OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 7, Nº. 2 (Novembro 2016-Abril 2017), pp. 112-128
INTERFACES DA LUSOFONIA: LUSÓFONOS EM REDE NO FACEBOOK
Inês Amaral
inesamaral@gmail.com
Professora Auxiliar na Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal), Coordenadora Científica da
Licenciatura em Ciências da Comunicação e do Mestrado em Comunicação Aplicada. Docente do
Instituto Superior Miguel Torga, vice-presidente do Conselho Científico e Coordenadora Científica
da Licenciatura em Multimédia e da Pós-Graduação em Audiovisuais e Multimédia. Doutorada em
Ciências da Comunicação. Ensina na área da Comunicação Digital e tem desenvolvido
investigação sobre sociabilidades nas redes sociais digitais, literacia digital, tecnologias e
envelhecimento ativo, consumos mediáticos na era digital. Participado em projetos internacionais
de investigação como EMEDUS e em diversas ações do COST. É membro da IAMCR, ECREA,
INSNA e SOPCOM e co-fundadora da Associação Portuguesa de Formação e Ensino à Distância.
Silvino Lopes Évora
silvevora@hotmail.com
Professor Auxiliar na Universidade de Cabo Verde (Cabo Verde), coordenador da Licenciatura em
Jornalismo. Doutorado em Ciências da Comunicação, vertente Sociologia da Comunicação e da
Informação com a menção de Doutoramento Europeu. Presidente da Associação Cabo-Verdiana
de Ciências da Comunicação. Investiga sobre concentração dos media, liberdade de imprensa,
lusofonia e políticas da comunicação. Ganhou o Grande Prémio Cidade Velha com a tese de
doutoramento (Ministério da Cultura de Cabo Verde) e o Prémio Orlando Pantera com um Ensaio
Sobre a Liberdade na África Ocidental. Aprovado no Concurso do Gabinete para a Comunicação
Social para publicação da tese de Mestrado e no concurso da WAF Editora para publicar um livro
de poemas. Bolseiro de Doutoramento (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), de Mestrado
(Fundação Calouste Gulbenkian) e de Licenciatura (Governo de Cabo Verde).
Resumo
O presente artigo assume o novo cenário digital, postulado na teoria da sociedade em rede
defendida por Castells (2000), enquanto quadro contextual. Assumindo que o virtual existe e
produz efeitos (Lévy, 2001), consideramos que assistimos a uma alteração de paradigma
sócio comunicacional. Se do ponto de vista da Comunicação estamos perante a
individualização, é evidente a mudança de paradigma social. A nova perspetiva incutida pelas
ferramentas digitais é a sociabilização e a maximização do coletivo. Neste artigo, partimos do
pressuposto de que os laços relacionais nas redes sociais assimétricas (que não implicam
reciprocidade entre os nós) que se efetivam em plataformas de sociais media é o conteúdo.
Neste sentido, e assumindo uma perspetiva multidisciplinar, consideramos que a apropriação
da técnica evidencia um mapeamento de estruturas que são mediadas tecnicamente e
interações potenciadas pela tecnologia. Apresentamos um estudo empírico que se baseia
numa triangulação metodológica, cruzando análise documental com netnografia. Analisando
grupos e páginas do Facebook como suportes onde a comunicação é recontextualizada pela
distribuição de forma desagregada e por diferentes tipos de interações, objetivamos
categorizar e compreender as representações sociais da Lusofonia. O objetivo central deste
trabalho é analisar se o Facebook, enquanto espaço de interações digitalmente mediadas e a
partilha desagregada de conteúdo, podem induzir uma reconstrução das redes de significância
e representações sociais da Lusofonia, potenciando a criação de um grupo social único, ou
pelo menos de um agrupamento dotado de alguma homogeneidade.
Palavras-chave
Lusofonia; ciberespaço; redes sociais; representações sociais; interação social
Como citar este artigo
Amaral, Inês; Évora, Silvino (2016). "Interfaces da lusofonia: Lusófonos em rede no
Facebook". JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 7, N.º 2, Novembro 2016-
Abril 2017. Consultado [online] em data da última consulta,
observare.autonoma.pt/janus.net/pt_vol7_n2_art7 (http://hdl.handle.net/11144/2786)
Artigo recebido em 18 de Dezembro de 2015 e aceite para publicação em 15 de Junho de
2016
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Inês Amaral
Silvino Lopes Évora
Para uma introdução: narrativas da Lusofonia e identidades
Entendendo a Lusofonia como um espaço fragmentado repleto de múltiplas significações,
torna-se evidente que os seus discursos, práticas e relações sociais circulam em
diferentes lógicas conceptuais. Neste sentido, interpretamos o espaço lusófono como
sendo construído por sistemas de construção social partilhada e por elementos de
comunicação que potenciam redes de significação dentro de uma subjetividade muito
própria, dependente de uma multiplicidade cultura de significados. Ainda que tanto os
discursos políticos como os mediáticos ocultem as assimetrias e apresentem perspectivas
homogeneizadoras do espaço lusófono como um único.
