OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 9, Nº. 1 (Maio-Outubro 2018), pp. 16-39
PRODUÇÃO IDEOLÓGICA NA ERA DO CAPITALISMO MEDIÁTICO GLOBAL
Luísa Godinho
lgodinho23@yahoo.com.br
Professora Auxiliar na Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal) e investigadora na área da
Comunicação Política. Os seus interesses académicos situam-se nos campos do discurso, da
comunicação digital e da abordagem computacional às Ciências Sociais. É doutorada em Ciências
Económicas e Sociais pela Université de Genève, Suíça.
Resumo
Firmado o reconhecimento dos media como atores internacionais, neste artigo se discute o
papel que estes desempenham no processo de produção ideológica nas Democracias
contemporâneas. A interligação entre indústria mediática global e configuração de mercado
surge como o elo estrutural desse processo, elo que determina as condições de reprodução e
disseminação das ideias e, por essa via, a construção dos referenciais que permitem a
definição do posicionamento do eleitorado-consumidor. A partir da teoria de Downs, aqui se
retoma a relação conceptual entre posicionamento social e posicionamento político, propondo-
se a introdução na análise downsiana de uma terceira variável, o posicionamento mediático,
de modo a precisar e atualizar os seus postulados. Num último momento, identificam-se as
etapas, os processos e os outputs envolvidos no processo de construção ideológica em três
distintas configurações de mercado. Conclui-se pela existência de uma mudança qualitativa
na ação dos media globais, que evoluíram, com a passagem para a chamada era da
fragmentação, de atores informais do processo democrático a atores formais.
Palavras-chave
Ideologia, fragmentação, sistemas de imprensa, conglomerado, capitalismo mediático
Como citar este artigo
Godinho, Luísa (2018). "Produção ideológica na era do capitalismo mediático global".
JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 9, Nº. 1, Maio-Outubro 2018. Consultado
[online] data da última consulta, DOI: https://doi.org/10.26619/1647-7251.9.1.2
Artigo recebido em 12 de Setembro de 2017 e aceite para publicação em 6 de Março de
2018
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Produção ideológica na era do capitalismo mediático global
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PRODUÇÃO IDEOLÓGICA NA ERA DO CAPITALISMO MEDIÁTICO GLOBAL
Luísa Godinho
A profunda relação existente entre media globais e ideologia (Postman, 1990; Flew,
2007; Croteau & Hoynes, 2012) é tema recorrente na literatura científica, sendo hoje
consensual o entendimento dos órgãos de comunicação como cumprindo uma função
política lado a lado com atores formais como os partidos e as instituições do Estado
(Paletz & Entman, 1980; McNair, 2000, 2003, 2012; Mancini, 2013; Robertson, 2015).
Neste sentido, a relação entre esses dois conceitos dependerá das condições de
existência de cada um, o contexto económico em que os media operam revestindo-se de
particular importância não apenas na definição do número e tipo de agentes que
estruturam o debate público, como também na seleção dos termos deste último,
condições que impactam diretamente o pluralismo e a Democracia.
Encontra-se sobejamente estudada a centralidade dos media na vida das Democracias,
sendo àqueles habitualmente reservado o papel de catalisadores da dinâmica que tem
lugar no interior da esfera pública (Calhoun, 1992; Hauser, 1999; Sparks, 2001; Edgerly
et al, 2015), a metáfora proposta por Habermas para descrever o espaço que permite a
circulação de ideias entre os membros de uma sociedade, o local simbólico onde a
negociação semântica se realiza e a cultura se difunde e no qual os media globais
desempenham uma função central enquanto agentes definidores dos termos desse
debate e, por essa via, da opinião e da deliberação.
O presente artigo visa aprofundar o entendimento desta relação entre media globais e
ideologia, perspetivando-a, em particular, nos contextos históricos recentes. Poder-se-á
falar de um processo de produção ideológica? E, em caso afirmativo, que função nele
desempenham os media globais? Que sub-processos e que etapas estão envolvidos nessa
dinâmica? Que resultados produz? Estas são algumas das questões a que tentaremos
responder, desenvolvendo uma abordagem conceptual e aplicando os métodos descritivo
e explanatório com base numa pesquisa de tipo bibliográfico.
Ideologia e media: uma aproximação teórica
Seria inglório tentar-se aqui elencar as teorias que até hoje enfrentaram o conceito de
ideologia, tantas foram as abordagens e as vozes. Poder-se-á, contudo, identificar entre
os estudos da ideologia duas grandes linhas de análise: uma linha de herança marxista
marcada por uma conceção pejorativa do fenómeno; uma segunda linha marcada por
uma abordagem sociológica.
O presente artigo insere-se nesta segunda linha teórica, aproximando-se, em particular,
dada a problemática em estudo, da corrente que estuda a ideologia enquanto fenómeno
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discursivo, seguindo o legado de autores como Bourdieu (Bourdieu, 1977, 2001) e
Foucault (Foucault, 1971), que tiveram a primazia na identificação dos sistemas de poder
centrados na palavra e na representação, o primeiro assinalando o sistema educativo
como uma forma basilar de poder ideológico, o segundo remetendo a ideologia para o
texto e seu contexto e propondo mesmo a substituição daquele significante pela palavra
discurso.
