OBSERVARE
Universidade Autónoma de Lisboa
e-ISSN: 1647-7251
Vol. 7, Nº. 2 (Novembro 2016-Abril 2017), pp. 1-13
DISCURSO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-
METODOLÓGICA
Luísa Godinho
lgodinho23@yahoo.com.br
Professora Auxiliar na Universidade Autónoma de Lisboa (Portugal) e investigadora na área da
Comunicação Política. Os seus interesses académicos situam-se nos campos do discurso, da
comunicação digital e da abordagem computacional às Ciências Sociais.
É doutorada em Ciências Económicas e Sociais pela Université de Genève, Suíça.
Resumo
No presente artigo, a relação entre os agentes internacionais é entendida como um processo
comunicativo que tem no discurso o seu instrumento central, perspetiva que tem conhecido
uma expansão assinalável, nas últimas décadas, no campo das Relações Internacionais. Esta
profusão tem, no entanto, sido acompanhada por frequentes apelos a uma maior clarificação
metodológica nos trabalhos académicos realizados. O presente artigo visa dar um contributo
neste sentido, fornecendo uma visão integrada das abordagens discursivas no campo das
Relações Internacionais e apresentando um quadro atualizado da teoria do contexto.
Palavras-chave
Linguagem; Discurso; Construtivismo; Contexto; Metodologia
Como citar este artigo
Godinho, Luísa (2016). "Discurso e Relações Internacionais: uma abordagem teórico-
metodológica". JANUS.NET e-journal of International Relations, Vol. 7, N.º 2, Novembro 2016-
Abril 2017. Consultado [online] em data da última consulta,
observare.autonoma.pt/janus.net/pt_vol7_n2_art1 (http://hdl.handle.net/11144/2780)
Artigo recebido em 5 de Julho de 2016 e aceite para publicação em 25 de Setembro de
2016
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Discurso e Relações Internacionais: uma abordagem teórico-metodológica
Luísa Godinho
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DISCURSO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UMA ABORDAGEM TEÓRICO-
METODOLÓGICA
Luísa Godinho
Desde a primeira metade do século XX, em particular a partir da década de 1940, que o
interesse das ciências sociais pelo sentido da linguagem foi remetido para a chamada
análise de conteúdo, reproduzindo o paradigma positivista dominante e, de certa forma,
demonstrando um significativo alheamento do legado intelectual de Wilhelm Dilthey
(Dilthey, 1883: 1900).
Dilthey reivindicara, noculo XIX, uma cientificidade própria para as ciências sociais
(Dilthey, 1883, 1900), alicerçada no método explicativo, que se opunha ao tradicional
raciocínio das ciências naturais, fundado no paradigma central da demonstração
quantitativa. Ora, a análise de conteúdo, antecedente do estudo do discurso, nasceu
justamente no campo oposto ao diltheano, a partir de técnicas como a lexicografia e
crente na possibilidade do estudo empírico da palavra.
Desde os anos de 1960, graças ao aprofundamento analítico que o estudo do discurso,
entretanto conheceu (Van Dijk, 1972, 1977, 1988; Ducrot,1972, 1980, 1984; Grimes,
1975; Hall, et al., 1978), esse paradigma positivista acabaria sendo desafiado pela
necessidade de explicar o sentido do que era dito, abrindo assim a porta para a análise
qualitativa e para a necessária interdisciplinaridade entre as duas abordagens. O texto
deixou, por isso, de ser considerado um articulado fechado a que a análise estatística
permitia aceder, passando a ser entendido enquanto estrutura de significados, aberta e
dependente do seu contexto, e que muitas disciplinas podiam ambicionar desvendar, da
Sociologia à História, da Psicologia à Antropologia, do Direito às Relações Internacionais
(RI). O potencial científico desta nova abordagem discursiva não tardaria a ser
demonstrado por um galopante número de estudos em todos os setores das
humanidades.