Como escreveu Eduardo Lourenço,
“A lusofonia não é nenhum reino, mesmo encartadamente folclórico.
É só - e não é pouco, nem simples aquela esfera de comunicação
e compreensão determinada pelo uso da língua portuguesa com a
genealogia que a distingue entre outras línguas românicas e a
memória cultural que, consciente ou inconscientemente, a ela se
vincula” (1999: 81).
O ensaísta sublinha ainda que
“se todos vieram à capital do nosso Norte convocados pela lusofonia,
é porque esta senhora deve ter outros mistérios e outros encantos
ou perplexidades, além dos científicos. Ou que nós lhos atribuímos
para que, de objecto de mera curiosidade histórico-linguística ou até
histórico-cultural, se tenha transformado em tema onde investimos
paixão e interesses que têm a ver o só com aquilo que somos
como língua e cultura no passado, mas com o presente e o destino
desse continente imaterial que é, ou queremos que mais
nitidamente o venha a ser, o mundo da lusofonia. Todavia, nem
aqui, nem em parte alguma, devemos fazer de conta, nós,
portugueses, que o conteúdo e, sobretudo, o eco deste conceito de
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aparência tão inocente arrastem consigo as mesmas imagens, o
mesmo cortejo de fantasmas, os mesmos subentendidos ou mal-
entendidos, nos diversos espaços que atribuímos, sem uma onça de
perplexidade, à ideal e idealizada esfera lusófona” (1999: 81).
Martins defende que
“aquilo que se joga nesta luta simbólica entre globalização
cosmopolita e globalização multiculturalista é o poder de definir a
realidade, assim como também o poder de impor,
internacionalmente, essa definição, quero dizer, essa di/visão.
Neste entendimento, a figura de lusofonia não é uma coisa diferente
da realidade social das distintas comunidades nacionais onde se
processa esse combate simbólico. E é pelo facto de as
representações sociais da realidade não serem estranhas à própria
realidade social dos países que as formulam, que, a meu ver, devem
ser reavaliadas as formulações que tendem a negar à figura de
lusofonia não apenas a eficácia simbólica, como também toda a
eficácia política” (2004: 8).
A multiplicidade de narrativas e representações sociais, enquanto decorrentes do
processo de socialização e diretamente associadas à identidade coletiva (Daniel, Antunes
e Amaral, 2015), fragmentadas que ocupam o imaginário da Lusofonia (num sentido
ainda por apurar, e com uma intensidade ainda por estabelecer) decorrem de uma
memória social e cultural que emerge de uma construção simbólica partilhada,
enquadrada e interpretada de forma heterogénea por diferentes gerações. Para uma
análise do ciberespaço enquanto interface lusófono torna-se imperativo analisar se o
discurso digital pode metamorfosear as representações sociais da Lusofonia (quando as
há, um ponto importante visto uma enorme percentagem dos lusófonos não têm sequer
consciência dessa identidade coletiva da sua representação), o que pode potenciar a
criação de novas identidades e relações sociais indutoras de mudança. A expressão
“interface”, neste trabalho, reporta-se ao ponto de intersecção que as Comunicações
Mediadas por Computador (CMC) potenciam no ambiente digital, permitindo a interação
e a comunicação num estado quase contínuo, sem barreiras geográficas ou temporais.
A dinâmica da contemporaneidade, a mobilidade e a mutação são processos que
constroem a questão da cidadania, em micro e macro escalas, num discurso em que o
“eu” e o “outro” são um continuum em alternância. O pressuposto de que a interação
entre lusófonos, no ambiente digital, decorre de uma construção social partilhada implica
também reequacionar o papel do ciberespaço na (re)construção da identidade lusófona,
como referem Macedo, Martins e Macedo (2010). Os autores sublinham que a Sociedade
da Informação
“parece convocar o ciberespaço enquanto um novo lugar da
lusofonia, no qual se estabelecem redes virtuais de comunicação
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entre cidadãos que pensam, sentem e falam em português” (2010:
14).
A narrativa da Lusofonia na contemporaneidade é descrita por Patrisia Ciancio, numa
dissertação de mestrado sobre a Lusofonia Digital, como estando na coexistência de
dois tempos:
(1) o anacronismo separatista de um passado colonial que coloca todos os países e as
regiões tocadas pelos Descobrimentos sob o mesmo teto da história, mas os divide
seu presente existencial;
(2) na pós-modernidade da urgência de sua inserção em uma conjuntura global de
informação, o que, se bem desenvolvida (ou desenvolvida para o bem), pode
contribuir no âmbito da educação e democratização dos meios” (2008: 34).