A conceção discursiva da ideologia, no entanto, muito que é tida como insuficiente
para a prática de uma sociologia do conhecimento que permita identificar os processos
concretos que garantem, hoje, a existência do ciclo de vida das ideias, sua criação,
circulação, reprodução e morte. Uma dimensão comunicativa acabou por,
necessariamente, assumir um lugar de relevo na literatura científica, dimensão que
permite identificar os agentes e as dinâmicas que garantem a um enunciado passar de
mera proposição gerada num qualquer contexto individual a um corpo teórico partilhado
por uma comunidade alargada, dessa forma passível de ser reconhecido, aceite,
criticado, refutado.
Esta transição da fase individual à coletiva é garantida pela passagem por uma rede
comunicacional que exerce um duplo efeito amplificador e transformador das ideias
geradas.
Não obstante a multiplicidade de entendimentos sobre as consequências que a rede
comunicacional provoca sobre o ciclo de vida das ideias, parece existir um certo consenso
quanto à existência desses efeitos e, por conseguinte, quanto ao poder que os agentes
e os processos comunicativos detêm não apenas na seleção dos enunciados que
adquirirão dimensão social como também na própria identidade dessas proposições.
O reconhecimento do papel que os media ocupam no ciclo de vida das ideias remete
inevitavelmente para a abordagem sociológica da ideologia, na linha de autores como
Manheim, Ricoeur, Seliger, Thompson, Gellner, Gouldner, Roig, Van Dijk, por conseguinte
recusando a de raíz hegeliana, fundada no raciocínio binário em torno da oposição entre
objetividade física/universalismo. Tal como escreve Roig,
"(…) ce qui est aujourd'hui remis en cause est la visée universaliste
et, donc, impérialiste des modèles antérieurs tant hégélien que
scientiste. A la prétention métaphysique d'une unité de la
connaissance succède une diversité des modèles cognitifs admis ou,
si l'on préfère, des paradigmes explicatifs."
1
Por entre a abordagem sociológica da ideologia, várias sub-correntes se identificam,
tendo particular adequação para a presente problemática aquela que entende ser a
ideologia produto da articulação entre linguagem e sistema comunicativo e que conta
com Gouldner, Roig e Van Dijk entre os seus principais autores.
Gouldner analisou a ideologia enquanto variação de linguagem, um texto que apresenta
uma certa autonomia ao nível do conteúdo e uma certa estabilidade ao vel do suporte.
Trata-se de uma meta-linguagem que se distingue da linguagem comum por ser
autónoma relativamente ao contexto social em que opera, neste sentido apresentando
1
idem, p.44.
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alguma similitude com os códigos elaborados de que fala Bernstein, caracterizados por
uma auto-reflexividade e independência.
Não obstante a importância reconhecida por Gouldner à dimensão linguística do
fenómeno, o autor identifica-o primordialmente como consequência do sistema
comunicativo de massa e, por essa via, de fenómenos como a industrialização e a
mediatização, alheando-se de toda a explicação centrada no homem como motor central
do pensamento.
Nesta perspetiva, o fenómeno ideológico, nascido com o fim da sociedade tradicional
baseada nos valores da previsibilidade, da certeza e do imobilismo, surje justamente
como uma proposta alternativa fundada numa nova interpretação da sociedade e em
novos projetos de mudança social.
Tal como escreve o autor,
«Ideology thus entailed the emergence of a new mode of political
discourse; discourse that sought action but did not merely seek it
by invoking authority or tradition, or by emotive rhetoric alone. It
was discourse predicated on the idea of grounding political action in
secular and rational theory (...). Ideology separated itself from the
mythical and religious consciousness; it justified the course of action
it proposed by the logic and evidence it summoned on behalf of its
views of the social world, rather than by invoking faith, tradition,
revelation or the authority of the speaker» (Gouldner, 1976: 9).
Fenómeno linguístico e comunicativo, a ideologia é também, para Gouldner, produto de
uma evolução na qual as sociedades se complexificam em resultado da modernização,
criando novos esquemas explicativos que garantem a sua própria auto-compreensão. É
a especificidade destes esquemas que, segundo o autor, justifica o surgimento de
discursos assentes numa linguagem particular e que se difudem através do sistema
mediático disponível.
No mesmo sentido manifesta-se Roig, que associa o fenómeno ideológico a uma
simbólica maniqueísta estabelecida por intermédio de uma rede de comunicação e que,
não obstante a sua natureza estratégica, cumpre duas funções particulares : fornece um
quadro moral que permite aos agentes situarem-se por entre uma multiplicidade de
escolhas políticas essenciais, nomeadamente «numa escala esquerda-direita» (Roig,
1980: 58) e favorece a coligação de grupos dirigentes e de fações ou tendências por
entre as elites institucionais. A própria organização dos sistemas sociais é possível,
segundo o autor, pela utilização de uma linguagem articulada com uma rede
comunicativa.
«(…) ce qu’on appelle idéologie ne doit pas être recherché dans un
contenu sémantique quelconque mais dans un impact sur un réseau
de communication déterminé (...), en bref : un effet de réseau.(...)
Les rapports entre idéologie et réseau de communication peuvent
être ramenés à des rapports entre moyens et fins. Les fins
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concernent les réseaux qu’il faut soit créer (...), soit actualiser
lorsque le réseau est potentiel, soit renforcer comme c’est le cas
pour la plupart des messages de légitimation, soit maintenir ou
changer en provocant des divisions, des unions (...) soit enfin
supprimer (...). Les moyens mis en œuvre pour obtenir ces divers
résultats recouvrent toute une source d'ambiguité dans la
conceptualisation. (…) L'idéologie caractérisée par la vision
manichéiste qu'elle offre du monde est un de ces nouveaux moyens,
et parmi les plus économiques.» (Roig, 1980: 57)
Fenómeno comunicativo, a ideologia é ainda entendida por Roig como um dispositivo
económico, no sentido em que facilita as escolhas individuais e reduz o grau de incerteza
ao limitar a duas as vias alternativas ao comportamento, mas também um meio decisivo
quanto à perpetuação e à supressão da própria rede de comunicação.