Também no campo das RI se notou um crescente interesse pelo estudo da política
mundial enquanto construção social e um recurso cada vez maior à análise do discurso
como instrumento de análise. Segundo ller, este interesse tem recaído sobre uma
vasta panóplia de temas, desde «a produção retórica da marginalidade, da resistência e
da alteridadem RI ao
«poder constitutivo e disciplinador dos discursos internacionais
como regimes de verdade. Do mesmo modo, o discurso e a sua
análise têm estado entre os conceitos mais populares no estudo da
formação das identidades geopolíticas» (Müller, 2010: 1).
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Não obstante este interesse crescente pela abordagem discursiva dos fenómenos
internacionais, proliferam as chamadas de atenção para a necessidade de uma maior
sistematização metodológica nos estudos realizados, reparo que se estende aos trabalhos
de análise do discurso produzidos em todos os domínios das ciências sociais.
Tal como notou Müller, o alerta metodológico acompanhou o nascimento das principais
publicações da área do discurso, tendo Van Dijk, um dos mais proeminentes autores,
sublinhado, logo no primeiro editorial que redigiu para a revista Discourse and Society,
a necessidade de
«análises explícitas e sistemáticas baseadas em métodos e teorias
sérios» (Van Dijk, 1990: 14). Mais de uma cada passada sobre as
palavras de Van Dijk, Antaki e Checkel identificavam ainda, entre os
trabalhos realizados no domínio do discurso na área das Relações
Internacionais, uma lacuna descritiva e justificativa das «fontes e
técnicas utilizadas na reconstrução dos discursos» (Checkel, 2004:
7).
A necessidade de exigência metodológica é imperativa numa área de estudo que, como
é o caso da análise do discurso, pode fornecer um contributo inestimável para o campo
das RI. Uma análise do discurso das práticas internacionais, que articule análise textual
e análise contextual, permite a realização de inferências politológicas e sociológicas que
podem revestir-se de grande utilidade para a disciplina que aqui nos reúne. «É
precisamente esta análise integrada», escreve Van Dijk,
«que permite uma compreensão mais adequada da complexidade
das práticas, das instituições e dos processos políticos,
precisamente o tipo de objetos de análise que interessa aos
cientistas políticos» (Van Dijk, 1997: 41).
Van Dijk exemplifica a utilidade da abordagem discursiva em Ciência Política e RI com o
estudo de temas como a relação entre imigração e xenofobia, políticas de imigração e
integração social, posicionamento partidário e propaganda ou o tratamento pelos mass-
media de assuntos étnicos. Segundo o autor,
«o que está em causa aqui (no estudo do discurso sobre a imigração)
não o apenas os fatos’ socioeconómicos da imigração dos outros.
Numa perspetiva simbólica, aquilo que está em causa é a forma como
políticos, jornalistas e público pensam, falam e escrevem sobre o tema
e como esse discurso e essa cognição influenciam a ação política e, em
consequência, a estrutura política. É aqui que a análise do discurso pode
permitir explicações que, de outro modo, faltariam». (Van Dijk, 1997:
42).
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1. Os fundamentos teóricos da análise do discurso
A análise do discurso possuí profundíssimas raízes intelectuais repartidas entre a filosofia,
a linguística e a pragmática.
Na filosofia, o estudo do discurso nasce do movimento intelectual que consubstanciou a
chamada viragem interpretativa nas ciências sociais. Na raiz dessa viragem encontra-se,
por sua vez, a hermenêutica, que partilha com a filosofia analítica a ênfase na natureza
linguística da subjetividade. Autores como Heidegger, Ricoeur e Wittgenstein sublinharam
a impossibilidade de estudar a realidade sem compreender o(s) sentido(s) das ações dos
agentes sociais, o qual, por sua vez, pode ser apreendido através do estudo da
linguagem. É a linguagem que permite a partilha de conceitos e a construção da vida
social, pressuposto de onde derivam importantes teorias como a de Wittgenstein,
centrada no jogo de linguagem, assim como as revolucionárias escolas de Heidegger e
Gadamer, que sublinham o caráter social e histórico da própria subjetividade.