O conceito de identidade é crucial para compreender os processos relacionais dentro do
quadro controverso do conceito “Lusofonia”. Maria Paula Menezes sublinha que
“as identidades enquanto processos relacionais raramente são
recíprocas Nunca sendo piras, as identidades são, porém, únicas,
garantindo a afirmação da diferença. O acto de identificar produz a
diferença, construída enquanto relação de poder (Santos, 2001)”
(2008: 78, 79).
Também a questão dos referenciais da Lusofonia, como espelho da “imperialização
portuguesa” (Menezes, 2008), e a formatação do pensamento têm sido elementos
questionáveis na produção da contemporaneidade lusófona em ambiente digital, no seu
mais amplo contexto: o diálogo intercultural.
O discurso oficial da Lusofonia remete para conceitos de memória alavancados no
colonialismo e num imaginário em torno do império. No entanto, numa era pós-colonial,
as identidades constroem-se com base na geografia e nas questões geracionais,
ampliando “identidades hifenizadas” (Khan, 2008) porquanto
“não podem ser representadas como um fenómeno estável, fixo,
pois pensar em balizas cronológicas entre o colonial e o pós-colonial
conduz-nos a moradas epistemológicas erróneas, induzindo-nos no
erro de pensar que, historicamente, o colonial como um episódio é
já pretérito” (2008: 97).
Como consequência da pós-modernidade que se exprime na atual realidade social e
enquanto expoente da globalização, a Internet implica uma reconfiguração do conceito
de território, que surge como fruto da construção de sistemas de representação
partilhados e dinâmicas sociais. O que lhe sentido/identidade são os elementos
simbólicos adoptados por cada grupo. Os espaços digitais são imateriais e concretizam-
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se em lugares e não-lugares (Augé, 2010), onde coexistem redes de redes e redes de
comunidades.
A Internet tem vindo a assumir-se como uma ruptura com o passado, potenciando
passados reinventados e presentes emergentes. Estaremos perante a emergência de
espaços abstractos digitais, que possibilitam representações da memória e do presente
numa reconfiguração das relações de poder e da sua materialização em pontos de
intersecção digital? A rede pode assumir-se como um possível cenário de renovação e
reforço de laços na Lusofonia? E, nela, o Facebook, que agora substituiu o Orkut como a
rede social mais importante no maior dos Estados lusófonos, o Brasil?
Geografias da Sociedade da Informação
A introdução da tecnologia na vida pública e privada das sociedades promoveu uma
alteração dos comportamentos. Efetivamente,
“as tecnologias de e em rede são atualmente parte integrante da
vida diária de milhões de pessoas e fomentam a inteligência
colectiva (Lévy, 2001, 2004; Jenkins, 2006). uma revolução
social online em curso, no que concerne à utilização e apropriação
da tecnologia. As pessoas estão a alterar os seus comportamentos:
trabalham, vivem e pensam em rede” (Amaral, 2014).
No entanto, é imperativo sublinhar que a introdução da tecnologia e, em particular, da
Internet na vida privada e pública das sociedades também se opera numa lógica de
dimensões socioeconómicas o que, inevitavelmente, nos remete para contextos
geográficos específicos.
As sociedades info-incluídas e info-excluídas têm de ser referenciadas no contexto da
territorialização dos espaços sócio-tecnológicos. Estes territórios têm dinâmicas próprias
que dependem de várias variáveis e originam diferentes potenciais de disseminação de
informação e comunicação através das tecnologias em rede. Os acessos à Internet podem
contextualizar a geografia das sociedades info-incluídas e info-excluídas.
De acordo com estatísticas apresentadas pelo site Internet Live Stats
1
, estima-se que
46.1% da população mundial tem acesso à Internet, sendo que se contabilizam 4 biliões
de não utilizadores. A projeção de crescimento nos últimos quinze anos, segundo o site
Internet Usage Statistics
2
, é de 826.9%. As estatísticas revelam ainda exclusões digitais
geográficas, sendo que a Europa, Austrália e América do Norte têm as maiores taxas de
acesso à rede e o continente africano não ultrapassa os 28%. Refira-se ainda a questão
da América Latina e do Médio Oriente que, de acordo com as estatísticas de 2015, têm
uma taxa de penetração que ultrapassa os 50%.
1
Site do projeto Real Time Statistics Project que disponibiliza estatísticas de acesso à Internet. Disponível
no endereço electnico http:// http://www.internetlivestats.com/ (Consultado em abril de 2016).
2
Site que disponibiliza estatísticas de acesso à Internet baseadas em dados de provedores locais,
International Telecommunications Union, GfK e consultora Nielsen Online. Disponível no endereço
electrónico http://www.internetworldstats.com (Consultado em dezembro de 2015).
