisas para navegação. Derivado desta tomada de consciência - da dependência de meios -
Tipicamente, em conflito, os meios espaciais disponíveis são inúmeros e bastante variados,
Como se verá ao longo deste artigo, ter capacidades traz poder e ter poder traz capacidade de influenciar as decisões na cena internacional. Mas ter meios e não ter a capacidade de os defender
Assim, o assunto Espaço tem uma dimensão civil (ligada aos diversos vectores da segurança mundial, ao bem estar das populações, à evolução científica da humanidade)
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e uma dimensão militar (que dá apoio à Defesa e suporta um elevado número de acções militares) que, por vezes, se fundem na questão do duplo uso.
Éessencialmente em torno destes pontos que se aborda o tema “A disputa do Espaço pela Europa – Um novo desafio”. Este desafio, para a Europa, é analisado em termos de oportunidades/vantagens aos vários níveis: Económico, Militar e Político.
Para elaboração deste artigo
que forma a exploração espacial europeia interfere na Segurança Internacional?
1. O Espaço
a.Definição de Espaço
Definir ou delimitar os meios mar e terra – ou mesmo o meio aéreo em relação aos outros dois - terá sido simples na medida em que a separação, entre uns e outros, é fisicamente visível. No caso do meio Espaço, a situação tem outros contornos, de tal forma que, na comunidade internacional, ainda não se reuniu consenso para a definição de espaço exterior (ou espaço sideral). Este facto
Neste artigo
O conhecimento das órbitas e da mecânica orbital são vitais, uma vez que os objectos, depois de colocados em órbitas estáveis, não necessitam, praticamente, de combustível ou energia para se manterem (apenas precisam de alguma energia para corrigir a órbita em relação a algumas perturbações).
1A dúvida favorece uma certa flexibilidade política e legal no que concerne ao sobrevoo de objectos espaciais no espaço aéreo (ou não) de uma outra Nação.
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b.Objectos no Espaço
Como atrás se mencionou, embora se esteja numa fase embrionária do conhecimento das potencialidades espaciais, já existem inúmeras formas de exploração do mesmo e já se faz uso de informação preciosa que é conseguida através de meios colocados no Espaço. Essa informação é obtida através de diversos tipos de equipamentos que podem ir desde os satélites, às sondas ou às estações espaciais tripuladas.
Relativamente aos satélites,
Em 31 de Dezembro de 2007, estavam identificados, como estando em órbita, 3.2082 satélites, de variadíssimos países (Portugal tem apenas um totalmente seu, lançado em 1993, actualmente inoperativo), sendo a Rússia aquela que maior número possui (42%) logo seguida dos EUA (31%). A Europa apenas detém 7% dos satélites (MEHURON, 2009: 60).
As sondas (num total de 119) são naves espaciais não tripuladas, com a finalidade de explorar, por exemplo, outros planetas. Neste caso são os EUA que têm em maior número (51%), seguidos da Rússia (com 29%) e da Europa com 7% (MEHURON, 2009: 60).
As estações espaciais são estruturas que foram transportadas para o Espaço, por outros meios, sendo concebidas para terem seres humanos a bordo. Foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, nos anos 70, o primeiro país a desenvolver este tipo de programas, nomeadamente, através do Salyut. Actualmente, e desde Outubro de 2000, existe no Espaço a Estação Espacial Internacional que, em 15 Junho de 2010, cumpriu a sua vigésima quarta expedição (a bordo com um russo e dois norte- americanos).
Para além dos objectos atrás abordados, existe também, em grande número (identificados cerca de 30.342 objectos3), o lixo espacial. Estes objectos são de capital importância, na medida em que podem provocar sérios danos nos satélites em órbita, nas estações orbitais e nos próprios astronautas. Uma das formas possíveis dos satélites se protegerem, em parte, do lixo espacial é através de blindagens protectoras, contudo estas medidas tornam os satélites mais pesados e com maior custo.
c.Tratados
Do ponto de vista jurídico, o Espaço, em contraste com o espaço aéreo, é aberto a todos
A Organização das Nações Unidas (ONU) tem vindo a desenvolver um trabalho intenso, em termos de legislação enquadrante, para as questões relacionadas com a utilização do Espaço, com particular ênfase na tentativa da não militarização do meio. O Comité para a Utilização Pacifica do Espaço Exterior, com sede em Viena, é o único fórum para
2Não estando, necessariamente, todos operacionais.