numa perspetiva linguística, as origens do estudo do discurso encontram-se na retórica
clássica, que reconhecia, mais de 2000 anos, que a qualidade de um texto não residia
apenas na sua correção formal, mas também na sua «eficácia persuasiva» (Van Dijk,
1985: 1). Segundo Van Dijk, o sucesso da disciplina perdurou ainda durante a Idade
Média e os séculos XVII e XVIII mas, no culo XIX e no início do século XX, a
preponderância da retórica nas humanidades acabaria por ser suplantada por áreas como
as linguísticas histórica e comparada bem como pela análise estrutural da linguagem. O
formalismo russo das décadas de 1920-30 fomentou o estudo da narrativa, até
confinado à linguística, noutras disciplinas como a psicologia e a antropologia e os frutos
desta interdisciplinaridade seriam ainda colhidos quarenta anos depois, no estruturalismo
francês, em obras de autores como Lévi-Strauss e Barthes, para nomear apenas alguns.
A linguística passaria, assim, a constituir um veículo para o estudo da cultura, dos mitos
e agora também do discurso, tema que conheceria a sua primeira publicação em 1964.
Tratou-se da obra coletiva Communications 4, dedicada em exclusivo à análise estrutural
do discurso e que incluía um revolucionário conjunto de temáticas, desde a análise
cinematográfica de Metz à análise retórica da publicidade, de Barthes, que assinou
também a primeira introdução à recém-formada disciplina de Semiologia. «Apesar do
enquadramento, das orientações, dos objetos de pesquisa e dos métodos de todos estes
autores estarem longe de ser homogéneos», escreve Van Dijk,
«o interesse comum na análise do discurso dentro do âmbito mais
vasto de uma semiótica inspirada na linguística influenciou e deu
coerência a estas primeiras tentativas» (Van Dijk, 1985: 3).
O estruturalismo francês deu o mote para a nova área do discurso, que cresceria durante
a década seguinte em dezenas de obras publicadas e aplicações em diversas disciplinas.
O impulso seguinte chegaria nos anos 70, com a descoberta pela linguística do trabalho
filosófico de Austin, Grice e Searle em torno dos atos de fala. No livro How to do things
with words (Austin, 1962), demonstra-se, pela primeira vez, de que forma e em que
circunstâncias é que falar é fazer, abrindo o campo da linguística à pragmática. A partir
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de Austin, o falante torna-se um ator social e a compreensão da vida em sociedade não
mais poderia passar sem o estudo da língua e da sua utilização.
À psicologia, o estudo do discurso permitiu desenvolver o cognitivismo contra a
predominância da corrente comportamental das décadas anteriores; a sociologia, pela
mão de autores como Goffman, dedicou-se à análise da estrutura social, estudando as
conversas quotidianas de falantes comuns; a antropologia, por seu lado, deu os primeiros
passos da chamada etnografia da fala, interessando-se pela linguagem e suas simbólicas;
o direito também se renderia ao estudo do discurso, depois de perceber que o seu objeto
- as leis, a ação legal, os documentos legais - possuía uma natureza eminentemente
discursiva; a história, cujas fontes e cujo trabalho são na maioria textuais, veria na
análise do discurso uma metodologia fundamental; no mesmo sentido, o estudo dos
meios de comunicação de massa encontrou na análise do discurso uma poderosa
ferramenta para compreender fenómenos como as condições de produção e receção da
mensagem, bem como o sentido da própria mensagem publicada.
Embora oriunda do campo da linguística, esta expansão da abordagem discursiva foi de
tal modo expressiva que, hoje, um número crescente de linguistas questiona mesmo a
qualificação da análise do discurso como uma área pertencente à ciência da língua.
2. A análise do discurso em Relações Internacionais
É à luz do quadro teórico precedente que o estudo do discurso em RI deve ser entendido.
Esta disciplina recebeu da pragmática a conceção da ngua como ação social (Austin,
1962) e, por conseguinte, a dimensão performativa da palavra passou a constituir um
elemento fundamental para a compreensão do relacionamento entre os atores
internacionais.
