Geralmente, parece razoável que certos interesses possam ser sacrificados para evitar
problemas mais graves, especialmente em condições extremas: por exemplo, poucos
culpariam os EUA e o Reino Unido pela cooperação que mantiveram com a União
Soviética totalitária durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, na ausência de
condições tão extremas, uma abordagem realpolitik dos direitos humanos tende a reduzir
a credibilidade do Ocidente aos olhos de minorias e ativistas nos países alvo (por
exemplo, Euractiv 2008).
Existe uma diferença clara entre as abordagens dos dois atores em termos da sua
evolução e continuidade. A abordagem dos EUA parece depender bastante das opiniões
pessoais de cada presidente. Durante a presidência de Bush, as atividades relacionadas
com os LGBTI no estrangeiro centraram-se principalmente na luta contra o VIH, em vez
de se esforçarem por promover a tolerância (Bromley, 2007). A presidência de Obama,
pelo contrário, caracterizou-se por desempenhar um papel importante relativamente aos
direitos LGBTI na política externa: Obama aumentou significativamente o apoio às ONGs
estrangeiras que promovem os direitos LGBTI (Romanovski 2015) e foi o primeiro líder
no mundo a nomear um enviado especial para direitos LGBTI no exterior, Randy Berry,
em abril de 2015. Embora as atividades do enviado não sejam visíveis – as suas
entrevistas demonstram que representa principalmente os EUA em questões LGBTI, em
vez de tomar medidas concretas (Embaixada dos EUA no Kosovo 2015, DeBarros 2016)
- o fato de o Departamento de Estado ter uma pessoa especial que trata especificamente
da proteção LGBTI no estrangeiro é um avanço sério da política externa de Obama e é
uma medida que a UE ainda não tomou. No entanto, a promoção dos direitos LGBTI de
Obama foi criticada pelas lacunas entre as palavras e os atos: um estudo descobriu que,
embora o memorando de Obama em 2011 associasse claramente a atribuição da ajuda
externa dos EUA às práticas de direitos LGBTI nos países beneficiários (veja-se Obama
2011), os EUA não diminuíram a ajuda externa ao Uganda e à Nigéria em 2011-2014,
apesar de estes países terem endurecido significativamente as leis anti LGBTI (Comstock
2016). Veremos o que a administração Trump fará relativamente à promoção
internacional dos direitos LGBTI, mas os primeiros meses da sua presidência foram
menos conservadores do que a maioria tinha antecipado: apesar de grande parte do seu
gabinete ser constituído por opositores LGBTI (veja-se Morse 2016) e ter demitido a
maioria dos embaixadores homossexuais nomeados por Obama, Trump inesperadamente
manteve Randy Berry em funções e prometeu nomear Richard Grenell, um homossexual
declarado, para ser o embaixador dos EUA junto da NATO (Butterworth 2017).
Contra o pano de fundo dos EUA, a abordagem da UE parece ser mais sistemática e
menos exposta a mudanças subjetivas. Em particular, não parece ser significativamente
afetada pelo estado que preside ao Conselho da UE ou pela personalidade do Alto
Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. A título de
exemplo, as acima mencionadas "Orientações para Promover e Proteger o Gozo de Todos
os Direitos Humanos das Pessoas Lésbicas, Gay, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais
(LGBTI)" foram adotadas em junho de 2013 durante a presidência da Irlanda. Todos os
Estados que presidiram posteriormente ao Conselho da UE, mesmo os relativamente
conservadores como a Lituânia ou a Letónia, embora não tendo feito melhorias nos
direitos LGBTI, não tentaram anular as "Orientações". Dois fatores parecem contribuir
para essa discrepância entre os dois atores. Primeiro, os EUA têm um sistema que confere
amplos poderes ao presidente, o que geralmente propicia a personalização do poder
(veja-se Linz, 1990), enquanto a tomada de decisões coletivas no Conselho Europeu faz