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Castells (1996) remete-nos para a Internet enquanto um espaço de espaços e, neste
sentido, o local e o privado tal como o local e o global habitam em conjunto. Daqui
decorre que a questão territorial digital se define por factores que a perspectivam numa
dimensão global. Os fluxos de informação que habitam na rede traduzem um conjunto
de nós ligados por diferentes laços que tornam os o-lugares em lugares (Augé, 2010).
Neste sentido, os lugares correspondem a utilização social da tecnologia. Em última
instância, o acesso à Internet deve ser também equacionado à luz do conceito de literacia
digital.
A iliteracia digital reporta-se a um processo que culmina no afastamento de indivíduos
dos computadores e da Internet por domínio incompetente do seu modus operandi.
Exclui-se a telefonia
“porque embora pertença ao mesmo grupo de produtos de IC
(Informática e Comunicação), até por compartilhar a mesma
infraestrutura, sob uma perspetiva sociológica o telefone possui
características bem diferentes dos demais: é parte da família de
produtos «inclusivos para analfabetos» que podem ser utilizados por
pessoas tecnicamente sem nenhuma escolaridade” (Sorg & Guedes,
2005: 102).
Como sublinha Gomes (2003), Castells defende que a iliteracia é a “nova pobrezada
contemporaneidade, assumindo-se como um novo tipo de “analfabetismo funcional” que
traduz a ausência de competências para existir e co-existir num contexto de uma
sociedade global da informação. Neste sentido, compreende-se que a exclusão digital
tem um nível macro e múltiplos veis micro, que decorrem de diferentes condicionantes.
As dimensões da exclusão social assumindo-se que estas não o sinónimo de pobreza
podem, então, aplicar-se à iliteracia digital sendo, assim, multidimensionais, dinâmica,
relacional, activa e contextual. Nesta perspectiva, e no contexto da iliteracia digital,
“grupos desfavorecidos” podem ser definidos no quadro do gradiente de uma amplitude
multidimensional, que compreenda os indicadores de ausência de direitos sociais e os
níveis micro da exclusão social, e delimite os grupos afastados da sociedade da
informação digital por estes motivos. Mayer (2003) refere que um grupo desfavorecido
pode ser definido através de uma simples expressão: “denied access to the tools needed
for self-sufficiency”. Um grupo desfavorecido será, então, aquele se descreve como
assumindo um padrão de falta de acesso a recursos imposto por diferentes barreiras.
Assumindo a rede como a característica central em termos organizacionais nas
sociedades informacionais, o modelo comunicacional que se tem afirmado reduz a uma
condição de subcidadania os cidadãos que são digitalmente excluídos.
Retratos da info-exclusão e info-inclusão nos países lusófonos
Traçar um perfil da info-exclusão e da info-inclusão nos oito países da CPLP não é uma
tarefa objectiva. A leitura dos números do acesso à Internet nos países lusófonos carece,
necessariamente, de um enquadramento mais amplo que contextualize a diferença entre
quatro esferas geográficas de desenvolvimento económico e tecnológico (e,
consequentemente, social e cultural) distintas: a). Portugal; b). Brasil; c). PALOP; d)
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Timor-Leste. Dentro da esfera macro dos PALOP (ou ”Os Cinco”, como se auto-
denominam), há a equacionar diferenças significativas entre os países e, ainda, dentro
dos próprios países.
A própria formação de identidades em contextos históricos, sociais, políticos, culturais e
económicos distintos suscita ciclo permanente de exclusão e inclusão que nada têm a ver
com a tecnologia. Martins afirma que
“como expressão simbólica, mitológica, a lusofonia constitui uma
particular categoria de palavras. Integra o vasto conjunto de
palavras com as quais encenamos a relação entre o mesmo e o
outro, entre s e os outros. Usamo-las para exprimir pertenças e
identidades, e mesmo para delimitar territórios” (2004: 5).
Tabela 1: Estatísticas de acesso à Internet em 2015 nos países lusófonos
Utilizadores com acesso
à Internet
Taxa de Penetração
(% da População)
5,102,592
26%
117,653,652
57.6 %
219,817
40.3%
70,000
4.1%
1,503,005
5.9%
7,015,519
64.9%
48,806
25.2%
290,000
23.6%
Fonte: Internet Usage Statistics
No continente africano, o espaço lusófono o é senão um universo de partilha de
conhecimento, informação e afectos, numa dimensão multilingue. Na atmosfera das
produções em ambiente online, o processamento acontece da mesma forma. É notório
que as novas tecnologias de informação e comunicação vieram dar um contributo enorme
na aproximação dos povos lusófonos em África, a avaliar sobretudo pela dispersão dos
territórios que compõem o continente. As variações culturais em África o consideráveis,
de região para região, e a densidade económica desses países saídos do processo de
descolonização na primeira metade dos anos 70 do século XX o é favorável ao trânsito
humano nos circuitos geográficos que marcam o universo offline.
