feita pela verdade, mas pela opinião, que finalmente se identifica com a ilusão. E a
opinião é uma das bases indispensáveis do poder (Arendt, 1995: 17).
A importância dos mitos, símbolos, valores e crenças não reside apenas em si mesmos,
mas no que eles evocam, no significado que lhes é dado. Mitos, símbolos e rituais são
uma característica essencial de todas as sociedades; as cerimónias periódicas são
necessárias para afirmar as necessidades existenciais da sociedade e os valores morais
com significado ideológico (Fortes & Evans-Pritchard, 1981 [1940]: 52-56; Hobsbawm,
2002). A manipulação dos mesmos para servir objetivos políticos desempenha uma
função-chave, uma vez que são uma ferramenta útil para aumentar a legitimidade da
elite política e da liderança nacional.
Como já foi observado por Fortes & Evans-Pritchard (1981 [1940]: 52), “a coesão e a
persistência das sociedades africanas [tradicionais e nacionais] dependem em grande
parte da capacidade de todos os membros sentirem a sua unidade e perceberem o seu
interesse comum em mitos e símbolos". As opiniões religiosas, e assim os valores e
crenças que lhe estão relacionados, desempenham um papel importante na convicção
política das pessoas.
Além disso, a capacidade de resposta pública à manipulação de símbolos aumenta
quando as pessoas estão vulneráveis à angústia político-económica ou quando se sentem
incapazes de lidar com os seus problemas (Hayward & Dumbuya, 1983). A tese da
segurança humana (secularização) de Inglehart e Norris (2011) faz a ponte entre o nível
de religiosidade e o nível de segurança existencial entendido pelos membros de uma
determinada sociedade. Essencial para o bem-estar, a segurança humana designa o
estado de vida livre de vários riscos, perigos e vulnerabilidades. A religiosidade refere-
se, nesse sentido, à necessidade de uma origem suprema para enfrentar os riscos que
ameaçam a vida, com os quais se tem de lidar diariamente. Acreditar num ser metafísico
tem um papel funcional para os que vivem em condição vulnerável, pois ajuda a reduzir
a ansiedade pela sobrevivência.
O argumento central da tese da modernização é que as mudanças económicas, políticas
e culturais se realizam em conjunto de acordo com padrões coerentes. Existe uma ampla
gama de valores culturais intimamente ligados ao nível de desenvolvimento económico
de uma determinada sociedade (Inglehart, Basañez & Moreno, 1998), enquanto outros
fatores, como a educação formal, comunicação de massas e estrutura da força de
trabalho, são simplesmente influentes nos padrões de mudanças culturais.
No entanto, a religiosidade é sensível a outros elementos da sociedade, como a cultura
religiosa e o desenvolvimento socioeconómico (Inglehart, Basañez & Moreno, 1998).
Além disso, os padrões de mudanças culturais dependem muito do nível económico de
um país; por outras palavras, a dimensão política da cultura muda juntamente com o
sistema económico. As expectativas políticas e sociais de populações que vivem em
países mais pobres e Estados falhados estão primordialmente associadas a pedidos de
segurança, ao invés das pretensões de cidadania participativa, inclusiva, ou direitos do
indivíduo