As chamadas RI constituem, na sua essência, interações discursivas entre povos, ou seja,
textos que simultaneamente refletem e produzem um determinado contexto, tendo a
escola crítica sido pioneira nesta abordagem, baseando-se sobretudo no estudo dos
atores e nos efeitos que o discurso destes provoca nos contextos internacionais (ver
imagem 1).
A análise crítica do discurso parte de dois pressupostos fundamentais: em primeiro lugar,
implica a assunção de um determinado posicionamento por parte do investigador, que
abandona o distanciamento das abordagens clássicas, passando a assumir um conjunto
de premissas ideológicas na forma como estuda a realidade. Em segundo lugar, identifica
uma estreita relação entre a estrutura social e a linguística, tendendo a analisar os
sistemas políticos como sistemas linguísticos e as ideologias como textos que visam criar
uma vontade política coletiva.
Nos últimos anos, contudo, a abordagem tradicional passou a ser complementada por
análises situacionais e de proximidade, interessadas em compreender «os micro
contextos e as práticas quotidianas como focos de construção discursiva das identidades»
(Müller, 2010: 8). Paralelamente a esta expansão do objeto, verificou-se também uma
«reconcetualização do discurso e das identidades» (Müller, 2010: 8) internacionais,
seguindo uma perspetiva pós-estruturalista, passando estas a ser entendidas como
resultado de um complexo processo de construção discursiva e o como um atributo
natural, visão até predominante nas abordagens interpretativas e explicativas. Trata-
se, portanto, de uma viragem profunda no objeto de análise em RI. Os atores
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internacionais deixam de ser a unidade central de análise, o interesse deslocando-se
agora para a identidade desses mesmos atores e os processos discursivos que permitiram
a sua construção.
Imagem 1 – Transformação da abordagem discursiva em Relações Internacionais
Fonte: Müller, 2010.
A chamada viragem discursiva permitiu o aparecimento de uma grande variedade de
temas e abordagens metodológicas em RI (Müller, 2010). Wodak (Wodak, 1999) tem-se
concentrado na construção da identidade nacional, estudando em particular o caso da
União Europeia; Nonhoff (Nonhoff, 2006) investigou de que forma o projeto de uma
economia social de mercado na Alemanha do pós-guerra ganhou um tão amplo apoio
social, tendo demonstrado a existência de uma estratégia hegemónica centrada no texto
e nas condições particulares em que este foi produzido. Glasze (Glasze, 2007), por seu
lado, estudou o processo de construção da chamada francofonia como espaço
geocultural, com base em métodos provenientes da linguística, como a lexicometria e a
análise narrativa. Um conjunto de autores, entre os quais Shapiro (Shapiro, 1992),
debruçou-se ainda sobre os processos de articulação e contestação do sentido na
formação das identidades, tendo concluído que estes processos estão intimamente
dependentes dos contextos em que ocorrem. Neste sentido, as identidades nacionais
consistem em discursos em constante formação e reformulação, em diálogo permanente
com as condições de cada momento histórico.
Não obstante a primazia da escola crítica no reconhecimento do contributo da análise do
discurso para o domínio das Relações Internacionais, o construtivismo seguir-se-lhe-ia,
apostado, mais do que em reivindicar a importância do sentido dos atos internacionais
para a compreensão da relação entre povos, em demonstrar que os atos internacionais
constituem em si mesmos práticas discursivas socialmente construídas, ou seja, que «os
objetos de conhecimento não são independentes da interpretação nem da linguagem»
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(Adler, 2002: 95). Daqui se compreende que os construtivistas tenham incorporado áreas
como as da linguagem, da comunicação e do discurso no debate teórico em RI,
demonstrando, tal como nota Anna Holzscheiter que os factos internacionais «não são
naturais, mas antes resultado» de um processo de construção social (Holzscheiter, 2013:
4).