As viagens entre os diferentes países luso-africanos não estão ao alcance da maioria das
famílias dessa comunidade. Associado a isso, encontramos, no continente, milhares de
famílias com dificuldades em formular respostas para as questões básicas que atendem
à sobrevivência da pessoa humana, como a alimentação, a água potável, o vestuário, a
medicação, a educação, a higiene e a saúde blica, entre outras. Nestes casos, ficam
completamente de parte as possibilidades de desenvolvimento de conhecimento mútuo,
através de contactos possibilitados pelo trânsito no mundo offline. Neste sentido, a
mediação da comunicação de massa pode ter um papel de grande importância. A
televisão, pela força da sua imagem e pela capacidade de transportar as realidades
distantes para o interior dos lares planetários, poderia ter um papel de grande
importância nesta matéria. Porém, alguns factores que não concorrem para essa
dimensão da comunicação televisiva no espaço luso-africano:
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a) desde logo, a grande maioria dos conteúdos produzidos pelas televisões de Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Moçambique não chegam aos
outros países da lusofonia africana;
b) essas televisões, sobretudo as públicas que têm mais responsabilidade na
sedimentação dos valores simbólicos dos seus países estão confinadas aos “lugares
comuns” e aos seus “lugares de conforto”, sendo que, muitas delas, não conseguem
cobrir a totalidade dos seus territórios nacionais;
c) uma fraca aposta nos documentários, que constituiriam elementos de grande
valor para ancorar o conhecimento de uma sociedade;
d) as grandes reportagens não são géneros televisivos muito cultivados nos países luso-
africanos. Através da investigação jornalística, as grandes reportagens resgatam
muito daquilo que são valores entranhados na vivência de um povo, trazendo
elementos fecundos para o conhecimento de uma sociedade;
e) carecem, nessas televisões, de programas de entretenimento de alto valor cultural,
que acabam por trazer mais-valia para a tradição simbólica desses povos.
Tendo em conta a carência dos meios materiais, as dificuldades no trânsito geográfico e
o fraco papel dos media tradicionais na constituição de pontes entre as diferentes
comunidades lusófonas em África, um espaço remanescente, potencialmente forte,
para o desenvolvimento da comunicação, dos sistemas de informação e para a troca do
conhecimento. Aqui, o computador arroga, para si, um papel de relevo.
Macedo, Martins e Macedo (2010) citam Wagner para ilustrar a situação brasileira que
“tem experimentado inegáveis avanços no acesso da população à
Internet, embora os números ainda revelem fortes disparidades,
conforme as regiões do país, as classes sociais e o nível de
escolaridade das pessoas”.
Vários autores referem que a taxa de penetração da Internet no Brasil se resume a um
fenómeno urbano, centrado na literacia. Ainda que seja notório que regiões com elevada
densidade populacional, independentemente da questão socioeconómica comecem a
utilizar com regularidade a rede. E aqui a centralidade dos media profissionais e a
extensão que estes fazem ao ciberespaço não seja indiferente.
O caso português é invariavelmente diferente porque se centra no suporte da União
Europeia e em níveis económicos e de literacia mais elevados que os restantes países. O
seu grau de desenvolvimento no acesso à Informação e ao Conhecimento é distinto dos
restantes países lusófonos, facto que a própria proliferação de dispositivos electrónicos
corrobora.
Timor-Leste é um país que viveu um longo período de ocupação e, posteriormente, de
conflito. Neste sentido, a baixa taxa de penetração de Internet parece uma realidade
óbvia, numa altura em que são prementes questões básicas de infra-estruturas.
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Uma outra questão a ter em conta é o mero de falantes de língua portuguesa,
originários de qualquer um dos oito países, espalhados pelo mundo. De acordo com o
Observatório da Língua Portuguesa
3
, registam-se 244 milhões de falantes de Português.
No entanto, apenas em Portugal e no Brasil a totalidade da população é contabilizada
como falante de língua portuguesa. Nos restantes países, o Observatório regista que nem
todos os habitantes falam português: Angola (70%), Cabo Verde (87%), Guiné Bissau
(57%), Moçambique (60%), São Tomé e Príncipe (90%) e Timor-Leste (20%). Cite-se,
a este propósito, Ciancio que sublinha que
a língua portuguesa, que tambm me, em algumas realidades
passa a ser madrasta enquanto mecanismo elitizado. Assim ganha
tambm conotaço de repdio ao sufocar os idiomas nacionais e ser
naturalmente excludente na forma em que utilizada. O povo fica
s margens de um processo educacional de ensino do idioma em
conformidade com suas realidades locais (2008: 63).
