OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 8, Nº. 2 (Novembro 2017-Abril 2018), pp. 109-131
A RELAÇÃO ENTRE MOVIMENTOS SOCIAIS, AS TIC E A MUDANÇA SOCIAL DE
ACORDO COM A COMUNIDADE CIENTÍFICA
Belén Casas-Mas
bcasas@ucm.es
Doutora em Comunicação Social na Universidade Complutense de Madrid (UCM, Espanha) e
Investigadora da UCM, apoiada pelo plano nacional da FPU do Ministério da Educação, Cultura e
Desporto de Espanha (2013-2017). Tem uma licenciatura em Gestão e Atividades Turísticas
(2002) pela UNED, e uma licenciatura em Publicidade e Relações Públicas (2011) pela
Universidade Rey Juan Carlos, tendo ganho o prémio extraordinário de fim de curso em 2011. É
mestre em Comunicação Social (2013) pela UCM, e atualmente é membro do Grupo de
Investigação "Identidades Sociais e Comunicação" (UCM).
Resumo
A rápida disseminação das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) mudou a forma
como os movimentos sociais utilizam a Comunicação Pública e o farão novamente no futuro.
Este artigo apresenta uma análise da literatura académica relacionada com a influência das
transformações das TIC nos movimentos sociais e respetivas consequências para o
consentimento social. O estudo baseia-se numa das dimensões da I&D: "Produção Social de
Comunicação e Reprodução Social na Era da Globalização". É realizado através de uma análise
do conteúdo das representações prestadas pelas instituições científicas que intervêm na
reprodução social do significado. Dentro do quadro teórico da Produção Social da
Comunicação, a análise inclui um corpus de 180 futuros cenários da literatura científica e
técnica nesta área. Os resultados sugerem que as TIC promovem o acordo entre vários grupos
sociais, mas que esse fato pode simultaneamente desencadear conflitos com outras
instituições ou governos.
Palavras-chave
Novas tecnologias, reprodução social; transformação social; movimentos políticos; ONGs;
comunicação pública.
Como citar este artigo
Casas-Mas, Belén (2017). "A relação entre movimentos sociais, as TIC e a mudança social de
acordo com a comunidade científica". JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 8,
N.º 2, Novembro 2017-Abril 2018. Consultado [online] em data da última consulta, DOI:
https://doi.org/10.26619/1647-7251.8.2.8
Artigo recebido em 17 de Maio de 2016 e aceite para publicação em 31 de Julho de 2016
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A relação entre movimentos sociais, as TIC e a mudança social de acordo com a comunidade científica
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A RELAÇÃO ENTRE MOVIMENTOS SOCIAIS, AS TIC E A MUDANÇA SOCIAL DE
ACORDO COM A COMUNIDADE CIENTÍFICA
1
Belén Casas-Mas
Introdução
A revolução das novas tecnologias decorre há mais de duas décadas e os organizadores
do movimento social mundial incorporaram essas novas ferramentas de comunicação
digital em todas as suas ações. Páginas da web, petições online, listas de
correspondência, e-mails individuais, etc., aceleraram os processos de comunicação,
conduzindo a um acordo entre os diferentes grupos sociais com o objetivo de atingir um
objetivo comum. O contributo das TIC determina fortemente a consecução do consenso
intergrupal, pois contribui para uma maior visibilidade dos movimentos sociais, aumento
da capacidade de mobilização das pessoas, impacto mais vasto e aumento das interações
entre os membros.
Qualquer movimento social luta para alcançar diferentes propósitos que, em termos
gerais, podem ser considerados como os passos necessários para promover uma
mudança social real. No entanto, perguntamo-nos se a introdução de novas tecnologias
digitais na vida quotidiana dos movimentos sociais não gera acordos, mas também
pode trazer transformações socio-históricas ou, pelo contrário, a reprodução social.
Este artigo insere-se na área dos estudos sobre movimentos sociais e mudanças sociais,
quando ambos os fenómenos estão relacionados com a dinâmica do consenso/conflito e
inovações técnico-científicas, em particular com a aplicação social das TIC.
O objetivo principal do estudo é o seguinte: saber como determinadas mudanças socio-
históricas relacionadas com o uso das TIC pelos movimentos sociais estão a ser
entendidas nos campos científico e académico.
"As mudanças socio-históricas" são aquelas transformações com um caráter irreversível
na história da humanidade. Por exemplo, a digitalização será irreversível, tal como
aconteceu com o uso da impressão. A literatura relacionada e especializada pode oferecer
várias representações dessas mudanças socio-históricas que ocorrem dentro da
comunidade científico-académica. No presente estudo, selecionou-se uma amostra
desses recursos para analisar os textos nos quais os autores descrevem os cenários que
preveem possíveis mudanças derivadas do uso que os movimentos sociais estão a fazer
das TIC. São "cenários futuros" que envolvem dinâmicas de consenso social e conflito
(Bernete e Velarde, 2014:93).
1
A tradução deste artigo foi financiada por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e
a Tecnologia no âmbito do projeto do OBSERVARE com a referência UID/CPO/04155/2013, e tem como
objetivo a publicação na Janus.net. Texto traduzido por Carolina Peralta.
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Análise da literatura
As contribuições anteriores da investigação científica a partir de diferentes abordagens
ligaram movimentos sociais a protestos, tumultos e manifestantes que lutavam contra
governos e organizações. Em toda a história da democracia, os meios de comunicação
apreenderam o impacto desses eventos disruptivos, tornando-o o centro de atenção na
maioria dos estudos (Tilly, 2009). Ao referirem os protestos que extravasam as fronteiras
nacionais, Della Porta e Tarrow (2004) não usam a expressão "movimentos sociais", onde
o estado é o cerne do conceito, preferindo a expressão "ativismo transnacional".
Pelo contrário, ao explicarem os fenómenos do movimento social, alguns autores (Polleta,
2002; Armstrong & Bernstein, 2008) consideram que considerar apenas o estado
significa ignorar uma estrutura completa dessas organizações. Essa estrutura não pode
ser separada da cultura e da identidade, o que significa outras relações não-políticas.
Armstrong e Bernstein (2008: 74) argumentam que a conceção de reivindicação pública
formal que visa o estado "é muito redutora para abranger a diversidade dos esforços de
mudança contemporâneos" e marginaliza alguns movimentos sociais.