A abordagem discursiva da ideologia conheceu um alargamento ao campo da psicologia
com a proposta teórica de Teun van Dijk, que entende o conceito de forma
multidisciplinar, como sendo um produto simultaneamente social, discursivo e cognitivo.
O caráter social da ideologia advém, segundo van Dijk, do facto de o homem, enquanto
sujeito portador de razão, ser um animal social que participa nos conflitos sociais fazendo
a gestão dos interesses e das lutas dos grupos segundo os seus próprios referenciais.
Neste sentido, o estudo da organização e das manifestações sociais consiste, antes de
mais, no estudo da ideologia, entendida como uma pré-condição da ação humana, esta
última impossível de existir fora da esfera do sentido.
a dimensão discursiva do fenómeno, van Dijk remete-a para o campo da linguística,
entendendo-o como um discurso produzido no contexto de uma determinada estratégia
que visa a produção de um conjunto de efeitos.
Fenómeno simultaneamente social, linguístico e cognitivo, a ideologia constitui, para van
Dijk, «the basis of the social representations shared by members of a group»
2
, tendo o
seu trabalho consistido numa tentativa de explicação das estruturas e das estratégias
que relacionam discurso e cognição social.
«In most cases, ideologies are self-serving and a function of the
material and symbolic interests of the group. Among these interests,
power over other groups (...) may have a central role and hence
function as a major condition and purpose for the development of
ideologies. Ideologies thus operate both at the overall, global level
of social structure, for instance as the socially shared mental
monitor of social competition, conflict, struggle and inequality, and
at the local level of situated social practices in everyday life.»
3
2
idem, pp.8.
3
idem, pp.8.
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O trabalho de Van Dijk pode, de resto, ser interpretado como uma verdadeira teoria da
ideologia, dado que o autor se interessa sobre a totalidade do ciclo de vida das ideias,
abordando etapas como as da formação, do desenvolvimento e da circulação do
fenómeno e colocando as elites e os media no epicentro desta dinâmica, enquanto
agentes criadores e difusores respetivamente.
Configurações do sistema mediático global
A natureza discursivo-comunicacional do fenómeno ideológico pressupõe a articulação
deste com o sistema mediático e sua estrutura funcional, condição que coloca
diretamente em relação ideologia e economia, dimensões historicamente interligadas.
Esta relação, por sua vez, traduz-se na interação entre modelo económico, produção
ideológica e estrutura política, o primeiro parecendo exercer, como demonstraremos de
seguida, uma influência significativa sobre as segunda e terceira dimensões.
Tal como escrevem Chan-Olmsted e Chang (Chan-Olmsted e Chang, 2003:214)
“Considering the significant role media corporations play in the
production of culture and the delivery of important news and
information and the fact that corporate structure, strategy
management and behavior ultimately impact the nature and supply
of content (Hollified, 2001), a better understanding of the patterns
and determinants of media diversification strategies would
contribute to the body of knowledge in the potencial effects of media
globalization.”
O modelo económico presente desde o surgimento daquilo a que podemos chamar de
sistema mediático é o empresarial, configuração que demonstrou, logo no século XIX, o
potencial lucrativo de um novo tipo de investimento, assente na venda de textos e
imagens impressos em papel e cuja produção era crescentemente otimizada graças à
pujante inovação tecnológica a que então se assistia e aos novos sistemas de
financiamento então criados, como foi o caso da publicidade.
O modelo empresarial atomizado oitocentista permaneceria até meados do século
seguinte, momento em que uma nova configuração se afirmou, caracterizada pela
crescente reunião das empresas de media em grupos, gerando uma diminuição gradual
mas efetiva do número de agentes económicos no mercado mediático. (Imagem 1)
“In 1983, fifty corporations dominated most of every mass medium
and the biggest media merger in history was a $340 million deal.
(…) In 1987, the fifty companies had shrunk to twenty-nine. (…) In
1990, the twenty-nine had shrunk to twenty three. (…) In 1997, the
biggest firms numbered ten and involved the $19 billion Disney-ABC
deal, at the time the biggest media merger ever. (…) (In 2000) AOL
Time Warner’s $350 billion merged corporation (was) more than
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1,000 times larger (than the biggest deal of 1983).” (Bagdikian,
2000: 20-21).
Imagem 1 Número de empresas de media, nos EUA, entre 1983 e 2004
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Media Reform Information Center
Esta tendência para a concentração empresarial, iniciada na década de 1980, que se
aprofundou na de 1990 e se manteve até hoje, gerou um mercado caracterizado pela
existência de um menor número de agentes económicos sob a forma de grupos de
organizações que dominam a oferta mediática, modelo que conhece a designação de
oligopólio e que consiste numa forma evoluída de monopolização em que os agentes
envolvidos não são empresas mas grupos e em que a concorrência se desenvolve
maioritariamente através de fatores como a qualidade, a imagem dos produtos e a
fidelização dos clientes em detrimento do fator preço (Chan-Olmsted e Chang, 2003).