O volume e a diversidade de estudos seguindo a abordagem discursivo-construtivista em
RI permitem a identificação de diferentes linhas de investigação, segundo distintos
critérios: o da crença na possibilidade de objetivação dos fatos internacionais, seguindo
a proposta de Wendt e Kratochwil; o da dimensão da perspetiva de análise e o da
identidade do poder, seguindo as propostas de Anna Holzscheiter.
A proposta de Wendt e Kratochwil divide os estudos de tipo discursivo-construtivista em
duas categorias: a do chamado thin constructivism e a do thick constructivism, a primeira
crente na possibilidade de existência objetiva dos fatos internacionais, independente da
existência de um sujeito que os concetualiza, a segunda assente numa conceção
discursiva e linguística dos próprios atos internacionais, cuja existência resultaria em
exclusivo da própria intersubjetividade.
Imagem 2 - A abordagem discursivo-construtivista em Relações Internacionais
Critérios de abordagem
Possibilidade de objetivação dos
fatos internacionais
Dimensão da perspetiva de análise
Identidade do poder do discurso
Tipo de abordagem
metodológica
Descritiva
Funcionalista
Abordagens autónomas
Fonte: elaboração própria.
A segunda tipologia, de Anna Holzscheiter, organiza os estudos discursivo-construtivistas
segundo a dimensão da perspetiva de análise adotada: os estudos macro-estruturais,
que concebem o discurso como a estrutura nguística que determina a relação entre
atores internacionais, e os estudos micro-interacionais, abordagens pragmáticas
centradas nos processos comunicativos em tempo-real, em que os agentes constroem,
renegoceiam e transformam ativa e inter-subjetivamente interpretações partilhadas da
realidade» (Holzscheiter, 2013: 6).
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A terceira tipologia, identificada por esta mesma autora, atenta à relação entre poder e
discurso, binómio cuja paternidade moderna cabe a Michel Foucault e Jurgen Habermas
e que ainda hoje permanece como referência entre os cientistas sociais interessados em
compreender o papel da linguagem no processo de construção social. Cada um destes
autores, no entanto, encontra-se na base das duas grandes linhas de abordagem que
podem ser identificadas nos estudos construtivistas em RI: uma primeira que, seguindo
o legado de Foucault, entende os atos internacionais como ações discursivas construídas
inter-subjetivamente e impossível de serem objetivadas, ficando os atores reféns da sua
própria subjetividade; uma segunda, na herança de Habermas, crente na possibilidade
de uma emancipação deliberativa dos atores, emancipação garantida pelo debate público
racional. Os estudos de inspiração foucaultiana, pessimistas, centram-se no discurso
como forma de poder estrutural e totalitária; os de inspiração habermasiana, idealistas,
abordam o discurso como poder de libertação dos atores internacionais.
3. Tipos de análise discursiva em Relações Internacionais
Do ponto de vista metodológico, a análise do discurso em RI tem ao seu dispor um
conjunto de abordagens comum ao que se apresenta às outras ciências sociais e da
linguagem. Em bom rigor, por constituir um recente campo de análise, a área do discurso
não dispõe ainda de um corpo teórico específico e sólido, antes socorrendo-se de técnicas
e conceitos provenientes da linguística, da semântica, da psicologia, da sociologia e de
qualquer outra disciplina que lhe pareça útil à compreensão da linguagem em sociedade.
É justamente nesta interdisciplinaridade que reside a sua riqueza analítica.
As abordagens discursivas hoje disponíveis no estudo das Relações Internacionais
constituem um número e uma variedade consideráveis, dividindo-se em três grandes
grupos: as abordagens descritivas, as abordagens funcionalistas e um conjunto de outras
abordagens autónomas que não possuem relação direta entre si embora forneçam
importantes contributos para o estudo do discurso.