De acordo com Gillan (2017: 271), "a primeira metade desta década assistiu a uma
tremenda vaga de protestos". Houve uma mudança na natureza desses acontecimentos
disruptivos: da teoria do movimento social dos anos sessenta que enquadrava os estudos
sobre a mudança (mobilizações de estudantes, trabalhadores, agricultores e mulheres
que reivindicavam o direito à governação) (McAdam, 1988), passou-se para o
crescimento do ativismo identitário. Parece que o que todos os estudos partilham é um
"interesse pelos processos de contestação e mobilização coletiva" (Schneiberg e
Lounsbury, 2017: 282). Cornelissen e Werner (2014) também referem o interesse pela
ação coletiva e pela capacidade dos ativistas em recrutar membros e obter aceitação e
apoio. Essa capacidade baseia-se em modos de representação que motivam os atores,
porque estão fundamentados em sistemas de crenças culturais mais amplos (Cornelissen
e Werner, 2014: 199).
Para tornar possível a ação coletiva, os ativistas precisam pelo menos de ter sucesso no
enquadramento da identidade criativa. O desenvolvimento de um movimento social
dependerá, portanto, do estabelecimento de um nculo claro entre a questão que eles
querem mudar e "uma ou mais identidades altamente prominentes, conferindo assim a
posse da questão a esses grupos" (McAdam, 2017: 200).
Desde a Primeira Revolução Industrial, vários sociólogos analisaram a relação existente
entre movimentos sociais e instituições estatais ou privadas e o respetivo impacto na
sociedade civil. Esses pensadores associam frequentemente o problema à dinâmica do
conflito e do consenso (Coser, 1956; Galtung, 1969; Curle e Dugam, 1981; Freedman,
2014). A forma como essas dinâmicas se manifestaram entre 1970 e 2011 é a questão
fulcral que une a literatura académica neste artigo. Como De Bakk et al. (2013: 288)
escreve, "os grupos que procuram mudanças geralmente mobilizam-se coletivamente
fora das instituições bem implantadas para afirmar novas lógicas e perturbar acordos
tomados como certos”. Como se demonstrará de seguida, as lógicas disruptivas
envolvem consentimento dentro dos grupos que colidem com a ordem normalizada.
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Quadro teórico: Teoria da Comunicação Social
Este artigo baseia-se num estudo que analisa as relações entre as transformações no
Sistema de Comunicação que afetam os movimentos sociais e os respetivos vínculos às
mudanças sociais. Em particular, examina se essas transformações na comunicação
conduzem à criação de dinâmicas de consenso, dinâmicas de conflito ou ambas ao
mesmo tempo. Na análise efetuada, prestou-se igualmente atenção a outras dinâmicas
que afetam toda a sociedade.
O quadro teórico do estudo é a Teoria da Comunicação Social desenvolvida por Manuel
Martin Serrano (Martin Serrano, 1986). Esta teoria interpreta as relações entre as
formações sociais (SS) e os sistemas institucionais de comunicação (CS) como uma
interdependência entre dois sistemas que são autónomos, mas que se afetam
mutuamente.
As reflexões teóricas sobre esta associação surgem no século XVI. Desde então, os usos
sociais das tecnologias da comunicação e da informação têm sido frequentemente
considerados os procedimentos principais de transformação das relações institucionais e
interpessoais. Humanistas, Iluministas e Positivistas têm partilhado esse ponto de vista
sócio-histórico, o que os ajudou a prever a mudança nas sociedades pré-industriais
(Martín Serrano, 2014).
Desde o momento do advento dos meios de comunicação social eletrónicos, essas
tecnologias foram consideradas a base para o desenvolvimento da "sociedade de massa".
Desde Gabriel Tarde (2011, 1890), o uso maciço das comunicações mediadas tem sido
encarado como inseparável das revoluções industriais. Além dos teóricos culturais, os
funcionalistas e os autores estruturalistas são os principais cientistas que aliaram os usos
sociais das TIC ao progresso humano. Deve frisar-se que, após a Segunda Guerra
Mundial, a "visão otimista e progressista " das mudanças históricas com base no
desenvolvimento científico e económico não foi tão partilhada como antes. Os autores da
Escola de Frankfurt e os de outras linhas críticas mostraram que a "Comunicação Social"
tinha tido muito a ver com a ordem mundial estabelecida após o conflito da guerra e com
os novos mecanismos de controlo social.
Com base nos postulados marxistas, o autor da La Producción Social de la Comunicación
(Martín Serrano, 1986) tem uma perspetiva baseada na análise da comunicação e da
sociedade. Esta abordagem assenta num critério de homologia/diferença entre os níveis
(CS) e (SS), uma vez que em ambos os casos existem os mesmos níveis: infraestrutura,
estrutura e superestrutura.
A "Teoria da Comunicação Social" foi desenvolvida quando não era possível imaginar os
recursos e a produção da rede digital. Portanto, as mudanças sociohistóricas relacionadas
com as novas TIC foram excluídas da análise do movimento social. Este artigo procura
proporcionar essas análises, incluindo as TIC.
Quadro metodológico: produção social da comunicação e reprodução
social
Neste estudo utilizou-se a mesma metodologia implementada anteriormente num projeto
de Investigação e Inovação. Este projeto, intitulado "Produção social de comunicação e
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reprodução social na era da globalização"
2
envolveu uma análise de conteúdo dos
discursos científicos na literatura especializada. Esses discursos estão relacionados com
interdependências existentes entre as transformações da comunicação e as mudanças
sociais na era da globalização. Do total de recursos examinados (70 livros, 10 capítulos
de livros e 33 artigos em revistas científicas, publicados entre 1970 e 2011), criou-se um
corpus de 2300 frases que foi incluído na base de dados de I&D. Uma "frase" é definida
da seguinte forma:
[…] é a transcrição de um argumento sobre uma narrativa bem
formada, seguindo uma conceção que torna esse raciocínio
comparável a outros alternativos (Bernete e Velarde, 2014: 95).