O oligopólio gerou uma dinâmica de concentração das audiências e do financiamento nas
mãos de um reduzido número de agentes, provocando uma situação de controle não raro
total do mercado mediático.
A imagem 2 representa este tipo de mercado, podendo aí ser observada a concentração
das audiências nos meios representados pelas letras C e D, aos meios A, B e E
correspondendo valores quase residuais.
Imagem 2 Representação de mercado mediático de tipo oligopolista
Fonte: elaboração própria
Oferta Mediática
Audiência
A
B C D
E
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Este modelo oligopolizado da indústria dos media tornou-se global através da evolução
para um outro designado por conglomerado, alteração conseguida através da fusão de
vários oligopólios e que foi fortemente criticada por constituir uma aceleração do
processo de homogeneização mediática e cultural bem como uma muito séria ameaça
para a Democracia, mas a que os defensores do modelo, eminentemente partidários da
abordagem económica, responderam com a redução do perigo de monopolização e com
o imperativo da criação de economias de escala na competição no mercado global
(Mandel-Campbell, 1998; Shearer, 2000).
Na base desta transformação modelar encontram-se, segundo Chan-Olmsted e Chang
(Chan-Olmsted e Chang, 2003), três fatores estruturais: a privatização do setor
televisivo em muitos países europeus e asiáticos; a desregulação da propriedade dos
media; o aumento da homogeneização de estilos de vida num conjunto alargado de
metrópoles; a saturação da procura no mercado de media norte-americano e o avanço
galopante das chamadas novas tecnologias.
O conglomerado mediático enfrentaria o seu maior desafio com a massificação da
internet, fenómeno que se afirma a partir do século XXI e que impacta decisivamente a
forma como os conteúdos são produzidos, divulgados e consumidos. Esta nova dinâmica
económica exponenciou o número de produtores, elevando-o a uma escala sem
precedentes na História da Humanidade e gerando um efeito paradoxal no plano do
consumo, simultaneamente aumentando o volume total de consumidores de media mas
distribuindo-os agora por uma infinidade de produtores que não cessam de surgir. O
resultado desta nova dinâmica pode ser representado pela chamada cauda-longa, curva
que simboliza a per-dispersão dos consumidores por um número incessantemente
crescente de meios (imagem 3), consequentemente diminuindo o número de
consumidores por meio e tornando desadequados os tradicionais modelos de
financiamento e gestão.
Imagem 3 Representação de mercado mediático tipo cauda-longa
Fonte: elaboração própria
Oferta Mediática
Audiência
A B C
D
E
F G H
I
J
K L M
N
O
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O debate científico em torno desta nova configuração do mercado mediático tende a
centrar-se em dois fenómenos distintos, mas complementares (Napoli, 2003:77): por
um lado, a fragmentação; por outro a autonomização das audiências. O fenómeno de
fragmentação incide sobre os media e as audiências, referindo-se aos “technological
processes that increase the range of content options available to media consumers”. Por
sua vez, o fenómeno de autonomização das audiências consiste, segundo o autor, em
“the extent to which media audiences increasingly have control over when, where and
how they consume media; and how increasingly have the power to affect the content
they consume and to become content producers and distributors in their own right”.
Atualmente, assistimos a uma sobreposição das duas realidades acima descritas. O
oligopólio mediático mantém-se como a configuração económica dominante nas
democracias capitalistas, não obstante a profunda crise em que se encontra mergulhado
devido ao imparável e acelerado surgimento de novos produtores na era da fragmentação
(Mancini, 2013; Nelson-Field & Riebe, 2011).
Esta sobreposição consubstancia uma fase de transição que se crê vir a findar na híper-
fragmentação do sistema mediático, tendência cujos contornos e efeitos são ainda difíceis
de prever, embora toda uma literatura previsional a esse exercício se dedique. Não
obstante a dificuldade de antever com exatidão aquela que poderá vir a ser a tendência
futura, parece ser consensual a existência de um incremento da dinâmica cultural,
facilitado pelos baixos custos de produção e pela acessibilidade tecnológica.
Configurações ideológicas e mediáticas globais: a convergência
A criação de toda a ideologia pressupõe incontornavelmente a reflexão sobre a sua
própria praxis, uma conceção estratégica que permita passar da fase de teorização
intelectual à de disseminação e concretização das ideias, a interação com os media
constituindo o fator decisivo naqueles segundo e terceiro momentos.
Para se efetivar, a disseminação de ideias implica, por seu lado, um grau de aceitabilidade
por parte de quem as recebe e este dependerá da construção e da participação, por parte
de emissores e recetores, num espaço simbólico, um domínio referencial que permita a
partilha do sentido e a troca emocional. Este domínio referencial, por sua vez,
materializa-se sob a forma de signos, ou seja, sinais dotados de significado e que
permitem a partilha de um imaginário e a construção da identidade, fatores essenciais
na construção da vida social. É na capacidade de criação deste espaço simbólico que
radica, de resto, o valor económico dos media.
De modo a caracterizar a intervenção dos media neste processo de democratização das
ideias, propõe-se o conceito de disseminador participativo, relativo ao cumprimento por
aqueles de duas funções estruturais: uma função de transporte e outra de criação
identitária.
