Em Cabo Verde, as atividades clandestinas do PAIGC começaram a surgir na década de
1960. Criadas as condições, a 23 de janeiro 1963 inicia-se a ação armada no território
da Guiné-Bissau, tendo o PAIGC declarado guerra a Portugal (Coutinho, 2015). Tal só
aconteceu porque para Cabral, as propostas do partido não tiveram aceitação
favorável, nem da parte do Governo português, nem da parte da ONU e, por esse
motivo as forças patrióticas “passaram a uma acção generalizada contra as forças
colonialistas em janeiro de 1963” (Cabral, 1974c: 15).
Passados dez anos, mais concretamente a 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral é
assassinado em Conacri, vítima de uma conspiração no seio do PAIGC, com o apoio da
Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), que pretendia fomentar a divisão do
partido (Pereira 2003). A luta pela autodeterminação continuou e, no mesmo ano,
elegeu-se a primeira Assembleia Nacional Popular (ANP) nas regiões libertadas da
Guiné, que, a 20 de setembro, declarou a independência da nova República da Guiné-
Bissau, reconhecida pela ONU e por mais de setenta Estados soberanos, que
legitimaram o PAIGC como único e autêntico representante do povo e, que de imediato
propôs a Portugal a retirada das suas forças militares do território da Guiné (Almada,
2011).
Contudo, a independência de Cabo Verde não foi oficializada no mesmo ano, isto
porque segundo o relatório do PAIGC acerca da situação do país, a luta encontrava-se
ainda no plano de ação política clandestina e os dois países encontravam-se
submetidos a um estatuto distinto, resultado de uma dinâmica diferente da ação
perpetrada pelo partido em cada um dos dois territórios, pois na Guiné-Bissau já havia
sido instituída livremente uma Assembleia que teria proclamado um Estado soberano
(PAIGC 1974). A revolução de 25 de abril acelerou o processo da independência de
Cabo Verde, pois a 17 de outubro de 1974 o general Francisco Costa Gomes que
substituiu na presidência da República portuguesa o general António de Spínola,
discursou na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, assegurando que a
descolonização portuguesa era uma necessidade e que, de facto, decorreria para que a
autodeterminação e a independência
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se adequassem como soluções às necessidades
dos novos Estados (Lopes, 2002).
Face a estes acontecimentos, o PAIGC procurou negociar com Portugal a independência
de Cabo Verde. Após várias tentativas fracassadas, o governo português comprometeu-
se em dezembro de 1974 a que, no prazo de seis meses, outorgaria a independência de
Cabo Verde, ficando ainda acordado que, neste mesmo período, nomear-se-ia um
Governo de Transição, constituído por um Alto-Comissário e cinco ministros
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Ver a este respeito a Lei nº 7/74, de 27 de julho - Direito das Colónias à Independência, Diário do
Governo nº 174/1974, 1º Suplemento, Série I. - que consagra a aquisição do princípio do reconhecimento
por Portugal do direito dos povos à autodeterminação, nomeadamente o art.º 6 “O Governo Português
reafirma o direito do povo de Cabo Verde à autodeterminação e independência e garante a efectivação
desse direito de acordo com as resoluções pertinentes das Nações Unidas, tendo também em conta a
vontade expressa da Organização da Unidade Africana” e o art.º 7 “O Governo Português e o PAIGC
consideram que o acesso de Cabo Verde à independência, no quadro geral da descolonização dos
territórios africanos sob dominação portuguesa, constitui factor necessário para uma paz duradoura e
uma cooperação sincera entre a República Portuguesa e a República da Guiné-Bissau”. O acordo assinado
em Argel teve a participação de duas delegações: a do Comité Executivo da Luta (CEL) do PAIGC
composta por Pedro Pires, membro do CEL, comandante, Umarú Djalo membro do CEL, comandante, José
Araújo, membro do CEL, Otto Schacht, membro do CEL, Lúcio Soares, membro do CEL, comandante, Luís
Oliveira Sanca, embaixador e a Delegação do Governo Português por Mário Soares, Ministro dos Negócios
Estrangeiros, António de Almeida Santos, Ministro da Coordenação Interterritorial, Vicente Almeida d'Eça,
capitão-de-mar-e-guerra e Hugo Manuel Rodrigues Santos, major de infantaria.