Neste caso, o que se analisa é a narrativa científica. A localização e as transcrições desses
argumentos provêm de um projeto anterior
3
, baseado na aplicação de técnicas
estruturais e discriminativas, o que permite a construção de unidades de análise
mensuráveis e quantificáveis equivalentes. A tabela 1 ilustra o protocolo com a lista de
referências consideradas pelos analistas na recolha de dados de I&D:
Tabela 1. Proto colo para Seleção de Fontes
I. TRANSFORMAÇÕES NA COMUNICAÇÃO QUE SE REFLETEM NA COMUNICAÇÃO PÚBLICA [SCp].
a
TRANSFORMAÇÕES QUE TRANSCENDEM (OU TRANSCENDERÃO) OUTROS SISTEMAS NÃO
COMUNICACIONAIS [SS] - [SR]
Tipos de referências:
Transformações de sistemas de comunicação públicos
Transformações de processos de comunicação públicos
Transformações de mediações de comunicação públicas
E, correlativamente:
II. MUDANÇAS NOS SISTEMAS NÃO COMUNICACIONAIS [SS] - [SR]
que estão (ou estarão) associados a transformações nos sistemas de comunicação públicos [SCP].
Tipos de referências:
Mudanças na organização e componentes do sistema social
Mudanças nas mediações sociais
Referências a grupos envolvidos nas mudanças sociais
III. NA MEDIDA EM QUE ESSAS RELAÇÕES ESTÃO RELACIONADAS (OU PODERÃO VIR A ESTAR) COM A
REPRODUÇÃO SOCIAL NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO
Tipos de referências:
Reprodução ou transformação dos estados e dinâmicas da sociedade globalizada.
a
A "comunicação pública" usa sistemas de comunicação que não são privativos e não têm restrições de acesso
(por definição).
Fonte: Bernete e Velarde, 2014:100.
No presente estudo, recorreu-se a uma perspetiva ampla e inclusiva sobre o problema
para selecionar a amostra. A seleção do campo semântico assenta em alguns dos temas
propostos pelo Journal of Social Movement Studies
4
: contributos que examinam os
2
Projeto de I & D com a referência: CS020010-22104-C03-01. De: 01/2011 a 12/2013. Daqui em diante
mencionado como <I&D>.
3
Para uma descrição detalhada do Projeto e Teste de Modelos para a Análise de Cenários Futuros, veja-se
Bernete e Velarde (2014: p.94).
4
Veja-se: http://www.tandfonline.com/action/journalInformation?show=aimsScope&journalCode=csms20
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diferentes tipos de movimentos, incluindo género, raça, direitos dos povos indígenas,
ecologia, juventude, religião, deficiência e outros. Inclui também todas as formas de
representação e de comunicação ligadas à mudança social, como ciberculturas, hackers,
etc. e redes que suportam "formas de vida" alargadas associadas a sistemas sociais
alternativos, "identidades e construção de identidades coletivas", reflexões teóricas sobre
o contexto de espaço ("movimentos socioeconómicos e culturais locais, regionais,
nacionais, internacionais e globais") e abordagens teóricas "sobre a importância dos
movimentos sociais e dos protestos".
A partir da base de dados acima referida, estabeleceu-se um critério baseado em
parâmetros de pesquisa para obter informações relacionadas com as transformações
comunicacionais que afetam objetos coletivos, como os movimentos sociais e políticos,
e as ONGs. O resultado dessa pesquisa resultou numa amostra de 180 frases, cujo
conteúdo é descrito e analisado neste artigo.
Dinâmicas relacionadas com os movimentos sociais, consenso social e
conflito
Na amostra selecionada para este estudo, há informações sobre as diversas dinâmicas
do consenso social e dos conflitos que estão a ocorrer numa sociedade onde as TIC
desempenham um papel importante nas mudanças sociais nas quais esses coletivos
estão envolvidos. Portanto, o objetivo desta análise é contribuir para o conhecimento
desses tipos de dinâmica e determinar as diferentes formas que podem assumir. Entre
estas dinâmicas, encontramos as seguintes: acordo social relativo à consciência coletiva,
compromisso político, questões morais ou participação em assuntos públicos; e conflitos
sociais que conduzem a protestos de grupos, ou resistência civil, entre muitos outros. A
análise está organizada de acordo com as seguintes fases:
Primeira fase: coletivos afetados
Esta fase concentra-se no estudo das organizações e coletivos afetados, que são os
seguintes:
ONGs
Movimentos sociais, que incluem grupos feministas, hackers e sindicatos.
Movimentos políticos em geral e os que incluem movimentos de libertação (como o
EZLN - o Exército Zapatista para Libertação Nacional -).
A sociedade civil em geral, que pode criar movimentos sociais diversos quando afetada
pela comunicação pública.
Deve especificar-se que existem frases que se referem à comunicação pública utilizada
pelas instituições em geral, incluindo: ONGs, movimentos sociais e movimentos políticos.
Tabela 2. Coletivo social afetado
ONG
Movimentos sociais
Movimentos políticos
Sociedade civil
31%
90 %
27%
17%
Fonte: da autora
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Os resultados na tabela acima referida mostram que a grande maioria das frases se
referem a transformações comunicacionais que afetam os movimentos sociais. Apenas
um terço das frases se refere às ONGs, seguido pelas que se referem a movimentos
políticos. Por fim, apenas um quarto das frases se relaciona com transformações
comunicacionais que provocam mobilizações sociais de vários tipos.
Segunda fase: dinâmica de consenso e conflito social
A dinâmica do consenso social // conflito gerado pelas transformações do sistema
comunicacional são especificamente analisadas nesta fase, de acordo com o seguinte
protocolo
5
:
Tabela 3. Dinâmica do Consenso Social/Conflito relacionado com os usos das TIC pelo
Movimento Social
Referentes exclusivamente ao consenso social, quando promovem:
- Desenvolvimento social.
- O fim da pobreza e da exclusão social.
- Satisfação das reivindicações sociais.
- Solidariedade.
- Integração regional.
- Equilíbrio social e económico a nível mundial.
- Igualdade social.
- Distribuição justa da riqueza.
- Democratização
- Liberdade de expressão.
- Desenvolvimento de uma sociedade multicultural.
- Libertação de povos e grupos.
Referentes exclusivamente ao conflito social, quando contribuem para:
- Diminuição do controlo do Estado sobre a população ou outras instituições
privadas.
- Deterioração ou rotura das relações sociais ou institucionais.
- Conflitos de identidade.
- Atividades criminosas.
- Aumento da agressividade.
- Caos e fragmentação social.