A função de transporte dos media é cumprida na base da integração destes em redes de
distribuição que garantem a colocação das ideias num raio cada vez mais alargado, hoje
global, a um custo cada vez menor e num tempo cada vez mais curto, corporizando
aquilo que David Harvey designou por compressão espácio-temporal (Harvey, 1990).
a função de criação identitária respeita à capacidade de os media participarem na
construção da identidade dos próprios objetos por eles tratados, função garantida por
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um conjunto de processos seletivos como o agenda-setting e o enquadramento,
destinados a produzir uma determinada construção discursiva da realidade, construção
esta passível de aceitabilidade por parte de um conjunto alargado de pessoas com um
determinado perfil económico-cultural, conjunto estrategicamente definido como público-
alvo.
Esta aceitabilidade, por sua vez, é exponenciada pela criação de um discurso
caracterizado, segundo Wolton (Wolton, 1991), por ser imagético, simplificado e
personalizado, características que, no entanto, são contrárias à natureza dos problemas
sociais que a ideologia conceptualiza, reais e não imagéticos, complexos e não simples,
coletivos e não personalizados.
Não obstante esta contradição insanável entre realidade e linguagem mediática, é nestas
características e na infinita plêiade de combinações linguísticas e visuais que as
corporizam que radica a identidade do discurso mediático, o seu valor económico e o seu
poder cultural.
Parece, pois, incontornável a relação entre sistema económico, sistema cultural e
produção ideológica, o primeiro criando as condições materiais para o desenvolvimento
do segundo num quadro simbólico que permitirá a geração da terceira.
O sistema económico-cultural dominante nas democracias capitalistas, anteriormente
descrito e já identificado por designações como capitalismo mediático (Nutt & Schwartz,
2008), turbo-capitalismo (Luttwak, 1998) e capitalismo cognitivo (Parikka, 2014),
impactou de modo determinante a produção ideológica nessas sociedades, podendo
dizer-se que a cada configuração mediática corresponderá uma determinada
configuração ideológica.
Neste capítulo, propomo-nos analisar essa correspondência, focando-nos nas duas
configurações mediáticas dominantes o oligopólio e a fragmentação e apontando as
configurações ideológicas que lhes correspondem. No capítulo seguinte analisaremos em
detalhe o processo de produção ideológica em presença, identificando os agentes e os
processos que permitiram a efetivação da correspondência entre configuração mediática
e configuração política.
Iniciemos pelo oligopólio mediático.
A estreita relação existente entre sistema mediático e sistema ideológico parece ter tido
como consequência, no caso do mercado oligopolista, uma configuração análoga no plano
da criação e difusão das ideias, sob a forma de um número reduzido de ideologias ou até
mesmo de uma única ideologia dominante.
Nos regimes ditatoriais, o oligopólio mediático é, o raro, detido pelo Estado ou por
empresas com este concertadas, gerando um controle quase absoluto sobre a produção
simbólica e daí sobre a geração e circulação das ideologias. Este controle será em menor
grau nas chamadas Democracias liberais, já que a posse dos meios de comunicação de
massa é de acesso livre, possibilitando ao sector privado a participação na produção
ideológica, que passará, em princípio, a ser plural, o grau deste pluralismo determinando
a própria natureza do regime democrático em questão.
O oligopólio mediático correspondeu, pois, a uma fase de oligopolização do espaço
político, com a afirmação de fenómenos próximos do bipartidarismo, concentrando o
poder governativo num número escasso de partidos que o exercem alternadamente.
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Estaremos perante o fenómeno que Anthony Downs identificara em 1957 (Downs,
1957), quando, na esteira de Hotelling (Hotelling, 1929), publicou An Economic Theory
of Democracy, identificando a existência de uma força centrípeta nos regimes
democráticos provocada pela tendência dos partidos se aproximarem do chamado eleitor
mediano, optando por centralizar o seu posicionamento de modo a captar mais votos.
Imagem 4 Convergência dos posicionamentos mediático, social e político nos regimes
democráticos, em mercado de tipo oligopolista
Fonte: elaboração própria
Este fenómeno encontra-se representado na imagem 4, onde podemos observar que a
grande maioria do eleitorado, representada pela linha a preto, se localiza ao centro do
espectro ideológico, para atraindo os partidos políticos que desejam ganhar eleições
(neste caso representados pelas letras C e D) e deixando os partidos A, B e E fora da
curva da maioria. Na mesma imagem, podemos igualmente observar a configuração
análoga do posicionamento mediático, representado a laranja, com os meios h e i
concentrando a maioria do mercado, assim se demonstrando a referida convergência
entre as duas configurações.
Esta tendência para a concentração dos votos num escasso número de forças políticas
localizadas ao centro do espectro político decorre, em nosso entender, do posicionamento
estratégico do oligopólio mediático, também ele centralizado, resultando em fenómenos
próximos do bipartidarismo, do rotativismo de facto ou, se preferirmos, da chamada
alternância.
Neste sentido, as maiorias eleitorais decorrem da convergência entre três fatores:
posicionamento mediático, posicionamento do eleitorado e posicionamento dos partidos
políticos, o primeiro fator surgindo como a dimensão estrutural da qual depende o
segundo, o qual, por sua vez, gerará o terceiro.
Passemos à análise das configurações mediática e ideológica no caso do mercado
fragmentado, cujas características foram já descritas no capítulo precedente.
Eleitorado/audiência
A
B C D
E
Oferta Mediáticaf
g
h
i
j
Partidos Políticos
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Imagem 5 Convergência dos espaços político e mediático, nos regimes democráticos,
em mercado de tipo fragmentado
Neste tipo de configuração económica, representado na imagem 5, a produção e o
consumo mediáticos encontram-se dispersos por uma infinidade de novos
produtores/consumidores que não cessam de surgir, pelo que será expectável que a
circulação das ideias siga essa dinâmica, sendo também ela pulverizada por um crescente
número de produtores. Um mercado deste tipo apresenta menos barreiras à
disseminação ideológica do que em situação de oligopólio, já que o acesso aos meios de
produção mediática é praticamente direto, quando muito dependendo apenas do vel de
literacia digital.