Dados do referido estudo do Observatório da Língua Portuguesa revelam ainda cerca de
10 milhões de falantes de Português na diáspora. Neste sentido, e de acordo com o
Internet World Stats, o Português era a quinta língua mais falada na Internet em 2012
com 131.5 milhões de utilizadores. Os dados mostram, então, que a ideia de que se
assiste a uma mudança de um modelo de comunicação de massas para a comunicação
em rede não implica uma anulação, mas antes uma articulação dos e com os modelos
anteriores,
“produzindo novos formatos de comunicação e também permitindo
novas formas de facilitação de empowerment e, consequentemente,
de autonomia comunicativa” (Cardoso, 2009: 57).
A rede, enquanto espaço de multiplicidade de fragmentos, às sociedades o impulso
da convergência de meios, culturas, pessoas e conhecimento através de interfaces. O
caso cabo-verdiano ilustra este argumento e cimenta a ideia de que a construção das
narrativas sobre os países está directamente relacionada com os media, instituições e,
essencialmente, a apropriação da língua. Ciancio sublinha que
“o terreno da lusofonia é flutuante porque o delimita um território
de continuidade, e demarca identidades inconscientes que se
perdem no desconhecido e na pluralidade de sua fragmentação”
(2008: 7).
O novo ecossistema de comunicação que emerge com a Internet remete para a relação
entre a tecnologia e a dimensão social da sua utilização. No entanto, as identidades e
3
Dados de 2010 disponíveis em http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/dados-estatisticos/falantes-de-portugues-
literacia (Consultado em dezembro de 2015).
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diversidades culturais que compõem o vasto universo da Lusofonia não concorrem uma
ideia una de sociedade lusófona em rede. Esta perspectiva seria, aliás, redutora da rica
multiplicidade cultural de 244 milhões de falantes de ngua portuguesa espalhada pelo
mundo. Ainda assim, arriscamos pensar que o paradigma do colectivo, os conceitos de
rede e comunidade são atualmente centrais no estudo dos espaços sociais que proliferam
pela Internet e permitem mapear mobilizações, representações e expressões da
Lusofonia enquanto um universo único que reúne cidadãos que partilham laços de
identidade, cultura e língua.
O ciberespaço enquanto interface da Lusofonia: uma tentativa de
“conexão lusófona” como ponto de intersecção
As CMC simulam a presença e potenciam a mediação da individualização e do colectivo
através de processos de comunicação, cooperação e conflito que se materializam através
da utilização social das tecnologias. A este propósito, atente-se nas palavras de Jouët:
“Communication practices are often analysed as being the product
of changes in communication systems and equipment, which are
though to define de facto the way in which individuals use them.
Such technical determinism, however, should be avoided. The same
can be said of the limiting model of social determinism which ignores
the role of technical objects and rather sees social change as the
principal factor determining usage” (2009: 215, 216).
Procurando superar as limitações tanto do determinismo tecnológico e como do social,
tentamos nesta secção analisar grupos formados através da interação mediada
digitalmente. Neste sentido, consideramos que as CMC potenciam a comunicação entre
indivíduos dispersos geograficamente, mas também geram cooperação mediada
digitalmente e são potenciais instrumentos de mobilização das sociedades info-incluídas
(Rheingold, 2002). As dinâmicas sociais que ocorrem no ciberespaço remetem para
interações que se desenvolvem via CMC, geram fluxos de trocas e sustentam estruturas
sociais (Recuero, 2009). A representação colectiva centra-se agora nos novos padrões
de interacção social que decorrem da utilização individual e conjunta da tecnologia
(Castells, 2003). Recuero argumenta que
“o início da aldeia global é também o início da desterritorialização
dos laços sociais” (2009: 135).
Recuero apresentou comunidade virtual como a definição para
“os agrupamentos humanos que surgem no ciberespaço, através da
comunicação mediada por computador” (2003a: s/p).
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Daqui decorre que a questão geográfica se esbate e a construção social partilhada se
torna um elemento de destaque.
Entre os diferentes media sociais que ilustram a paisagem da rede, o Facebook é a
plataforma com mais falantes de ngua portuguesa. Dados da agência Social Bakers
4
mostram que o Português era a terceira língua mais falada nesta rede social, em
Novembro de 2012, com 58539940 utilizadores. Um número que se revela
impressionante se comparado com os dados que a mesma agência disponibilizava em
Maio de 2010: 6119680. Ou seja, um aumento exponencial.
