Para além disso, a comunidade chinesa tem vindo a sofrer grandes mutações ao longo
das últimas décadas. No entanto, o seu aumento progressivo tem sido o seu aspeto mais
marcante. Segundo as estatísticas avançadas pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
(SEF), haviam mais de 22 mil chineses a residir em Portugal em 2016 (SEF, 2016: 11).
Este aumento deve-se, principalmente, à busca incessante por melhores condições de
vida fora do território chinês. Como tal, não se trata de um motivo novo ou inesperado,
pois tem sido bastante vincado nas diferentes vagas de emigração chinesa. O exemplo
dos indivíduos oriundos da província de Zhejiang que se estabeleceram no Porto e em
Lisboa atesta bem este facto, uma vez que procuraram escapar às atrocidades cometidas
pelo Japão em território chinês. Como vimos anteriormente, os anos 80 ficaram marcados
pela chegada de chineses provenientes de Wenzhou que encontraram no comércio
ambulante o seu sustento. Sendo o carácter familiar uma das características desta
diáspora, rapidamente foi feita a transição para a área da restauração e da venda a
retalho.
Apesar de, a tendência para o crescimento desta comunidade e de não termos em
Portugal chinatowns como noutras partes da Europa ou nos Estados Unidos, verifica-se
uma grande concentração em Lisboa, especialmente na zona do Martim Moniz (Gaspar,
2015: 4 e 5). Como tal, é possível concluir que da parte da comunidade chinesa há uma
tendência clara para a manutenção de um status quo em que o contacto com a população
portuguesa resume-se ao mínimo indispensável, provavelmente, como forma de
preservar as suas tradições e costumes.
O perfil do imigrante chinês em Portugal tem vindo a mudar paulatinamente. Neste
momento, os estudantes universitários e aqueles que possuem Vistos Gold estão na
vanguarda desta nova vaga migratória vinda do Império do Meio. Presentemente, há um
interesse cada vez maior em estudar português, fruto das relações entre a China e os
países de língua oficial portuguesa. Como tal, o número de universidades que ensinam
português passou de apenas 6 para 37 em menos de duas décadas. Esta tendência faz
com que, dentro de pouco tempo, o número de instituições de ensino superior chinesas
com cursos de português possa chegar a 50. (Gaudêncio 2017). Através de diversos
acordos e protocolos, as universidades chinesas têm vindo a dar aos seus estudantes a
possibilidade de estudar no estrangeiro por períodos até um ano. Para os aprendentes
de português, tratam-se de oportunidades únicas para melhorar o seu nível da língua e
também para conhecer uma realidade académica distinta da que têm na China. É preciso
igualmente lembrar que Portugal encontra-se numa situação (até ao momento)
privilegiada do ponto de vista da segurança, a que se junta o facto de ser um Estado-
membro da União Europeia. O conjunto destes fatores tornam o nosso país num destino
de destaque para muitos estudantes chineses que querem terminar os seus estudos no
exterior (Pestana, 2017).
Em outubro de 2012, o programa de Visto Dourado entrou em vigor com a promessa de
atrair mais investimento externo. No final de 2013, o primeiro ano em que o programa
esteve disponível, os cidadãos chineses já tinham investido 229 milhões de euros ao
abrigo deste programa (Cerqueira, 2017). Trata-se de uma forma fácil de Portugal obter
investimento, principalmente no sector imobiliário. Para aqueles que entram em Portugal