Parece, pois, plausível, falar-se num incremento da produção e da disseminação
ideológicas, não obstante o facto de, no caso do mercado fragmentado, contrariamente
ao que acontecia em situação de oligopólio, o impacto das ideias disseminadas diminua
consideravelmente graças à paralela diminuição das audiências por meio. Esta
pulverização ideológica de impacto reduzido, por sua vez, deverá permitir um aumento
da dinâmica ideológica e um refrescamento dos referenciais políticos, embora, no plano
institucional, possa gerar fenómenos como o da dificuldade na formação de maiorias
políticas.
Processo de produção ideológica na era do capitalismo mediático global:
agentes e processos
A produção ideológica anteriormente abordada em perspetiva sistémica será agora
compreendida através de uma micro-análise, que permita identificar o conjunto de
agentes e processos que a integram, bem como as etapas que percorre.
Esta dinâmica, no entanto, deverá variar consoante o tipo de mercado em presença seja
de tipo oligopolista, fragmentado ou misto, pelo que propomos analisar o processo
produtivo das ideias em cada um dos contextos enunciados.
Tal como podemos observar na imagem 6, o processo de produção ideológica em sistema
mediático oligopolista passará por quatro fases com características distintas: uma fase
doutrinal; uma fase mediática; uma fase de disseminação e uma fase de seleção.
Oferta Mediática/Oferta ideológica
Audiência/Eleitorado
A B C
D
E
F G H
I
J
K L M
N
O
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A fase doutrinal corresponde ao momento de germinação das ideias e sua sistematização
e aprofundamento discursivos entre um grupo mais ou menos restrito de agentes.
Uma vez decidida a passagem à praxis, torna-se necessário ampliar o campo de receção,
sendo para tal decisivo o contacto com os media oligopolizados. Esta passagem ao campo
mediático, no entanto, depende de um processo de seleção - o agenda-setting - a que
chamamos filtro
Imagem 6 Processo de produção ideológica em sistema mediático oligopolista
Fonte: elaboração própria
mediático. No fundo, trata-se da aplicação, pelos media, dos chamados valores-notícia,
construções conceptuais que permitem definir, à luz dos objetivos ético-profissionais e
empresariais, os temas que serão alvo de tratamento.
Este filtro mediático constitui um momento decisivo na vida de qualquer ideologia, que
determina a possibilidade de veiculação da mensagem junto de um número alargado de
recetores. A passagem no filtro mediático facilita o crescimento ideológico; a não-
passagem determina a contenção e, não raro, a morte da ideologia.
Não obstante a importância crucial do filtro mediático, ele é apenas o primeiro
instrumento regulador na vida da ideologia. No caso de um corpo de ideias ser aceite a
integrar a agenda dos media, passando àquela que designamos por fase mediática, um
segundo instrumento entra em funções, desta vez regulador quer da priorização que ser-
lhe-á dada face às notícias suas concorrentes (priming) quer da perspetiva em que será
abordada (framing ou enquadramento). É o que designamos por filtro semântico, já que
opera sobre o conteúdo a publicar.
Uma vez disseminada sob a forma de texto mediático construído segundo os processos
acima descritos, a ideologia passa finalmente por um terceiro filtro passível de a levar a
assumir a forma de praxis. Trata-se do que designamos por filtro organizacional, que
consiste na configuração organizativa de agentes capazes de criar uma dinâmica social
que vinão apenas a suportar as ideias já disseminados pelos media como a alargar a
sua base de apoio através da criação de um conjunto de estratégias comunicativas
A
B
1
2
3
4
1 Fase Doutrinal
2 Fase Mediática
3 FasedeDisseminação
4 FasedeSeleção
Filtro Mediático
Filtro Discursi vo
C
a
b
c
d
e
f
Filtro Orga nizacional
a1
b2
a1
C
a
C
b
C
c
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inseridas em ações de campanha. A dimensão e a motivação deste filtro organizacional
impactarão diretamente a sua eficácia, ou seja a possibilidade de transfiguração da
ideologia em ação política. Esta etapa final intitulamo-la de fase de seleção.
Na base de um poder discursivo de tipo woltoniano (Wolton, 1991), já acima descrito, o
oligopólio mediático serve, pois, como compressor da dinâmica ideológica, exercendo as
funções de filtro que determina quais as doutrinas passíveis de difusão e quais as que
deverão remeter-se ao silêncio ou mesmo à morte, consubstanciando aquilo que
Schlesinger descreve como “o exercício do poder através da interpretação da realidade”
(Schlesinger, 1972).
Parece, pois, lógico que a fase de fragmentação mediático-cultural venha a gerar uma
dinâmica de pulverização do espaço político, com o surgimento de novas forças políticas
capazes, senão de destruir o oligopólio político, pelo menos de o enfraquecer pela força
da inovação ou simplesmente pelo efeito concorrencial.