Referentes ao consenso e, eventualmente, ao conflito, quando simultaneamente:
- Encorajam o acordo entre grupos antiglobalização e o conflito com as
instituições que sustentam o sistema globalizado
- Facilitam a mobilização de grupos contra a ação dos governos (guerras, leis,
etc.).
- Permitem a partilha de interesses, o que pode reforçar comportamentos
patológicos ou destrutivos.
- Permitem a transferência da ação coletiva para as TIC, o que dá origem a
mudanças drásticas e radicais (na sociedade, família, relacionamentos, etc.).
Fonte: da autora.
Os resultados da segunda fase do estudo são apresentados na tabela em baixo:
5
O protocolo baseia-se nas categorias utilizadas na Tese de Doutoramento de Casas-Mas, B. (2017).
Transformações da Comunicação blica na Era da Globalização e sua Influência no Consenso e Conflito
Social. Universidade Complutense de Madrid (Espanha).
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Tabela 4. Número de frases incluídas em cada dinâmica de consenso // conflitos
Dinâmica
Percentagem de Frases
Que se referem exclusivamente ao consenso social
16.
Que se referem exclusivamente ao conflito social
5.
Que se referem exclusivamente ao consenso, e,
eventualmente, ao conflito
79.
Fonte: da autora.
Tendo em conta estes resultados, considera-se o seguinte:
As transformações comunicacionais geram consenso social quando todos os setores
da sociedade, tanto públicos quanto privados, beneficiam delas. Um quarto de frases
está exclusivamente relacionada com o consenso social. Por exemplo:
"A introdução das TIC possibilita novas formas de comunicação para
o trabalho comunitário (uma transformação comunicacional de que
depende), e o desenvolvimento de políticas inclusivas para todos os
setores da sociedade, políticos, funcionários de ONGs,
representantes das comunidades locais e líderes do setor privado, o
que permite o crescimento económico e social" (ID
6
. 1626, base de
dados de I&D).
As transformações comunicacionais também podem conduzir ao consenso entre
diferentes grupos sociais, mas, ao mesmo tempo, desencadear divergências com
outros grupos ou instituições que detenham posições ou interesses diferentes. Esta
categoria "consenso/conflito" inclui quase todas as frases em que a transformação
comunicacional afeta movimentos sociais, as ONGs e outros movimentos políticos.
Isso acontece porque esses tipos de instituições geralmente visam a mudança social
ou a transformação da ordem estabelecida, o que contraria os interesses de outras
instituições privadas, governos, etc. Por exemplo:
"As novas estratégias de comunicação e dos media criam novas
formas de acesso ao espaço público, o que permite que movimentos
sociais e políticos lutem em igualdade de condições com os restantes
atores políticos". (ID 96, base de dados de I&D).
uma diferença substancial entre a frase acima referida e a anterior: na frase 96, o
acordo entre grupos de cidadãos possibilita "lutar" contra outros grupos.
É notável que apenas quase uma em cada dez frases da amostra se refira
exclusivamente a conflitos sociais. Parece ser um resultado fraco, na medida em que
6
ID. Identificador de frases na base de dados de I&D.
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a análise dos movimentos sociais tem sido historicamente associada a protestos,
tumultos e lutas entre grupos. No exemplo em baixo, o conflito é sobre movimentos
sociais que lutam para ter acesso a inovações tecnológicas em alguns países no mundo
e não um conflito de interesses com uma instituição.
"A divisão digital (a quase ausência de estruturas de comunicação)
causa obstáculos que impedem o desenvolvimento de grupos sociais
na América Latina e em África". (base de dados de I&D).
Terceira fase: outras dinâmicas sociais
O design metodológico da I&D acima referida considerou uma categorização das frases
estabelecidas de acordo com nove dinâmicas sociais afetadas por transformações
comunicacionais (Cf. Bernete e Velarde, 2014). A mesma categorização foi utilizada na
presente análise, a fim de estabelecer as relações com o consenso social e o conflito.
O gráfico seguinte ilustra a distribuição das frases em cada dinâmica social, e que em
algumas ocasiões a mesma frase pode ser simultaneamente relacionada com várias
dinâmicas.
Figura 1. Distribuição de frases relacionadas com a dinâmica social
Fonte: da autora.
Dinâmica social 1: "Centralização de poder // Descentralização"
A maioria das frases analisadas descrevem as inovações tecnológicas que envolvem a
descentralização do poder da seguinte forma: diminuição do poder político e económico,
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declínio do poder de algumas instituições, horizontalidade do poder, participação,
democratização ou deslegitimação do sistema atual e respetivas instituições.
Relativamente aos textos que se referem exclusivamente ao consenso social,
surge uma questão na maioria dos casos: a participação virtual aumenta a participação
das ONGs (Zhao e Hackett, 2005) e movimentos sociais (López, Roig e Sádaba, 2003).
Essas organizações permitem que os seus membros trabalhem juntos (Klein, 2001),
garantindo o sucesso nas mobilizações em massa (Surman e Reilly, 2005; Tilly, 2009).
Além disso, a comunicação virtual promove a legitimação das atividades das ONGs e de
outras organizações de voluntários (Surman e Reilly, 2005).
Do ponto de vista sociológico, Coser (1956: 204) referiu que esses processos de
legitimação beneficiam até mesmo os governos, porque esses tipos de grupos atuam
como "válvulas de segurança", evitando potenciais conflitos.
Han (2014a: 23) assume um ponto de vista mais crítico, defendendo que o consenso
entre os membros dos movimentos sociais é efémero e não duradouro, precisamente
devido à velocidade da comunicação digital.
Relativamente aos textos alusivos ao consenso e, eventualmente, ao conflito,
existem algumas frases relacionadas com as seguintes questões:
a) A ciberdemocracia pode alterar os padrões convencionais do poder (Curran, 2005),
o que poderia afetar a corresponsabilidade dos membros das comunidades virtuais
(Willson, 1997). Melucci (1980) advertiu sobre o risco de descontinuidade e
fragmentação dos movimentos sociais devido a essa tendência para a
horizontalidade do poder.
b) O acordo de mobilização social enfraquece o poder dos Estados e dos governos.
