perceções de identidades híbridas e/ou cosmopolitismo estão a aparecer, na política,
através de elementos de governança global. Correspondentemente, as sociedades
nacionais experimentam a circulação das elites globais de mobilidade (Bauman, 1998:
19), bem como os migrantes mal pagos e os refugiados do conflito e do clima.
Por outro lado, observa-se a dispersão de uma pluralidade de problemas numa escala
transfronteiriça. Dietrich Thränhardt (2000: 131-132) e Ulrich Beck (2013: 56; 77;
310) atribuem essa tendência, em grande parte, ao caráter do desenvolvimento
industrial moderno, a relações políticas e económicas internacionais estabelecidas e a
padrões de consumo global.! Exemplos disso incluem os corolários decorrentes do
armazenamento de armas nucleares, acidentes químicos e biotecnológicos, alterações
climáticas, a violação da biodiversidade, o acesso desproporcional das populações
mundiais a algumas conquistas industriais, as cadeias globais de valor, o consumo
insustentável de energia e o manejo de armas nucleares, resíduos e recursos (água,
terras agrícolas, recursos de fabricação) e a poluição de transporte. Uma parte
significativa dessas complicações não pode ser reduzida a uma área particular, e nem
estas podem ser reabilitadas numa base particularista.!!
O desnível, por sua vez, significa que o impacto da globalização não pode ser
determinado unidimensionalmente para todas as regiões, bem como para os estratos e
grupos sociais, ou mesmo indivíduos isolados, no nosso planeta (Bauman, 1998: 103-
127; Sassen, 2011: 340-439; Steans, 2008). Respetivamente, o desnível também tem
múltiplas expressões. Assim, políticas de tributação opostas (paraísos fiscais) e a
corporatização do comércio internacional estão a produzir discrepâncias no
desenvolvimento económico global.! As relações laborais no mundo, por sua vez,
caracterizam-se pela crescente procura de profissionais altamente qualificados,
especializados e bem remunerados no contexto da reestruturação transnacional da
produção, comércio e bancos (gestores de empresas, especialistas em informática,
consultores jurídicos e financeiros, especialistas em seguros e marketing, cientistas nas
mesmas áreas de investigação, etc.) e por uma situação precária no setor informal e de
serviços pessoais (Taran & Geronimi, 2013). Outras esferas da vida glocal enfrentam
disparidades semelhantes devido à corporatização da comunicação social, da
transnacionalização das indústrias de fronteiras e de segurança, da ativação das
ambições de poder das estruturas terroristas trans-espaciais, da manutenção de redes
de educação e informação de elite, etc.
Contra o pano de fundo das três características da globalização já descritas, a
ambiguidade das mesmas destaca-se ainda mais. Nesse sentido, a globalização
significa coordenação intergovernamental seletiva em questões globais, mas também
uma maior cooperação não-governamental transfronteiriça, certos laços económicos e
tecnológicos, mas igualmente desestabilizações e divergências sociais emergentes,
intercâmbio ou universalização cultural específica, mas também reforço de identidades
nacionalistas e subnacionalistas essencialistas, conectividade ecológica, mas
tratamento unilateral de recursos naturais por parte de atores estatais e não estatais,
livre circulação de capital e de serviços, mas militarização de fronteiras e limiares
étnico-culturais e financeiros para a concessão de cidadania. Numa altura em que o
Myspace regista mais de 110 milhões de utilizadores ativos por mês e o Facebook 60
milhões já em 2008 (Siwal, 2008), somos confrontados com a falta de uma
comunicação política oficial eficaz para superar a fragmentação e a marginalização
globais.