Esta hegemonia funcional dos media e sua integração na teoria downsiana através do
fenómeno aqui designado por convergência socio-político-mediática, integração
graficamente representada nas imagens 4 e 5, constitui o principal contributo do presente
artigo. A importante identificação de Anthony Downs da correlação existente, nas
Democracias, entre posicionamento do eleitorado e posicionamento dos partidos
políticos, o segundo seguindo o primeiro, carece, em nosso entender, de uma extensão
ao campo da Comunicação, extensão que nela integre a variável posicionamento
mediático, deste modo aprofundando o quadro explicativo da dinâmica estrutural dos
regimes democráticos.
A integração desta última variável permite um enriquecimento significativo do modelo
downsiano, ao introduzir o fenómeno de hegemonia mediática na análise e, a partir dele,
explicar a dinâmica que se desencadeia nos seguintes termos: a hegemonia mediática
cria os referenciais do público-consumidor, referenciais que, por sua vez, estarão na base
da definição do(s) posicionamento(s) do eleitorado e, em consequência, do dos partidos
políticos, assim determinando a seleção política. Trata-se de um processo sequencial
que, no caso do mercado oligopolista, promove a estabilidade política, ao facilitar a
formação de maiorias, embora seja necessariamente limitador da inovação, ao expulsar,
pela sua dinâmica, todo o corpo de ideias que não siga os referenciais promovidos pelos
media e que se consubstanciam como os verdadeiros pilares da dinâmica em curso. O
contrário tende a acontecer no caso do mercado fragmentado, já que aí o efeito
gatekeeping dos media é anulado pela acessibilidade tecnológica, que cria as condições
para o controle direto, pelos agentes ideológicos, sobre a disseminação do seu próprio
discurso ideológico.
Esta centralidade mediática do processo de produção ideológica, que aqui surge como
um fator estrutural e permanente das democracias capitalistas, apresenta, como se
demonstrou, variações consoante a configuração do mercado mediático seja de tipo
oligopolista, fragmentado ou misto, variações que impactam nomeadamente o volume
de discursos ideológicos em circulação, o primeiro tipo de mercado promovendo o
afunilamento da oferta ideológica no espaço público, o segundo a pulverização e o
terceiro uma relativa expansão.
Não obstante esta dinâmica variável, resulta claro deste artigo a existência de uma
função político-ideológica ocupada pelos sistemas mediáticos naquilo a que podemos
designar por processo democrático global, função que começou por ser desempenhada
no plano informal mas que o fenómeno de convergência tem vindo a formalizar e
institucionalizar através da criação de movimentos sociais e forças políticas organizadas
a partir de experiências mediáticas. Foram os casos de Silvio Berlusconi, em Itália, e da
chamada “Primavera Árabe”, o primeiro eleito primeiro-ministro após uma fase de
estabelecimento do seu próprio oligopólio mediático, a segunda criando um movimento
político através do domínio de um sub-sistema mediático como o das redes sociais online.
Os exemplos desta reconfiguração dos atores políticos multiplicam-se com casos como o
dos suecos Piratas que, após cerca de quatro anos de afirmação ideológica na internet,
adquiriram legitimação eleitoral em 2010, tendo sido eleitos para o Parlamento Europeu
e conseguido 8% dos votos nas eleições regionais em Berlim; ou o de Beppe Grillo e do
Movimento 5 stelle que conseguiu um amplo apoio social através de um blog denunciador
da corrupção política em Itália.
Exemplos da penetração do sistema político pelo mediático, dinâmica de sentido inverso
à que tradicionalmente existia, sucedem-se e a investigação científica tem vindo a