A Internet facilita a mobilização, a identificação de interlocutores globais e possibilita a
compreensão das reivindicações sociais, envolvendo mais segmentos da sociedade civil
(Tilly, 2009). Além disso, a Internet incentiva as negociações com o poder político, assim
como limita o alcance da ação do Estado e o desenvolvimento de uma ordem militar
(Valencia, 2003). Isso segue as linhas de pensamento de Manuel Castells (2009, em
Freedman, 2014), que destaca a contradição "apesar da crescente concentração de
poder, capital e produção no sistema de comunicação global, o conteúdo e o formato
reais das práticas de comunicação são cada vez mais diversificadas" (Freedman, 2014:
56). Da mesma forma, é considerável o número de frases em que o papel das TIC é o de
proporcionar liberdade de expressão. Essa liberdade permite que as pessoas expressem
a sua opinião política, o que obstrui o privilégio e a imunidade dos estados (Sreberny
2005).
Os textos analisados por vezes descrevem redes sociais como sendo a ferramenta
utilizada para mobilizações que derrubam regimes ditatoriais (por exemplo, Gergen,
2008). No entanto, Morozov (2011: 183) alerta para o seguinte: "Antes que os
formuladores de políticas adotem o ativismo digital como uma forma eficaz de pressionar
os governos autoritários, deverão investigar a fundo o seu impacto, tanto sobre os que
o praticam como sobre o ritmo geral do processo de democratização".
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c) As TIC promovem o consenso entre os movimentos sociais que lutam para mudar a
ordem socioeconómica apoiada pela comunicação social. Por exemplo, as mulheres
que exigem aos governos uma maior igualdade de género (Giddens, 2000), os
movimentos de comunicação tecnológica que exigem mais liberdade de expressão
(Wolton, 2002), etc. Por vezes os textos destacam o questionar a ordem global
(Muñoz, 2005; Martín Serrano, 1994), por exemplo, os movimentos de
deslegitimação do sistema neoliberal, o paradigma da globalização (Amat et al.,
2002; Fuch, 2008; López, Roig e Sádaba, 2003) ou o paradigma da modernização
(Miller, 2011).
Dinâmica social 2: "Iluminação // Obscurantismo"
Esta é a segunda dinâmica que inclui um número maior de frases. Refere-se às
transformações comunicacionais que conduzem à autonomia de pensamento, da ação,
consciência crítica, capacidade de convocar mobilizações políticas e/ou de cidadãos. Está
igualmente relacionada exclusivamente com o consenso social, ou com o consenso social
e, ao mesmo tempo, com o conflito.
Relativamente aos textos que se referem exclusivamente ao consenso social, a
questão mencionada é mudanças nas representações das mulheres nos meios de
comunicação que fortalecem os movimentos feministas (Curran, 2005). Laube (2010:
15) observa que as abordagens dos movimentos sociais tradicionais também analisaram
a mobilização desses grupos marginalizados e as oportunidades políticas que lhes
permitem "aceder às instituições convencionais". Na amostra, também se refere a criação
de meios de comunicação populares que permitem aos grupos não-elite atrair maior
atenção, o que beneficia os movimentos em prol da democracia. Sobre este assunto,
Teun A. van Dijk sugere: "Redes sociais na Internet de pessoas oprimidas envolvidas no
discurso cognitivo nas suas respetivas troca de ideias, crenças, valores, e julgamentos"
(van Dijk, 1995: 244).
No que diz respeito aos textos relativos ao consenso e, eventualmente, ao
conflito, a questão recorrente é: a capacidade crítica da globalização gera resistência
social contra o sistema globalizado. Na literatura analisada, nota-se o acordo social de
grupos antiglobalização", "manifestantes", de "resistência" ou "emancipatórios", que
promovem uma consciência global para mudar a atual ordem social (Cheney, Ganesh e
Zoller, 2005, Petrillli e Ponzio, 2000, Cavallo, 2005, etc.). Além disso, essa mudança
desencadeia o conflito com os interesses do poder. O interesse pela deteção de
mecanismos de manipulação por parte dos governos norte-americanos e das
organizações internacionais levaram os investigadores a analisar o empoderamento
progressivo desses movimentos no início da globalização. Posteriormente, as tecnologias
digitais tornaram mais fácil o acordo entre membros do "movimento de resistência
global" (Amat et al., 2002), como o Movimento Antiglobalização, que foi analisado por
diferentes autores (Ramonet, 2000; Chomsky, 1992; Žižek, 2002 e muitos outros).
Castells (2002a: 86) salienta que o principal mérito deste movimento é ter colocado no
topo do debate político-social o que foi apresentado como o único e indiscutível caminho
rumo ao progresso da humanidade.
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Dinâmica social 3: "Informação // Desinformação"
Esta é a terceira dinâmica do estudo que abarca um maior número de frases, que estão
relacionadas com conceitos como o aumento dos fluxos de informação e o aumento das
interações virtuais entre os membros das organizações e os seus seguidores. Nestes
textos, apenas o consenso é mencionado. Por exemplo, os links de interação e de
telemática possibilitam a coordenação de ações e de grupos de trabalho através de
monitores, o que facilita o aumento dos movimentos sociais e políticos (López, Roig e
Sábada, 2003); ou a garantia de um serviço universal de comunicação instantânea
possibilitará uma conversa global através dos movimentos sociais, o que ajudará a
promover instituições democráticas (Mattelart, 2002).
Nesta dinâmica, a transformação comunicacional envolve um consenso entre grupos ou
um consenso social geral. É notável que, como Des Freedman (2014: 109) observa,
apesar "das oportunidades de comunicação distribuída que ligam os membros
independentes do prazer público, da política ou da educação, muitas vezes novos
pontos de estrangulamento que medeiam o processo". Parece haver, portanto, uma
contradição entre o fluxo livre de informação com a proliferação de guardiães e o
fenómeno da "hipermediação" (Morozov, 2011), que tanto contribuiu para difundir as
novas formas de comunicação (por exemplo, blogues).