3“SATCAT Boxscore” http://www.celestrak.com/satcat/boxscore.asp (consultado em 8 deJunho de 2010). 32
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o desenvolvimento dessa legislação. Desde a sua criação, já concluiu cinco instrumentos legais e cinco conjuntos de princípios que regulam uma série de regras relativas, por exemplo, à apropriação do espaço exterior e às actividades de controlo de armas (UNOOSA, 2007). De uma forma geral, em todos eles,
O Tratado para o Espaço Exterior (TEE) é o primeiro tratado a servir de referência para a análise jurídica das actividades espaciais. Este estabelece os princípios jurídicos fundamentais e as proibições relevantes para o Espaço. Nos seus dois primeiros artigos
édefinida a estrutura básica, declarando que as nações possuem a liberdade de investigação científica no espaço exterior e que o Espaço e os objectos exteriores celestes (como a Lua) não são propriedade. Os artigos 3º e 4º praticamente restringem as actividades militares espaciais. No mesmo tratado
d.Astropolítica
A Astropolítica é conceito relativamente recente que relaciona o espaço exterior e a tecnologia que lhe está associada, com o desenvolvimento de orientações políticas, militares e estratégicas (Dolman, 2006: 15).
Neste artigo,
Este autor defende também que a militarização do Espaço através de uma força militar capaz de manter o controlo efectivo do mesmo, reconhecida, não arbitrária e eficiente, poderá, por um lado, pelo efeito de desencorajamento, evitar a corrida ao armamento espacial; por outro, como os programas espaciais militares são a coluna vertebral de muitas operações espaciais civis (por exemplo, capacidade de lançamento), resultar em vantagens económicas em áreas como as telecomunicações, a navegação e os satélites meteorológicos (Dolman, 2006: 162). No seu modelo considera que a Astropolítica se divide em quatro regiões astropolíticas que se
No modelo proposto por Dolman
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astropolíticas, poderão utilizar formas de coacção do tipo económica, relevantes em áreas referentes, por exemplo, às rotas comerciais ou ao controlo de recursos; ou do tipo militar, relativamente a operações na Terra. Nos conflitos mais recentes, ter o controlo de satélites de comunicações, observação e localização permitiu aos norte- americanos e seus aliados terem vantagem nas operações levadas a cabo.
2. A Europa
a.Estratégia da Europa para o Espaço
A Europa reconhece que o Espaço tem uma dimensão estratégica importante (ESDA, 2008). Em particular, os meios espaciais são centros de gravidade militares e, como tal, deverão ser protegidos, na medida em que se tornam potenciais alvos. Um ataque ao sistema espacial de um país poderá tornar as suas Forças Armadas cegas, surdas e mudas. Mas, na verdade, a UE não está em condições – nem provavelmente tem interesse - de ser militarmente predominante no Espaço. Desta forma, a armamentização não será uma opção viável, quer pelos custos associados, quer pela controvérsia que geraria internamente. Assim, e
Este passo europeu é uma forma de demonstrar que a Europa é um actor estratégico, significativo, nas questões do Espaço.
b.Capacidade espacial europeia
Actualmente, dos 376 satélites comerciais operacionais em órbita, a França foi responsável pelo lançamento de 122 (Figura A), ou seja, 32% (33% foram lançados através dos russos e 24% dos
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Figura A – Satélites lançados pela França
Fonte: (UCS, 2009)
No que diz respeito aos satélites que pertencem a países da UE - não necessariamente lançados ou produzidos por estes - existem actualmente operacionais 114 satélites de um total de 888. Esses satélites estão, a maior parte, em órbitas LEO (43,9%) e GEO (45,6%) uma pequena minoria nas MEO (2,6%) e na HEO (7,9%) (Figura B).
Figura B – Satélites europeus lançados, por classe de órbita
Fonte: (UCS, 2009)
Da Figura C
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(42%), contudo
Figura C – Satélites europeus lançados, por tipo de utilizadores
Fonte: (UCS, 2009)
Desses 114 satélites operacionais europeus, apenas 15 (entre 1990 e 2009) são da European Space Agency (ESA) ou em parceria (um de pesquisa lançado na HEO com a China, um científico lançado na LEO com os EUA e um de física espacial lançado na HEO com os EUA e a Rússia). Como se observa na Figura D são satélites essencialmente governamentais e nenhum militar.