Tabela 2: Estatísticas de utilizadores registados no Facebook em 2012 nos países lusófonos
País
Utilizadores registados
no Facebook
Taxa de
Penetração
Angola
645,460
3.2%
Brasil
51,173,660
26.4%
Cabo Verde
107,340
20.5%
Guiné Bissau
NA
NA
Moçambique
362,560
1.5%
Portugal
4,663,060
43.3%
São Tomé e Príncipe
6,940
3.8%
Timor Leste
NA
NA
Fonte: Internet Usage Statistics
Recorrendo a uma triangulação metodológica, que cruzou a análise documental com
análise de conteúdo quantitativa e netnografia, desenvolvemos um estudo de caso que
visa categorizar e compreender as representações sociais da Lusofonia através do seu
mapeamento no Facebook. Assumindo como pressuposto que a lógica de rede traduz nós
(indivíduos e grupos) interligados por diversos laços. O modelo de comunicação em rede
resulta, portanto, de uma fusão entre diferentes esferas tecnosociais que moldam a
sociedade, com este trabalho procuramos responder a duas questões de investigação:
(1) Estaremos perante a emergência de espaços abstractos digitais, que possibilitam
representações da memória e do presente numa reconfiguração das relações de
poder e da sua materialização em pontos de intersecção digital?
(2) A rede pode assumir-se como um possível cenário de renovação e reforço de laços
na Lusofonia?
Delineámos como objetivos:
(1) analisar se o Facebook, pode induzir uma reconstruço das redes de significncia e
representaçes sociais da Lusofonia, através das categorias das páginas identificadas
com a palavra “Lusofonia” e das descrições indicadas;
(2) analisar se o discurso digital pode metamorfosear as representaçes sociais da
Lusofonia, procurando identificar se existe uma representação social única que derive
de uma construção social partilhada materializada em discursos similares nas
conversações nos grupos estudados.
4
Dados disponíveis em http://www.socialbakers.com/blog/1064-top-10-fastest-growing-facebook-
languages (Consultado em agosto de 2014).
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Para um mapeamento da Lusofonia na plataforma Facebook, procedemos a uma pesquisa
pela palavra-chave Lusofonia” no diretório de páginas e grupos. Um aspecto
interessante a salientar centra-se nas sugestões apresentadas à pesquisa por
“Lusofonia”: “lusofonia games”, “lusofonia games 2014”, “lusofonia games mascot”,
“lusofonia games goa 2014”, “lusofonia games 2013 goa”.
Objectivámos apenas o mapeamento de grupos com mais de 60 membros e páginas com
mais de 100 fãs. Com base nestes requisitos, inventariámos 43 grupos e 28 páginas.
Tabela 3: Membros dos grupos identificados com a palavra “Lusofonia”
Membros
Grupos
60 100
23.25%
101 300
32.56%
301 500
11.63%
501 700
4.65%
701 900
6.98%
901 1100
0%
Mais de 1101
20.93%
Fonte: Elaboração própria
O número de membros entre os grupos identificados e analisados é spar, sendo que
não se estabelece um padrão sequer por categoria. Ainda assim, é possível notar que os
grupos com menos membros são, tendencialmente, os que têm uma tipologia de acesso
fechada.
Tabela 4: Tipologia de acesso aos grupos identificados com a palavra “Lusofonia”
Tipologia de Acesso
Grupos
Aberto
55.81%
Fechado
44.19%
Fonte: Elaboração própria
Verificou-se um equilíbrio entre a tipologia de acesso ao grupo, tendo sido possível
observar que os pedidos de acesso são rapidamente respondidos de forma positiva.
Tabela 5: Categorias dos grupos identificados com a palavra “Lusofonia”
Categorias
Grupos
Cultura
23.26%
Comunidade
18.60%
Comércio
6.98%
Desporto
2.33%
Diáspora
9.30%
Ensino/Estudos
4.65%
História
9.30%
Informação/Media
16.28%
Língua Portuguesa
4.65%
Sem Descrição/Sem Acesso
4.65%
Fonte: Elaboração própria
A categorização dos grupos é interessante de analisar pela sua diversidade. Os grupos
classificados como “Diáspora” estão identificados como comunidades de membros de
países lusófonos fora do seu contexto, particularmente no norte da Europa. Nestes casos,
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todos os grupos são de acesso fechado e verifica-se um pormenor substancialmente
interessante: os membros são quase sempre oriundos de mais de quatro países
lusófonos.
Os grupos que foram classificados como “Comunidade” são essencialmente orientados a
jovens e à partilha de experiências nos diferentes países lusófonos, nomeadamente no
que concerne a interesses musicais.
As categorias “Informação/Media” e “Cultura” o as dominantes e tratam
essencialmente temáticas relacionadas com Brasil e Portugal, sendo rara a alusão
assuntos da África Lusófona e inexistente no que concerne a Timor-Leste.
Tabela 6: Fãs das páginas identificadas com a palavra “Lusofonia”
Fãs
Grupos
100 400
28.57%
401 700
21.43%
701 1000
10.71%
1001 1300
7.14%
Mais de 1301
32.15%
Fonte: Elaboração própria
Os grupos que têm mais utilizadores são os que estão classificados como “Cultura” e
“Informação/Media”. Os grupos com a tipologia “aberto” são os que m maior número
de membros. Para além de “fechados”, os grupos com menos utilizadores são os que
correspondem a categorias como “Diáspora”, “Comunidade” e os que o têm
classificação.