As análises de tipo descritivo consistem num conjunto de perspetivas de interpretação
alicerçadas na linguística, abordagem cuja pertinência advém do fato de o discurso ser,
antes de mais, uma forma de linguagem. Neste grupo enquadram-se a abordagem
gramática, preocupada em entender a formação das palavras e das frases e que se
subdivide na gramática «estrutural, generativa e funcional» e em subdisciplinas como a
«fonologia, a morfologia e a sintaxe» (Van Dijk, 1985:2); a abordagem estilística,
tradicionalmente remetida para a poética, a sociolinguística e a etnografia, auxilia agora
a análise do discurso dando indicações sobre a «adequação de determinado discurso a
uma certa situação social» (Van Dijk, 1985:2); a abordagem cognitiva entende o discurso
como resultado da interação social e, nesse sentido, o investigador deve ter em conta as
condições em que esta interação ocorre, nomeadamente a dimensão psicológica de
ambos os interlocutores; o estudo da atividade não-verbal que acompanha a produção
do discurso, como sejam a «entoação, a gestualidade, a expressão facial ou a posição
corporal» (Van Dijk, 1985:3) e que determina em boa parte a sua interpretação; análise
da estrutura narrativa em presença; a análise da argumentação desenvolvida entre
ambos os interlocutores, nomeadamente dos movimentos argumentativos estratégicos
(Van Eemeren, 1999) que estes realizam.
Enquanto as abordagens de tipo descritivo se centram no texto, quase ignorando a
dimensão semântica que está para da palavra, a abordagem funcionalista incide na
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relação que existe entre o texto e seu contexto, propondo, na opinião de Van Dijk, uma
mais «completa caracterização do discurso» (Van Dijk, 1985:5).
A relação entre texto e contexto constitui o pilar central da análise do discurso, que
motivou, de resto, uma prolífica produção académica nos últimos anos. O estudo do
contexto, em particular, mereceu a atenção de um grande mero de investigadores,
interessados em aprofundar a definição do conceito bem como em desenvolver teorias
capazes de relacioná-lo com a dimensão linguística do discurso.
A conceção tradicional de contexto em análise do discurso consistia em considerar este
conceito uma variável social objetiva, tal como o género, a etnia ou a classe social.
Segundo esta conceção, todo o discurso é determinado pelo conjunto das condições
sociais, económicas e biológicas dos interlocutores e foi nesta ótica que trabalharam
disciplinas como a antropologia, a sociologia e a psicologia, a primeira no âmbito da
etnografia da fala, a segunda focada principalmente na análise da conversação e a
terceira através da psicologia discursiva, uma área da psicologia social (Van Dijk, 2008:
6-7) (ver imagem 3).
Imagem 3 – Transformação da abordagem contextual no estudo do discurso em RI
Fonte: elaboração própria.
Recentemente, contudo, uma nova perspetiva surgiu a partir do trabalho de Teun Van
Dijk (Van Disk, 2008) (ver imagem 3). Alicerçado naquilo a que o autor chamou a teoria
cognitiva do contexto, esta abordagem constituiu a primeira tentativa multidisciplinar de
pensar um tema tão central como este. Para o autor, não é a situação histórica ou social
do sujeito que determina per se o discurso, mas antes a forma como este perceciona a
situação comunicativa em causa, o entendimento que faz de dimensões como a posição
relativa dos interlocutores, os motivos e os fins da comunicação, a negociação linguística
em presença.
Neste processo cognitivo intervêm de forma determinante as chamadas construções
mentais subjetivas, que compõem verdadeiros modelos contextuais e que são
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responsáveis pela forma como cada um dos participantes entende a situação
comunicativa e adapta a sua produção da linguagem ao ambiente situacional que se lhe
apresenta. Este processo de adaptação, por sua vez, consiste em selecionar e utilizar os
recursos linguísticos que cada um tem ao seu dispor no decorrer do diálogo e em
empregá-los no momento por cada um considerado como mais oportuno. Neste sentido,
os modelos contextuais constituem o elo fundamental que une discurso, situação
comunicativa e sociedade.