Figura D – Satélites pertencentes à ESA
Fonte: (UCS, 2009)
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Da análise realizada às capacidades espaciais europeias,
c.Análise SWOT
Neste parágrafo,
1)Forças
Ambição política:
−Em ganhar e manter acesso independente ao Espaço
−Ter influência na cena internacional espacial
Parcerias EDA/ESA
Vasta gama de programas, com o associado domínio de altas tecnologias:
−Científicos
−Meteorológicos
−Navegação (Galileo)
−Ambientais (Global Monitoring and Environmental Security - GMES)
Estação de lançamento própria na Guiana Francesa
Competitiva no sector comercial
Capacidade de monitorização meteorológica e de controlo ambiental
Indústria espacial
2)Fraquezas
Assimetria de capacidades entre os diferentes países (França e Alemanha
Não possuem capacidade de efectuarem missões espaciais tripuladas
Pouco competitivos no sector de lançamentos
Falta de identidade europeia
Ausência de doutrina de Segurança Europeia para o Espaço
Países europeus com programas espaciais autónomos
Diversidade e divergência de interesses a interferirem na decisão de projectos comuns (por exemplo, nos mecanismos de
Capacidade económica/investimento
Aceitabilidade pública em investimentos associados a programas espaciais de duplo uso
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3)Oportunidades
Afirmação internacional:
−Prestígio
−Credibilidade
−Intervenção nas decisões políticas mundiais
Controlo das capacidades dos outros países através da cooperação com esses
Desenvolvimento tecnológico e económico
Tecnologias de duplo uso
Complementaridade de capacidades e informação
Projecto Galileo
Parcerias através de:
−Partilha de custos
−Partilha de conhecimento
−Partilha de informação
Estimular a economia global
Emprego no sector espacial
4)Ameaças
Duplo uso pela dificuldade de controlo
Dependência tecnológica de terceiros
Dependência no acesso à informação
Desconhecimento das intenções de alguns actores
Armamento com capacidade de destruição de meios espaciais
Lixo espacial
Transferência de conhecimento para potenciais adversários comerciais ou políticos
Dificuldade de entendimento mundial sobre os mecanismos de
China, Rússia e EUA a nível comercial (competição) e de segurança (possibilidade de controlo e destruição de capacidades espaciais)
Da análise SWOT
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A Europa para enfrentar desafios que envolvam o Espaço poderá combinar vários elementos que lhe garantam vantagens diplomáticas, económicas, militares e culturais. Designadamente: ter acesso ao Espaço, ser competitivo, ter sistemas globais de navegação, ter capacidade de exploração do Espaço, ter capacidade científica espacial e ter capacidade de gestão de tráfego espacial. Relativamente à segurança há, de facto, dois tipos de ameaças possíveis: por um lado, a não intencional (incidentes e acidentes através, por exemplo, de lixo espacial); por outro, o armamento espacial. A UE, ao desenvolver as suas capacidades e potencialidades espaciais pode e deve ter influência na discussão das políticas espaciais internacionais de forma a garantir um meio pacífico no Espaço.
3. A Disputa do Espaço
a.O desafio Europeu
O estudo do desafio espacial para a UE pode ser abordado sobre diversas perspectivas: a militar, a económica e a política.
Perspectiva militar
Garantir que os sistemas espaciais militares existentes estão seguros e que servem as necessidades não é um objectivo, cem por cento, tangível, mas é definitivamente um desafio face à sua importância e relevância. Ainda para mais, quando a ameaça é imprevisível dada a variedade de situações que podem conduzir à danificação ou perda desses sistemas. O que pode ajudar a evitar ou a controlar estas situações, passará por ter sistemas de
Numa perspectiva militar a UE deverá promover a cooperação, na medida do possível, no desenvolvimento de tecnologia espacial militar. A cooperação interna permite reduzir os custos e a externa permite, para além dessa redução, a partilha de tecnologia e o conhecimento daquilo que os outros – por vezes, adversários ou competidores - estão a desenvolver. Assim, numa organização onde não há interesse em promover conflitos, é com a cooperação militar que, de certa forma, se podem controlar os outros actores. Esta postura, bem coordenada, poderá servir os interesses da UE na sua política de segurança e defesa materializada na PESD, nas missões que esta desenvolve, em particular nos conflitos fora de área em que o suporte dos meios espaciais é determinante para o cumprimento da missão,
Perspectiva económica
A abordagem da UE é mais orientada para o mercado. A tecnologia espacial tem um papel chave no desenvolvimento da economia nacional e, por isso, deverá fazer parte da ambição da União. Como já abordado, os programas espaciais levam ao desenvolvimento tecnológico, por sua vez a tecnologia leva à industrialização e a industrialização leva ao desenvolvimento económico. Tornar o sector espacial
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competitivo é um objectivo da UE e de alguns países que a constituem. Isso consegue- se recorrendo, como observado anteriormente, a cooperações com outros países, mas,
Étambém importante garantir orçamentos que suportem projectos complexos e ter o acordo dos vários países da UE. Assim, esta organização deve procurar projectos que sejam necessários à organização e que sejam exequíveis no prazo e com os custos estabelecidos de início. Este é um desafio que se prende, também, com a credibilidade da organização no sistema internacional.