Dinâmica social 4: "Controlo // Autonomia"
As transformações comunicacionais que afetam a liberalização e/ou a autonomia dos
movimentos sociais foram incluídas nesta dinâmica social, que está em grande parte
vinculada ao consenso. Existem dois problemas principais mencionados nestes textos:
a) As TIC aumentam a autonomia dos grupos vulneráveis. Essa autonomia é possível
quando as TIC melhoram as estratégias de comunicação, ampliando as campanhas e,
em geral, quando a reapropriação tecnológica aumenta a eficiência. Toda essa
autonomia envolve menos controlo, repressão ou restrição exercida por outras
instituições de poder com interesses opostos. Relativamente à autonomia dos
movimentos sociais, Mhlanga e Mpofu, 2014: 130) defendem que:
"No mundo em rede de hoje, os grupos que enfrentam desafios para
aceder a informação e participar em processos políticos e aqueles
que vivem em sociedades onde as leis, políticas e o ambiente político
impedem a comunicação livre, encontraram plataformas
disponibilizadas pelas novas oportunidades dos meios de
comunicação para criar os seus próprios espaços autónomos".
A libertação destes grupos pode estar ligada ao processo de "liberdade de expressão"
acima mencionado (Vïzer, 2011) graças às TIC, porque a comunicação para o
desenvolvimento é disseminada através delas. Assim, torna possível a libertação dos
povos oprimidos (Gerace, 2008). Autores como Enzensberger (1971) anteciparam essa
abordagem. Ele enfatizou o potencial dos novos meios de comunicação eletrónicos da
indústria como um elemento de pacificação para o desenvolvimento. No entanto, outros
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autores como Lipset (em Habermas, 1984-1968) questionaram a utopia tecnológica de
McLuhan e Enzensberger. Lipset estudou a luta dos movimentos sociais e a sua falta de
compreensão sobre o desenvolvimento tecnológico como fator de liberdade dos
indivíduos. As pessoas nunca conseguiriam renunciar aos seus bens e libertar-se da
alienação laboral e da pressão do status social.
b) Identidade coletiva de referência de grupo. A comunicação blica em toda a
comunicação social contribui para a aquisição de um capital simbólico, reforçando a
identidade do grupo e fortalecendo o sentimento de pertença a um grupo (Sgroi, 2004,
Chaparro, 2004; Álvarez, 2005; Curran, 2005). Esses símbolos também podem
fomentar a ação dos movimentos sociais (Duarte, 1998; Marí, 2004) ou promover o
orgulho nacional (Sampedro, Burnhurst e Cordeiro 2003, Zhao e Hackett, 2005). O
crescimento dos nacionalismos também foi analisado por Giddens (2000), Mattelart
(A. & M.) e Delacourt (1984) e por Arendt (2006), que o consideram uma fonte
potencial de conflito
Dinâmica social 5: "Aparecimento // Desaparecimento do capitalismo
monopolista global"
A maioria das frases nesta categoria menciona simultaneamente dinâmicas de consenso
e de conflito, e referem-se a inovações tecnológicas que afetam os movimentos
antiglobalização, que é o principal grupo que luta contra o sistema capitalista monopolista
global
7
.. Como salientam Echart, López e Orozco (2005: 20), o movimento
antiglobalização surge do pôr em causa a "globalização neoliberal, as suas características
e os seus impactos". As TIC supostamente servem para estimular o acordo social entre
grupos, mais do que enfrentar a globalização neoliberal (Amat et al., 2002). Essas redes
tentam promover a cooperação entre os países (Muñoz, 2005); são plataformas de
ativistas cibernéticos que promovem a renovação das estruturas do capitalismo
informacional (Fuchs, 2008).
Na literatura analisada, as plataformas digitais são apresentadas como meios para reunir
pessoas fisicamente e, eventualmente, desencadear confrontos com as forças policiais e
militares sob a autoridade das instituições capitalistas. No entanto, mesmo que o
questionar o capitalismo seja canalizado através de uma luta ativa, não significa o fim
do sistema, mas apenas - e não sempre - a visibilidade e resistência de grupos como o
movimento antiglobalização. As frases refletem claramente as consequências dos
acordos desses grupos, porque geralmente conduzem a um conflito com a ordem
económica atual (Sábada e Roig, 2004; Sreberny, 2005).
Isso significa que esses movimentos sociais podem causar alguns inconvenientes às
instituições capitalistas, mas, de qualquer forma, o uso das TIC provocaria o
desaparecimento do capitalismo monopolista. Entre outras coisas, porque "os meios de
comunicação social não parecem conduzir a estruturas democráticas de organização em
rede, mas estão inseridas em hierarquias, estruturas de poder internas e formação de
elites dentro dos movimentos sociais" (Gerbaudo, 2012, Fuchs e Sandoval, 2015). Treré
7
O conceito de "capitalismo monopolista" é referido no último quartel do século XIX, quando a sociedade
apresentou características que os sociólogos não-marxistas apelidavam de "sociedade de consumo em
massa", "sociedade de bem-estar", ou sociedade pós-industrial” (Cf. Martín Serrano,1986, 2008:41).
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e Cargnelutti (2014: 183-203) enfatizam que a nova economia da Internet está longe da
democracia, pois está ligada a "questões de vigilância neoliberal, controlo corporativo e
à exploração laboral imaterial dos usuários".
Dinâmica social 6: "Mudança // Estabilização da organização do trabalho"
Esta dinâmica inclui frases de consenso, nas quais a transformação comunicacional gera
novas formas de rede, mudanças nas comunicações internas dentro das organizações,
novas formas de administração e coordenação, novas estratégias, etc. Ou seja,
mudanças na organização do trabalho que foram previamente acordadas por essas
organizações e que levaram a uma maior efetividade na consecução de objetivos, seja
através de um aumento da visibilidade das ações, ou da capacidade de mobilização e
participação.
Identificou-se uma grande questão: a globalização das comunicações aumenta a
capacidade de reunir os cidadãos. As TIC tornam a "estrutura reticular" dessas
organizações mais efetiva (Juris, 2004), por exemplo, reduzindo a burocracia (León,
Burch e Tamayo, 1995), ou melhorando a penetração de mensagens na
consciencialização dos cidadãos (López, Roig e Sábada, 2003, Sreberny, 2005).
Sobre este assunto, Melucci (1980: 219-220) afirmou que o controlo da informação pelo
Estado e outras instituições com poderes confere aos movimentos sociais a natureza dos
comportamentos desviantes individuais. Na era da globalização, os novos movimentos
sociais não se centram no sistema político, procurando em vez disso autonomia e
independência do Estado. Caracterizam-se pela "solidariedade" e exigências de
"identidade". No entanto, este autor também advertiu sobre o perigo de "fragmentação"
e "descontinuidade" dentro desses grupos, porque rejeitam qualquer tipo de
representação (Melucci, 1980: 220-221). A análise de Mattelart (A. e M.) e Delacourt
(1984) centrou-se mais na influência da comunicação globalizada sobre a coesão do
grupo do que na fragmentação.
