. Neste contexto energético, há duas questões que caracterizam o
relacionamento turco-russo: por um lado, o relacionamento económico entre os dois
Países, por outro, a geopolítica da questão (Barrinha, 2014, p. 259). A política de
gasodutos e oleodutos tem assumido fundamental importância no relacionamento
energético. A principal prioridade da Rússia é o Gasoduto Turkish Stream (substituto do
abandonado Projeto South Stream), que está previsto fornecer 15,75 bilhões de metros
cúbicos de gás para a Turquia até 2020 e o mesmo valor para os mercados no sudeste
da Europa (Baev & Kirişci, 2017, p. 7). A sua concretização, segundo Putin, aumentará
significativamente a segurança energética da Turquia e da Europa, aumentando as
possibilidades da exportação do Gás russo para a Turquia. A decisão de Erdoğan de
conceder à Corporação Estatal de Energia Atómica da Rússia (Rosatom) os direitos de
construir a central nuclear de Akkuyu no sul da Turquia é controversa. Como observam
Pavel Baev e Kemal Kirişci, daria à Rússia o "controle sobre uma parte significativa da
produção de eletricidade da Turquia" (Baev & Kirişci, 2017, p. 7). Em contraste com os
objetivos de diversificação energética da Turquia, os projetos agravarão a sua
dependência da energia russa (Taussig, 2017). A Turquia importa 50-55 % das suas
necessidades de gás da Rússia (Baev & Kirişci, 2017, p. 6).
Relativamente às questões de segurança e dos conflitos, o relacionamento bilateral tem-
se caracterizado por dinâmicas geopolíticas, tais como a questão nuclear iraniana, o
conflito de Nagorno-Karabakh, a Guerra dos Balcãs (1990) e o Mediterrâneo Oriental
(Chipre e Síria). A Turquia e a Rússia têm perceções convergentes no que respeita à
ordem mundial, ao desenvolvimento de projetos energéticos e à cooperação no aumento
da segurança no Mar Negro. Este relacionamento pode ser explicado pelas lideranças
fortes e estáveis de Putin e Erdoğan bem como pelo cenário internacional favorável ao
aparecimento de potências emergentes após a crise de 2008, adquirindo um
protagonismo crescente no quadro internacional (Barrinha, 2014, p. 268).
Desde 2011 que a agenda destes Países tem-se centrado no MO, e, particularmente, na
Primavera Árabe, a qual tem diferentes leituras em Putin e Erdoğan. Baev e Kirişci (Baev
& Kirişci, 2017, p. 4) escrevem: "A liderança turca saudou os levantamentos populares
como uma ‘grande restauração’ da civilização islâmica e aguardava a formação de um
‘cinturão da Irmandade Muçulmana’, estendido pela Tunísia, Líbia, Egito e Síria". Erdoğan
tentou reorientar a Turquia como líder de uma civilização islâmica emergente no MO
(Taussig, 2017). Já Putin entende o islamismo político como real ameaça à segurança da
Rússia (RO). Desconfia do apoio de Erdoğan e das conexões com grupos islâmicos
radicais na Síria, interessando-lhe que essa ideologia falhe regionalmente.
A Turquia e a Federação da Rússia divergem na trajetória a prosseguir que solucione o
conflito sírio, entre as forças do regime de Assad e os vários movimentos de oposição.
Ancara, desde o início da crise, tenta alcançar uma posição comum com Moscovo, mas
tem sido difícil. Por um lado, Moscovo pretende que a Síria continue a ser uma zona de
influência, o que lhe permite garantir o acesso à costa mediterrânica