Perspectiva política
O primeiro desafio político que se coloca à UE é o de integrar as políticas individuais de cada Nação, produzindo um projecto político espacial comum - aceite e seguido por todos - sem projectos individuais paralelos. De facto, as tendências actuais seguem duas vias: por um lado, a política espacial é nacional, ou seja, está associada à política de cada país, sendo a política de defesa ainda mais nacionalista; por outro, as tecnologias espaciais civis têm vindo a ser desenvolvidas segundo uma aproximação europeia comum, onde a ESA tem tido um papel preponderante ao chamar a si grande parte dos projectos desde a sua coordenação à sua produção. Obter uma política espacial comum europeia – civil e militar - permitirá aumentar as capacidades globais europeias; partilhar custos e eliminar ou evitar sistemas espaciais em duplicado (o mesmo tipo de função mas pertencentes a países europeus diferentes). Para além disso, o contributo dos diversos países europeus – com diferentes conhecimentos e áreas de interesse – aumenta o contributo global levando a que se possa desenvolver mais e melhor. Em resultado disso, a UE pode diminuir a sua dependência relativamente a outros actores. O caso do sistema Galileo é disso um exemplo, ou seja,
Depois é necessário identificar o que é essencial e quais são as capacidades mínimas que a UE considera dever ter no Espaço para questões de segurança e defesa. Sem dúvida que a UE tem de ter capacidade independente, pelo menos para comunicar, observar, localizar, obter informações e
b.A Segurança Internacional
Neste artigo tem vindo a
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espacial ajuda a definir o conceito de segurança da UE, não só no que contribui para a segurança dos cidadãos, mas também para o rumo que se quer dar no desenvolvimento de tecnologia.
A UE nos seus documentos sobre tecnologia espacial toma uma abordagem mais orientada para o meio civil e menos para o meio militar. A própria ESA tem, no seu preâmbulo, que a sua missão tem fins pacíficos. E a política europeia de segurança assenta no princípio de “ajudar na segurança e defender a estabilidade” que está, por seu lado, em sintonia com a orientação política de não agressividade no uso de tecnologia. Contudo, são programas como o GMES, relacionados primeiramente com a segurança em geral dos cidadãos, que aproximam a política espacial europeia – na sua vertente civil – à defesa europeia. Este tipo de desenvolvimento mostra como as novas tecnologias espaciais representam um novo passo no processo político onde, para além de se aumentarem as capacidades,
Écerto que os governos europeus necessitam de novas capacidades militares para cumprir todos os objectivos da PESD, nomeadamente para responder às missões de Petersberg. A tecnologia espacial poderá ser uma forma de o conseguir sem ter que desenvolver grandes capacidades, ou seja, sem ter que investir.
Relativamente à tecnologia espacial surgem, à UE, três cenários possíveis de actuação: primeiro, pode
Contudo, o que será de todo aconselhável é que os europeus mostrem internacionalmente que têm uma posição e uma identidade no que diz respeito à segurança espacial, em sintonia com os seus valores, objectivos e políticas. Mas é também essencial que o papel que tiverem seja guiado pelas intenções expressas na Estratégia de Segurança Europeia, ou seja, baseado no multiculturalismo, na cooperação, na diplomacia, na combinação entre meios militares e civis e na promoção de Estados de Direito.