Dinâmica social 7: "Transformações sócio-históricas // Reprodução"
Quase todas as frases dentro desta dinâmica relacionam as transformações
comunicacionais com as mudanças sociais e as transformações sócio-
históricas/estruturais.
Em relação aos textos onde o uso social das TIC contribui para a unidade da
sociedade, os novos meios de comunicação aumentam todas as formas de integração
global dos movimentos sociais, organizações do terceiro setor, comunidades e redes de
cidadãos globais (Cavallo, 2006; Lash, 2005; Del Gizzo e Rozengardt, 2005; Tilly, 2009).
No entanto, Jan Van Dijk questiona os efeitos dos novos meios de comunicação na
sociedade moderna e afirma que "as mudanças serão mais evolutivas do que
revolucionárias e a sociedade em rede não será um tipo de sociedade completamente
diferente" (Van Dijk, 2012: 277).
Bourdieu e Passeron (1981) propuseram uma perspetiva teórica adicional. Consideraram
que a integração de um grupo reside na identidade ("total ou parcial") do "habitus
inculcado" por diferentes instituições de socialização (escola, comunicação social, família,
...). Esses autores consideraram as filosofias sociais do consenso "ingénuas",
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argumentando que reduzem a integração de um grupo à posse de um repertório comum
de representações (Bourdieu and Passeron, 1981: 76).
Relativamente aos textos onde o uso social das TIC contribui para o consenso
e, ao mesmo tempo, para o conflito, o ativismo é supostamente contrário à
reprodução da atual ordem social. Nesta dinâmica, a "ordem estabelecida" é mencionada
genericamente, sem especificar qual o tipo de ordem contra a qual lutam. Por exemplo,
o consenso entre os membros dessas organizações, graças ao ativismo dos meios de
comunicação minoritários, pode ser bastante eficaz para mudar a ordem estabelecida
(Curran, 2005).
Do ponto de vista de Žižek (2008), este acordo entre membros de grupos emancipatórios
que pretendem mudar a ordem social apresenta uma contradição: o sistema que querem
derrubar é exatamente aquele que fornece as ferramentas de que necessitam para a
mobilização. Assim, este autor questiona abertamente a eficiência dos movimentos
globais para uma mudança social real.
Dinâmica social 8: "Humanização // Desumanização"
Há algumas frases incluídas nesta dinâmica. São cláusulas que sugerem exclusivamente
que as TIC promovem a solidariedade da rede. Essas transformações comunicacionais
podem produzir solidariedade no seio de toda a sociedade (o que envolve consenso
social) ou solidariedade para com coletivos específicos ou causas sociais (que podem
simultaneamente envolver consenso e conflito social). Por exemplo, um êxodo de
refugiados para países vizinhos pode afetar a ação coletiva, através da rede social, de
proteger os seus direitos humanos, o que pode colocar os governos com políticas anti-
imigração numa situação difícil.
Normalmente, a eficácia da comunicação nesses casos vem de ambos, meios
instrumentais e simbólicos que facilitam a identidade coletiva e a solidariedade dos
grupos sociais. Mas outros autores como Rupp e Taylor (1987) ou Melucci (1996) (em
Diani, 2000) consideram que é "o sentimento de identificação e solidariedade mútua que
vincula os atores dos movimentos e assegura a continuação dos movimentos, mesmo
quando não existem campanhas específicas (Diani, 2000: 387). Alguns autores como
Melucci (1980) ou Castells (2002a) associaram o crescimento da cultura colaborativa à
comunicação digital, ao aparecimento e à proliferação de movimentos movidos pelo
sentimento de solidariedade. Pelo contrário, Han (2014b) considera que na era digital,
quando existe uma cooperação universal para reverter o sistema neoliberal, uma
grande contradição: "Não existe uma multidão cooperante e interconectada que se
manifeste num protesto e revolução global" (Han, 2014b: parágrafo 15). Žižek (2008,
20-22) vai ainda mais longe, afirmando que a Internet não promove nem sequer o
significado de "partilha universal", e que o poder quido pertence ao que ele chama
"comunistas liberais", que são legitimados por toda a sociedade. Eles representam o novo
poder do capitalismo moderno (anteriormente bancário) e não visam a riqueza
económica, apenas mudam o mundo, mesmo que na persecução desse objetivo
aumentem o lucro.
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Dinâmica social 9: "Criatividade // Rotinização"
Identificou-se um número escasso de frases nesta dinâmica, todas referentes às
transformações comunicacionais que envolvem a rotinização ou a comercialização de
cultura, artes, educação, meios de comunicação, Internet, etc. Esses textos também
incluem as transformações que produzem autonomia ou dependência cultural e outros
fenómenos, tais como o desaparecimento das culturas, das línguas, da
transculturalidade, da uniformidade cultural, etc. Como mencionado anteriormente,
essas transformações podem estar relacionadas com consenso e conflito social. A
questão mais comum é a seguinte: os novos meios de comunicação geram consenso em
grupos que rejeitam a homogeneização cultural, como, por exemplo, a introdução da
comunicação horizontal dos novos meios de comunicação para evitar a homogeneização
(Gerace, 2008). Também é de notar a existência de um melhor acesso por parte de
grupos cosmopolitas, consumidores, fundamentalistas e, em termos gerais, de
movimentos que reagem a essa unificação cultural (Murdock, 2006).
As tecnologias de transmissão e de armazenamento digital, ou redes sociais como a
Indymedia, podem mudar as mentalidades, valores, crenças e visões de mundo das
pessoas (VV.AA., 2000). No entanto, como observa López (2006), a coesão cultural dos
novos movimentos que almejam uma transformação radical da ordem transnacional
estabelecida é a chave para o confronto entre esses grupos e as instituições que detêm
o poder.
