mesmos utilizadores. O que significa que há uma forte tendência dos utilizadores para
promover e redistribuir fundamentalmente as suas narrativas favoritas e, portanto,
formar grupos polarizados através daquilo a que se pode chamar a contínua criação de
“cascatas de informação” polarizada, temática. E uma vez dentro da “bolha” será muito
difícil sair dela. Na investigação desenvolvida pelo grupo do IMT de Estudos Avançados de
Lucca (Bessi, 2016), que analisou o comportamento de 12 milhões de utilizadores do
Facebook e do YouTube, entre 2010 e 2014, a equipe de investigação seguiu os "gostos",
partilhas e comentários nos vídeos do Youtube, mas também incorporados em 413
diferentes páginas do Facebook, considerando que havia fundamentalmente dois tipos de
categorias: “conspiração” e “ciência”, sendo que em geral quase todos os utilizadores se
tornaram altamente polarizados, isto é, mais de 95% dos comentários, partilhas e
"gostos" estavam numa única categoria de conteúdo, numa “câmara de eco ideológica”,
sendo que uma vez polarizados, os utilizadores tendem a tornar-se ainda mais
polarizados, ou seja, o utilizador deixa de ter opiniões adversas, outras perspetivas, ou
qualquer tipo de discussão sobre as questões em jogo, que lhe possam trazer outras
perspetivas.
Podemos identificar vários tipos de assimetrias em matéria de informação e notícias no
contexto da convergência inicial dos media tradicionais e já em plena era digital.
Basicamente, falamos dos diversos perfis e mutações que a “espiral de silêncio” da era
mediática apresenta na sua eterna luta com as formas abertas da liberdade de expressão
e de informação, com o pluralismo, a diversidade de conteúdos e vozes e a censura. Das
falsas notícias e da contra-informação, ao fait-divers, sensacionalismo e aos “factos
alternativos”, todos estes temas da era clássica dos media reaparecem agora no digital,
sendo que, atualmente, é em boa parte através das partilhas nas redes sociais que se
validam as notícias falsas. Ora este é um dado novo, que está a configurar uma deslocação
da “fonte” clássica para a origem da partilha, isto é, a fonte original de uma notícia parece
estar cada vez mais subalternizada ao autor, à “popularidade” e ao número de partilhas
online (AAVV, 2017). Mais dramático é que, em geral, na altura de confirmar e partilhar,
as pessoas não distinguem entre fontes conhecidas ou desconhecidas, ou, pior ainda,
inventadas. Veja-se, por exemplo, sobre a diversidade no contexto da informação
noticiosa tradicional, que alguns estudos apontam justamente para uma diminuição do
pluralismo e da diversidade quando a oferta cresceu exponencialmente sobretudo após
a massificação da Internet nos finais dos anos 90 do século passado. É o caso de um
estudo sobre os jornais da Flandres, na Bélgica (Walgrave, S. et al., 2017). Tendo por
base uma análise de conteúdo longitudinal de nove jornais flamengos em quatro
momentos verifica-se que ao longo do tempo, jornais de perfil semelhante, ou jornais
pertencentes aos mesmos grupos de media, tornaram-se menos diversificados no que
respeita às notícias que cobrem.
Ora, justamente, o problema da diversidade e do pluralismo reemerge de forma dramática
no atual contexto das novas assimetrias da era digital, onde as redes sociais e os
“gatekeepers” digitais se substituem aos velhos editores de imprensa, para reorganizarem
a informação pela lógica do “clickbait”, e onde o grau de concentração na indústria digital
é superior ao que sucedia na indústria dos media tradicionais (Hindman, 2009).
Problemático é ainda o facto de 51% dos utilizadores online preferirem as redes sociais
para acederem às notícias, em geral via telemóvel, em detrimento dos media tradicionais,
de acordo com um estudo do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo (Newman, N.
et al., 2016), da Universidade de Oxford, com base em mais de 50 mil entrevistas em 26