A chegada a esta fase, no entanto, implicará a passagem por uma outra, intermédia,
caracterizada pela acumulação de traços da fase de tipo oligopolista bem como da de
tipo fragmentado (imagem 7). Trata-se de um sistema mediático misto em que o(s)
oligopólio(s), aqui identificado(s) pelas letras C e E, ainda permanece, embora conheça
agora a concorrência de uma profusão de novos agentes mediáticos não-oligopolizados
(aqui designados pelas letras A, B, D e F) nascidos na chamada era da convergência ou
da fragmentação, descrita no capítulo anterior. Esta profusão de novos meios gera uma
dinâmica cultural que impacta diretamente a produção ideológica, ao permitir a híper-
circulação de um maior número de ideias (aqui designadas pelas letras a, b, c, d, e, f)
junto de um número crescente de pessoas.
Imagem 7 Processo de produção ideológica em sistema mediático misto
Fonte: elaboração própria
Por sua vez, esta nova dinâmica levará, dependendo da eficácia de cada um dos filtros
organizacionais em presença, ao surgimento, divulgação e afirmação de um maior
número de forças ideológicas, forças estas que poderão querer passar a uma fase de
FiltroTecnológicoe
Mediático
Filtro deReceção
Filtro Organizacional
C
1
2
3
4
C
A
B
D
F
a
b
c
d
e
f
a
b
c
d
e
f
C
E
a1
1" Fase Doutrinal
2" Fase Mediática
3" Fase"de"Disseminação"
4" Fase"de"Seleção
b 2
c3
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poder, através do acesso ao sistema político-institucional por via de eleições livres. O
número de ideologias selecionadas neste tipo de mercado misto tende a ser superior ao
do oligopólio (na representação aqui proposta, o oligopólio permite a seleção de três
ideologias, enquanto o mercado misto permite quatro), que os chamados novos media
garantem a afirmação de novos referenciais e facilitam a disseminação de novas ideias.
Por fim chegará a fase de fragmentação, na qual o oligopólio mediático terá sucumbido
pela força da designada híper-fragmentação das audiências, deixando a produção
mediático-cultural nas mãos de agentes individualizados.
Imagem 8 Processo de produção ideológica em sistema mediático híper-fragmentado
Fonte: elaboração própria
Esta última fase constitui, note-se, uma configuração-tipo que não conheceu
correspondência real mas que parece ser congruente com a evolução lógica dos sistemas
mediáticos a que temos assistido nas últimas décadas.
Numa fase com estas características, representada na imagem 8, a produção cultural
caracterizar-se por conteúdos de nicho dirigidos a um número cada vez maior de
públicos dispersos por uma variedade também ela cada vez maior de plataformas (aqui
identificadas pelas letras A, B,C,D,E e F), provocando uma pulverização ideológica (aqui
identificada pelas letras a,b,c,d,e,f, o maior número de ideias em circulação entre os três
tipos de mercado analisados) num quadro de crescente liberdade de acesso mas também
de crescente incerteza e instabilidade, geradas pela ausência de monopolização. Neste
sentido, os media-nicho tenderão a gerar ideologias-nicho e partidos-nicho, estes últimos
caracterizados por Bimber como “estruturas pós-burocráticas” (Bimber, 2003, 2009)
ancoradas na sua capacidade comunicativa geradora de apoio social.
Ao invés das configurações anteriores, no mercado híper-fragmentado o anteriormente
designado filtro mediático, que consistia, como vimos, no conjunto de processos de
seleção noticiosa desenvolvidos pelos media tradicionais, é substituído pelo tecnológico,
que agora os agentes ideológicos têm acesso às novas plataformas tecnológicas e
redes digitais que lhes permitem a disseminação das ideias.
Filtro Tecnológico
Filtro deReceção
Filtro Organizacional
C
1
2
3
4
C
A
B
C
D
E
F
a
b
c
d
e
f
a
b
c
d
e
f
a1
e5
b2
c3
d4
f6
1 Fase Doutrinal
2 Fase Mediática
3 FasedeDisseminação
4 FasedeSeleção
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quanto ao filtro semântico, este deverá constituir-se como o instrumento fundamental
que garantirá a aceitabilidade das ideias, consistindo no conjunto de técnicas redatoriais
passíveis de criar interesse e gerar audiências, alargando a base de receção da ideologia.
Não obstante a centralidade semântica do processo de produção ideológica no mercado
de tipo per-fragmentado, parece congruente que, mesmo nesta fase, um mínimo de
força organizativa seja necessária para transformar em poder qualquer agente
ideológico, pelo que se propõe a manutenção do designado filtro organizacional, embora
este detenha uma importância residual face aos restantes.
Finalmente, de entre os três cenários analisados, este tipo de configuração mediática
deverá permitir a passagem à fase de seleção do maior número de forças ideológicas
(comparativamente, passam à fase de seleção seis forças no oligopólio, quatro no
mercado misto e três no híper-fragmentado), que se caracteriza por um também maior
e mais livre sistema mediático.
Conclusão
O presente artigo visou refletir sobre o fenómeno de produção ideológica na atualidade,
perspetivando-o como resultado de uma dinâmica estratégica catalizada pelos media
globais capaz de responder simultaneamente a objetivos de rentabilidade financeira e de
afirmação ideológico-cultural.
Neste sentido, a interligação entre configuração de mercado, indústria cultural e
produção ideológica desempenha uma função central nas atuais democracias capitalistas,
interligação que possui raízes na própria História da imprensa e sua profunda relação
com os domínios da política e da economia.
Esta aliança indústria-ideologia constitui a estrutura da produção ideológica desde o
século XIX, embora, como vimos, esta se encontre, hoje, no cerne de uma profunda crise
sistémica global resultante da evolução tecnológica e sua massificação, crise que, no
entanto, dá agora lugar, como vimos, a uma nova realidade de atomização e
amadorização da produção e do consumo ideológico-cultural, assente em novas técnicas
discursivas, novos padrões e novos valores.