Tabela 7: Categorias das páginas identificadas com a palavra “Lusofonia”
Categoria
Páginas
Non-Governmental Organization (NGO)
1
College & University
2
Community
2
Community & Government
1
Sports League
2
Non-Profit Organization
5
Arts & Entertainment
1
Interest
1
Library
1
News/Media Website
1
Magazine
1
Sports Venue
1
Radio Station
1
Media/News/Publishing
1
Arts & Entertainment · Bands & Musicians
1
Community Organization
1
Government Organization
1
Music Chart
1
University
1
Book
1
Local Business
1
Fonte: Elaboração própria
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As páginas identificadas com a palavra “Lusofonia” pertencem a categorias díspares e
não demonstram um padrão único. Sendo que se verifica uma tendência para páginas
associadas a grupos e/ou comunidades e a organizações sem fins lucrativos.
Tabela 8: Número de fãs das páginas identificadas com a palavra “Lusofonia”
Fonte: Elaboração própria
À semelhança das categorias, as páginas também não apresentam um padrão no que diz
respeito ao seu número de fãs. Torna-se evidente que apesar de estarem sob o “chapéu”
da Lusofonia, não existe uma narrativa una nem padrões de agregação evidentes no que
concerne à representação social de um grupo único. Nesse sentido, de uma perspetiva
digital a Lusofonia é ainda tão-somente uma entidade in fieri.
A análise empírica permite concluir que as representações sociais da Lusofonia em
espaços de interação social mediada não evidenciam um grupo social único, que se
materializa numa construção social partilhada que substitui a presença pela pertença nos
lugares e o-lugares (Augé, 2010) que pululam na rede. A distribuição desagregada
dos espaços do Facebook não evidencia que esta seja uma ferramenta de comunicação
mediada por computador que reconstrua significados ou tão pouco se assuma como um
veículo de representações sociais que assumem a Lusofonia como um grupo social único.
Verifica-se que existe uma multiplicidade de narrativas e representações sociais
fragmentadas cuja construção simbólica partilhada é, apenas, a língua portuguesa.
Fãs
Categoria
431
Non-Governmental Organization (NGO)
312
College & University
421
Community
349
Community & Government
2240
Sports League
1568
Non-Profit Organization
2096
Arts & Entertainment
729
Interest
603
Library
179
Non-Profit Organization
251
Community
288
News/Media Website
16098
Magazine
951
Sports Venue
6660
Sports League
951
Radio Station
3489
Non-Profit Organization
4160
Media/News/Publishing
556
Arts & Entertainment · Bands & Musicians
1020
Community Organization
119
Non-Profit Organization
9417
Government Organization
340
Music Chart
205
University
543
College & University
1284
Non-Profit Organization
235
Book
1503
Local Business
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Notas conclusivas
A lógica da Internet como plataforma de rede social facilita às pessoas a oportunidade
de se associarem a outros com quem partilhem interesses, encontrar novas fontes de
informação e publicação de conteúdo e opinião. A denominada Web social disponibiliza
recursos que permitem, a quem tem acesso à tecnologia, a possibilidade de ter uma voz.
Plataformas como Facebook, YouTube, Flickr e Twitter são uma «nova ágora», que
combina o poder do capital humano e social com o potencial de comunicação global da
Web social. As possibilidades existem, a rede tornou-se dinâmica e a velocidade é uma
realidade.
O discurso digital não metamorfoseia o campo representacional da Lusofonia. Neste
sentido, não se perspectiva a criação de novas identidades lusófonas nem relações que
evidencie práticas sociais indutoras de mutações representacionais.
A questão dos referenciais simbólicos comuns e da ngua potenciam e maximizam as
interações online entre lusófonos. No entanto, o laço da Lusofonia não se materializa na
construção de uma narrativa única mas antes na propagação de diferentes narrativas,
assentes num determinismo geográfico apenas ultrapassado pela convergência de
convivência típica da rede que é potenciada pela partilha da língua.
A análise do ciberespaço Lusófono carece ainda de estudos de maior envergadura,
nomeadamente no que concerne a espaços de ligação e a amostras de dimensões
consideráveis em relação a cada um dos países tal como à representação social que os
Lusófonos fazem na rede de si e dos outros. Considera-se de urgência um projeto que
estude a interação entre lusófonos no ambiente digital e uma avaliação da construção
social partilhada baseada em análise de conteúdo e análise de redes sociais, o que
interpretamos que pode permitir aferir de forma mais ampla se o ciberespaço permite
reequacionar uma (re)construção da identidade lusófona num contexto fora dos media.
Um projeto a ter em mente.
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