Reflexões teóricas
A análise de frases lógicas fornece uma visão geral de cenários futuros sobre o papel
desempenhado pelas TIC como ferramenta de movimentos sociais diversos na
reprodução ou na mudança social na era da globalização. A literatura científica e técnica
sobre a questão regista o consenso social promovido pelos movimentos sociais e, em
menor grau, pelas ONGs e outros movimentos políticos. Esse consenso está por vezes
associado a conflitos com instituições e organizações com interesses opostos. Por outras
palavras, as inovações tecnológicas que afetam os movimentos sociais podem estar
ligadas à perspetiva do conflito que impulsiona a mudança social. O marxismo e o
darwinismo social apoiaram essa abordagem e os sociólogos de todo o mundo afirmam
que o conflito é essencial e positivo para as relações sociais (González Seara, 1971: 138-
227).
Eventualmente, as transformações comunicacionais que afetam as ONGs conduzem a
dinâmicas sociais de humanização (pois promovem ações de solidariedade). Isso pode
estar de acordo com a teoria do consenso proposta por Comte e Durkheim, para quem a
harmonia social baseada num acordo geral entre indivíduos e grupos é crucial. (Cf.
Campbell, 2002: 138-227).
A grande maioria das frases analisadas aponta para transformações comunicacionais que
afetam os movimentos sociais e, ao mesmo tempo, estão relacionadas com: em primeiro
lugar, com o aumento da participação democrática e a diminuição do poder político e
económico. Em segundo lugar, o aumento do pensamento crítico, mediante a capacidade
de convocar cidadãos e mobilizar pessoas para fins políticos. Em terceiro lugar, o
crescimento dos fluxos de informação e das interações virtuais entre membros de
movimentos sociais, que poderiam (ou não) dar origem a mais interações presenciais.
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Esta perspetiva está em conformidade com os pontos de vista de alguns autores que
afirmam que as revoluções contemporâneas estão associadas a protestos em rede de
movimentos de ação conjunta e meios de comunicação social (Castells, 2012), enquanto
outros autores interpretam este fato como um determinismo tecnológico e como
ferramentas de comunicação social de governos e instituições capitalistas (Fuchs, 2015).
Noam Chomsky (1999) muito que se refere ao determinismo tecnológico que liga as
TIC a uma democracia mais participativa.
Na mesma linha, na década de 1970 Armand e Michèle Mattelart (2000: 162) afirmaram
que a importância crescente dos meios e sistemas de comunicação e sua
internacionalização era crucial para que os cidadãos assumissem certos valores e visões
do mundo. Esta visão está em desacordo com a ideia que as inovações tecnológicas
proporcionam aos movimentos sociais um maior exercício de reflexão crítica. Os dois
autores denunciam o uso da comunicação por pare de certos poderes estabelecidos
(governos ou organizações) para manter o status quo. Além disso, embora nos textos
analisados existam muitas frases sobre a chamada horizontalidade (a diminuição do
poder dos governos), não parece afetar todas as instituições privadas com as quais os
movimentos sociais têm conflitos. Não se pode omitir que, na era da globalização, os
magnatas tecnológicos mais poderosos estão a oferecer essas inovações "de graça" aos
movimentos sociais e a muitos outros usuários.
Quanto ao aumento dos fluxos de informação e das interações que afetam os movimentos
sociais, a literatura analisada tem a ver com o conceito de "Sociedade em Rede". Esta
expressão (avançada principalmente por François Lyotard) tem sido utilizado por autores
como Castells (2004) e Melucci (1980) quando analisam os Novos Movimentos Sociais
no seio das Novas TIC. Especificamente, no âmbito das redes sociais, Melucci (2001)
afirma que os novos movimentos sociais se caracterizam por dois fatores: uma
negociação constante da identidade coletiva e a sua unificação e fragmentação
simultânea.
Os novos movimentos sociais podem ser entendidos como formas reativas de ação
coletiva perante um conflito pré-existente. Procuram soluções para dar respostas à falta
de avaliação durante o pós-materialismo. Candon (2010) dilata esse argumento e
ressalta que as TIC, e especialmente a Internet, produziram um fluxo de conexões e
informações que perturbam as estruturas do ativismo e da participação e associação
política.
Conclusões
Na literatura científica e académica analisada, para cada texto relacionado com consenso,
há cinco sobre consenso e conflito juntos. Isso significa que mesmo que se pense que as
interações virtuais aumentam a participação dos cidadãos e a democratização das
sociedades, de acordo com académicos e cientistas, o uso das TIC por parte dos
movimentos sociais contribui para os conflitos entre sistemas sociopolíticos e
organizações civis.
expectativas positivas quanto à criação de movimentos sociais e conquista dos seus
objetivos graças ao uso das TIC, o que conduz à seguinte conclusão:
Existem novas tecnologias que incentivam a troca de conhecimento e as interações
sociais entre indivíduos e as suas redes. Essas inovações tecnológicas funcionam
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coletivamente em tempo real e bloqueá-las é bastante complexo. Neste contexto,
conclui-se que, com recurso às TIC, os movimentos sociais podem ajudar a transferir o
poder do Estado para a Sociedade Civil.
De referir que essas dinâmicas consensuais são o resultado de conflitos (geralmente de
natureza política) ou podem ter sido a origem das mesmas. De qualquer forma, podem
conduzir a uma crise de poder institucional.
Na maioria dos casos, "a participação numa contestação através da Internet" é
considerada uma "ação" que pode produzir mudanças sociais. Nesses casos, a diferença
entre atos executivos e expressivos é bastante ténue. A diferença entre "fazer" e "o que
precisa de ser feito" é muitas vezes confundida.
À luz desta análise, vale a pena referir os limites deste estudo e de qualquer outro
baseado na análise da representação. Essas representações podem ser comparáveis às
anteriores, expressas ao longo da história das ideias. O presente artigo procurou avaliar
as diferenças e equivalências sempre que os resultados do estudo o permitiram. No
entanto, não é possível prever as mudanças associadas à utilização das TIC pelos
movimentos sociais que ocorrerão no futuro, com base em nada mais do que abordagens
prospetivas contidas na literatura científica-académica analisada. Isso seria ultrapassar
o vel. No entanto, podemos validar ou refutar uma representação de mudanças sócio-
históricas, embora, para atingir esse objetivo, seja preciso esperar o tempo necessário
para que essa previsão se verifique. Assim, investigar se os movimentos sociais poderão
transferir o poder do Estado para a sociedade civil graças ao uso das TIC é uma possível
investigação interessante a conduzir futuramente.
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