Não obstante as mudanças processuais a que assistimos ao vel da produção ideológica,
resulta claro deste artigo que, no processo de produção ideológica, a metamorfoseada
indústria dos media - esteja ela inserida num mercado oligopolizado, fragmentado ou
misto - surge sempre como um “sistema de poder” (Gans, 1980) não sufragado assente
num conjunto de processos produtivos como o agendamento, o enquadramento e a
priorização e de técnicas discursivas como a nominalização e as metáforas conceptuais.
Estes processos editoriais constituem o garante, discreto mas efetivo, da manutenção de
uma forma de hegemonia (Gramsci, 1990; Lears, 1985; Barbero & Fox, 1993; Artz &
Murphy, 2000) de tipo funcional que consiste na dominação de uma classe ou grupo
através da inculcação de um conjunto definido de ideias e assunções que, pela força do
hábito, se naturalizam e tornam senso comum. Uma vez transpostas para o domínio do
senso comum, os referenciais veiculados pelos media sofrem um processo de
legitimação, as ideias e assunções que com eles não conformam passando a ser
entendidas como desviantes e, em consequência, sendo repudiadas.
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Esta hegemonia funcional dos media e sua integração na teoria downsiana através do
fenómeno aqui designado por convergência socio-político-mediática, integração
graficamente representada nas imagens 4 e 5, constitui o principal contributo do presente
artigo. A importante identificação de Anthony Downs da correlação existente, nas
Democracias, entre posicionamento do eleitorado e posicionamento dos partidos
políticos, o segundo seguindo o primeiro, carece, em nosso entender, de uma extensão
ao campo da Comunicação, extensão que nela integre a variável posicionamento
mediático, deste modo aprofundando o quadro explicativo da dinâmica estrutural dos
regimes democráticos.
A integração desta última variável permite um enriquecimento significativo do modelo
downsiano, ao introduzir o fenómeno de hegemonia mediática na análise e, a partir dele,
explicar a dinâmica que se desencadeia nos seguintes termos: a hegemonia mediática
cria os referenciais do blico-consumidor, referenciais que, por sua vez, estarão na base
da definição do(s) posicionamento(s) do eleitorado e, em consequência, do dos partidos
políticos, assim determinando a seleção política. Trata-se de um processo sequencial
que, no caso do mercado oligopolista, promove a estabilidade política, ao facilitar a
formação de maiorias, embora seja necessariamente limitador da inovação, ao expulsar,
pela sua dinâmica, todo o corpo de ideias que não siga os referenciais promovidos pelos
media e que se consubstanciam como os verdadeiros pilares da dinâmica em curso. O
contrário tende a acontecer no caso do mercado fragmentado, que o efeito
gatekeeping dos media é anulado pela acessibilidade tecnológica, que cria as condições
para o controle direto, pelos agentes ideológicos, sobre a disseminação do seu próprio
discurso ideológico.
Esta centralidade mediática do processo de produção ideológica, que aqui surge como
um fator estrutural e permanente das democracias capitalistas, apresenta, como se
demonstrou, variações consoante a configuração do mercado mediático seja de tipo
oligopolista, fragmentado ou misto, variações que impactam nomeadamente o volume
de discursos ideológicos em circulação, o primeiro tipo de mercado promovendo o
afunilamento da oferta ideológica no espaço público, o segundo a pulverização e o
terceiro uma relativa expansão.
Não obstante esta dinâmica variável, resulta claro deste artigo a existência de uma
função político-ideológica ocupada pelos sistemas mediáticos naquilo a que podemos
designar por processo democrático global, função que começou por ser desempenhada
no plano informal mas que o fenómeno de convergência tem vindo a formalizar e
institucionalizar através da criação de movimentos sociais e forças políticas organizadas
a partir de experiências mediáticas. Foram os casos de Silvio Berlusconi, em Itália, e da
chamada “Primavera Árabe”, o primeiro eleito primeiro-ministro após uma fase de
estabelecimento do seu próprio oligopólio mediático, a segunda criando um movimento
político através do domínio de um sub-sistema mediático como o das redes sociais online.
Os exemplos desta reconfiguração dos atores políticos multiplicam-se com casos como o
dos suecos Piratas que, após cerca de quatro anos de afirmação ideológica na internet,
adquiriram legitimação eleitoral em 2010, tendo sido eleitos para o Parlamento Europeu
e conseguido 8% dos votos nas eleições regionais em Berlim; ou o de Beppe Grillo e do
Movimento 5 stelle que conseguiu um amplo apoio social através de um blog denunciador
da corrupção política em Itália.
Exemplos da penetração do sistema político pelo mediático, dinâmica de sentido inverso
à que tradicionalmente existia, sucedem-se e a investigação científica tem vindo a
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evidenciar não apenas o enfraquecimento dos tradicionais partidos burocráticos de
massas como também o surgimento de uma nova política global, ancorada na tecnologia
e desenvolvida por novos agentes criados pelo acesso facilitado à tecnologia e ao controle
dos dispositivos discursivos que garantem a fidelização da atenção do consumidor-eleitor
global. Esta transformação profunda de alguns dos agentes e processos democráticos
significa a reconfiguração da Democracia global, implicando novas formas de negociação
e de escrutínio e, necessariamente, a gestão de maior complexidade.
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