De facto, a UE ao longo dos últimos anos tem tido um pensamento sério e independente sobre a segurança espacial. Esta preocupação advém de uma consciência de que, para já, não tem capacidade para se tornar predominante, em termos militares, no Espaço e, provavelmente, não terá, sequer, essa intenção. Contudo, isso não significa que não tenha meios militares no Espaço, pois alguns países europeus desenvolveram satélites militares (de observação, de telecomunicações, entre outros),
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na certeza porém de que as armas espaciais não fazem parte da estratégia da União. Uma estratégia que levasse à armamentização seria demasiado radical para se desenvolver a nível nacional e demasiado delicada para se desenvolver em cooperação.
De uma forma geral parece prudente proteger os meios, bem como travar a propagação de qualquer tecnologia que possa ser potencialmente uma ameaça para os meios espaciais. Qualquer tipo de tecnologia que seja desenvolvida para atacar meios espaciais é extremamente prejudicial para a UE ao poder destruir satélites civis e militares. Mas o desenvolvimento de capacidades espaciais alternativas às já existentes, principalmente
Em suma, e respondendo à questão de partida “De que forma a exploração espacial europeia interfere na Segurança Internacional?”
−Desenvolvimento de propostas europeias de acordos internacionais, em formato de Tratado, Convenções e/ou Códigos de Conduta que, essencialmente, favoreçam a clareza das actividades espaciais, promovam o controlo do lixo espacial e favoreçam as parcerias;
−Identificação de uma política espacial comum aceite pelos diferentes países da UE que levará a uma identificação clara de quais são as capacidades que se pretendem desenvolver e em que moldes;
−Estabelecimento do maior número de parcerias possíveis, com outros países e até organizações (NATO), que possam contribuir para o aumento de conhecimento tecnológico e, mesmo contribuir para o conhecimento das capacidades de parceiros (pode diminuir o risco de agendas escondidas);
Desenvolvimento de esforços no sentido das nações financiarem os projectos que se considerarem essenciais para a Segurança da União e, consequentemente, da Segurança Internacional.
As quatro linhas de orientação devem, em conjunto, dar a robustez técnica que a UE necessita para, primeiro, poder ser independente, em termos tecnológicos, do grande poder
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Figura E – Representação gráfica para a Segurança no Espaço
Acordos Internacionais
Política Espacial Comum
Parcerias
Investimento
Robustez Técnica
ESPAÇO SEGURO
Poder Espacial
Robustez Política
Com este artigo
Conclusões
O artigo em apreço incidiu sobre o tema “A disputa do Espaço pela Europa – Um novo desafio”. Das leituras realizadas,
adeterminados recursos, ao
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Actualmente, ter tecnologia espacial, saber tratar a informação recebida e
A UE, actor central deste estudo, tem capacidades espaciais relevantes no contexto internacional. Contudo, algumas dessas capacidades são pertença dos países que a constituem e não são capacidades, efectivas, daquela União.
Esta diferente abordagem dos países europeus, em particular dos membros da UE, leva a que haja duplicações de capacidades e limitações no desenvolvimento de determinados programas por falta de verbas ou de consenso quanto à necessidade. Parte da razão porque isto acontece está relacionada com o facto destes países lidarem com a sua segurança de uma forma autónoma e não numa visão europeia global.
Os actuais projectos da EU - sistema de navegação Galileo, sistema de vigilância ambiental GMES e desenvolvimento dos lançamentos - tornam a UE tecnologicamente independente de outros países. A independência é, claramente, vantajosa em termos de segurança – ainda que sejam programas civis – mas, também, em termos económicos ao permitir o desenvolvimento e o crescimento interno da organização. Estas novas capacidades que advêm da tecnologia espacial tornam a organização economicamente mais forte e podem dar à UE o Poder que necessita para ser influente nas decisões espaciais.
A disputa a que se assiste, não é, pelo menos para já, uma disputa armada, mas é uma disputa económica e política. A UE (ou os países que a constituem) tem, de uma forma geral, objectivos primários que a motivam a investir nestas áreas tecnológicas, tais como: adquirir independência tecnológica,
O desafio da UE está, primeiro, em ter uma política espacial comum europeia civil e militar. Depois disso, esta organização deve identificar o que é essencial e qual a estratégia a adoptar para o conseguir.
Em suma, e respondendo à pergunta colocada no início do artigo, é através de acordos internacionais, de uma política espacial europeia comum, de parcerias e de financiamentos que a UE poderá contribuir para um Espaço livre e pacífico. Assim, tal como com o armamento nuclear, os efeitos causados pela utilização de armamento espacial podem ser excessivos numa altura em que a exploração científica ainda se sobrepõe à exploração militar.
Bibliografia
Livros
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