Paralelamente às abordagens descritivas e funcionalistas, existem finalmente várias
outras abordagens autónomas mas de inegável valor para o estudo do discurso (Imagem
2), como sejam a hermenêutica, preocupada com a dimensão subjetiva da interpretação;
a análise ideológica, de raiz marxista, que no discurso um indicador dos conflitos
sociais; a análise de conteúdo, voltada para uma abordagem eminentemente quantitativa
do texto e utilizada sobretudo no estudo de corpus muito vastos; e a chamada análise
experimental, muito utilizada em psicologia, focada na dimensão processual do discurso,
interessando-se por aspetos como os processos de ativação do discurso, a medida dos
tempos de reação e de interpretação ou as redes de transição.
Não obstante a diversidade das perspetivas de análise que revisitámos nos parágrafos
precedentes, existe alguma comunhão entre elas e que foi bem sumariada por Van Dijk:
«Em primeiro lugar, elas demonstram um interesse pelo conteúdo explícito (e por vezes
implícito ou ausente) do discurso» (Van Dijk, 1985: 12-13). Em segundo lugar, estas
perspetivas de análise desde sempre possuíram um caráter instrumental para as ciências
sociais, permitindo o acesso ao sentido e a realização de inferências sociológicas.
Contrariamente à semântica e à linguística, cujo objetivo último é captar o sentido do
texto, às ciências sociais o sentido interessa na medida em que permite a compreensão
dos fenómenos sociais em estudo.
Nesta linha, o interesse das RI pelo discurso residiria no caráter reflexivo deste último,
entendido como amostra do tecido social que permite compreender a realidade
internacional. Nos últimos anos, contudo, esta perspetiva instrumental do discurso tem
vindo a ser abandonada em prol de um entendimento autónomo, entendimento que
rejeita o estudo da palavra como expressão de outra coisa, preferindo encará-la como
uma forma autónoma de ação e interação entre povos.
4. Conclusão
A abordagem discursiva dos fenómenos internacionais conheceu nos últimos anos uma
transformação assinalável, transformação esta que traduziu significativos ampliação e
aprofundamento científicos.
Tradicionalmente, a análise do discurso alicerçava-se numa conceção descritiva do papel
da palavra na vida em sociedade mas, desde a abordagem pragmática de Austin, o texto
passou a ser entendido como produtor de realidade, o que permitiu uma mudança
substancial do entendimento das RI. Esta profunda transformação epistemológica
permitiu o desenvolvimento de uma nova perspetiva discursiva dos fenómenos
internacionais, embora recorrentes apelos na literatura científica denunciem a
necessidade de maior clarificação metodológica nos estudos realizados.
O presente artigo pretendeu dar um contributo para o preenchimento desta lacuna. Aqui
se reconstituiu a herança intelectual do estudo do discurso, se elencaram as três linhas
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de investigação passíveis de serem identificadas nos estudos discursivo-construtivistas
em RI e se apresentaram as principais abordagens metodológicas seguidas.
Em distintas perspetivas, todas estas abordagens reconhecem a importância do binómio
texto-contexto para a compreensão dos fenómenos internacionais, podendo este último,
tal como vimos, ser entendido distintamente consoante os interesses de pesquisa e tendo
recentemente conhecido uma ampliação do seu campo.
Deste artigo, três passos surgem como fundamentais na busca de uma maior clarificação
metodológica nos estudos discursivo-construtivistas em RI. Em primeiro lugar, a
explicitação do critério de análise selecionado quanto à objetivação dos fatos
internacionais, à dimensão da perspetiva de análise e à identidade do poder discursivo;
em segundo lugar, a identificação do tipo de abordagem escolhido descritiva,
funcionalista ou autónoma; em terceiro e último lugar, o posicionamento face ao que se
entende por contexto, identificando claramente a conceção seguida económica,
biológica, social e/ou cognitiva.
A adoção desta tríade metodológica na investigação discursiva em RI constitui um
importantíssimo fator de clarificação que o apenas conferi maior rigor e
transparência aos estudos realizados como facilitará o exercício de replicação, condição
determinante daquilo a que se designa cientificidade.
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